Tuesday, February 27, 2007

Freguês, não; Cliente VIP...

Passou o Carnaval, com muito sol e vento na Região dos Lagos, churrascos e cervejas para quem quisesse e pudesse. Um pouco de futebol no sábado onde o Expresso do Mercadão sapecou uma sova de 4 no Rubro-Negro, abalado pela subida aos céus em Potosí e na quarta de cinzas para a Viradouro e quem gosta de desfiles de Escolas de Samba, já que a Beija venceu sem convencer mais uma vez, o Rubro Negro vence o Glorioso Maracaíbo sem fazer força preparando-se para o jogo do ano, até então: mais um clássico com seu Cliente VIP, o Clube da Colina.

No sábado, o tricolor suburbano (só podemos falar desse, pois o outro...) venceu o Mequinha, convenceu a todos e marcou sua presença em mais uma final de turno no Rio. Fruto de um belo trabalho feito por Alfredo Sampaio que mesmo com Odvan em sua equipe conseguiu ficar invicto em 6 partidas e ainda fazer o Zagueiro-Zagueiro marcar o gol decisivo.
Chega o domingo, as duas únicas torcidas existentes no Rio fogem do Maracanã para assistir ao jogo pela TV, devido exclusivamente ao abusivo preço dos ingressos. Este é um ponto onde eu ainda não consegui formar opinião, não sei se é melhor ter preços elevados e assim afugentar os que vão ao templo para profaná-lo, porém esvaziando grandes jogos ou se vale mais fazer promoções e lotar o Maraca, contudo trazendo prejuízos para quem gosta do estádio e do futebol. Estou em dúvida.

O Flamengo vai a campo com sua principal formação, única exceção feita à Irineu, que contundiu-se na véspera. O Vasco apresenta Marcelinho, que tem cara de cantor de banda de forró, no lugar de André Dias e deixa o velho Romário no banco.

Logo com um minuto de jogo, a zaga da colina falha e a bola sobra para Obina, que marca e se machuca seriamente, saindo em seguida, lembrando Cocada em 1988. Com a vantagem o Flamengo recuou e esperou o adversário para jogar nos contra-ataques, tática já manjada de Ney Franco e que nem sempre dá certo, visto o jogo contra o Botafogo. Mais uma vez não deu certo, pois o time da Colina soube se compor e passou a dominar a partida. Mas como a freguesia é certa em jogos decisivos contra o Urubu, o time do Eurico pouco produziu, apesar de ter conseguido empatar em uma cabeçada do ‘Beto Jamaica’ de São Cristóvão, o dito cantor de forró Marcelinho, aos 30 minutos e nada mais aconteceu de útil.

Veio o segundo tempo e Franco inova tirando o inoperante Claiton e colocando Salino, para ajudar o baixinho Paulinho a parar Conca e Morais. Com esta mudança o time da Gávea passa a dominar a partida, mas como tinha Roni e Souza no ataque, nada que era tentado funcionava. Bem diz meu amigo Andel que quem tem Roni não pode querer decidir nada. Acho que o Ney também conversou com Andel, pois a 4 minutos do final da partida tirou Roni acertadamente e incluiu, até tardiamente, Juninho na partida.

Renato Gaúcho também tentou modificar sua equipe, mas ele também não estava em um bom dia e mudou errado, tirando Conca e Morais cedo demais e colocando Romário apenas 6 minutos antes do fim. Romário está nesta patética jornada rumo aos mil gols, o que seria um feito, se não fosse uma história tão mal contada.

Acaba o jogo. Empate em 1 a 1.
Injusto para o Flamengo, que foi mais time. Injusto para o Vasco, que podia ter vencido se seu treinador fosse
mais ousado. O regulamento manda as equipes decidirem a vaga nos pênaltis e assim começa a já conhecida liturgia: as equipes sentam-se exaustas, os técnicos e massagistas chegam e os homens da imprensa começam a debater quem deve bater e começam os clichês: "Pênalti é loteria!", "Vamos ver quem vai bater primeiro", "Saiu a lista do Vasco" etc, o árbitro escolhe o lado e as equipes vão se abraçar no meio do campo, tentando demonstrar uma união que normalmente não é verdadeira.

Mas é um momento sensacional do futebol, a disputa.
A tensão é aparente e Leandro Amaral vai bater a primeira cobrança, gol, justo.

Renato, que é conhecido pela potência do chute, manda uma bomba no travessão (ele realmente errou todas as bolas paradas). Aí vem Dudar, que estão querendo transformar em craque, cobrança horrorosa nos pés de Bruno, que teve como mérito acertar o lado.
Leonardo Moura bate e, mesmo com seu inimaginável cabelo moicano, marca empatando a disputa.
Amaral (que não é o Leandro) chuta para fora e a vantagem muda de lado quando o outro Renato do Flamengo acerta. Neste momento é possível ver que Rodrigues tem razão: há coisas que estão escritas desde o big bang. Diego acerta os pés de Bruno mais uma vez e Souza decreta que o time da Colina é mesmo um Cliente VIP.

Os nomes da partida foram Obina Cocada e Romário, que dificilmente aceitará continuar no banco para jogadores tão fracos.

O Flamengo passou a mais uma final e é o favorito para vencer a Taça GB, diante do time do Duba, mas deve ter cuidado, pois até na Bíblia o menor vence o gigante.
Alexandre Machado, 26/02/2007

Monday, February 26, 2007

A sina

Escrevo hoje, ainda sob o impacto da recente vitória de virada do Madureira sobre o América, colocando o tricolor suburbano como finalista da Guanabara.
Uma partida surpreendente em termos de qualidade, dado o arábico calor, com times não necessariamente surpreendentes.
O time de Lamartine tem um bom conjunto, e vários jogadores experientes, com idades oscilantes. Bruno Larazoni, bom jogador que é perseguido pelo sobrenome, não é o que se pode dizer de um veterano. O mesmo vale para o goleiro Eduardo e o atacante Marco Brito - este, com pedigree das Laranjeiras. Mais antigos são o metrossexual - e bom jogador - Júnior Amorim, o zagueiro Júnior Baiano e o craque, craque Válber, cujo fim de carreira próximo incomoda qualquer torcedor que já testemunhou sua gigantesca categoria nos gramados.
Conselheiro Galvão nao fica para trás; por isso, o Madureira vem há vários anos montando bons times. Apesar da oscilação do zagueiro-zagueiro de Luxemburgo, Odvan, a categoria de Djair coordena os passes. Marcelo e Valdir Papel, ambos marcados por fracasso em times de maior expressão, são os artilheiros. Maicon, jogador razoável, ajuda fortemente o meio de campo.
O regulamento da competição define que as fases decisivas sejam jogadas no Maracanã, o que considero mais do que justo, primordial até. O que me incomodou foi ter visto um estádio tão vazio para uma cerimônia daquele porte. Não cabe o argumento de que ambos os times têm torcidas pequenas; bastava o bom senso no preço dos ingressos, estupidamente majorados, e também do lascinante calor à hora da partida, para atrair mais público. As pessoas gostam de futebol e, não raras vezes, dispõem-se a frequentar estádios para ver o futebol de boas equipes.
Falarei do jogo. Foi um bom primeiro tempo, não numa enorme correria, mas em ritmo bastante agradável para os expectadores. Apesar de não haver uma forte pressão com finalizações, o volume de jogo do América foi bem maior. Pela metade do primeiro tempo, inauguraram o placar, com um belo chute de Leandro Chaves, no ângulo esquerdo do goleiro Éverton. A partir de então, parecia haver uma consolidação: o Madureira era tímido nos ataques, e o América exercia seu bom toque de bola à busca de brechas em busca do segundo gol - o que quase conseguiu no final da primeira etapa, com um chute de Maciel que beijou o poste direito rubro. O América tinha relativo domínio, mas cadenciava o jogo, talvez influenciado pelo seu estilo nesta competição, que foi sempre o de buscar os contra-ataques; como o Madureira não vinha, paciência havia. Talvez aquele chute pudesse ter decidido o destino final da partida, o que acabou não acontecendo.
Veio a segunda etapa, e o excelente treinador Alfredo Sampaio (que jamais treinou times de grande porte no Rio, por ser mal-visto como eterno presidente do Sindicato dos Treinadores) fez o que se esperava: sacudiu o time. O resultado não poderia ser outro: perto dos cinco minutos, houve um ataque pela direita e a boa fase de Marcelo iluminou o gol: potente chute no canto e partida igualada.
O América acusou o golpe. Válber, muito cansado e gripado, foi substituído, e isso tirou a melhor saída em toque de bola da equipe. Por outro lado, também precisava atacar, ao contrário do que fizera durante todo o certame até ali: cabia-lha a iniciativa de jogo, e não a de contra-ataques. Pronto: o Madureira encaixou seu jogo. fcou à espreita, com arrancadas velozes e começou inclusive a pressionar a defesa americana. Mais ou menos dezessete minutos, outro jab: um escanteio, bola na área e Odvan, ao seu melhor estilo, acertou a bola com a parte de cima da cabeça, vencendo Eduardo e virando o jogo para Madureira.
O tempo ainda era longo, mas o América ficou estonteado, acuado, e não conseguiu mais se acertar em campo. Parecia a sina de muito tempo atrás, quando esteve decidindo semifinais de campeonatos brasileiro, ou mesmo a Guanabara do ano passado (embora, justiça seja feita, os rubros tenham sido prejudicados por um pênalti clamoroso àquela ocasião, não marcado a seu favor, quando venciam pelo escore mínimo). Houve um branco, uma pane, o bom time do América esfacelou-se pelos vinte minutos seguintes, às vezes erguendo cruzamentos, noutras com chutes de longa distância, mas sem ameaçar a vitória amarela.
A bola na trave de Maciel, bem-chutada mas não convertida, custou caro aos de Campos Sales, ou Edson Passos. E se entrasse? Dois tentos garantiriam a vaga na final? Vá saber. Foi a sina, a maldita sina.
Na saída, foi emocionante ver os velhinhos, com suas camisas encarnadas de outrora, lamentando o resultado mas já comentando as chances (reais) do segundo turno, a Taça Rio. O torcedor do América é, por natureza, um forte. Tentaram implodir seu time, não deixaram. E não são apenas velhinhos: há crianças também, muitas. O América vive.
Também foi bonito ver os jogadores do Madureira, muitos já com muitas léguas de futebol profissional, vibrando como juniores, abraçados, após o término do jogo. Afinal, seja onde for, em qual campo for, com o time que for isso é futebol. E, sendo futebol, sempre é tempo de esperança e fé.
Haja o que houver na partida de amanhã, o vencedor terá dificuldades ao encarar o Madureira nos dois jogos. E o América é, desde já, potencial canditado ao segundo turno.
Seria melhor ainda que ambos mantivessem suas equipes para a terceira divisão do campeonato nacional, pois certamente teriam grande chance de ascender à segunda, consolidando o atual estágio de qualidade.
Paulo Roberto Andel, 24/02/2007.

