Monday, December 21, 2009

SOBRE NELSON RODRIGUES E CARTOLA





















Há 29 anos, partia Nelson Rodrigues. Eu era um menino mas o lia nas crônicas do jornal. E que jornal naquela época: Oldemário Touguinhó, Achilles Chirol, todos muito distantes dos "doutores engraçadinhos" que hoje ocupam as páginas dos periódicos, cheios de certezas e opiniões.

Não se tratou do nosso maior escritor, somente. Nem apenas nosso maior torcedor.

Nelson Rodrigues é nosso maior TÍTULO.

Quando pensamos no maravilhoso gol de Antônio Carlos, que decidiu o título de 2005, cabe pensar: o que Nelson teria escrito?

E o gol centenário de Renato?

E de Benedito de Assis? Ou do menino Paulinho consagrando mais um tri do Tricolor?

Em todos estes lances, imaginar o que Nelson teria escrito é como comemorar outro titulo. É levantar novamente uma taça única, especial, com a vocação da eternidade que, um dia, ele atribuiu ao nosso amado Tricolor.

Quase trinta anos depois de sua suposta passagem, Nelson permanece vivo em nossos corações. A cada momento de uma heróica atuação do Fluminense, ainda suspiramos por suas crônicas no dia seguinte.

Ao nosso maior título, o abraço de sempre. E as palavras a ele também servem para outro gigante da nossa arquibancada, ido dias antes: Angenor de Oliveira, também conhecido como Cartola - ou SAMBA, em letras maiúsculas mesmo.



Paulo-Roberto Andel, 21 de dezembro de 2009.

Tuesday, December 15, 2009

CORITIBA 1 X 1 FLUMINENSE (06/12/2009)




A batalha final e a grande vitória (11/11/2009)

Já se passaram vários dias da partida entre Fluminense e Coritiba, que pode ser descrita como a mais importante dos últimos dez anos para a nossa torcida, e somente hoje tomei a iniciativa desta crônica, meus caros amigos. Eu não tenho o talento para escrever sobre o time que amo sem vestígios de emoção; assim, preferi aguardar um pouco para tentar ver de forma mais sóbria tudo o que nos cercou nestes dias e meses de aflição, temor, luta e a valorização de nossa camisa centenária a tal ponto que ninguém duvida: a Gávea pode ter sido campeã, mas ninguém tira das Laranjeiras o posto de grande vencedora do ano. Era preciso esperar para refletir e entender a grandeza de todo este momento, de tudo o que passamos e conseguimos. Olhar o passado recente, olhar todos os obstáculos enormes que foram superados e comemorar, comemorar mesmo. Não importa que não seja uma taça – temos centenas em nossa sala de troféus. O que estava em jogo era a nossa dignidade, e isso ninguém conseguirá rebaixar.

O Tricolor tem a vocação da eternidade, nos ensinou Nelson Rodrigues. E também tem a vocação de subverter todos os maus prognósticos que lhe sejam indicados. Assim se fez a nossa história. Desta vez, contudo, o massacre da mídia foi tão violento que, num momento, a nossa amada torcida quase desistiu: foi no Fla-Flu. Vínhamos de uma má campanha, mas já era possível perceber tênues mudanças na equipe. E então jogamos a partida contra eles sem nossa torcida, o que nos custou caro: dominamos o primeiro tempo, tomamos o primeiro gol por causa da contusão do nosso valente zagueiro Digão e a derrota aconteceu. A chamada crítica especializada abriu sorrisos: era o enterro do Fluminense. Piadistas de plantão, fanfarrões e bobos-da-corte por todos os lados a cantar a nossa tragédia. O que nenhum deles sabia é que aquela seria a nossa última derrota no campeonato – e, a partir dali, o Fluminense ressuscitou para ser o Fluminense de sempre, o time que não desiste nunca, o time do último minuto, o time contra ninguém canta vitória antes da hora. Com seus sorrisos de satisfação, Kfouri, Renatourício, Vasconcellos e toda a platéia, mais os efeminados da Paulicéia, jamais desconfiaram de que cometeriam a maior “barriga” de suas carreiras jornalísticas ao afirmarem que o Fluminense era um time rebaixado. O resultado é que todos eles foram rebaixados em termos de credibilidade. O Fluminense trocou as falácias flácidas da imprensa pela obsessão catalânica da vitória. O Fluminense se tornou um vampiro, ávido pelo sangue do triunfo. O Fluminense que me faz chorar de alegria e encher o peito de oceânico orgulho.

