Tuesday, February 20, 2007

Risco de vida ou morte

Ontem, o Flamengo estreou na Copa Libertadores da América. Trata-se de uma verdadeira obsessão para os clubes brasileiros a conquista do torneio, ainda mais para o rubro-negro, campeão em sua estréia no ano de 1981 e, desde então, com várias campanhas que ficaram pelo caminho.
Foi um recomeço sofrido, mas não exatamente pela qualidade do oponente boliviano.
O jogo, dentro das quatro linhas, pode-se até dizer que foi uma animada diversão para os expectadores. No primeiro tempo, o fraco time do Potosí perdeu uma arroba de gols feitos, o que poderia ter ocasionado uma derrota fragorosa da Gávea. O intervalo começou com dois a zero para os do altiplano.
No segundo tempo, com a entrada do veterano Juninho Paulista, acostumado às batalhas sulamericanas, o rubro-negro reagiu e comquistou um belo empate, com gols do também veterano Roni e de Obina.
Questione-se a justiça do resultado.
Em qualquer estádio digno da prática do futebol profissional, o Flamengo não somente seria franco favorito como também teria grande chance de golear o time boliviano. O que aconteceu ontem?
Simples. O Flamengo teve de enfrentar o terrorismo da altitude boliviana, e esta foi o principal fator que pode explicar o resultado. O domínio do Potosí na primeira etapa deveu-se exclusivamente à vantagem de se jogar na nefasta altitude de 4.000 acima do mar, o que entortou o Flamengo completamente: erros na saída de bola, no toque, no desarme, tudo provocado pela dificuldade de se respirar e na velocidade absurda que a bola toma naquela situação. Em termos de reação, o empate foi positivo para a Gávea; entretanto, ficou o eterno gosto de saber ser muito superior, mas ser aplacado por fatores extra-campo.
Não se sabe de competições sulamericanas de basquete, vôlei, natação ou quaisquer outros esportes nas regiões das alturas. Somente o futebol passa por essa via crucis. Ainda mais o brasileiro, cujos times que disputam as competições internacionais normalmente estão acostumados ou a baixíssimas alturas, ou mesmo o nível do mar. Tudo acontecendo de forma grosseira com a devida anuência da CBF, que nada faz para impedir estes descalabros mesmo com a seleção brasileira.
Historicamente, seleções e times destes países usam o fator altitude para tentar uma vantagem contra o temido - e superior - futebol brasileiro. Tem sido sempre assim desde muito tempo, e ninguém no Brasil se posiciona contra isso. Vergonhoso.
Via de regra, o Flamengo não terá dificuldades maiores para se classificar. Grave mesmo foi o estado físico de alguns jogadores, que chegaram a passar muito mal, como Renato Augusto - vejam que trata-se de um jovem e muito bem preparado jogador. Chegou a ficar meia hora n'água depois do match, visando recuperar a temperatura normal.
É momento de clubes, e também a malfadada confederação, lutarem contra o despautério que é a marcação destas partidas contra alguns adversários sulamericanos, sempre nos estádios com ar mais rarefeito, usando recursos extra-campo para equilibrar partidas que, disputadas em condições normais, não ofereceriam grande chance aos times locais.
Paulo Roberto Andel, 16/02/2007

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