A quase novidade

Depois de dias de incerteza, o Tricolor anunciou o nome de seu novo treinador: Joel Santana.
Não era o primeiro de uma lista de urgência, nem o segundo. Iniciaram com Tite, um dos pioneiros da linhagem de ternos à beira-campo e entrevistas quase incompreensíveis, recheadas de palavras heterodoxas no meio futebolístico. De qualquer forma, é um treinador razoável; não será jamais um Tim, um Telê ou um Zezé Moreira, mas talvez desse para o gasto. Houve complicações e não fechou. Eu, particularmente, simpatizo com a idéia de que os treinadores do Tricolor sejam identificados com o manto das Laranjeiras, que conheçam os caminhos de Álvaro Chaves. Nada impede que um, digamos, "estrangeiro", seja bem sucedido no cargo. Porém, o vert, blanc, rouge é especial e não pode servir de estágio probatório para iniciantes, por exemplo. Não seria o caso de Tite, naturalmente, mas não o vi como um nome de peso para o Fluminense.
Tite excluído, nova trapalhada da diretoria. Buscaram Renato, apalavrado e compromissado com o Vasco. Tentaram ganhar com a força do dinheiro, mas não é assim que se dobra um Portaluppi - e, claro, não deu certo. Mais uma bola fora. Reparem como os estilos de Renato e Tite são absolutamente díspares: pelo visto, os nomes surgiram levando-se em conta qualquer coisa que não fosse o conjunto de métodos de trabalho.
Finalmente, anunciaram Joel Santana. Apesar de ser um treinador com bons resultados no futebol carioca, e muito enaltecido por parte da crítica esportiva, há alguns anos não consegue ser vitorioso no Rio. E também tem uma trajetória bastante limitada em termos de competições em outros estados ou em caráter nacional. Joel está no pôster dos campeões de 1995 nas Laranjeiras, o título mais emocionante que o Fluminense ganhou em toda a
sua era profissional. Renato, líder da conquista, é tido em Laranjeiras como um herói, um mito inatingível. Por que Joel também não tem os mesmos louros, sendo que é rejeitado por boa parte dos apaixonados pelo Tricolor?
Simples. No mesmo ano de 1995, o Tricolor não somente ganhou o campeonato do século, como também chegou às semifinais do campeonato brasileiro - até ali, tudo correndo bem. Jogou a primeira partida contra o poderoso Santos, numa quarta-feira, e aplicou sonora goleada de 4 x 1 no jogo de ida, disputado no Maracanã. Havia o que se comemorar: mesmo com o poder da Vila Belmiro, o resultado foi esplêndido e, se o jogo de volta fosse disputado em condições normais, dificilmente o Tricolor não disputaria o título. A vantagem de dois saldos iguais era santista e, desde quarta, passou a ser preciso uma vitória alvinegra por três gols. Difícil para os paulistas.
Veio quinta e coisas estranhas aconteceram em Laranjeiras. Joel não deu o treino de tarde, e houve certa confusão porque surgiu a acusação de que teria passado a tarde com Kleber Leite, então presidente do Flamengo, acertando seu contrato com a Gávea para o ano seguinte. A balbúdia e o bate-boca imperaram. Joel negou o encontro.
No domingo, com o lentíssimo Alê na zaga central, encarregado de vigiar jogadores como Marcelo Passos, Jamelli, Robert e o então esplêndido Giovanni, o Tricolor sucumbiu e permitiu que o Santos conseguisse o resultado esperado. Fizeram 5 x 2 e classificaram-se para a final. Nós perdemos a disputa de título mais certa de nossa história. Maliciosamente ou não, alguns homens de imprensa deixaram correr à boca pequena que Joel, na beira do campo, gritava pedindo calma ao time, que já tinham feito demais em chegar até ali. O Tricolor tinha salários atrasados naquele momentos, mas isso sequer justificaria um recuo na dedicação dos atletas, que ganharam o Estadual da mesma forma, com débitos nas contas.
Acontecida a reunião ou não naquela quinta, o fato é que Joel deixou as Laranjeiras e realmente foi trabalhar no Flamengo. O Fluminense, acuado diante da crise, começou um ano titubeante, manteve-se muito confuso e, ao final da temporada e sob suspeição do campeonato brasileiro, acabou rebaixado de divisão. Muitos torcedores atribuem a Joel a confusão que levou o Fluminense para um buraco sem fundo. Coincidência ou não, num futebol como o brasileiro, com várias trocas de treinadores, Joel nunca foi cogitado para voltar às Laranjeiras até 2003, oito anos de silêncio. Torcedores mais exaltados lembraram 1995 e ele caiu menos de três meses depois da volta para, agora, surgir como a salvação e o aríete do "trabalho" para a temporada de 2007.
Errar é humano e, por vezes, o futebol costuma ser implacável com erros que, em outros âmbitos, seriam perfeitamente contornados; noutras vezes, reconheço, o futebol age com a justiça que também deveria ser de todos os homens. A torcida do Fluminense jamais criticou o bom trabalho de Joel Santana e nem desconsiderou o êxito que teve em um determinado período dentro do futebol carioca, fatos inegáveis a olho nu. O que jamais aceitou, como no melhor enredo rodrigueano, foi a possibilidade de traição, de despezar o Fluminense às vesperas de uma decisão. Se não aconteceu, tudo indiciou Joel naquela época, e ele jamais se defendeu. Agora, voltando para Álvaro Chaves, tem uma ótima chance não de conquistar resultados em campo, o que seria esperado de um profissional do seu quilate, mas sim de cicatrizar uma profunda mágoa que, passados pouco mais de onze anos, ainda não foi plenamente desvendada.
Paulo Roberto Andel, 23/02/2007