O jogo contra o Coritiba foi uma batalha dramática. Não podíamos contar com outro resultado que não o nosso, embora o empate nos beneficiasse. Foi uma pressão enorme. Não se pode esquecer que, em seus domínios, o time da casa goleou os campeões por cinco a zero. Mas também é verdade que fomos logrados pelo apito: o gol de Fred foi legal e a bola ultrapassou a linha final. Merecíamos a vantagem desde antes; Marquinho fez as nossas e acertou um belo chute de longe, no canto esquerdo do goleiro Vanderlei, abrindo placar. O Fluminense era melhor, mas o Coritiba era pressão; o empate veio logo depois numa cabeçada deles e o Couto Pereira veio abaixo. Jogamos bem e suportamos o inferno verde com galhardia. Um primeiro tempo sem nocautes, apesar do golpe com o gol sofrido. Quando voltamos, o que sei é que cada segundo valia um ano. Os sinais de rádio e tevê ecoavam, a bola cruzava nossa área, Rafael estava sempre atento, mas o temor era evidente, dado que temos um verdadeiro exército da má-vontade contra nós. Foram dez vitórias, foram gols de Fred em quase todos os jogos, o Fluminense chegou à rodada final dependendo somente de si para matar o descenso e tudo isso não poderia ter sido em vão. Em muitas vezes, pensei nos meus amigos de arquibancada, os de coração, os da Fluorkut, em toda a nossa torcida. Havia um misto de agonia e medo, mas também a confiança de que tínhamos nos tornado de vez o time de guerreiros que tanto aplaudimos nestes meses recentes. O time que, do nada, ressurgiu diante da América e só não a conquistou por força de uma trapaça física, no pior sentido que podemos depreender. O time que, rodada após rodada, ofereceu tapas com luva de pelica aos seus detratores. O time que trouxe de volta sua linda e apaixonada torcida para noites inesquecíveis contra o Atlético Mineiro, Cerro Porteño e o time equatoriano, afora tardes maravilhosas contra o Palmeiras, o Atlético do Paraná e o Vitória, que foi trucidado com os Leandros rancorosos. O time que goleou o Sport impiedosamente, mas com respeito. O time que virou um jogo perdido contra o Cruzeiro e seu Mineirão lotado. Amigos, senhores: este é o time que promoveu a maior virada da história do futebol brasileiro em todos os tempos. Era um time dado como morto, mas que saiu caminhando a passos rápidos do hospital. Não seria esse time que perderia a partida no Couto Pereira.

Cada minuto, um ano. A pressão do Coxa, incipiente mas constante. Segurávamos como podíamos. Pela primeira vez em muitos anos, tínhamos uma vantagem do empate a nos resguardar. Passou um cinqüentenário e o jogo acabou. Infelizmente, fomos algozes de mais um time em seu centenário e o Coritiba foi rebaixado, fato que provocou a fúria de uma minoria que não representa a fidalguia do clube e, seguida, a invasão de campo com ações de vandalismo aterrorizantes. No meio de todo o cenário trágico, eu lembrei de quase meio século atrás: vencemos o Bahia e já comemorávamos a classificação para a segunda fase do campeonato brasileiro, quando o Coritiba fez um gol aos 47 minutos do segundo tempo, se classificou no nosso lugar e foi campeão daquele ano. Hoje, tanto tempo depois, coube a nós o papel cruel de um algoz.

O Fluminense não vai morrer. O Fluminense não caiu. O impossível não nos vence, nem a matemática.

