Wednesday, April 06, 2011

NOVO LINK DE ACESSO

Para ler as CRÔNICAS TRICOLORES, acesse http://www.benditoflu.com.br Seja bem-vindo! Paulo.

Thursday, March 31, 2011

FLUMINENSE 0 X 0 VASCO (27/03/2011)



A sina (28/03/2011) Nos últimos anos, nenhum adversário tem sido mais difícil de ser batido por nosso time do que o Vasco. Uma verdadeira muralha da China. Mais uma vez aconteceu de não conseguirmos e, apesar de não termos perdido o jogo – pelo contrário, as maiores chances de inaugurar o marcador nos últimos minutos foram Tricolores – o empate em zero na noite de ontem no Engenhão reforçou a repetição de um capítulo eterno da nossa história: por conta do principal objetivo momentâneo na competição, que é o de chegarmos às semifinais do Rio, temos que vencer os três jogos finais. Mais uma vez, frente à frente com a nossa velha sina. Mais do mesmo, tal como precisaremos na Libertadores. Mas quem disse que não podemos chegar lá? É claro que nada será fácil, mas repito quase que sempre: quando a nossa história colheu louros de favoritismo e facilidade? Nunca. Volto a falar da rocambolesca missão impossível no campeonato local. Enfrentaremos as equipes do Volta Redonda, Americano e, por fim, Nova Iguaçu. Três magros um a zero de timinho, estilo 1951, resolvem a questão. Vejam onde temos chegado: será possível não acreditarmos que essas três vitórias não possam acontecer? Outros dois magros placares a nosso favor na Libertadores e, com tudo isso, um cenário de guerra, dor e destruição pode se tornar paradisíaco. Os que debocham da força das Laranjeiras nas horas decisivas devem ficar atentos para não engolirem uma espinha de bacalhau, sem nenhum trocadilho com o saudável apelido do gigante da Cruz de Malta. Ainda temos tempo e, para nós, cada segundo é um século. Saberemos lutar pelas duas frentes e vagas, oxalá. O jogo de ontem infelizmente começou bem mais cedo do que o previsto: cenas de estúpida violência foram consagradas na zona norte da cidade, com especial concentração nos arredores da rua Arquias Cordeiro, no Méier, levando pânico a homens, mulheres e crianças de bem. Mais uma vez, a polícia teve uma atuação reticente enquanto o vandalismo reinou absoluto no bairro onde não se bobeia. Todos sabemos que minorias criminosas sujam o nome dos freqüentadores dos estádios e, particularmente, das torcidas organizadas: cada grande equipe carioca tem os seus quinze ou vinte marginais, infiltrados entre milhares de trabalhadores de todas as classes sociais, que lamentavelmente acabam prevalecendo. Ainda sonho com o dia de mudança deste paradigma. Afora isso, as duas torcidas fizeram festa no João Havelange, com vantagem numérica nas arquibancadas para São Januário. O Tricolor de coração ainda tem dificuldade de encarar a perda do Maracanã, mas a adaptação ao novo templo se faz necessária. Dentro de campo, o jogo teve seu primeiro tempo mais para o Vasco do que o Fluminense. Eles pareciam melhores, mais organizados e fisicamente agressivos, enquanto nós quase não finalizamos e ainda nos ressentimos das dificuldades físico-técnicas de Fred e Conca, especialmente o maestro argentino, grande responsável pelo inferno de 2009 ter virado céu ano passado. Ainda assim, nos vinte primeiros minutos, Conca acertou um bom chute para a defesa de Prass no canto esquerdo; depois, Fred quase fez um gol de carrinho num momento de pressão do nosso ataque. Mais uma vez, Ricardo Berna foi craque no gol, o maior de nosso time na primeira etapa: cortou um perigoso chute cruzado do zagueiro Anderson Martins. E, quando voou sem conseguir impedir o revés no chute de Éder Luis, a bola explodiu no travessão para nosso alívio, se é que se pode dizer assim. Ainda teve fôlego para impedir um golaço do jovem vascaíno Bernardo, voando no ângulo esquerdo, trocando de mão e espalmando para escanteio. Ainda não tínhamos certeza, mas o fim do jogo viria para confirmar uma difícil estatística: o sexto clássico seguido de Berna sem tomar gols, fato raríssimo em qualquer grande clube. Graças a isso, conseguimos resistir ao veloz time vascaíno liderado pelo veterano craque Felipe. No segundo tempo, meus amigos, Deco veio a campo em lugar de Souza, o que significava a opção de Enderson em trocar o vigor físico pela qualidade técnica. Nosso meio de campo ganhou categoria e passes precisos, mas oferecemos certos espaços ao Vasco, felizmente não-aproveitados. Éder Luiz desperdiçou gol certo em chute diagonal pela direita de ataque. No contra-ataque, Deco acertou lindo chute de curva no canto esquerdo de Prass, que se esticou todo e mandou para escanteio. A supremacia física do Vasco tinha assentado, enquanto ganhávamos mais espaço: até mesmo Julio César, geralmente sem viço, brilhou em dois belos chutes novamente no canto esquerdo, quase tirando o zero do placar; um para fora, perto da trave e o outro defendido pelo arqueiro vascaíno. Nos minutos finais, o Fluminense esteve mais perto do gol sem, no entanto, finalizar com garbo e conseguir os três pontos. No fim, dadas as alternâncias de jogo, foi um empate justo. Por um lado, estamos em má colocação no campeonato; sob outro prisma, já cumprimos nossos dois clássicos do segundo turno, ao passo que os demais times da nossa chave ainda têm as grandes agremiações pelo caminho. Nos últimos dezesseis jogos, nós empatamos com o Vasco em onze vezes. Dessa forma, fica fácil de ler o equilíbrio que tem marcado o confronto entre os dois times. Os debochados diriam que o Fluminense quase não tem vencido o Vasco. Sabemos o que realmente vale quando está escrito. Soubemos parar o grande campeão da Guanabara; ontem, jogamos bem contra a nova sensação da imprensa. Nossa crise, portanto, não é do tamanho que tentam rabiscar. Uma semana de folga e o Fluminense volta suas baterias para uma semana daquelas. Primeiro, vencer o vencer o Volta Redonda na Cidade do Aço, o que já será brita pesada. E depois, a batalha no Uruguai contra o Nacional. Os corações Tricolores hão de bater mais forte. Mas, pensando bem, quando é que não bateram? É a sina, amigos, a velha sina sempre presente em cada escudo de Álvaro Chaves. Não tenho o direito de não confiar no melhor possível. O passado nos ensina.