Sunday, February 25, 2007

A outra Venezuela de Chávez

Ontem, Flamengo e União de Maracaibo enfrentaram-se no Mário Filho, pela Taça Libertadores.
Para os da Gávea, a empolgação em jogar no seu campo nativo pela cobiçada taça latina. aliás, deveria ser de todos. O estádio encontra-se muito bonito, com principal destaque para o setor de cadeiras, com vista esplêndica. Maracanã é a casa de Fluminense, Flamengo, Botafogo e, queira ou não Eurico M., Vasco.
Jogo na quarta-feira de cinzas, preços salgados e o imposto horário de pós-novela, quase dez da noite, com transmissão direta. Calor. Ainda assim, mais de trinta mil pagantes, o que nos dias de hoje pode ser considerado um excelente público. De toda forma, não entendo porque não fizeram um descontão para que a massa rubro-negra lotasse as arquibancadas para uma grande festa, equivalente a que ocorreu nas quatro linhas.
Festa? Sim.
Descontando-se hipérboles como a de se jogar praticamente no Monte Everest para satisfazer o sadismo das federações de futebol sulamericanas, com a anuência e cabeça baixa da CBF, é sabido publicamente que nenhum Maracaibo, com todo o respeito que mereça, tem como oferecer resistência ao Flamengo no Maracanã, mesmo que o Rubro-Negro estivesse, como estava, vindo de uma acachapante goleada para o Madureira por 4 x 1 . Reitere-se que um jogo à quarenta graus de sábado, em Bangu, com quatro gols de Marcelo, após o enorme cansaço da ida-vinda boliviana, é por demais atípico e explica o fracasso momentâneo. Claro, contudo, que o Maracaibo não é o Madureira, não tem um zagueiro-zagueiro como Odvan, a veterana maestria de um Djair e mesmo os gols do atrapalhado Marcelo, de quem nós, de Laranjeiras, bem lembramos.
O goleiro Angelucci foi até bem, embora tenha sido lento no primeiro gol do Flamengo, após chute distante do certeiro Renato. Vantagem no placar, a Gávea fez o que quis: caminhões de gols foram perdidos incessantemente, um atrás do outro. Mais dois gols de cabeça, com Souza e Obina, encerrou o primeiro tempo vencendo por três - e não seria injusto se fosse por seis ou sete. É realmente pouco a dizer para a massa flamenga: apenas um massacre, mas não aquele massacre opressor, destruidor, mas sim um massacre light, ponderado, constante mas calmo. Praticamente um coletivo.
Quando voltou para o segundo tempo, ainda sob os reflexos Rio-Bolívia-Bangu, era natural que o Flamengo viesse mais relaxado, e foi o que aconteceu. Apesar de esparsos ataques do modestíssimo time venezuelano, nada aconteceu que realmente pudesse apavorar qualquer Rubro-Negro, por mais tresloucado que fosse. Um ou outro chute quase perigoso, nada mais. Nos minutos finais, talvez empolgados pela chance de consolidar um goal em pleno Maracanã e, claro, com o jogo perdido, os maracaibos partiram para a frente e até conseguiram, numa bobeada da defesa da Gávea, o chamado gol de honra. E só. Com 3 x 1, e pelo que foi a primeira etapa, saíram lucrando e muito. Barato para eles.
Com opiniões contra e a favor, é certo que a terra de Chávez tem seu valor. Contudo, sejamos sinceros: em termos de futebol brasileiro, jamais serão páreo.
Paulo Roberto Andel, 23/02/2007

Thursday, February 22, 2007

Quatros

Era um jogo que praticamente não tinha grande valor, exceto o de manter a mística do confronto entre Vasco e Fluminense. O Tricolor, já fora da disputa; o Vasco, já classificado. Entretanto, foi uma das melhores partidas do ano, até por causa do descompromisso das equipes. Mesmo sob o forte calor, foi uma partida de grande velocidade, ataques empolgantes e que, apesar da vantagem Tricolor no placar durante boa parte do tempo, jamais pareceu absolutamente decidida. Fora de campo, a polêmica envolvendo o treinador Renato, que poderia ter ido para Laranjeiras mas acabou optando pela estabilidade vascaína. Uma pena que a atual programação do futebol carioca, priorizando jogos no sábado de Carnaval para o comparecimento de turistas, tenha ficado desalinhada pelo baixo público no estádio, com quase unanimidade vascaína. Compareceram cerca de dez mil pessoas, e seria justo que lá tivessem uma quarenta mil. Preços altos, temperatura alta, falta de estrutura e outros fatores acabaram tornando o Maracanã vazio numa linda tarde de um excelente jogo.
O Fluminense começou vigoroso, abrindo o placar no começo da partida, coisa de dez minutos, com um potente chute do jovem Soares, de fora da área, bela finalização e típica dos centroavantes do passado. Minutos depois, ele perdeu um gol inacreditável, chutando duas vezes em cima do arqueiro vascaíno Cássio. Outros gols foram perdidos e, como se sabe, não há perdão no futebol: houve um cruzamento, e o atacante Leandro cabeceou a bola no meio do gol, ainda que com certa força. O goleiro Berna falhou clamorosamente e o empate foi decretado.
Em diante, o Vasco passou a pressionar ligeiramente, dentro da enorme velocidade da partida para uma temperatura abusiva de trinta e muitos graus. Curiosamente, quando o jogo parecia-lhe favorável, ao final do primeiro tempo, Cícero cabeceou e fez o segundo gol do time. Jogo encerrado, intervalo. Não é possível dizer se a mudança do comportamento Tricolor, para melhor, foi obra do trabalho do interino treinador Vinícius Eutrópio - mas que o time correu como nunca tinha feito este ano, é fato inegável. Além do mais, Vinícius mostrou ser dado a ajustes simpes e interessantes - como o de colocar os entrosados Cícero e Soares juntos, para facilitar a equipe.
Recomeçado o jogo, novamente o menino Soares voltou a marcar, abrindo 3 x 1 e talvez causando uma forte expectativa de vitória. Porém, todos sabemos que dois gols são sempre pouco para sustentar uma vitória quando dois times de tradição estão em campo. Em seguida, para delírio vascaíno, Romário adentrou gramado, bem ao seu estilo: poucos passos, leves trotes. Espreita.
A vantagem foi realmente ilusória, dado que Leandro fez novo gol, no laço, e manteve a diferença mínima. Equilíbrio absoluto, manutenção do corre-corre debaixo do sol equatorial. E novas emoções.
Houve uma jogada na área vascaína, a dividida com Cássio e a bola sobrou na entrada à direta da área, no ataque tricolor. O experiente Alex Dias, até então apagado no jogo, acertou um sem-pulo lindíssimo, no ângulo, e confirmou o quarto gol tricolor. Novamente os ares de vitória seriam contemplados? Novo engano. Diego, lateral-esquerdo do Vasco, motivador de imensas críticas do amigo Zé Catalano, cobrou uma falta na entrada da área do Tricolor, esquerda do ataque, e fuzilou Berna sem piedade, bola no ângulo e terceiro gol vascaíno, ainda mantendo a vantagem mínima do Fluminense, com tempo ainda suficiente para uma reação e vibração de torcedores como Amâncio Cezar. Os poucos torcedores das Laranjeiras perceberam o baque: nós tínhamos sempre golpeado o Vasco, feto fôssemos boxeadores com potentes jabs, mas eles retucavam em seguida e nos passavam a sensação de que não haveria knock-out de jeito algum. Marcamos quatro tentos, eles reagiram em todos.
Não deu outra. Final do jogo, uma jogada muito confusa e Thiago colocou seu braço rente ao corpo para desarmar um ataque do argentino Conca. Como torcedor, tenho absoluta tranquilidade em dizer que houve a intenção clara de Thiago, e seria fatalmente pênalti. O problema é que a jogada foi feita fora da área. O árbitro Gutemberg marcou dentro e, portanto, penal. Os protestos do Tricolor foram justos; contudo, pênalti é pênalti e caso encerrado. Todos esperavam que o até então discretíssimo Romário partisse para a cobrança; entretanto, percebendo o excelente momento de artilharia de Leandro, deixou para que ele cobrasse, sem pestanejar. Foi uma cobrança bem no canto direito de Berna, que foi bem na bola dessa vez, mas não a ponto de impedir o gol que, na altura dos acontecimentos, foi o carimbo do resultado final.
O clássico foi emocionante e corrido, digno do futebol carioca, quatro para lá, quatro para cá, quatros. Ao mesmo tempo, em Moça Bonita, de acordo com o velho placar de Maracanã, o Flamengo foi impiedosamente goleado pelo Madureira, sob o calor saudita, com quatro gols de Marcelo, cria de Laranjeiras. Classificaram-se por causa da inesperada derrota do Botafogo para o Boavista, e isso pode ser um dos desígnios que o futebol dá aos campeões, a sorte.
O Vasco segue em frente e luta pela Guanabara; a boa atuação do ataque Tricolor credencia o time para avanços. Resta saber se o novo comandante, a ser anunciado em breve, conseguirá cristalizar as expectativas. É o que já cogitávamos, desde já, eu e os amigos Leonardo e Rita, numa garbosa mesa da Parmê pós-jogo.
Paulo Roberto Andel, 19/02/2007

Fidalguia (?)