Aos mais jovens, peço que guardem estes três meses com carinho. Em cinqüenta anos eles não serão repetidos. Eu não verei uma reação dessas na Terra novamente. De tanto tentarem nos impingir uma falsa pecha a respeito de viradas de mesa, resolvemos fazer dentro do campo a maior virada de todos os tempos no futebol brasileiro.

Este ano não se encerra com os títulos que ansiávamos. Mas o fechamento dele é inesquecível e digno dos mais belos, sofridos e admiráveis momentos de nossa história. Terminamos esta partida com um empate em um a um, mas tenho certeza de que foi uma das maiores vitórias que conquistamos em cento e sete anos. A vitória contra o deboche. A vitória contra o preconceito midiático. A vitória contra os falastrões desastrados.

Aproveito as últimas linhas deste ano para agradecer a todos os que compraram essa luta que apenas parecia impossível. O Tricolor voltou. Toda a nossa torcida presente em campo, no Maracanã, por todo o Brasil e na América. Nossa comissão técnica, que se esmerou para formatar o time de guerreiros. Nossos jogadores, que deram tudo por essa camisa mágica e que, se não conquistaram uma taça, ganharam para sempre nosso carinho, respeito e admiração. Creio que todo o elenco se sinta bem representado pelos nomes de Darío Conca e Frederico Chaves – o craque Fred.

Aos pascácios que debocharam de nós e tiveram de recolher suas caras amassadas ao final do ano, convém um lembrete: já temos uma forte base, temos craques e uma torcida mais apaixonada do que nunca. Talvez os dissabores que tenhamos sentido esse ano nas decisões de títulos sejam dissipados mais breve do que se imagina.

Até 2010. Quem espera sempre alcança.

De nós, só duvidam os tolos.


Paulo-Roberto Andel

Friday, December 04, 2009

FLUMINENSE 3 X 0 LDU (02/12/2009)



Sob os aplausos da América (03/12/2009)

Quando a injusta e nefasta série de penais se encerrou na Libertadores do ano passado, uma nuvem de desgraças tentou impor às Laranjeiras uma tempestade sem fim. Foi difícil, mas ela se desfez aos poucos. E, quando menos se esperava, lá estava o velho e imperial Tricolor de sempre a disputar um título contra a Liga Equatoriana, mal-abraçada pelos flamengos. Nem o mais otimista dos nossos torcedores vislumbrava a possibilidade de decidir qualquer competição nos últimos meses. E aconteceu que perdemos mais um troféu, mas não o campeonato. A goleada a nós imposta na primeira partida da decisão da Copa Sulamericana acabou custando caro, pois devolver o resultado seria muito difícil para qualquer time do mundo, mesmo o que tem uma torcida tão bonita quanto a nossa ou um time tão aguerrido como este que temos visto em campo. Foi por um triz. Foi um detalhe e o troféu nos escapou. Apenas o troféu. E só.

Mais uma vez, a massa Tricolor tomou o Maracanã de assalto com belíssima festa, luzes, um majestoso mosaico e toda a beleza que lhe é peculiar. O que dizer do abraço da enorme torcida no ônibus que trazia nossa delegação para o jogo? O que dizer da festa, das cores, da esperança e dos gritos incessantes dos nossos amigos? Tudo o que for aqui escrito será pouco.

Nenhum de nós estava iludido com bazófias e falácias comumente praticada por torcedores da imprensa; sabíamos a todo instante que seria um jogo duro. Porém, nós o fizemos fácil. Não há dúvidas de que o Fluminense massacrou seu adversário mais uma vez em sua casa. Não houve trégua. Três gols foram fichinha perto do que merecíamos. Com exceção de um ou dois lances, um deles espetacularmente bem defendido por Rafael, a Liga não nos incomodou. O jogo foi do Fluminense e de sua maravilhosa torcida. Tudo começou com o gol de Diguinho: não importa que tenha esbarrado num defensor equatoriano; o que vale é o gol. E o Mário Filho explodiu, porque todos viram que seria possível tentar reverter o quadro. E o passe maravilhoso de Alan para Fred, artilheiro de seleção brasileira, finalizar friamente no canto esquerdo da meta da Liga? Dois a zero foi pouco para se encerrar a primeira etapa. Não venham dizer que fomos favorecidos pela expulsão de um deles: a falta foi gravíssima e não cabia outra coisa. Além do mais, a Liga era useira e vezeira em paralisar o jogo com “cera”, que não foi descontada como devido. Poderíamos ter enfrentado onze, doze ou quinze jogadores que não haveria diferença: o Fluminense jogava com a alma de campeão, com o estigma de campeão, com o vigor e a bravura que só os fortes possuem. Dois gols foi pouco. Bem pouco.