Thursday, March 24, 2011

FLUMINENSE 3 X 2 AMÉRICA(MEX) - 23/03/2011


É que Marô fugiu (24/03/2011)

Que palavras ou frases são capazes de descrever a monumental vitória do Fluminense na partida de ontem por três a dois contra o mexicano América? Colossal? Oceânica? Um triunfo capaz de se propagar por gerações? Tudo o que se disser e escrever sobre a noite de ontem será pouco e raso, por mais triunfante que seja. O Fluminense venceu porque ontem não foi apenas a junção de uma camisa secular e vitoriosa, mais uma torcida apaixonada e um time com muita raça; na verdade, o Fluminense era todo uma atmosfera – então, eu vos pergunto: como descrever uma atmosfera? Impossível. O que resta é vivenciá-la.

Ferido de morte para muitos, exceto os nossos, e apenas contundido para outrem, o Tricolor entrou em campo para a batalha decisiva com tudo o que possa se chamar de revés fora das quatro linhas, mais os desfalques da equipe. À beira do campo, o novo assistente e treinador interino Enderson Moreira passava tranqüilidade e, de alguma forma, ele foi responsável por relembrar um dos momentos culminantes da minha vida de torcedor: eu tinha dez anos e vi o então interino Sebastião Araújo comandar uma vitória monumental num Fla-Flu por três a zero, com direito a Paulo Goulart silenciando Zico e a Gávea, com Cristóvão fazendo Manguito desabar em nocaute técnico pelo drible sofrido. Ares do passado a temperar o presente. E como este jogo teve a nostalgia como símbolo, como explicarei mais tarde. Nas arquibancadas, a falta de William e do Presidente Sussekind era outro revés. Mas Álvaro Doria estava escondido em algum lugar do Planeta Engenhão, o que poderia ser um trunfo.

Os treze mil maníacos não falharam nas arquibancadas. Vieram de todos os lugares: trabalho, faculdade, casa da sogra ou até mesmo fugindo da festa das netas, como foi o caso de minha amiga Marô. Os jovens leões foram impecáveis do início ao fim e, para quem não prestou muita atenção nas cadeiras vazias e mesmo nas informações contábeis, o susto era possível: o grito da massa Tricampeã era digno de cinqüenta mil pessoas. Cada um gritou por quatro. Um ou outro desafinou, como o sujeito barbudinho que resolveu encrencar com meu amigo Max Sodré, homem de moda que estava a fotografar os mágicos momentos de ontem; a querela surgiu porque o amigo estava com uma bela camisa da seleção Argentina – o país de Conca -, sendo rapidamente desfeita pela atuação da PM e pelo bom sendo do barbudo ao ver que os amigos do fotógrafo não estavam a fim de briga. Meu amigo Rafael também não fez por menos e, ao se encrespar com outro Tricolor, me impediu de ver o gol de empate marcado pelo veterano (e decisivo) Araújo – a seguir, os beligerantes se abraçaram, se beijaram e quase proporcionaram uma paixão entre iguais, abençoada pelo gol santo. A torcida estava com os nervos à flor da pele, por conta de todo o problema recente, mas gritava e apoiava como nunca. Foi um grande momento. Não lotamos o estádio e nem precisávamos disso. Quando se faz necessário, nosso eco troveja.

Nosso time entrou a todo vapor, com muita vontade e, até pela falta de alternativas, atacava com tudo e a defesa ficava desguarnecida. A todo momento, nossos zagueiros cruzavam bolas arriscadíssimas em frente aos atacantes mexicanos e isso fazia do jogo um ai-jesus. Curiosamente, o gol que tomamos não veio de um lance de maior risco, mas de um "balão" da própria intermediária do América; a bola quicou, Digão e Ricardo Berna se chocaram. O goleiro caiu com a bola na mão e ela se ofereceu livre para o gol de Sánchez, que tinha entrado na dividida. Tomamos o gol porque Berna saiu com excesso de vontade do gol. Não me cabe culpá-lo por tentar segurar a bola em vez de socá-la; sem os socos, ele garantiu em muitos momentos o heróico Tricampeonato em 2010. Foi uma pequena falha, em decorrência da pressão, que se transformou num longo azar. Esse lance não me trouxe qualquer nostalgia: Berna não é Ricardo Pinto.