A cidade do futebol carioca foi tomada ontem por mais uma polêmica, e fora das quatro linhas: ocorreu o assédio do Tricolor a Renato, hoje treinador do Vasco, com grande repercussão.
Vários fatores contribuíram para o burburinho: primeiro, por causa da identificação de Renato com o Tricolor - somando tudo, nos tempos de campo, Renato não ficou dois anos em Laranjeiras, mas foi tempo suficiente para tornar-se ídolo eterno da torcida. Segundo, porque nas vezes em que trabalhou como técnico do Fluminense, Renato sempre mostrou um excelente trabalho, só atrapalhado certa vez pela mentalidade confusa dos dirigentes, que chegaram a demiti-lo e recontratá-lo num mesmo certame. Teve tempo e foi prestigiado em São Januário, conseguiu colocar um limitado time entre os cinco do Brasil em 2006.
Terceiro e pior motivo: a maneira como os dirigentes do Tricolor agiram, menos pelo atual cenário do futebol brasileiro, onde tudo limita-se a números e preços, mais pela fidalguia tricolor, a mesma do hino e tão bem citada nos brilhantes textos de Marcos Caetano. Renato está no Vasco, é profissional contratado e não fica bem para o manto Tricolor abordar os que estão vinculados a outras praças. Deveriam ter feito isso ao final do ano passado, em vez de manter o exotismo de PC Gusmão; agora, mais uma vez, repete-se a confusão: troca de treinadores permanente, o que não dá bons frutos ao time. Desimporta se ofereceram o triplo do salário atual de Renato, ou mesmo que esteja insatisfeito em São Januário por ser obrigado a colocar Romário em campo, ou ainda que tenha valores em aberto com o Vasco. Essa não é a natureza do Fluminense. E, aos que dizem ser o futebol profissional, recordo que realmente o é, mas diferente de todas as outras profissões da Terra.
Como torcedor, Renato sempre estará no meu rol de treinadores favoritos: foi do campo, conhece os caminhos, não tem a frescura ou a verborragia de muitos dos seus companheiros de profissão. Dado o vínculo vascaíno, recordo sempre um nome, o de Edinho - símbolo tricolor de muitos anos. Outro profissional de alto nível, que encontra-se disponível e sabe tudo da cancha é Jair Pereira. A meu ver, dois bons nomes para preenchar nosso vazio.
Arrisco um palpite. Se conheço bem Renato, desde os tempos de Grêmio, sempre atento à família e aos amigos, cumpridor de palavras e contratos, pode ter vibrado com a proposta das Laranjeiras e o aumento gigantesco, mas não aceitará o convite. Tem relativa estabilidade no Vasco e é grato aos que agem com fidalguia, velha fidalguia. De Eurico Miranda, tudo podem e devem dizer, menos que não prestigia os treinadores de verdade. É certo que tem seu estilo ímpar de administração, mais do que questionável, mas é elogiado por todos os treinadores que por lá passam.
Falando em Eurico, não deixou de ser engraçado que vociferasse violentamente contra os dirigentes do Tricolor por causa da ausência de ética na abordagem a Renato. Logo ele, que sempre pareceu tão ditante desses valores, justamente num momento como esse passa a ter razão.
Estamos às vésperas de um clássico entre Vasco e Fluminense. O jogo em si não vale nada: os cruzmaltinos já esperam o adversário semifinalista da Guanabara, o Tricolor já amarga a eliminação. Mas o fogo ateado por causa de Renato trará um novo sabor à partida. Gostaria de ver Renato nas Laranjeiras, mas não pela atual condução do processo. E creio que não virá.
Aguardemos o desfecho de Carnaval.
Paulo Roberto Andel, 15/02/2007

Tuesday, February 20, 2007

Risco de vida ou morte

Ontem, o Flamengo estreou na Copa Libertadores da América. Trata-se de uma verdadeira obsessão para os clubes brasileiros a conquista do torneio, ainda mais para o rubro-negro, campeão em sua estréia no ano de 1981 e, desde então, com várias campanhas que ficaram pelo caminho.
Foi um recomeço sofrido, mas não exatamente pela qualidade do oponente boliviano.
O jogo, dentro das quatro linhas, pode-se até dizer que foi uma animada diversão para os expectadores. No primeiro tempo, o fraco time do Potosí perdeu uma arroba de gols feitos, o que poderia ter ocasionado uma derrota fragorosa da Gávea. O intervalo começou com dois a zero para os do altiplano.
No segundo tempo, com a entrada do veterano Juninho Paulista, acostumado às batalhas sulamericanas, o rubro-negro reagiu e comquistou um belo empate, com gols do também veterano Roni e de Obina.
Questione-se a justiça do resultado.
Em qualquer estádio digno da prática do futebol profissional, o Flamengo não somente seria franco favorito como também teria grande chance de golear o time boliviano. O que aconteceu ontem?
Simples. O Flamengo teve de enfrentar o terrorismo da altitude boliviana, e esta foi o principal fator que pode explicar o resultado. O domínio do Potosí na primeira etapa deveu-se exclusivamente à vantagem de se jogar na nefasta altitude de 4.000 acima do mar, o que entortou o Flamengo completamente: erros na saída de bola, no toque, no desarme, tudo provocado pela dificuldade de se respirar e na velocidade absurda que a bola toma naquela situação. Em termos de reação, o empate foi positivo para a Gávea; entretanto, ficou o eterno gosto de saber ser muito superior, mas ser aplacado por fatores extra-campo.
Não se sabe de competições sulamericanas de basquete, vôlei, natação ou quaisquer outros esportes nas regiões das alturas. Somente o futebol passa por essa via crucis. Ainda mais o brasileiro, cujos times que disputam as competições internacionais normalmente estão acostumados ou a baixíssimas alturas, ou mesmo o nível do mar. Tudo acontecendo de forma grosseira com a devida anuência da CBF, que nada faz para impedir estes descalabros mesmo com a seleção brasileira.
Historicamente, seleções e times destes países usam o fator altitude para tentar uma vantagem contra o temido - e superior - futebol brasileiro. Tem sido sempre assim desde muito tempo, e ninguém no Brasil se posiciona contra isso. Vergonhoso.
Via de regra, o Flamengo não terá dificuldades maiores para se classificar. Grave mesmo foi o estado físico de alguns jogadores, que chegaram a passar muito mal, como Renato Augusto - vejam que trata-se de um jovem e muito bem preparado jogador. Chegou a ficar meia hora n'água depois do match, visando recuperar a temperatura normal.
É momento de clubes, e também a malfadada confederação, lutarem contra o despautério que é a marcação destas partidas contra alguns adversários sulamericanos, sempre nos estádios com ar mais rarefeito, usando recursos extra-campo para equilibrar partidas que, disputadas em condições normais, não ofereceriam grande chance aos times locais.
Paulo Roberto Andel, 16/02/2007

Thursday, February 15, 2007

Clássico é clássico. E vice-versa.

Temos mais um domingo, aquele mundialmente conhecido como o dia do futebol e do Programa Silvio Santos, conforme cantava Branco Mello em uma de suas mais fracas crônicas musicadas. Após um sábado de muito sol e mais uma derrota do Fluminense (que eu chamava de melhor elenco, mas agora ...) o SunDay está um RainDay, mas isso não importa pois teremos um clássico. Todos os clássicos deviam ser jogados nos domingos, no horário mais nobre possível.

Estavam em campo o Campeão Carioca atual e o Campeão da Copa do Brasil; o árbitro é Djalma, clone de meu ex-primo Lauro; a expectativa por uma vitória carimbaria o passaporte do vencedor às semi-finais da Taça GB e diminuiria qualquer pressão futura sobre os atletas. A derrota não seria o fim do mundo para nenhum dos dois; porém, quem perdesse chegaria ao carnaval após uma viagem desgastante até Maceió ou Potosí. As duas equipes estiveram em campo, com o Botafogo completo e o Flamengo sem sua dupla de zaga titular.