No segundo tempo, naturalmente nosso time - o mais cansado do Brasil pela seguida maratona que vem enfrentando – não acelerou com força total, mas continuou incessante no ataque. Talvez tenhamos chutado menos do que nas outras partidas; afinal, era uma decisão. E fizemos o terceiro gol um pouco tarde, talvez. Isso não tinha o brilho da cabeçada de Gum, o nosso zagueiro-artilheiro que já jogou sangrando, ao bater o goleiro do Equador e tocar no canto direito, quase sendo complementado por Ruy, o Cabeção.

A diferença de um mísero gol nos pesou como não deveria. Pode-se dizer que os quinze minutos finais praticamente foram parados pela eterna catimba da Liga, tolerada com exagerado bom-humor do árbitro. Antes disso, Fred, desesperado com a quantidade de botinadas que recebeu o jogo todo, a maioria sem sequer marcação de falta, exacerbou na reclamação por um lateral claramente nosso e foi expulso. A imprensa tentou culpá-lo pela perda da taça e todos sabemos que isso constitui vertiginosa bobagem: é nosso craque, nosso artilheiro e, se chegamos à última rodada do campeonato brasileiro podendo empatar para matar o descenso, muito devemos a ele.

Poderia ser apenas uma derrota com vitória em campo. Apenas um gosto de perda. Mas não foi. Quem esteve no Maracanã e viu o entrelace entre o time do Fluminense e sua maravilhosa torcida, sabe do que estou dizendo. Nós soubemos reconhecer o empenho e a fulgurante campanha na Sulamericana; nós soubemos reconhecer o esforço hercúleo que os jogadores e a comissão técnica estão fazendo para manter o Fluminense na primeira divisão. E nunca a perda de uma taça foi tão aplaudida, cantada e louvada como ontem: foi um espetáculo fascinante ver os milhares de Tricolores empunhando suas camisas, suas bandeiras e sua voz em nome dessa paixão centenária. Jogadores e torcedores da Liga chegaram a se assustar com o nosso barulho: o amor pelo nosso time, mesmo sem uma taça, é continentalmente maior do que qualquer comemoração de título deles. É um amor oceânico, imenso, incomensurável. A América toda nos aplaudiu. Uma noite inesquecível. A noite em que ser vice-campeão foi de muito orgulho, respeito e esperança.

Certa vez, o colossal jornalista Marcos Caetano escreveu sobre o Fluminense: "Para ser um gigante, não fazem falta títulos mirabolantes, equipes inesquecíveis ou milhões de fanáticos torcedores. O Fluminense tem tudo isso, como de resto quase todos os grandes clubes mundo afora. Não é isso que torna o Tricolor diferente dos demais. Para ser um gigante é preciso mostrar valor diante do inimigo invencível e face ao mais profundo dos abismos. Por duas vezes, ao longo de seu primeiro centenário, o Fluminense esteve à beira da aniquilação - e sobreviveu. Foi com tal fidalguia que o clube das três cores que traduzem tradição se tornou uma lenda. Um clube que, quando menor pareceu, aí mesmo foi que provou ser um gigante.". Mal-começado seu segundo centenário, o Fluminense passou por dificuldades, como em 2006, 2006 e no ano passado. Agora, mais recentemente, era o time condenado da imprensa, para “se fazer justiça no futebol brasileiro”. A galinha-morta. O motivo de galhofa. Ontem, meus amigos das Laranjeiras, nós não levamos mais um troféu para a nossa abarrotada sala, como gostaríamos; entretanto, obrigamos a todos os que tripudiaram de nós nestes últimos meses a engolirem com saliva seca tudo o que disseram. A América nos escapou novamente por um triz, um fiapinho; tenho plena confiança de que a permanência no campeonato brasileiro principal não nos escapará.

