Friday, February 09, 2007

A complicação

Disse noutro dia a respeito do afinco a ser perseguindo no futebol, tal como o lavrador que prepara a terra para obter as melhores colheitas.

O Tricolor não tem sido um bom lavrador.

Ontem, houve o embate contra a novata equipe do Nova Iguaçu, no estádio alvirrubro de Edson Passos. Ressalto que, jogo à parte, a nova casa do América é simpática e acolhedora; entretanto, meus tempos de adolescente buscam no coração a memória de Wolney Braune. Não tive a honra de ver o campo de Campos Sales. Wolney, vi muitas vezes; houve tempos em que deixava a faculdade pela tarde e flanava pela Vila Isabel, em busca do aroma do samba e do futebol. Era pequeno, acolhedor e com o protótipo de antigamente. Sepultaram Wolney em troca de um centro de compras e consumo. Assim é a vida, com poucos palcos e muitos artigos.

Falarei do jogo. Começou de um jeito meio enrolado, confuso, sem grandes jogadas e bastante truncado nas intermediárias. Foi então que, aos dez minutos, foi marcado corretamente um penal para o time da baixada, cometido por hands de Luiz Alberto. Luiz é um jogador que começou de forma promissora, mas a verdade é que ainda não se firmou, estando já na faixa direcionada para perto de trinta anos. Jogou no exterior, correu Brasil, mas não teve a idolatria das torcidas. Entendo que seria útil para uma temporada longa, ainda mais em se tratando do Tricolor, que tem a avidez das conquistas e precisa de elenco para almejar competições diferentes. Contudo, não bastasse a grave baixa de Marcão, grave e desnecessária, tínhamos até há pouco Roger e Thiago no banco de reservas, dois dos poucos jogadores que salvaram-se no malfadado ano passado. Thiago jogou agora. Não deve sair mais.

Aconteceu o gol do Iguaçu naquela cobrança de pênalti, convertido por Éberson. Assustado, o Tricolor partiu para o ataque, ainda que de forma completamente desorganizada. Passados quase dez minutos, teve efeito: um outro pênalti, surgido justamente por uma cabeçada de Luiz Alberto, outro hands e a cobrança harmoniosa de Carlos Alberto, empatando a peleja. Mesmo que nem sempre as jogadas derivem para resultados positivos, é bonito ver o toque refinado de Carlos, que remete a outros grandes jogadores do passado. Está com uma vontade enorme e, se não faz mais, é porque tem travado uma batalha quase solitária contra as defesas adversárias. Neste jogo, particularmente, esteve muito nervoso e correu risco até de expulsão, o que só não ocorreu devido à moderação do árbitro Beltrami.

Os vinte minutos finais do primeiro tempo foram dominados pelas Laranjeiras, com gols perdidos pelo mesmo Carlos Alberto, por Cícero e Thiago Neves. Não houve outro tento e, com isso, encerrou-se a primeira etapa.

Era de se esperar uma mudança tática, uma mexida substancial, e isso acabou não acontecendo no segundo tempo, embora a trave, a velha trave que salvava Castilho, foi nossa inimiga por três vezes. Fuzilamos a trave do Nova Iguaçu, sem sucesso. Um fardo de gols foi desperdiçado. Pressionamos arduamente, mas sem a organização devida. O tempo foi passando, entraram Lenny, Magrão e Moritz para que a ofensividade aumentasse, mas não houve progresso. Ressalte-se a brilhante atuação do goleiro Diogo, fechando a meta do Nova Iguaçu, ao passo que o indeciso Berna era mero expectador do confronto.

Por mais que a atuação fosse marcada pela disposição, e realmente foi, não jogamos como campeões. Não temos tratado a terra com afinco, e isso não pode gerar os melhores frutos. O empate foi muito ruim em termos de classificação para as finais do turno, e passamos a ter que contar com a sorte, a mesma que nos faltou com as bolas na trave. O Fluminense, por sua grandeza, não pode limitar-se a conquistar um ponto contra o Nova Iguaçu, por mais respeito que este team mereça – e muito merece, sabemos.

Temos ainda os perigosos América e Vasco pela frente, sem alternativas que não passem por duas vitórias. Disse o velho Horta: vencer ou vencer. E não há mais jeito. Caso contrário, mais um ano sem a Taça Guanabara.

A terra está mal mexida. A chance de salvar a colheita é nesta semana.

Paulo Roberto Andel, 06/02/2007

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