O primeiro tempo foi todo do Glorioso, que dominou a partida apresentando mais vontade que o Rubro-Negro, mas conseguiu sofrer o primeiro gol, marcado por Obina aos 21 minutos. Contudo após levar o gol o Fogão soube assimilar o golpe, tal qual George Foreman em sua luta contra Evander Holyfield em agosto de 91, e partiu para cima, sufocou o adversário, igualando a partida no último minuto da primeira etapa através de Jorge Henrique – a melhor contratação até agora no Rio – partindo sozinho na Avenida Juan, o maior culpado do desastre que foi a defesa do Flamengo.

Não era dia dos laterais esquerdos. Juan foi péssimo, mas Hiran foi muito pior, errou tudo o que tentou. Méritos para Cuca que percebeu o ponto fraco de seu time e realizou a substituição ainda no primeiro tempo. Ney Franco não pode substituir Juan, mas não pode ser culpado, pois também conseguiu equilibrar a partida com suas mudanças. Era um dia de sair muitos gols e Juan sabia disso e fez o que pode para ajudar o Glorioso a marcá-los. Depois de deixar JH entrar e marcar pelo seu lado aos 45’ do primeiro tempo, ainda fez um pênalti, que foi marcado pelo juiz apesar de ter ocorrido fora da área, aos 2’ do segundo. Dodô que era dúvida agradeceu e marcou.

Chegou então a hora dos treinadores. Cuca colocou Juca, Franco pôs Juninho e depois entrou Roni. O Pentacampeão mudou a forma do Flamengo jogar, criando situações de gol com Renato e Obina. O grande problema foi que Renato Augusto não estava bem e não conseguiu se firmar. Já Zé Roberto mostrou que é realmente um grande jogador e que merece ser considerado o melhor atualmente no Rio.

O jogo ficou sem grandes momentos até os 30 minutos, quando alguém soltou um buscapé imaginário em campo e o jogo ‘pegou fogo’. Angelim mostrou uma de suas especialidades: a cabeçada certeira, já fez seis gols assim mesmo sem ser titular absoluto. Mas havia a figura de Juan disposto a estragar toda e qualquer reação rubro-negra e ele se esforçou tanto que acabou expulso dois minutos depois do gol. A torcida ainda comemorava.

O Botafogo, que não tinha nada com Juan, aproveitou o seu desejo exasperado de sair da partida e mais uma vez ficou a frente com um chutaço no ângulo de Joilson, o xodó do Cuca. Realmente, um golaço!

Como a adrenalina estava a mil, o Flamengo mais uma vez conseguiu um empate devastador, em apenas três toques, Roni que massacrou a torcida apenas uma semana antes, conseguiu fazer o que não tinha feito contra o Boavista e marcou o gol de empate. Tudo isto ocorreu em menos de 10 minutos, mas ainda havia tempo para mais.

Em um cruzamento de Joilson, André Lima desviou sutilmente a bola com o braço e a tirou do alcance de Bruno, sobrando para Zé Roberto marcar o que seria o 4º tento do Alvinegro. Tudo certo: todos os locutores gritando o seu tradicional gol com 17 o’s (goooooooooooooooool), o assistente correu para o meio, a torcida delirava, mas o clone do Lauro viu o toque, que poucos no estádio viram durante o decorrer do lance. Justiça pelo que ocorreu em Cabo Frio duas semanas atrás.

O jogo foi sensacional, um bom aperitivo para uma temporada que promete.

Abraços.

Alexandre Machado, 12/02/2007

Tuesday, February 13, 2007

Debacle

Mais um dia de jogo clássico no Maracanã imponente. Apesar de que muitos reprovam o horário, não vejo em mau tom o match das vinte horas e trinta minutos: trata-se de programação amena, barata e terminada em tempo suficiente para a chamada "esticada".
O Tricolor, ainda em busca do sopro esperançoso do título da Guanabara, encarava o garboso América, time de simpatia popular e torcida reduzida com o passar dos tempos, poucos lembram-se a razão disso. Recordarei: rebaixamento de divisão por decreto, boicotes e perseguições federativas. Muitos dos que queriam ver o fim do América perderam-se pelo caminho. O rubro está muito vivo.
À direita da tribuna, o sangue fervia. Poucos, mas fanáticos torcedores. À esquerda, quase dez mil tricolores. Times com uniformes impecáveis. Tranquilidade no estádio, jogo de paz.
O primeiro tempo não teve um mar de emoções. O Tricolor atacava, mesmo que atabalhoadamente, como tinha sido a tônica de suas apresentações, ao passo que o América, recheado de boleiros experientes, cadenciava o jogo e preparava contra-ataques velozes, tendo destaque para Bruno Larazoni, bom jogador que sofre muito preconceito por ser filho do excêntrico treinador. De qualquer forma, os ataques foram inócuos, praticamente não chegando a ameaçar as metas. Poucas oportunidades foram realmente boas e ameaçadoras. Um grande perigo aconteceu numa cobrança de falta, bem executada por Júnior Baiano, com boa defesa do inseguro Ricardo Berna. O jogo não alimentava grandes perspectivas de gol e trazia a muitos torcedores os desejos de consumo: uma cerveja, um cachorro-quente, um refrigerantes, passatempos divertidos em contraponto a uma promessa não cumprida de espetáculo. Enfim, um jogo morno: esteve longe de ser bom, e bem distante também da ruindade absoluta. Chocho. Medíocre. Assim podemos dizer. Faltava particularmente ao Tricolor a garra e a velocidade. O América seguia a receita prescrita de paciência.
Quando tudo parecia fadado ao empate sem gols na primeira etapa, veio uma confusão na área de Laranjeiras, com cabeçadas seguidas para o alto dos dois times, sem que a bola fosse devidamente rifada. Houve um quique e, em seguida, um voleio espetacular do mesmo Lazaroni, inaugurando o placar. Foi um chute forte e muito bonito, mas não indefensável. Sei que o goleiro Berna tem defensores e nem seria o caso de culpá-lo pelo tento. Apenas é o caso de dizer que, fosse São Paulo Victor, a bola não entraria. Até msmo o efêmero São Paulo Goulart. O fato é que, tendo certa vantagem na condução do jogo, o Tricolor desceu derrotado para o vestiário.
Tenho a opinião de que alguns equívocos têm contribuído para o fracasso do Fluminense em campo. Inicialmente, a bem postada defesa do ano passado, Thiago e Roger, não estava sendo aproveitada; quando o foi, agora, contou com Luiz Alberto na condição de líbero - justamente o menos veloz e técnico dos três. Cícero e Soares, revelações em grande fase provenientes do Figueirense, poderiam ter sido melhor aproveitados se jogassem próximo, aproveitando o entrosamento - fato que não aconteceu. Carlos Alberto, o talento na armação de jogadas, foi escalado no ataque...Logo, o time batia cabeça atrás, não tinha ligação com o ataque e nem mesmo o completo ataque, vivendo de chutões para frente. Tudo isso seria corrigido no vestiário?
Não.
O time voltou como antes. Lento, aparentemente desinteressado e com mudanças sem efeito. O América foi amarrando seu jogo bem distribuído, contando com a categoria do veterano Valber e, na metade do segundo tempo, sacramentou a vitória numa belísssima e rápida jogada de ataque que terminou com a finalização de Marco Brito, filho de nossa casa, livre e driblando Berna para fechar resultado. Daí em diante, o bom toque de bola rubro serviu apenas para administrar nossa agonia - mais um ano longe da final da Guanabara, mais um ano começado em desordem, mais um ano que teremos de lutar muito para não perdermos toda a semeadura.
O América, merecido vencedor, vai firme para as semifinais. Tem um time bem estruturado, experiência e juventude. Não me surpreenderei se for o campeão.
Notícias dão conta da dispensa de Gusmão, o treinador do Tricolor. Não sei se seria a melhor alternativa.
Sei é que algo precisa ser feito. O Tricolor merece.
Paulo Roberto Andel, 12/02/2007

O adeus de Gusmão

Demorou, mas finalmente o Fluminense dispensou Paulo César Gusmão do cargo de treinador das Laranjeiras. Os torcedores só não entendem a razão de tanta demora.