A bola bateu na trave outra vez. Mas, aos poucos, o Fluminense começa a se reacostumar com o gosto das decisões internacionais. Para quem estava condenado à morte tanto no ano passado quanto nos dois últimos meses, não deixa de ser uma forte recuperação. A América não perde por esperar.

Ainda temos a última batalha do ano. Será um jogo dificílimo. Mas, depois de tudo o que esse time tem feito, quem seria capaz de duvidar de seus feitos, em sã consciência? O Fluminense de hoje é um time que nos faz bater no peito e gritar sobre o orgulho de ser Tricolor.


Paulo-Roberto Andel, 03/12/2009

Thursday, December 03, 2009

SOBRE ONTEM À NOITE (03/12/2009)



Ontem faltou pouco, mas muito pouco.

Pesou ter tomado aqueles dois gols lá nas alturas a 15 minutos do fim.

Mas eu jamais esquecerei do que vi no Maracanã.

O apoio da torcida, a garra do time e o final apoteótico, com um aplauso ensurdecedor que calou qualquer barulho feito pelos adversários. A torcida que não ia embora. O time, visivelmente emocionado em campo.

Tenho certeza de que não perdemos no campo; tão-somente por este verdadeiro CRIME que é jogar a quase 3 quilômetros de altura.

Grandes times têm muitos títulos por conta de vitórias, conquistas e história. Mas o que nos faz especiais é que temos algo mais. É um charme, um paradigma indescritível. O que poderia ser apenas um fracasso se tranformou em um dos nossos maiores troféus. Fomos vice-campeões? Sim. Mas a nossa sina é de campeões, sempre!

Quem esteve ontem no Maracanã viveu um de seus maiores momentos como torcedor. Eu, que frequento as arquibancadas regularmente desde 1978, experimentei um momento especial, que é o de ser um vencedor mesmo sem ser campeão. Eu, vocês e os milhões dos nossos espalhados pelo Brasil. Não conquistamos a taça, mas obrigamos a mídia do país inteiro, sempre em nossa oposição, a nos aplaudir. Chegamos a um ponto onde nossa própria existência nos torna gigantes, ainda que tenhamos muitos e muitos troféus a arrebatar.

Eu não vou mais ao Maracanã apenas por que quero vencer ou ser campeão. Não vou mais porque quero supremacias, ser "mais-querido" ou "maior do mundo".

Vou porque amo o Fluminense. Vou porque o estádio é minha casa. E isso está acima de qualquer troféu.

Obrigado ao time, à comissão técnica e a cada um de vocês. Juntos, somente nós podemos isso: fazer de um título perdido uma grande história. Por mais que nos boicotem e nos subestimem, somos especiais.

Como todos nós, eu queria o título. Faltou um triz.

Mas quem convive com uma torcida como essa e vê a raça desse time em campo não tem do que reclamar. É campeão, independentemente de qualquer resultado.

Tenho orgulho em pertencer à mesma arquibancada que vocês.

Se, depois da vida, eu voltar à Terra, o que preciso reencontrar são meus pais, meus amigos e o Fluminense.

Não precisa ter outros esportes, por mais que eu goste deles.

Não precisa ter nem jogo.

O Fluminense já me basta.

Há dois meses, éramos o time mais massacrado pela imprensa do Brasil. Chegamos a uma final internacional invictos, perdemos o título pela diferença de um gol e temos tudo para eliminar o descenso no domingo, rasgando previsões, estatísticas e diplomas.

Mesmo sem um troféu, o Fluminense é o mais digno, o mais iluminado e o mais respeitável dos campeões.


Paulo-Roberto Andel, 03/12/2009

Tuesday, December 01, 2009

A SEMANA DECISIVA (01/12/2009)



Os últimos meses têm sido um misto de agonia e glória para todos nós, Tricolores.

