Friday, May 22, 2009

FLUMINENSE 2 X 2 CORINTHIANS

A batalha final (21/05/2009)

Meus amigos de sempre, é com tristeza que escrevo estas linhas. A tristeza de ver o Fluminense eliminado da Copa do Brasil num Maracanã lotado. A vantagem corinthiana pesou, devido à vitória no primeiro jogo, realizado semana passada. Nossa torcida fez o velho gigante de concreto tremer como nunca. Não foi o suficiente, mas todos os que lá estiveram viram um espetáculo belíssimo das nossas arquibancadas; no campo, deixamos a desejar no primeiro tempo, reagimos no segundo e o empate, pelo jogo que foi, ficou justo. Saímos, mas pela porta da frente.

As emoções da minha partida começaram no Caçador, veterano bar da Praça Afonso Pena, entre os amigos: Leo, Antonio, Tibamar e a família Sussekind. Esperávamos uma grande vitória, mesmo sabendo da forte equipe do alvinegro paulistano. Entre o chope e as pizzas, muitos risos e a apreensão natural às vésperas de uma grande batalha. Tibamar disse: “O presidente precisa estar tenso o tempo inteiro”, Raul seguiu a frase à risca.

O entorno do Maracanã era de uma beleza só, com nossas bandeiras e camisas, nosso branco de paz, e uma multidão adentrava o sagrado estádio sem saber da beleza que a nossa gente empenharia nas arquibancadas. Todos sabem da beleza que emprestamos ao concreto do Maracanã. Todos sabem das maravilhas que lá fizemos muitas vezes. Todos sabem que, em quase sessenta anos, Mário Filho nunca viu uma festa mais bonita do que a nossa na final da Libertadores do ano passado. E, desde aquela final, nos recolhemos: não tivemos motivos para mostrar nosso melhor. Ontem, voltamos à tona. Tenho orgulho de ter vivido para ver o maravilhoso mosaico que fizemos nas arquibancadas, o maior do Brasil, o mais bonito. Uma festa de gala como incentivo ao time, que precisava de um resultado difícil, mas longe de ser impossível. Pelo menos até a bola rolar.

Quando Simon apitou o início do jogo, uma forte chuva havia caído no Maracanã. Não saberia dizer quais os prenúncios das águas do céu, mas o fato é que nosso começo foi desastroso. O Corinthians, monumental, nos bloqueou de tal forma que muitos esperavam o pior: uma goleada. Em quinze minutos, já tinham feito o resultado. Dois gols. O primeiro, numa falta bem cobrada pelo zagueiro Chicão, mas defensável – Fernando, mais uma vez, se colocou mal na cobrança e não chegou a tempo no canto direito, onde a bola entrou; além do mais, é difícil defender uma falta com os pés, que têm sido sua melhor opção. O segundo, numa entrada livre de Jorge Henrique, em falha da defesa ao usar a desgastada tática do impedimento, tocando de coxa e encobrindo nosso goleiro. Para nossa sorte, Ronaldo não esteve bem e, mais uma vez, não fez gols em jogos oficiais.

Houve o temor. Tudo parecia perdido. Não merecíamos ser goleados em festa tão bonita. Não éramos o Fluminense implacável do jogo contra o São Paulo, mas sim o da apatia contra a Gávea – um buraco no meio de campo, a trágica improvisação de Mariano na lateral-esquerda e o acúmulo de erros de Maicon no ataque. De concreto, o gol legal que Fred marcou, errada e grosseiramente anulado por Simon. É certo que o Corinthians foi infinitamente superior a nós e mereceu vencer a primeira etapa, mas é certo também que, se descêssemos para o vestiário com a desvantagem menor, as coisas poderiam ser outras.

O pior, ali, felizmente passou. Acabou a primeira etapa. Mesmo impactada pelo pésimo resultado, nossa torcida cantava.

No segundo tempo, com tudo parecendo destruído, o Fluminense veio como outro time. Parreira colocou Alan e Dieguinho, nos lugares de Maicon e Ratinho. Tomamos as rédeas do jogo, enquanto o Corinthians, até por conta da enorme vantagem, pensava em administrar o resultado. Nos quinze primeiros minutos, foi esse o desenho: atacávamos, não conseguíamos o gol, eles tocavam a bola e valorizavam a posse. Justo.