Quando foi contratado, PC Gusmão tinha uma difícil missão: livrar o Fluminense de mais um rebaixamento, o que parecia extremamente complicado há cinco meses atrás. Conseguiu executar essa tarefa, sem qualquer brilho e sem merecer medalhas por isso; afinal, em 13 jogos disputados em 2006 só ganhou dois: um do Cruzeiro, que com todo respeito, é freguês, e outro do Santa Cruz, que era o último colocado do campeonato na ocasião. Diante deste sucesso, a diretoria do Flu vacilou e cometeu o erro de manter o treinador para a temporada de 2007.
O que é mais incrível é o fato dos responsáveis pelo departamento de futebol do Fluminense não aparentarem saber nada sobre o esporte - há pouquíssimo tempo atrás, o clube teve um dos melhores times do Brasil, em 2005, a campanha tricolor foi maravilhosa e o time disputou títulos em todas as competições que participou. A formação daquela equipe começou com a contratação daquele que em minha opinião é o melhor técnico em atividade no Brasil, Abel Braga. Este, com seu princípio de que jogadores que vestem a camisa de times como o tricolor têm que estar acostumados a títulos e glórias, só pediu boas contratações e o resultado foi um conjunto que contava com o talento de Gabriel, com a habilidade de Fabiano Eller, com os gols de um Tuta em boa fase, com a raça e com a garra do exímio Leandro, com jovens confiantes vindos de Xerém e sobretudo com uma vontade coletiva de ganhar.
Com um bom time e um bom técnico, o Fluminense chegou ao seu 30º título estadual, chegou à final da Copa do Brasil, passou o Brasileiro no topo da tabela e teria grandes chances de ser campeão se não tivesse que jogar todas as partidas fora de casa (o Maracanã estava em obras e o Fluminense mandava seus jogos em Volta Redonda).
Em 2006 o Fluminense errou feio, contratou mal, jogadores que não tinham gana de vencer, não tinham raça e, em diversas partidas, jogou sem a menor dignidade. Atribuo esse fracasso ao fato de terem deixado o Abel escapar, pois, se ele ficasse, teria segurado bons jogadores que foram para outros clube, e jamais teria permitido que contratassem atletas da quase rebaixada Ponte Preta, ou que vivem no departamento médico, ou que já tiveram sua época no futebol mas se recusam a admitir que esta tenha chegado ao fim. Depois veio o erro que selou nosso destino: a contratação de Ivo Wortmann. Este pediu péssimas contratações, não tinha (e não tem) nenhum título em seu currículo de treinador e, além disso, não tinha (e não tem) a vontade e a estrela de Abel. Podiam ter aprendido com o erro, mas não: mantiveram o limitado PC no comando. De dezembro pra cá, ele dispensou o Marcão, único jogador de linha do Brasil a atuar por oito temporadas seguidas no mesmo clube, e que, além de tudo, sempre declarou publicamente seu amor pelo Tricolor, que sempre defendeu as cores que traduzem tradição com honra e dignidade, que fez promessa em 2003 para o time não cair (quem mais faz isso no futebol de hoje em dia, em que o esporte é um negócio, em que não existe amor à camisa?) e que foi ao inferno e voltou com o clube; depois disso o time teve uma vitória magra num jogo ruim contra o Friburguense; em seguida, uma derrota lamentável para um Volta Redonda que não ganhou de mais ninguém; mais tarde, um empate com o fraquíssimo Nova Iguaçu e finalmente uma derrota vergonhosa para o América.

O time, de tantas contratações e sem o menor entrosamento, conta com dois jogadores que sabem jogar juntos, Cícero e Soares; ao invés de aproveitar isso, o técnico não deixou que jogassem juntos nenhuma vez.

O Fluminense tem quase 20 dias para se preparar para a Taça Rio, é praticamente uma outra pré-temporada. O ataque não é bom, temos um Alex Dias velho para os padrões do futebol e o fraco Rafael Moura. A solução é aproveitar a dupla Cícero e Soares e trabalhar para que o Lenny ganhe confiança e se torne um grande atacante, pois potencial ele tem. Além disso, é preciso que se contrate um bom técnico - só o fato de Joel Santana e Tite serem considerados é preocupante. Estes dois não podem dirigir o time das Laranjeiras. Se houver troca-troca de treinadores como no ano passado, 2007 será mais um ano de agonia, o que não precisaria acontecer: temos o craque Carlos Alberto, o excelente Thiago Silva na zaga, o bom Carlinhos na lateral direita, Cícero e Soares que fizeram um bom brasileiro pelo Figueirense. Branco deveria aproveitar a saída de PC para implorar a Marcão que volte para disputar o Brasileirão pelo Fluminense, pois Marcão é um guerreiro que sempre terá vaga de titular no Fluminense.

Bola para frente e cabeça na Taça Rio. Mas antes do returno temos duas missões: secar o Vasco, pois o único time que não pode ganhar a Taça Guanabara de jeito nenhum é o do Eurico, e trabalhar o lado psicológico dos jogadores. É fundamental que eles tenham vontade de ganhar, não adianta entrar em campo sem vontade. Fizemos isso e perdemos oito pontos para times pequenos, coisa que não pode acontecer num campeonato curto e fácil como o Estadual.

Que o próximo técnico seja um vencedor, tenha estrela e seja um motivador, como são Abel e Renato Gaúcho. E que o tricolor faça as pazes com a vitória e proporcione à sua linda torcida a alegria de gritar “É campeão”, mais uma vez.
Rita Sussekind, 12/02/2007

Friday, February 09, 2007

Guerra e paz

É sempre bom adentrar Maracanã e encontrar o América num match qualquer. Esteve por ausente por muito tempo, e agora tem recuperado seu espaço no cenário da Guanabara.

Tal como o inesquecível Nelson, sou Tricolor desde muitas encarnações, e serei por outras. Muitos torcedores de toda a Guanabara têm respeito e admiração pelo América, o hipotético segundo time das torcidas, e pode até haver algum fundo verídico nisso.

Por outro lado, sem qualquer demérito, também é bom ver o Vasco em Mário Filho, Vasco que hoje distancia-se cada vez mais por utilizar São Januário freqüentemente. É a casa dos vascaínos e compreende-se; porém, os amantes do bom futebol não resistem ao espetáculo de beleza e magia que é a presença das equipes de grande torcida no Maracanã. O Vasco também precisa do Maracanã, e vice-versa.

Os cariocas vivem tempos de guerra. Por um instante, nem tudo está perdido. É o clássico da paz. Vasco versus América. Ganhou este apelido por que, ao final dos anos trinta, havia duas ligas de futebol no Rio de Janeiro, rivais. Aconteceu a unificação e o primeiro jogo, justamente entre as duas equipes, selava a paz no então futebol federal.

Mal começou o embate, e o América abriu placar, com uma certeira, porém quase defensável, cabeçada do veterano Júnior Baiano, após cobrança de esquinado pela direita do ataque rubro. Como sempre acontece no futebol, o gol inicial cria novas nuances para qualquer partida, quanto mais se acontecer outro tento, e foi o que houve. Com pouco mais de dez minutos, o América tinha feito o segundo gol, com boa finalização de André Gomes. Então, o treinador cruzmaltino Renato resolveu alterar o time, colocando Abedi no lugar de Ives, dois jovens. Não houve mudanças significativas na partida, e o placar não se alterou: o Vasco corria atabalhoadamente, e o América esperava sempre as chances de um contra-ataque. Enquanto a torcida gritava seu nome, o veterano Romário permanecia impassível no banco de reservas.

Começado o segundo tempo, o Vasco teve nova baixa, a expulsão justa de Igor aos três minutos. Seria um forte complicador para o segundo tempo, até mesmo para as novas substituições, mas Renato não se fez de rogado e colocou Romário, para a saída do argentino Conca. O Vasco ficou com dez em campo, mas três atacantes. A sede de ataque, justa e necessária, se fez positivamente presente com o gol de André Dias em boa jogada.

Existe a tradicional história do placar de dois a zero. O outro time diminui, ganha ânimo e fica mais perto do empate do que o oponente fica da vitória. Poderia até ter ocorrido isso, mas a verdade é que o gol não ajudou a organizar o Vasco e nem o experiente América tremeu. Ao contrário, poucos minutos depois, Morais foi expulso e a cruz de Malta reduziu-se a nove em campo, o que praticamente aniquilou a chance de um improvável empate. A derrota confirmou-se: o América passou a tocar a bola com calma, sem ser ameaçado.
O resultado criou um bolo na chave de classificação e, com isso, o Tricolor, mau lavrador, recupera chances de buscar classificação para a fase final da Guanabara. Quem viver, verá.

Em paralelo, Romário segue sua luta implacável pelo milésimo gol. Não fez ontem. Não tem feito. A vida e a luta continuam.
Paulo Roberto Andel, 08/02/2007

A complicação

Disse noutro dia a respeito do afinco a ser perseguindo no futebol, tal como o lavrador que prepara a terra para obter as melhores colheitas.