Amamos este time do fundo de nossas forças e, de tanto sermos vilipendiados pela ma-fé da imprensa marrom, somada ao fato de desempenharmos então uma campanha ruim no campeonato brasileiro, era natural que muitos de nós caíssemos em total descrença com o futuro. Era um time massacrado, humilhado e malversado onde quer que fosse. Mas demos a volta por cima, e que volta: especialistas da matemática (mas leigos em futebol) davam conta que tínhamos 98% de chances de descenso no ano que vem. Pois bem, treze rodadas depois, a chance de é 20%. Pela primeira vez em vinte e seis jogos, o empate - e não a vitória - elimina por completo qualquer possibilidade de queda. E, na arrancada que temos dado nestes dois meses e meio recentes, somos favoritos à manutenção em nosso devido lugar, que sempre foi, é e será na primeira divisão do maior futebol do mundo.

Os próximos dias serão decisivos. Tenho grande fé de que, daqui a uma semana, todos os louros sejam nossos. Sabemos que o jogo do Couto Pereira será uma grande batalha, mas o Fluminense de hoje é um time de guerreiros: em campo, no banco de reservas, na comissão técnica e, principalmente, nas arquibancadas, de onde tem ecoado toda a nossa força para dentro de campo. E, antes de domingo, uma nova decisão pela frente, com um velho adversário, tido como grande favorito pelo placar que obteve no primeiro jogo da final da América.

O futebol já nos ensinou muitas vezes que o conceito de favoritismo é bastante relativo. Quantas vezes um time com a faca e o queijo na mão não fez o sanduíche? Ninguém está sendo enganado; sabemos que, em qualquer lugar do mundo, tirar uma diferença de quatro gols é sempre muito difícil. Agora, impossível jamais será – não estamos tratando de ciências exatas, mas ocultas.

Não me apego à monumental galeria de títulos do Fluminense para confiar numa grande virada amanhã; ela já diria por si somente. Sempre lembro de 1991: precisávamos de cinco vitórias seguidas para chegar às semifinais da competição. Há quase vinte anos, a imprensa já era tão galhofeira como hoje. Conquistamos cinco triunfos e a vaga; não chegamos ao título, mas aquele exemplo de superação é uma bandeira permanente. E o que dizer de agora? Tinham nos rebaixado por decreto no campeonato brasileiro: nosso futebol se tornou um verdadeiro golpe de estado e o resultado está para quem quiser ver. Em treze jogos, precisávamos de nove vitórias e um empate; hoje, falta apenas o empate. Era impossível, mas para nós se tornou apenas trivial. A bandeira de hoje, a da superação que temos conseguido, também será permanente. Outros exemplos nos guiam: o irmão Vasco desceu para os vestiários em 2000 com três gols na rede, precisando de quatro gols em quarenta e cinco minutos – tinham um grande time e conseguiram. Nós precisamos de cinco gols em noventa minutos, e temos Conca e Fred – este, artilheiro de seleção brasileira.

Não tenho dúvidas de que esta será uma semana das mais difíceis da nossa história.

Mas, para quem passou o que passamos e já estava condenado pelas letras humorísticas das redações, esta será apenas mais uma semana das mais difíceis.

Amanhã, nosso time estará cercado por nossa fanática torcida, vindo de uma goleada impiedosa sobre um time que tem a mesma qualidade técnica deste que iremos enfrentar pela final da América. Não temos tempo para pensar: é lutar e conseguir.

Como é possível não confiar neste time, que tem feito jogo após jogo uma das nossas mais lindas histórias de superação? Simplesmente não há como. Basta ver as tabelas, os números. O poderoso pré-campeão brasileiro está na boca das ruas e foi nosso primeiro eliminado na competição da América. Como não confiar?

Diria nosso mestre maior, Nelson Rodrigues, que amanhã “vivos e mortos estarão no Maracanã”. Acredito piamente. É hora de toda a nossa torcida, passada, presente e futura, adentrar o concreto sexagenário de Mário Filho. A nossa última partida no estádio em 2009, que pode ser consagrada com uma das mais arrebatadoras vitórias de sua história.