Mais cinco minutos e tudo mudou. Numa cabeçada de Alan, em rebote do goleiro Felipe, mais a única finalização certa do Neves, empatamos o jogo e o Maracanã veio abaixo. O Fluminense não tem a vocação de ser goleado. O Fluminense é o time que reage quando tudo parece destroçado pelas torrentes. O Corinthians sentiu. Ainda havia vinte minutos a cumprir, o Parque São Jorge era cansaço e as Laranjeiras voavam. A garra e o apoio da torcida incensavam o time, mas as limitações técnicas e físicas não nos permitiam ir mais à frente. Ainda assim, perdemos gols e gols: Felipe largava várias bolas, mas não aproveitávamos.

Cada um de nós via que era mais difícil a classificação, a cada minuto que passava. Mas o Maracanã ainda gritava, ainda urrava e esperava um desfecho melhor. Antes de sair, Ronaldo quase nos liquidou, mas Fernando defendeu. Com os pés. O restante do jogo se deu com o Fluminense no ataque, na pressão, mas sem maiores riscos de gol, e o Corinthians se defendendo heroicamente, merecendo a vaga.

Como cantam os Gaviões da Fiel, eles têm um bando de loucos pelo seu time. Nós também temos os nossos, e são milhares. A força da nossa torcida, subestimada por alguns, se fez presente mais do que nunca. Não nos classificamos porque, na soma dos jogos, do talento e dos resultados, o Corinthians foi melhor. Não saímos do Maracanã com a vitória desejada, mas mostramos, mais uma vez, como tantas, que a nossa torcida é a dos gigantes, é a dos leões. É a das mulheres lindas, dos rapazes educados e trabalhadores. É a torcida dos gritos incessantes, mesmo quando o time parecia à beira de tomar uma goleada.

Nós, Tricolores, perdemos em campo, com dignidade e de cabeça erguida, em cada um dos nossos corações.

Nossa torcida, belíssima, não perde para nenhuma no Sistema Solar. É incomparável. Mais uma vez, todo o Brasil viu.

Parabéns ao Parque São Jorge. Mereceram a vaga. Para ser Tricolor, uma exigência de nascença é a justiça no trato com as cousas.


Paulo-Roberto Andel, 21/05/2009

Thursday, May 14, 2009

CORINTHIANS 1 X 0 FLUMINENSE

A primeira batalha (14/05/2009)

Caros amigos, depois de uma ótima atuação no domingo passado, contra o São Paulo, o Fluminense voltou ontem a campo para o embate contra o Corinthians, time do maior artilheiro das Copas do Mundo, Ronaldo Nazário. Não repetimos o bom jogo de dias atrás e perdemos por um a zero. É um placar que nos dificulta para o jogo de volta, mas também não torna nossa classificação impossível. O Corinthians tem um grande time, mas não é superior ao do São Paulo, a quem vencemos com propriedade em nossa casa. Antes da partida, declarações do lateral alvinegro Alessandro causaram espécie: disse que o Corinthians não sentiria a pressão da torcida do Fluminense do Maracanã, no jogo de volta. Deu até a impressão que nunca havia perdido partidas para nós, desde os tempos em que era uma promessa (não-cumprida) na Gávea.

Deixo as provocações para depois. Falarei do jogo.

Assim como no domingo passado, mas não a nosso favor, o jogo mal começou e teve um gol: o corinthiano. O atacante Dentinho, em jogada rápida, entrou pela direita de nossa defesa, livre, e fuzilou diagonalmente o canto esquerdo de Fernando. Nosso goleiro, por sinal, foi um dos grandes destaques do jogo.

A impressão era a de que o Fluminense estava atônito pela simples presença de Ronaldo. Sabemos que é um craque, mas não justifica tamanho bate-cabeça; bastaria uma forte marcação atenta de dois jogadores, sem lhe dar espaço. É preciso respeitá-lo como o grande jogador que é, mas sem medos e afobações. Os erros na insólita e repetida tentativa de se fazer uma linha de impedimento quase nos custaram a desclassificação já no primeiro jogo: os alvinegros tiveram a seu favor um sem-número de chances perdidas, escanteios e, num lance, Castilho, nosso fiel ídolo, nos salvou: a bola bateu na trave direita de Fernando e correu todo o gol, sem que ninguém a empurrasse. E foi Fernando quem defendeu, com maestria, duas jogadas de primeira finalizadas pelo Fenômeno, uma em cada canto. Desta vez, muito bem o nosso goleiro. O mesmo não se pode dizer do meio de campo, que nitidamente caiu de produção defensiva em relação a domingo. Sofremos uma forte pressão, mas o jogo terminou o primeiro tempo com o escore mínimo a favor dos corinthianos. Veio o intervalo e o alívio: tempo para Parreira tentar corrigir o posicionamento do time e tentar evitar a derrota. Mudar a atitude. Fazer com que o meio de campo valorizasse a bola, sem chutões inócuos para o ataque. Conca nos fez falta; Neves, mal; Maicon, titubeante. Um a zero foi pouco, felizmente.