O Tricolor não tem sido um bom lavrador.

Ontem, houve o embate contra a novata equipe do Nova Iguaçu, no estádio alvirrubro de Edson Passos. Ressalto que, jogo à parte, a nova casa do América é simpática e acolhedora; entretanto, meus tempos de adolescente buscam no coração a memória de Wolney Braune. Não tive a honra de ver o campo de Campos Sales. Wolney, vi muitas vezes; houve tempos em que deixava a faculdade pela tarde e flanava pela Vila Isabel, em busca do aroma do samba e do futebol. Era pequeno, acolhedor e com o protótipo de antigamente. Sepultaram Wolney em troca de um centro de compras e consumo. Assim é a vida, com poucos palcos e muitos artigos.

Falarei do jogo. Começou de um jeito meio enrolado, confuso, sem grandes jogadas e bastante truncado nas intermediárias. Foi então que, aos dez minutos, foi marcado corretamente um penal para o time da baixada, cometido por hands de Luiz Alberto. Luiz é um jogador que começou de forma promissora, mas a verdade é que ainda não se firmou, estando já na faixa direcionada para perto de trinta anos. Jogou no exterior, correu Brasil, mas não teve a idolatria das torcidas. Entendo que seria útil para uma temporada longa, ainda mais em se tratando do Tricolor, que tem a avidez das conquistas e precisa de elenco para almejar competições diferentes. Contudo, não bastasse a grave baixa de Marcão, grave e desnecessária, tínhamos até há pouco Roger e Thiago no banco de reservas, dois dos poucos jogadores que salvaram-se no malfadado ano passado. Thiago jogou agora. Não deve sair mais.

Aconteceu o gol do Iguaçu naquela cobrança de pênalti, convertido por Éberson. Assustado, o Tricolor partiu para o ataque, ainda que de forma completamente desorganizada. Passados quase dez minutos, teve efeito: um outro pênalti, surgido justamente por uma cabeçada de Luiz Alberto, outro hands e a cobrança harmoniosa de Carlos Alberto, empatando a peleja. Mesmo que nem sempre as jogadas derivem para resultados positivos, é bonito ver o toque refinado de Carlos, que remete a outros grandes jogadores do passado. Está com uma vontade enorme e, se não faz mais, é porque tem travado uma batalha quase solitária contra as defesas adversárias. Neste jogo, particularmente, esteve muito nervoso e correu risco até de expulsão, o que só não ocorreu devido à moderação do árbitro Beltrami.

Os vinte minutos finais do primeiro tempo foram dominados pelas Laranjeiras, com gols perdidos pelo mesmo Carlos Alberto, por Cícero e Thiago Neves. Não houve outro tento e, com isso, encerrou-se a primeira etapa.

Era de se esperar uma mudança tática, uma mexida substancial, e isso acabou não acontecendo no segundo tempo, embora a trave, a velha trave que salvava Castilho, foi nossa inimiga por três vezes. Fuzilamos a trave do Nova Iguaçu, sem sucesso. Um fardo de gols foi desperdiçado. Pressionamos arduamente, mas sem a organização devida. O tempo foi passando, entraram Lenny, Magrão e Moritz para que a ofensividade aumentasse, mas não houve progresso. Ressalte-se a brilhante atuação do goleiro Diogo, fechando a meta do Nova Iguaçu, ao passo que o indeciso Berna era mero expectador do confronto.

Por mais que a atuação fosse marcada pela disposição, e realmente foi, não jogamos como campeões. Não temos tratado a terra com afinco, e isso não pode gerar os melhores frutos. O empate foi muito ruim em termos de classificação para as finais do turno, e passamos a ter que contar com a sorte, a mesma que nos faltou com as bolas na trave. O Fluminense, por sua grandeza, não pode limitar-se a conquistar um ponto contra o Nova Iguaçu, por mais respeito que este team mereça – e muito merece, sabemos.

Temos ainda os perigosos América e Vasco pela frente, sem alternativas que não passem por duas vitórias. Disse o velho Horta: vencer ou vencer. E não há mais jeito. Caso contrário, mais um ano sem a Taça Guanabara.

A terra está mal mexida. A chance de salvar a colheita é nesta semana.

Paulo Roberto Andel, 06/02/2007

Tuesday, February 06, 2007

Massacre

O célebre doutor Eduardo, conhecido intimamente pela multidão como Tostão, disse certa vez: “Colocar um jogo de futebol em pleno horário de verão, às 16 horas é desumano!”. Eu discordo do antigo craque e vou explicar os motivos. Jogadores de futebol são figuras excessivamente mimadas pela mídia e também pela torcida, que esquecem que eles são atletas e que são preparados fisicamente para este tipo de situação. Assim sendo, apresentam-se de forma preguiçosa sempre que participam de partidas no horário. Nos dias de hoje a televisão é quem define os horários, pois é quem paga pelo espetáculo. Cabe aos clubes e os demais envolvidos se adaptarem e não reclamarem.
O prólogo acima cabe perfeitamente para a partida entre Flamengo e o desconhecido Boavista de Saquarema, ocorrida no último domingo neste horário ‘desumano’ do Tostão. Foi um massacre em todos os sentidos. O scratch rubro-negro não tomou conhecimento do time de Bacaxá e mandou no jogo, havia um sol para cada ser vivo presente no Maracanã (inclusive os que não são vistos a olho nú) e o principal, os atacantes do Flamengo massacraram a torcida com a quantidade de gols perdidos. Não é possível que um time formado por jogadores que recebem para fazer isso consiga ser tão eficiente quando produz as jogadas e incrivelmente ineficaz para concluí-las.
Foi um jogo de um time só, o Boavista não existe como clube de futebol, seus jogadores são fracos e nem quando os ‘reforços’ Alex Alves, Rodrigo Beckham e Váldson entrarem em forma conseguirá fazer algo além de fugir do rebaixamento. Um dos atrativos seria o jamaicano Frasier, que me lembrou a passagem de Aluspah Brewah pelo Flamengo há dois anos; pelo menos, Brewah não entrou em campo.
O Flamengo começa a tomar forma, a entrada de Thiago na defesa, em função da contusão de Irineu serviu para mostrar que ele deve ser titular, pois tem muito mais recursos que os outros 4 companheiros de zaga. No meio Juninho deve acabar perdendo a posição de titular para Renato Augusto, que quando foi deslocado para a armação foi muito mais objetivo que o pentacampeão. Como este ano é um ano de Libertadores e ter um elenco é mais importante que apenas ter os onze iniciais essa disputa tem tudo para ser saudável e boa para o grupo, que ainda tem o desconhecido Gerson Magrão na espera.

Agora temos o ponto chave: o ataque. Durante o primeiro tempo o estreante Souza jogou ao lado de Renato Augusto com Juninho na armação. Houve um gol anulado no início e o Flamengo atacava, porém não finalizava, apenas quando Renato tentava a longa distância. Desta forma o goleiro Erivélton se destacou nesta etapa. Ney Franco soube mudar o time, sacando Juninho e colando Roni na frente e passando RA para a armação. Aí começou o massacre do segundo tempo. Roni conseguiu uma façanha que eu só consegui ver em 1989, quando Paulinho Criciúma perdeu 10 gols feitos em jogo do Botafogo contra o Vasco que terminou empatado sem gols.

Roni perdeu gols de todas as formas: marcado, na corrida, cara a cara com o goleiro e acertou a trave. Souza também conseguiu perder gols incríveis, tal como Chiquinho em 1985, contra o Botafogo, de dentro da pequena área. Contudo assim como o Chiquinho, que no mesmo jogo ele fez o gol da vitória, Souza aproveitou o bom cruzamento de Léo Moura e cabeceou com perfeição deslocando Erivélton.

Apesar do número de oportunidades perdidas e, por se tratar de um início de temporada, o Flamengo foi muito bem.

Alexandre Machado, 05/02/2007

Thursday, February 01, 2007

Aniversário

Aniversário de Obina e de Cláudio Max, jogo do Flamengo, um dia dos Deuses. Fora de casa, o time daquele que é conhecido como “Melhor que Eto’o” vai a campo contra os pupilos do Caixa, que está no Caixão, pelo Rubinhão, antigo Caixão, ou o que quer lá que seja. A partida que havia sido adiada pelos bombeiros finalmente aconteceu e, justiça seja feita, o melhor venceu.