Não bastasse toda a carga dramática, sair perdendo em casa era mais uma facada na jugular. Mas o Fluminense não desiste: luta até o último minuto. Antes disso, apenas cinco minutos depois, Gum disse a que veio e, com sua cabeçada raçuda na marca do pênalti, na velha jogada de cruzamento diagonal da direita feito por Conca, igualou o placar. O passado veio à tona: era Gum quem estava na área e nos salvou da derrota para o Internacional em 2009, quando o mundo decretava o falecimento do Fluminense. Era Conca que liderava a direita do ataque em bolas paradas para as cabeçadas de Cícero em 2008. Bons presságios à vista, com todo o vigor dos nossos jovens leões rugindo e urrando de leste a oeste do estádio. A partir do empate, ainda tivemos chances de marcar com Souza (que não esteve bem, mas lutou), Fred e Emerson (estes, ainda distantes do ritmo necessário de jogo). No fim, ainda houve tempo para Berna pegar o equivalente a um pênalti, quando defendeu maravilhosamente um chute de Montenegro à queima-roupa. Não conseguimos e descemos para o vestiário pensando em quarenta e cinco minutos de uma grande decisão. Aos poucos, sem que todos percebessem, o Fluminense desfraldava a bandeira da monumental vitória que, claro, só poderia vir caiada com as cores do improvável. A atuação de garra, atitude e vigor que ficou devedora frente ao Boavista estava sendo mais do que quitada. Ressalto a grande atuação de Valencia e a raça de Digão que, não se deixou abater pelo gol e nem pelo que viria à frente. Julio César foi Julio César, mas a torcida soube poupá-lo, sábia que foi.

O segundo tempo foi Tricolor, amigos. Não há o que questionar. Os mexicanos jogaram com dez em seu campo durante toda a primeira metade da fase final. Martelávamos, tentávamos, buscávamos espaço e nada: o chute não saía, a cabeçada não chegava perto. Só a vitória poderia nos redimir, mas nada é fácil para o Fluminense: tudo tem o aroma do sofrimento e da luta. E, num momento em que éramos senhores absolutos da partida, aconteceu uma tragédia: Sánchez, novamente, ao tentar cruzar da esquerda, acabou acertando a bola na direção do gol e encobriu Berna; Digão tentou cortar já em cima da linha, mas a bola já tinha seu destino traçado. Nostalgia: era Lico encobrindo Paulo Victor em 1981. O América passou à frente no marcador a vinte minutos do fim do jogo, o que nos eliminaria da Libertadores. Pela primeira vez o estádio foi tomado pelo silêncio – a derrota era a própria morte se avizinhando. Era? Evidentemente, não. O Fluminense não perde nenhum jogo por decreto, vontade da imprensa ou outras baixarias. Recomeçar.

Foi então que os supostos coadjuvantes se tornaram protagonistas e escreveram uma das mais belas páginas da literatura Tricolor. He-Man (que substituiu Emerson) já tem atuado com muita raça e valentia, além de ter feito vários gols, mas Araújo (que entrou em lugar de Júlio César) e Deco (no lugar de Mariano, contundido) eram dúvida sobre o que poderíamos esperar daquilo que pareceria um milagre para times comuns, mas não para o Fluminense. Resposta pronta: decidiram. O Luso tinha jogado com excelência pela última vez contra o São Paulo, na maravilhosa vitória em Barueri, e vinha de longa inatividade. Mostrou o que era preciso: classe e categoria no cruzamento da direita do ataque, já dentro da grande área. Alçou com maestria. Araújo deslocou o goleiro, cabeceando com enorme categoria no canto esquerdo do goleiro Naverrete. A implacável nostalgia aconteceu de novo: pensei em Aldo e Assis destroçando Fillol em 1984. Leo gritava na arquibancada que iríamos virar. Calei e acreditei.

O final de jogo foi daqueles que só os torcedores do Fluminense vivenciam. Um pinga-pinga após cruzamento da direita, a bola bate nas cabeças de Fred e He-Man. Deco aparece pela esquerda no bico da pequena área, dá um toque de gênio e encobre Navarrete. A bola quica mansamente em cima da linha e ganha as redes. Leo estava certo. Não foi de cabeça, mas reparem o quanto o gol de Deco tem a ver com o de Antonio Carlos em 2005. Três a dois, gol aos quarenta e um do segundo tempo quando tudo parecia perdido; a nostalgia me vence com sobras: 25/06/1995. Longe do Engenhão, irritados editores ordenaram: “Bota qualquer porcaria aí nessa manchete”. Hoje, testemunhei primeiras páginas tímidas em relação à monumental vitória de ontem. Eles acusaram o golpe: lembraram da corrida solitária de Renato naquele outro três a dois.

O Fluminense nasceu para subverter o óbvio e desafiar paradigmas. Ou simplesmente justificar com galhardia a fuga da Marô da festa das netas. Ontem, um lindo capítulo desta história infinita foi brilhantemente redigido. Não é que sejamos tomados pela empáfia do outro lado da zona sul, longe disso. Nada foi ganho, a situação ainda é muito difícil e a classificação à segunda fase ainda é um sonho; entretanto, ninguém vai apagar da memória este maravilhoso jogo Tricolor, honrando sua eterna sina: frente a frente com o perigo de morte, passou por cima dele como um trator vigoroso. É lógico que queremos a classificação, mas sabemos das dificuldades. O que quero dizer é que esta não foi apenas uma vitória monumental, como milhares que já tivemos. Tratou-se de um triunfo que salvou o ano e a dignidade da camisa das Laranjeiras. Dez minutos de futebol de Deco que valeram uma temporada.

Enderson Moreira deve ter sentido uma grande emoção. Ele sabe que nem com um milhão de reais na mão é possível comprar uma vitória como essa que o Fluminense impôs ao América do México. Nós não comemoramos antes da hora; esperamos até o último minuto. Talvez não seja apenas pela sina; também temos um pequeno desejo de irritar a oposição. Tem sido assim desde um outro fatídico três a dois: o de 1912. O amarelo do uniforme do América me lembrou de outra coisa, mas isso já não tem a menor importância.