Temos vivido assim, dia após dia, passo a passo.

Ninguém pode se esquecer da batalha de domingo, fundamental para as nossas pretensões. Nem será o caso de esquecer, certamente; não é nossa sina. Mas amanhã todos os nossos corações estarão voltados para a América, para um batalha que muitos consideram impossível. Porém, esta palavra, “impossível”, não existe em nosso dicionário. Somos o time do impossível. O time do último minuto. O time que ninguém ganha de véspera NUNCA!

Os equatorianos têm toda vantagem.

O Figueirense de 2007, o Volta Redonda de 2005 e a Gávea centenária também tinham. No entanto, quem tem os troféus destas disputas é o Fluminense. Para sempre.

Nosso hino fala de quem espera e sempre alcança.

Pode parecer impossível, mas chegaremos lá. Entraremos em campo para mais duas decisões e a história ensina: ninguém nos vence de véspera, nem com manchetes encomendadadas de jornais. Ninguém é favorito contra nós numa decisão. NINGUÉM!


Paulo-Roberto Andel, 01/12/2009

FLUMINENSE 4 X 0 VITÓRIA (29/11/2009)



A dois passos da consagração (30/11/2009)

Futebol tem nuances e aparências. Lembrei de meu velho e inesquecível amigo Xuru, no último jogo em que estivemos juntos no Maracanã: era um Vasco e Botafogo. O time cruzmaltino entrou em campo com tamanha lentidão que levou mais de um minuto entre seu vestiário e o lado direito das arquibancadas de Mário Filho. Xuru, vascaíno oceânico, mostrou preocupação: “Ora, se o time levou esse tempo todo para nos cumprimentar, imagine a moleza que vai ser em campo. Me senti mal.”. Mal saberia o velho amigo e eu que testemunharíamos a maior goleada em clássicos da história do Maracanã: o Vasco, lento para entrar em jogo, venceu por sete a zero, para desespero de General Severiano. Essa lembrança me remeteu a ontem. Não sei explicar o porque, mas eu e vários amigos achamos que, ainda que linda como sempre, a torcida Tricolor estava cantando dois tons abaixo do tradicional. E o time entrou em campo com uma calma, uma vagareza que me fez lembrar justamente daquele dia com o Xuru. Não fizemos sete a zero, mas somente porque desaceleramos a partida: fomos absolutos senhores do jogo, impusemos uma goleada poderosa e, para a tristeza de nossos detratores, não somente ganhamos enorme motivação para a decisão da América, dificílima, depois de amanhã, mas também saímos da zona do descenso depois de vinte e seis rodadas. Quase três meses de tripudiação diária da imprensa esportiva brasileira com o que de pior ela representa. Quase três meses ouvindo que o Fluminense era galinha-morta, que já estava rebaixado, que deveria se preparar para a segunda divisão, e o resultado aí está: precisamos de um ponto somente para concretizar a maior virada em campo da história dos campeonatos brasileiros.

O time entrou em campo com muita lentidão e a nossa linda torcida fazia uma enorme festa, mas não cantava tão alto. Isso me preocupou; pensei que pudesse ser fruto da aberração do meio de semana, quando os cinco gols dos equatorianos constituíram verdadeira agressão à nossa campanha. Futebol tem nuances e aparências, meus amigos. Em cinco minutos, o Fluminense foi um leão de selva em busca da janta e triturou o jogo. Primeiramente, com um lindo gol de Alan, fuzilando o ângulo direito de Gleguer, depois de receber passe espetacular de Equi González. O menino mostrou categoria ao deixar a bola correr em vez de dominá-la; com isso, matou a defesa adversária e ficou livre. Um gol de artilheiro. E, quando mal havíamos sentado nas cadeiras amarelas, Fred recebeu um passe de Darío Conca à frente da área, girou o corpo e marcou um gol de placar, um gol de craque que decide qualquer partida – e ali, naquele gol, Fred mostrou que o Fluminense não somente está vivíssimo como pode reverter a decisão da América. Um giro de corpo fantástico, a bola colocada no ângulo esquerdo de Gleguer.