Sou do tipo que acha que times pequenos ou, sendo politicamente correto, clubes de menor investimento servem para encher o campeonato e para perder dos times grandes, que são as alavancas das competições. Já tivemos experiência no ano passado da final da Taça Rio entre Madureira e Cabofriense, que foi um fiasco de público e emoção. O pensamento deve ser o mesmo das provas de meio-fundo do atletismo ou das provas rápidas de ciclismo por equipe, onde há um ‘coelho’ que arma o caminho para o craque. É muito melhor quando apenas um figurante rouba a cena por algumas rodadas e depois entregue o bastão para quem devidamente deve brilhar.

Depois de dois anos onde o bizarro imperou nas primeiras rodadas da Taça Guanabara, onde os resultados mais esdrúxulos aconteceram, finalmente os donos do espetáculo iniciaram o certame apresentando algo de útil. Alvíssaras!

O querido Rubro-Negro repetiu a escalação, repetiu a disposição e o número de gols marcados. O aniversariante foi o principal jogador em campo. Ele é limitado, claro, porém descobriu como se deve jogar pelo Flamengo tal qual Nunes e Gaúcho haviam feito nos anos 80 e 90. Naturalmente caiu nas graças da torcida, e isso é o que importa, é o necessário para fazer com o que o jogador mais importante do clube (a torcida) passe a apoiar a equipe. Hoje, com Obina no jogo a torcida apóia; sem ele, humm... não sei.

O Flamengo dominou a partida no primeiro tempo, teve duas bolas na trave com Juninho e conseguiu o primeiro gol apenas aos 39 minutos, em jogada onde Obina ganhou uma disputa aérea e a bola sobrou para Juan. No segundo tempo, o segundo tento foi marcado por Renato Augusto, este sendo o seu primeiro gol como profissional no clube. O ‘Novo Zico’ da vez merecia já há algum tempo marcar esse gol, pois sempre foi um dos artilheiros nas divisões de base e ainda não havia marcado no ‘time de cima’. Então Ney Franco resolveu mudar a equipe, colocando Roni e Léo Medeiros nos lugares de Juninho e Renato Augusto, e o time relaxou.

Logo após as mudanças, o Americano descontou em uma falha do bom goleiro Bruno, mas a metade final do segundo tempo foi descartável, pois o jogo já estava resolvido.

Venceu o time grande, assim como deve ser em qualquer campeonato, onde time grande só pode perder ou empatar com outro grande - perder para pequeno é suicídio.

Veremos como será o clássico da Região dos Lagos, no próximo final de semana.

Positividade:
· Obina, que não marcou mas serviu e ganhou seu parabéns.

Negatividade:
· As lambanças da arbitragem no jogo do Campeão na Região dos Lagos.


Alexandre Machado, 01/02/2007

Polêmica

Na garbosa cidade de Cabo Frio, gigante pela própria e bela natureza, houve o match entre Botafogo, alvinegro, e Cabofriense, com suas três cores de divina inspiração.

Não foi um grande jogo pelo conjunto da obra, principalmente durante o primeiro tempo. Na meia hora inicial de partida, o Alvinegro tinha a posse de bola e deslizava com certa desenvoltura até a intermediária adversária, quando então aconteciam os desarmes e uma ou outra falta. Perderam dois gols, um com Zé Roberto livre, com a defesa do veterano goleiro Flávio, por volta dos dez minutos; outro, em falta cobrada por Juninho que chegou a resvalar o poste, cerca de vinte minutos. Em seguida, o time oceânico das três cores perdeu também um gol, chutado por Marcelinho, por cima da trave de Max.

Enquanto o jogo seguia pachorrento na primeira etapa, distraí-me com alguns pensamentos.

Um deles foi o de que a partida, embora morna, era decisiva, como todas são neste modelo de torneio atual na Guanabara. Poucos jogos, não se pode falhar e um mata-mata emocionante ao final, talvez. Noutros tempos, a competição tinha mais jogos e também tinha sua forte emoção, até que Caixa assumiu o trono do futebol e pôs tudo a perder – contamos nos dedos os certames empolgantes durante sua desastrada gestão. De toda forma, acho que cinco jogos constituem pouquíssimo arsenal para se considerar um exército campeão. Dizem que os times menores não empolgam o público. E os caros ingressos? Segurança? Falta de estrutura nos estádios? Há outras razões. A publicidade e o marketing já são base suficiente e principal da manutenção dos times de futebol, de modo que o ingresso é parte menor, e deveria ser barato, para trazer a alegria do torcedor de volta. Os abonados refestelam-se em seus pacotes televisivos, alheios ao Maracanã, a Bariri, São Januário e todas as praças.

Em determinado momento, reparei no uniforme botafoguense. Os detalhes amarelados do uniforme causam-me estranheza. Mais ainda é a centenária camisa listrada com mangas e ombros em branco, parecendo ser um remendo indigno à estrela solitária. O marketing dos uniformes, a meu ver, deveria ser explorado de outra forma que não a de modificar ao léu as camisas das equipes a cada seis meses ou um ano, tudo pensado por gente que não é do futebol. Resulta em uniformes esquisitos, que malversam a história. Terminando, onde está a inesquecível meia cinza dos botafoguenses? Deveria retornar imediatamente a compor o traje de campo. Sem ela, o Botafogo é menos botafoguense do que deveria.

Volto ao jogo. Estranho ver Marcão, o herói tricolor de dois títulos e quatrocentos jogos com outra camisa. Ironicamente, branca, com detalhes em vermelho e verde. As raízes ficam. Falei já do goleiro Flávio, com boas defesas. Um veterano dos campeonatos do Rio. No banco de Cabo Frio, o velho e bom Jair Pereira, dos melhores treinadores do Brasil, e que estranhamente há muito tempo não está à frente de uma grande agremiação. Talvez Jair não tenho o atual empresariado a seu favor, feito muitos outros profissionais com seus ternos e linguajar falsamente refinado. É dos bons, creio. Merece mais.

A partida terminou no primeiro tempo com uma grande defesa de Max, bela plástica da imagem. Onde estavam Luís Mário e Dodô, jogadores que poderiam certamente levar o time à frente. Recolhidos. Luís é bom jogador, Dodô é ótimo. Não apareceram.

Veio a segunda etapa. Luís saiu; entrou o excelente, mas ainda fora da melhor forma, Lúcio Flávio. Um novo Botafogo ressurgiu, mais aguerrido, mais firme, buscando o tento, incomodando permanentemente o time das três cores.

Quando um jogador tem a categoria e o faro de gol, basta um único momento para que ele mostre seu futebol. Foi assim, mais uma vez, com Dodô. Até pouco mais de vinte minutos do segundo tempo, era virgem de finalizações. Não tinha ameaçado a meta de Flávio em nenhum instante. Quando o fez pela primeira e única vez no jogo, fuzilou o canto direito do goleiro e abriu o placar. Primeiro chute, um gol. Impactante.

Passados dois terços do jogo e com a vantagem no marcador, os alvinegros propuseram-se ao toque de bola no campo adversário, o que certamente facilita a marcação e espanta o perigo nos contra-ataques. Encaminhamento tranqüilo, tudo correndo para uma vitória botafoguense. Veio então uma jogada polêmica. Aconteceu uma cobrança de falta na área alvinegra, o zagueiro Cléberson subiu para uma dividida com o goleiro Max – e este soltou a bola nos pés do atacante Roberto, que concluiu perante o gol vazio. Houve uma enorme exasperação alvinegra com o empate e, para piorar, o auxiliar, outrora denominado bandeirinha, que havia confirmado a legalidade do tento, voltou atrás. Então, quem mergulhou no mar da raiva intensa foi o time dos lagos, com razão perante a opinião esportiva. Gol anulado, o nervosismo natural dos cabofrienses à flor da pele fez com que perdessem ainda um jogador: Cléberson, o mesmo que participara do empate anulado, agiu mal contra o volante Juca.

A partida terminou sob a égide da estrela de Dodô, mais solitária do que a própria alvinegra. Primeiro chute, primeiro gol.

Populares contaram-me que, no intervalo da transmissão televisiva, houve um flashback da polêmica decisão entre Fluminense e Botafogo, no campeonato de 1971. Marco Antônio empurrou ou teria empurrado o goleiro Ubirajara, antes do gol de Lula, e o Tricolor foi campeão. Ironia do velho destino: meia hora depois, não num título, mas num momento semelhante, o Alvinegro acabou sendo beneficiado pela mesma maneira que a televisão havia acabado de expurgar.
É o futebol, com suas dúvidas e certezas, contradições e direções.
Provar do próprio veneno, ou transformá-lo em licor.


Paulo Roberto Andel, 01/02/2007