Paulo-Roberto Andel

Monday, March 21, 2011

FLUMINENSE 0 X 2 BOAVISTA (19/03/2011)


Um desastre pontual (21/03/2011)

Nesta tarde de segunda-feira, após sete dias ininterruptos de crise, o Fluminense anunciou o nome de Gilson Kleina para o cargo de técnico interino até se que finalize a novela Abel. É difícil dizer o que esperar num momento como esse, até porque estamos a dois dias de uma batalha decisiva na história das Laranjeiras: o jogo contra os mexicanos do América no Engenhão, onde não há alternativa que não seja a vitória, seja como for. Hoje, somos mais do mesmo: vamos para um jogo complicadíssimo depois de uma das piores atuações do Fluminense em anos, que foi a de sábado na derrota para o Boavista por dois gols a zero, talvez só comparável aos momentos terríveis de 2008 e 2009, felizmente superados. E é justamente por conta desta derrota que trago comigo a esperança previsível a qualquer torcedor Tricolor: não temos condições de jogar tão mal duas partidas seguidas. Só podemos melhorar, mesmo que sob confusão.

Derrotas acontecem. Derrotas são parte componente do pacote de emoções chamado futebol. O problema é como determinadas derrotas acontecem. Depois de uma semana de baixarias nos noticiários, apimentadas pelos pontapés verbais de Muricy (muitas vezes acertando apenas o vento) e a confusão que reina na dirigência das Laranjeiras, era possível esperar por uma atuação de garra do grupo Tricolor numa partida que não significa muito do ponto de vista da colocação, mas muito em termos psicológicos: já tínhamos sete pontos, uma vitória magra nos daria ao menos a co-liderança de nossa chave no Rio e, se alguma derrota viesse a acontecer – o que se confirmou – não haveria um 11 de setembro em Álvaro Chaves por conta do campeonato estadual, mas o prejuízo ficaria todo para a decisão contra os mexicanos. Repito: a derrota acontece muitas vezes, algumas até injustamente (longe de ser o caso de anteontem), mas o que se torna inadmissível num jogo de futebol é a falta de comprometimento com a partida, o que me pareceu evidente em alguns (poucos) jogadores que atuaram contra o Boavista.

Os sete mil maníacos não falharam e emprestaram sua voz ao time, durante boa parte do jogo e principalmente no primeiro tempo, onde nosso único lance maior foi a linda matada no peito de Rafael Moura e a conclusão de primeira para a defesa do goleiro Thiago. O time do Fluminense não vinha tão mal no decorrer da primeira etapa, mas é certo que deveria ter modificações para a segunda – estávamos carentes de melhor finalização e a bola não parava em nosso ataque: ora Rafael tentava, mas sem êxito, ora Emerson era desarmado. Conca jogava regularmente, mas sem o grande brilho esperado. Mariano e Carlinhos erravam tudo o que era possível. Ruim com eles, pior sem um deles: o lateral-esquerdo saiu contundido e deu seu lugar a Julio César, o que garantiu a total ausência de velocidade e jogadas de linha de fundo. Antes disso, Euzébio também se machucou e deu lugar a Digão, que entrou com a disposição e a eficiência de sempre, sem nenhuma culpa pelo desastre que se verificaria a seguir. Marquinho também errava, mas com muita garra tentava atenuar o problema. E Berna, cada vez melhor, evitou ao menos dois gols do Boavista no primeiro tempo, o que não foi suficiente para evitar nossa derrota parcial tendo em vista a excelente cobrança de falta feita por Gustavo, acertando o ângulo esquerdo do nosso gol. No estádio, talvez irritado pela modorra Tricolor, cheguei a achar que Berna poderia ter feito a defesa; vendo com calma na televisão, descartei qualquer possibilidade de falha e ainda tive motivos para gargalhar, mesmo depois da tristeza pela derrota: o comentarista Ronaldo Castro afirmou que o excelente goleiro não fez a defesa porque tem baixa estatura. Berna tem quase um metro e noventa, mais precisamente um metro e oitenta e oito, apenas um centímetro a menos do que o goleiro preferido do comentarista – o Perseguido.