O Fluminense voltou para a segunda etapa sem alterações, o que até me surpreendeu; de toda forma, um detalhe fez com que o jogo se equilibrasse: o cansaço do time do Corinthians, que não conseguiria jogar o segundo tempo com a mesma pressão e velocidade que impôs na primeira etapa. Ainda assim, o Parque São Jorge teve uma excelente falta cobrada por André Santos, no cantinho direito baixo, posta para escanteio por Fernando com grande eficiência.

Então, aos pouquinhos, nosso Tricolor aumentou a combatividade no meio de campo e tornou o jogo menos desequilibrado. Tivemos uma grande oportunidade para empatar o jogo aos vinte minutos, mas o Neves perdeu o gol, chutando em cima do bom goleiro Felipe. Em seguida, o Corinthians reagiu e quase sacramentou a vitória: André Santos, recebendo passe de Ronaldo, invadiu a área pela esquerda do ataque e fuzilou, mas Fernando fez sua tradicional defesa com o pé. As coisas pareciam difíceis.

Parreira só mexeu no time para os quinze minutos finais; lançou Darío Conca e Alan para as saídas de Neves e Maicon. Deu certo. Mesmo ainda recuperando o ritmo de jogo, o argentino entrou com a sua tradicional raça aliada à técnica. E, pela primeira vez no jogo, o Fluminense tomou as rédeas da partida: o Corinthians estava cansado e tínhamos gás novo na equipe. Finalmente passamos ao ataque e deixamos de ser coadjuvantes do jogo. Quase deu certo: em dois momentos de cruzamentos, num com os pés e outro com a cabeça, Fred chegou a milímetros das bolas, quase empatando o jogo. Pena que tenha sido tarde demais. E Fernando, o grande destaque da partida, ainda fez uma defesa difícil em chute do volante Boquita, que tinha entrado justamente para frear Conca.

Corremos o risco ontem de tomar uma goleada desclassificante no primeiro tempo. Depois, equilibramos a marcação. Foi pouco para o que precisávamos, mas os quinze minutos finais trouxeram algum alento: timidamente, o Fluminense repetiu um pouco do que havia mostrado contra o São Paulo no domingo.

Apesar da vantagem matemática em termos de não ter sofrido gol em casa, engana-se quem aposta no Corinthians já classificado. Assim, como podíamos ter colhido ontem um cacho de gols em nossa rede, não é nenhum milagre fazer um gol no alvinegro e ganhar nos pênaltis. Ou fazer dois a zero. É difícil, mas é preciso que o leitor entenda uma coisa: para o Tricolor, nada é impossível de ser ganho, nada!

As cores das Laranjeiras farão o Maracanã lotado tremer semana que vem.

Talvez Alessandro se cale.

Precisamos ser o Fluminense do jogo contra o São Paulo - o Fluminense da luta, da dedicação e da força inecessante; se conseguirmos, ninguém nos tira essa classificação. O Corinthians é um time de respeito e tradição, mas também somos. Não há favorito. Estamos no páreo.


Paulo-Roberto Andel, 14/05/2009

FLUMINENSE 1 X 0 SÃO PAULO

Começar de novo (11/05/09)

Depois da decepção no campeonato carioca, mas também da expectativa nas quartas-de-final da Copa do Brasil, após o difícil empate contra o Goiás, o Tricolor estreou ontem no campeonato brasileiro, contra o poderoso São Paulo, tricampeão do certame e um dos favoritos ao título. Vencemos. Mais do que vencer, nesta partida convencemos. Foi uma estréia com pé direito, ressaltada pelo fato de que tivemos dois adversários em campo: o time paulistano e o árbitro Ricci, cuja atuação foi calamitosa e, por pouco, não interferiu no resultado. Desastres da arbitragem à parte, pela primeira vez no ano o Fluminense apresentou um conjunto de marcação impecável, de parar o adversário literalmente. Com isso, conseguimos mais uma vitória sobre o temível rival.