Dois a zero é sempre o placar preocupante; se o adversário faz um gol, tem forças para reagir a um jogo perdido. No caso, com o placar construído em cinco minutos, somado ao enorme desgaste físico que sofremos pela jornada recente de jogos seguidos, sem direito a erro, o Vitória, aos poucos, buscou ataque e nos ameaçou, chegando a chutar uma bola em nossa trave esquerda, tida como gol certo. A zaga interviu em algumas vezes, nosso goleiro Rafael seguro em outras; Mariano e Diogo com a raça de sempre, Equi com a categoria que dele se espera, Conca em grande performance. Com o tempo, o time baiano viu suas forças esmaecerem e isso tornou a partida mais lenta, até porque precisávamos nos poupar para a próxima batalha. Ficou a impressão de que, se tivéssemos condição de imprimir um ritmo mais forte à partida, o placar seria mais dilatado. Do outro lado, nossos ex-jogadores que, durante a semana, falavam em vingança, engoliam a seco o dois a zero. Para nós, a certeza de que, assegurando a vitória, a saída da zona de rebaixamento era uma realidade inquestionável independente de outros resultados.

A segunda etapa ficou marcada de início pela nossa tentativa de cadenciar o jogo ainda mais, justa e positiva. Mesmo com isso, aos quinze minutos o Maracanã explodiu em mais um golaço: a tabela portenha entre Equi e Conca resultou num chutaço do nosso onze, com a bola estraçalhando o ângulo esquerdo de Gleguer. Três golaços, três a zero e o impossível foi chutado para escanteio. Ainda faltava meia hora para o fim, mas a nossa apaixonada torcida cantava e comemorava finalmente a saída da zona do descenso, depois de longa agonia. A vingança dos ex-Tricolores com a camisa do Vitória tinha virado abóbora muito antes da meia-noite: seis e meia da tarde, quase precisamente. E o jogo passou a ter caráter de quase amistoso, sem que as equipes se expusessem muito. No fim, numa jogada do folclórico Adeilson, que entrara em campo no lugar de Alan, embolado com goleiro e defesa quando estava livre para marcar, o fato que lá estava o argentino, Darío, para tomar a bola e tocar para o gol vazio. A goleada. O quatro a zero. A saída da zona de descenso, contrariando especialistas, matemáticos, estatísticos, palpiteiros e congêneres. Contrariou aos Leandros, que tanto falaram mal de nós e saíram humilhados ontem do Mário Filho. Que descansem em paz.

Olhemos para trás, caros amigos. O Fluminense era a galinha-morta da imprensa galhofeira, marrom como a cor que lhes sugere o medo da nossa centenária camisa. Éramos os rebaixados, os maltrapilhos, a escória do futebol brasileiro. Nosso time se encheu de gana, os craques voltaram a brilhar, o treinador se encheu de ânimo, nosso preparador colocou o time na ponta dos cascos. Eram treze jogos, precisávamos vencer dez. Ontem, vencemos o nono. Diziam que era impossível, mas para a nossa história esta palavra simplesmente não existe. Eu vos pergunto: se pudemos vencer o Palmeiras, o Cruzeiro, o Atlético Mineiro, o Paranaense, o Sport em seus domínios, quem há de dizer que não podemos reverter o jogo contra os equatorianos e vencer o Coritiba na grande batalha de lá, sendo que jogaremos pelo empate?

Dez milhões de pessoas acreditam nesse time.

Um Maracanã lotado incendiará esse time.

Falo com a propriedade da humildade e também com a tradição da camisa: virar esta final não é impossível. Assim sendo, no domingo, quem entrará em campo para ao menos um empate é o campeão da América. Convém respeitar.

Os levianos tentaram nos impingir a pecha de derrotados depois da partida no Equador. Entretanto, eles se esqueceram de que o Tricolor voltou. E, com isso, o Maracanã e o Couto Pereira tremerão como nunca.

Mais do que nunca, confio na reconquista da América e na eliminação do descenso. Estamos todos juntos: é um só coração Tricolor.


Paulo-Roberto Andel, 30/11/2009