No segundo tempo, era esperada uma reação com garra, com vontade, ao menos para compensar a deficiência técnica do time. Não aconteceu. Fred entrou em campo no lugar de Rafael Moura (erradamente e talvez por decisão própria), mas nitidamente estava fora de forma, o que comprometeu sua atuação inclusive na perda de um gol feito, chutando por cima do travessão uma bola recebida quase na pequena área. Na defesa, Digão fazia o que podia, Diogo e Diguinho lutavam, mas o time não trocava três passes certos, não conseguia agredir o Boavista com convicção e dava todo espaço para contra-ataques, o que foi irritando parte da torcida presente que, com todo o direito, reclamou e vaiou. Entendo que o momento é de união e que vaias põem atrapalhar, mas não posso depor contra meu passado: vi times com craques como Ricardo e Edinho, Delei e Robertinho, Paulinho e Assis; todos esses em algum momento jogaram num time vaiado, mas souberam escrever as páginas da eternidade Tricolor em campo. Eles puderam receber as vaias, qualquer um também pode. O jogador que não estiver preparado para pressão e cobranças não pode jogar em clubes de massa como o Fluminense. Ao que me lembre, de todos os que foram pontualmente vaiados, só discordaria do nome de Marquinho que, se não conseguiu produzir quase nada com qualidade, ao menos lutou muito se comparado com a lentidão e a mediocridade de outros. Outra parte da torcida também exerceu o seu direito de gritar e, ao seu entendimento, incentivar o time, o que me pareceu inócuo diante da péssima performance em campo que parte do time mostrava sem conseguir uma tabela sequer. Emerson, que não acertou três passes durante a partida, levantou os braços para pedir gritos. Entendo e respeito, só que sou de um tempo onde o jogador não precisava pedir apoio à torcida: com garra e técnica em campo, ela responde à altura. Em tempo: se não tivéssemos vaiado as más performances de Cavalieri, ele teria continuado como titular e, talvez, o Fluminense só tivesse um único ponto na Libertadores, estando eliminado previamente. O hoje goleiro reserva tem qualidades, só que vinha de longa reserva e não deveria ter estreado naquele momento; hoje, chega a ser até inacreditável alguém contestar a titularidade de Berna. Reitero, Tricolores, a hora é de união e apoio, mas o time precisa dar em campo a sua contrapartida muito superior à apresentada neste jogo contra o Boavista, que deu números finais à noite com uma jogada curiosa, que começou com um corta-luz do árbitro... até a bola chegar a Tony, livre, que fuzilou o canto esquerdo de Berna, com a bola ainda roçando a trave antes de entrar. Os sete mil maníacos emudeceram; em seguida, alguns vociferaram e outros incentivaram. É preciso respeitar as diferenças. Não havia como reagir em campo sem acertar três passes. No mais, cabe o agradecimento a Ronaldo Torres por não ter se furtado a ajudar em momento tão delicado, mesmo que fora da sua função profissional específica. No fim, ainda poderia ser pior: levamos uma bola na trave direita.

Depois de manhã o Fluminense tem a reprise de mais um dos milhares de capítulos em sua centenária história: precisa desesperadamente vencer um rival e lutar contra as próprias limitações. Com uma dirigência vacilante, interesses extra-campo que afetam o futebol, ainda sem o técnico definitivo (Kleina é um paliativo), desfalcado de três titulares (Euzébio, Carlinhos e Diogo, este por não ter sido inscrito na Libertadores) e com o desânimo de parte de sua imensa torcida, o Fluminense parte para mais um confronto épico. Eu sempre acredito e, por isso, já testemunhei momentos incríveis desta legendária camisa que prima por jamais desistir antes do último minuto. O momento é de união nas arquibancadas e de contrapartida dos jogadores em campo: quem puder, ofereça jogadas geniais e gols; quem não puder, traga raça e disposição. Os ratos abandonaram o navio Tricolor, mas este segue firme em sua permanente sede de conquistas. Limpemos o convés.


Paulo-Roberto Andel

Friday, March 18, 2011

TODOS ESTÃO CONVIDADOS!


Thursday, March 17, 2011

NÃO PERDEREMOS ANTES DO FIM!


Neste exato momento, quando se trata de Fluminense, os meios de comunicação apontam somente para uma direção: a crise infinita, a derrota, a perda antecipada. É certo que, fora de campo, as semanas recentes do comando Tricolor têm sido desastrosas, no mínimo. Porém, dentro de campo, mesmo que timidamente, o Fluminense tem ensaiado passos de reação desde a derrota para os mexicanos do América, partida onde atuou de igual para igual e foi golpeado quase no fim do jogo, por conta de falha individual. Desde o jogo internacional, tivemos uma vitória sofrida contra o Resende, uma boa vitória contra o América do Rio e freamos o bonde-sensação. Contudo, é evidente que depois da saída conturbadíssima de Muricy, o Fluminense tem recebido o tratamento-padrão de microtime, como se isso fosse possível ou tivesse algum mínimo senso lógico.

Pois bem, terça passada o surpreendente Nacional de Montevideo derrotou os Argentinos Juniors fora de casa pelo escore menor; com isso, o grupo 3 da Libertadores ficou emboladíssimo. Uma vitória contra o América do México na próxima quarta-feira, no Engenhão, nos coloca na luta pela classificação de novo. Só a vitória interessa; em caso positivo, ficaremos a dois pontos do líder Argentinos Juniors e a um do próprio América, os classificados “caso o campeonato terminasse hoje”, mofada expressão entre justas aspas muito utilizada quando queriam nos rebaixar por decreto em 2008 e 2009.

Se essa vitória mínima for obtida no próximo jogo da Libertadores, reitero: liderar um grupo à nossa frente com apenas dois pontos a duas rodadas do fim não é nada. Noutras vezes, já superamos centenários campeões pré-datados que, na hora H, tiveram insuficiência de fundos – ou melhor, pontos. A velha camisa das Laranjeiras ainda está de pé.

Mais uma vez, como tem sido em nossa magnífica história, estamos diante de um enorme desafio: superar uma crise fora de campo, sem um treinador efetivo e precisando desesperadamente de três pontos na Libertadores. Tal como noutras jornadas, parece tudo muito difícil; tão tal quanto, é muito longe do impossível.

Quarta-feira é uma grande decisão. Antes disso, um bom jogo contra o Boavista, que nos eliminou com justiça da Guanabara, pode ser um termômetro das nossas chances. Uma coisa seria muito importante: uma promoção impactante no preços dos ingressos para o jogo contra o América. Isso não acontecerá como devido e razoável, já se sabe. Fora das quatro linhas, não à beira do gramado (temporariamente muito bem-cuidado pelo excelente profissional Ronaldo Torres), o Fluminense titubeia e muito. Está vacilante, atônito, perdido entre vaidades e interesses alheios à torcida Tricolor. Agora, dentro das quatro linhas, não duvido que toda essa celeuma recente possa servir de combustível para uma reação típica de Álvaro Chaves: muita garra, aplicação e perseverança até o último minuto, como reza a nossa tradição, como é a nossa eterna sina.