O Maracanã não estava cheio, tendo em vista o Dia das Mães – com o horário de quatro da tarde para o início da partida, prestigiar as matriarcas era tarefa impossível. Porém, jogo vazio do Fluminense é com quinze mil pessoas – e, destes, alguns mal tinham tomado assento nas arquibancadas e cadeiras quando o jovem Maurício fez um golaço: na direita do ataque, em frente ao bico da grande área, matou a bola e acertou um petardo que beijou o travessão, o poste direito do goleiro Bosco e ganhou as redes, em nosso primeiro ataque, aos dois minutos de jogo. Um gol maravilhoso, tal como Maurício havia feito num Fla-Flu do ano passado; mais uma vez, um tiro varando o ângulo direito da meta. E o Fluminense estava na frente, como permaneceu durante toda a partida. Mal deu tempo sequer de vaiar Júnior, Arouca e Washington, ex-jogadores de nossa casa, todos em campo pela primeira vez contra nossa camisa depois do ano passado. Como se viu no decorrer da partida, o lateral e o atacante mostraram a irregularidade costumeira, não nos ameaçando em nenhum momento; o ala, cria das Laranjeiras, parecia tímido, constrangido até. Arouca não fez uma saída boa de nossa casa, deixando a porta aberta ou saudades.

Um gol no primeiro ataque muda o panorama de qualquer jogo; ora um time encolhido pode buscar ataque, ora um time ofensivo pode se retrair. E o Fluminense tem feito suas partidas utilizando o contra-ataque como arma; assim foi. A batalha de meio-campo era nossa: depois do golaço, Maurício ganhou confiança e foi soberano em todas as disputadas de bola, assim como Wellington, que parece ter melhorado em muito sua condição física: cobria todo lado, corria como um leão. O São Paulo, por conta da nossa marcação adiantada, não conseguia ligar meio de campo e ataque; nas réplicas, éramos mais perigosos – eles não estavam bem. Em duas jogadas, praticamente comemoramos: na primeira, um bate rebate na área, a bola no alto sobrou para Edcarlos, livre, que chutou de primeira por baixo de Bosco, mas Richarlyson tirou em cima da linha já com o goleiro batido; na segunda, um gol legal, legalíssimo, feito numa cabeçada de Maicon, terrivelmente anulado pelo bandeira – desastroso coadjuvante na arbitragem desta partida. Atrás, a defesa estava segura, Mariano tinha muita raça e até mesmo o oscilante jovem João Paulo acertava algumas jogadas.

Terminou o primeiro tempo, onde fomos amplamente superiores e estivemos mais perto do segundo tento do que de sofrer o empate.

Na segunda etapa, continuou a nossa incessante marcação e também a relativa apatia do São Paulo; até metade do segundo tempo, as coordenadas do jogo foram todas nossas. Quem visse com desatenção, poderia até pensar que tínhamos um jogador a mais em campo, tamanha a superioridade nas divididas. O Fluminense valorizava a posse de bola a cada momento, bem ao estilo tradicional de Carlos Alberto Parreira, o que criou enormes dificuldades para o tricampeão do Morumbi. Na parte final é que corremos algum risco: Fernando fez uma grande defesa em chute de Borges num lance, e praticamente defendeu sem ver o segundo – a bola resvalou em seu traseiro e parou no chão. Sem maior importância dos meios, foram duas intervenções que garantiram a vantagem no marcador. Depois de um ritmo incessante, naturalmente nosso time cansou, com as alterações feitas a partir da meia-hora final de partida. Talvez Maicon e Neves pudessem ter saído antes. Mas a vitória foi assegurada.

O São Paulo à frente outra vez. A estranheza de ver nossos jogadores com a camisa adversária. O novo começo de campeonato. Tudo, valorizado pela garra de nossa atuação, brindada com uma vitória justa sobre uma poderosa equipe, e que serve de ânimo para a verdadeira batalha que será promovida quarta-feira, contra o também poderoso Corinthians.

Não sei dizer se, por algum momento, Júnior, Washington e Arouca sentiram saudade da nossa camisa. Sei apenas que saíram porque quiseram e, hoje, o que lhes cabe é a derrota.

É o começo, é a primeira rodada. De toda forma, nem que por um instante, estamos na frente. E a atuação de hoje é encorajadora para todo o restante desta temporada: se repetir regularmente o entusiasmo em campo de ontem, e caprichando um pouco mais nas finalizações, o Fluminense, contra a vontade de toda a imprensa calhorda, passa a ser um dos times que podem despontar no campeonato brasileiro. Temos time para vencer os tricampeões, não é uma hipótese: na prática, um fato.

Uma coisa de cada vez. Mais uma decisão depois de amanhã.



Paulo-Roberto Andel, 11/05/2009