Nada está perdido. Nada. De resto, não são manchetes de cinqüenta centavos que vão calar a voz da fantástica e apaixonada torcida do Fluminense. Não importa que tenhamos no Engenhão cinco, dez ou quinze mil maníacos: eles soarão como cem mil. Lá estarão os Benditos, os Jornalheiros, os Fluorkut, as torcidas organizadas e avulsas, nossas lindas torcedores; gente de todos os blocos, vielas, avenidas e becos. Nada me abala: quem viu os gols de Edinho, Assis, Romerito, Renato, Antonio Carlos, Roger e Emerson há de entender o que quero dizer. Nada é fácil para nós. Em 2008, tivemos a melhor pontuação na primeira fase da Libertadores e sofremos com lágrimas na última vitória, frente aos penais. Quem há de saber ou não se o momento é de reescrever esta história pelo avesso? Não se iludam os ingênuos: em 2007, revertemos quatro vantagens de mando de campo para conquistarmos a Copa do Brasil. Conseguir essa vaga no grupo 3 é tarefa hercúlea – e, por isso mesmo – nada muito diferente do que já fizemos em passados distantes e recentes. Somos o time do último minuto; a história é testemunha.

Tal como escrevi muitas vezes em outras crônicas, eu já vi esse filme antes. E, em muitas vezes, deixei o cinema com um insuperável aroma de felicidade. Espero a reprise desta sensação com serenidade. Quem espera sempre alcança.


Paulo-Roberto Andel, 17/03/2011

FLAMENGO 0 X 0 FLUMINENSE (13/03/2011)

O desafio (14/03/2011)

Os ouvidos mais atentos já desconfiavam de que algo desafinava nas Laranjeiras, desde os maus momentos na Libertadores e, mais recentemente, na terrível perda da Guanabara diante dos penais contra o Boavista. Não era de ontem, anteontem e muito mais tempo. O céu de Álvaro Chaves tinha nuvens espessas, contrariando os dias de verão interminável no Rio de Janeiro. Vejam a seqüência passada: fizemos um bom jogo, de igual para igual na cidade do México e perdemos num momento de falha individual, já decorridos dois terços da partida; a seguir, no sábado cinza de Carnaval, colocamos nosso bloco na rua diante do bom time do Resende, que nos impôs forte pressão ofensiva em boa parte do tempo, mas soubemos segurar a vitória e contar com a aguardada estréia real do veterano Araújo, jogando bem e sendo decisivo. A quarta-feira de Cinzas trouxe à nossa frente o velho e destemido América, velho e perigoso, mas soubemos nos impor e vencemos com relativa tranquilidade e, mais do que vencer, razoavelmente convencer: o Fluminense melhorou na marcação e nos ataques, Conca começou a mostrar que se recupera da cirurgia e caminha para voltar à grande forma de 2011. Depois de uma derrota fora de casa que poderia ter sido evitada, tudo levava a crer que o Fluminense voltaria ao caminho das vitórias e do bom futebol. Nenhum jogo poderia ser mais impactante do que um Fla-Flu para mostrar a realidade desta reação: a Gávea, eternamente decantada como a grande favorita, voando pelos trilhos com seu bonde sem freio, poderia nos ajudar a decifrar qual seria nosso verdadeiro momento. Não chegamos a fazer o papel de poste, mas emperramos os trilhos e, por pouco, o bonde não chegou à lona pela primeira vez em 2011. De todos os jogos que citei, unanimidade houve apenas uma: a sensacional fase de Ricardo Berna, fechando o gol em todos estes confrontos e mostrando que sua barração era um equívoco. Porém amigos, a neblina era bem mais espessa do que se poderia supor; findo o jogo, os rumores que já corriam os noticiários desde a semana passada se confirmaram e, por conta disso, Muricy não é mais o treinador do Tricolor. O que prometia ser um presente e futuro brilhantes a contar de dezembro passado virou fumaça, provocada por um ou mais fatores dentro do incendiário cenário do Fluminense e, sem que saibamos os reais motivos (ao menos desconfiamos), o melhor técnico do futebol brasileiro deixou as Laranjeiras. E é por conta disso que este Fla-Flu será lembrado, ainda que tenha sido um jogo disputado com galhardia pelas duas equipes.


Desconfiada e sabedora de que o mau presságio se aproximara, a torcida do Fluminense teve presença tímida no Engenhão em relação ao seu potencial. Contudo, deixo claro meu seguinte ponto de vista: que não falem da ridícula bilheteria na vitória contra o Resende! Um jogo que terminava quase às nove da noite do sábado de carnaval, com um time desfalcado, com ingressos caros e um time às portas da crise não faria nenhuma torcida do mundo, mais-querida ou não, encher qualquer estádio. Mostramos nossa força na quarta de cinzas: os quatro mil maníacos não falharam. E ontem, bem sabemos, a imprensa esconde uma informação fundamental: a de que um mínimo grupo de torcedores do Flamengo, insignificante diante de sua gigantesca torcida, mas suficiente para provocar enorme confusão e prática de atos violentos nas imediações dos estádios, afugenta muitas famílias e casais Tricolores – tudo, claro, somado ao exótico horário imposto pela televisão e os ingressos muito caros compõem arquibancadas ociosas. Diante de tantos aspectos extra-campo que precisam ser reavaliados pela dirigência do Fluminense, a questão dos ingressos é uma evidência: não se faz um grande time para arquibancadas vazias, tampouco com uma duvidosa elitização da platéia. Talvez dê certo em Londres, Roma ou Paris, mas não no Rio de Janeiro, mesmo no Brasil.


Enquanto o Fla-Flu mostrava turbinas ligadas em campo, com os rubro-negros dominando o primeiro tempo e nós o segundo, com excelentes participações dos goleiros - e, reitero, mais uma grande atuação de Berna - mais o curioso contraste de ver Emerson e Neves lutando contra as camisas que os consagraram, chamava atenção o silêncio de Muricy nas poucas vezes que esteve à beira do gramado. Estava tudo decidido desde antes, bem antes: ali era sua última atuação como técnico do Fluminense. Na outra área, Wanderlei vibrava como nunca ao comandar o time de seu coração; não é que o profissional do futebol tenha que torcer para o time onde joga ou trabalha fora de campo, mas é inegável que num ambiente que se respira paixão, certos detalhes fazem a diferença. Os minutos passavam, repórteres cogitavam, os bem-informados dissimulavam. Num certo momento, o Fla-Flu perdeu parte de sua centenária magia para um disse-me-disse que chamou a atenção até dos flamengos. Alguma coisa estava errada, mas não propriamente neste jogo que, por injustiça, passou com as redes em branco; era algo de longe, muito mais longe do que talvez ainda possamos imaginar. Não me aterei a comentar a catastrófica entrevista da dirigência Tricolor pós-jogo, ou mesmo a demissão de Antunes às vésperas de jogo tão importante (já estava há tempos, era apenas questão de escolher o momento, mas optaram pelo pior possível); apostar que tudo não passava de coisa recente seria de uma ingenuidade que não podemos mais desfrutar. Também não comentarei a saída de Muricy, sem entrevistas, em silêncio, pelos fundos do Engenhão. Todos estes fatos são claramente adversários de tudo o que a nossa torcida almeja e merece.


O Fla-Flu terminou sem gols. Paramos os campeões da Guanabara. Contudo, o que deveria ser recuperação se transformou numa derrota fragorosa: o dia em que o Fluminense foi goleado por cartolagens. Não tenho como falar de grandes lances, jogadas apoteóticas, o pulsar interminável das torcidas. Empatamos, mas fomos derrotados por nós mesmos, pelos nossos. À nossa frente, o caminho de sempre, um interminável desafio. Debaixo de uma crise criada por nossa própria cúpula, sem o treinador, partimos para mais uma daquelas façanhas que só os Tricolores – sem unanimidade – são capazes de acreditar. O que nos leva à frente não é o presente, mas o passado dessa majestosa camisa que, quanto mais agredida e vilipendiada é, mais força mostra diante das intempéries. Eu já vivi isso muitas vezes: o Tricolor não é um alienado que vive num mundo onde tudo é vitória e conquista. Mas temos um vasto repertório de quebrar o braço do suposto impossível. O Fluminense é muito maior do que interesses monetários, desmandos e picuinhas. Nossa camisa há de louvar isso.

Paulo-Roberto Andel

Thursday, February 24, 2011

FLUMINENSE 0 X 0 NACIONAL (URU) - 23/02/2011



Dez mil maníacos (24/02/2011)

Ontem, enquanto o Fluminense empatava com o Nacional do Uruguai, por volta de meia hora da etapa final, fitei as informações de público no estádio do Engenhão e li dez mil e dezessete presentes. Na mesma hora, um breve alento: lembrar da maravilhosa Natalie Merchant e seu 10.000 Maniacs cantando “These are days”, que fala dos dias que serão lembrados num momento futuro. Não haveria trilha melhor. Não podemos cair na esparrela de que só a vitória constrói, que só a vitória traz os louros, ao contrário: muitas vezes, as lições advindas de um mau momento - como o que vivemos como torcedores – podem ser definitivas para um futuro melhor. E o torcedor do Fluminense, calejado por anos e anos de vitórias e superações tidas como impossíveis, mais uma vez se vê diante de um desafio que os corvos já traçaram como insuperável: buscar a classificação para a segunda fase do certame do sul da América. Desses corvos, quase sempre rio: quem não é capaz de aprender uma lição ensinada há mais de cem anos será capaz de quê? Amigos, não tomem minhas linhas como delírio ou otimismo fortuito; quero dizer nestas linhas que temos uma tarefa muito difícil, muitíssimo difícil, mas longe do impossível. Em campo, a camisa centenária ainda não foi devidamente honrada com uma atuação do Tricampeão neste 2011, mas ainda estamos em fevereiro e as águas descerão rumo ao mar. Ontem, mais uma vez, nosso jogo não fez prevalecer a força Tricolor em casa; empatamos sem gols, quase perdemos num momento, quase ganhamos noutro, a defesa melhorou em alguns aspectos, o ataque caiu.

Não houve falta de raça ou mesmo dedicação. O Fluminense mostrou sede de competir: entrou em campo antes de todo mundo, até mesmo o árbitro Amarilla. Éramos dez mil maníacos com fé: alguns querendo o apoio a todo instante, por conta do amor ao Tricolor; outros, mais céticos, preocupados com o que viria a seguir. Todos, namorando a vitória que não veio. Poucos, diante do mar de gente que é a nossa torcida; porém, o que queriam os dirigentes depois de uma desclassificação para o Boavista, num jogo às dez da noite de meio de semana, com transmissão pela tevê aberta e ingressos a módicos oitenta reais. Dez mil admiráveis e empolgantes maníacos. Voltando à questão do ingresso, quero dizer que é hora da dirigência Tricolor concentrar suas atenções mais no abusivo preço das entradas do que, veladamente, criar dificuldade para a compra de ingressos com meia-entrada. Aos que defendem argumentos compatíveis com o futebol europeu, limito-me a dizer que o futebol brasileiro viveu a lotar estádios enquanto os menos abonados, os humildes, os trabalhadores medianos os lotavam com ingressos populares, a preços acessíveis. Oitenta reais é o preço de alguns shows internacionais, não de uma (maravilhosa) diversão que se repete duas vezes por semana em onze meses do ano. Chega de hipocrisia: se querem o estádio lotado, basta incentivarem o torcedor – e não é com ingressos a preços escorchantes que se faz isso, principalmente porque eles não chegam a dez por cento da receita mensal que o clube dispõe.

A nova formação proposta por Muricy tinha a intenção de evitar que levássemos o gol precocemente, o que seria um desastre; por outro lado, os laterais na função de alas teriam a missão de municiar He-Man e, antes dele, Darío Conca. Não deu certo. Mariano teve 2009 e 2010 de esplendores, prometia mais para 2011. Ainda não estreou em campo como o velho mariano que nos acostumamos. Do outro lado, Carlinhos teve um dia de cão. Jogador de bons recursos técnicos, às vezes se perde quando seu arranque fica próximo de zero, incompreensível para um jovem – e bom – lateral. Errou tudo o que tentou, a ponto de sequer arriscar sua tradicional jogada de corte com o pé esquerdo para bater com o direito. E Conca? É craque, é jogador capaz de desequilibrar partidas e ganhar um Brasileiro, só que ontem teve uma noite negra: também errou tudo o que tentou; acontece muito pouco, mas acontece. Além de normalmente não engrenar o melhor da sua forma nos dois meses de verão que abrem a temporada, o argentino veio de operação e jogou muito antes do previso, daí ser normal a instabilidade que tem demonstrado. Ainda assim, não lhe faltou espírito de luta: tentou a todo instante, mesmo que sem êxito. O mesmo vale para Rafael Moura, valente brigador e buscando a bola fora da área, plenamente marcado pela forte retranca uruguaia que não ofereceu espaços – além do Fluminense estar neste momento sem a menor condição de exercer um futebol rápido, veloz, de toques curtos e objetivos. Mais atrás, Valencia deu conta de substituir o opaco Edinho e Digão esteve bem a maior parte do tempo. Marquinho lutou muito e quase fez um gol, com a bola pererecando rente à trave direita do gol do Nacional. Uma atuação regular, com eficiência na marcação, mas pouco agressiva frente ao drama de ter que vencer o jogo em casa a qualquer preço – o empate seria quase tão ruim quanto uma derrota; melhor dizendo, na prática seria uma derrota com bônus de um ponto. Era hora de mudar para jogar o segundo tempo.

Muricy, como de costume, manteve a equipe para os quarenta e cinco minutos finais. O panorama mudou um pouco porque nosso time passou a jogar mais adiantado e, com isso, imprensou o Nacional em seu campo. O problema era que esse encurralamento não provocava nenhum resultado prático em jogadas de perigo e finalizações. Quando finalmente aconteceu, o pênalti absurdo cometido por Píriz foi completamente ignorado por Amarilla. O tempo passava e os uruguaios começam a mostrar a sua tradicional catimba, caindo ao chão até por conta de golpes de ar. Tínhamos perdido a nossa grande chance de gol e voltamos a perder outra: o goleiro Burián falhou clamorosamente num cruzamento e a bola, que veio da direita e estava livre na pequena área, se ofereceu, mas o jogador mais perto dela não acreditou no lance e não chegou a tempo de concluir. Era Carlinhos. Mais tarde, ainda houve tempo para os uruguaios repetirem um 1950 no Engenhão, após falha gritante de Euzébio, driblado ridiculamente por Santiago Garcia, um jogador que lembra muito a silhueta mais alargada do atacante Obina. Ele ainda driblou Berna e ficou com o gol livre, mas a péssima finalização bem alta nos salvou da derrota. Muricy já tinha tentado Tartá como forma de conseguir alguma velocidade, mas o menino entrou tímido no jogo e pouco produziu. Quem ainda conseguiu alguns lampejos ao final da partida foi o veterano Araújo, que agora parece mais próximo da forma física minimamente adequada para um jogador de futebol. Todavia, não foi o suficiente para vencer o jogo.

Ao apito final, muitos dos dez mil admiráveis maníacos vaiaram mais o resultado do que propriamente a equipe – e o fizeram com todo direito. Deixemos de lado a hipocrisia de que torcer é parecer um expectador de claque, batendo palminhas e não se revoltando quando for preciso. São homens adultos em campo defendendo as nossas cores, não bebês indefesos. É claro que agora se trata de uma situação bastante incômoda, até porque será necessário vencer fora de casa estes times que não conseguimos superar em nossos domínios. Foi perceptível alguma melhora em relação ao desastre apresentado contra o Boavista, mas pouco para quem pretende chegar ao topo da América. Estamos alijados da Guanabara; o fim do verão não se desenha com a formosura que nos ofereceu ao começo dele. Tudo parece turvo e difícil. Mas essa é a sina das Laranjeiras: respirar, enfrentar o díifícil; expirar, encontrar outra intempérie à frente. Temos uma semana para tentar derrotar o poderoso América na cidade do México. É muito difícil – por isso, é uma tarefa digna do Tricolor. Nossas televisões estarão atentas a cada vírgula. Hoje, estamos cabisbaixos enquanto pré-campeões sorriem com sarcasmo. O futebol mostra que, muitas vezes, a volta por cima pode ser dar numa vírgula, um tropeço, um sopetão. Quem não aprende, paga o preço. Quem espera, sempre alcança. Nada está perdido.


Paulo-Roberto Andel

Tuesday, February 15, 2011

MADUREIRA 0 X 1 FLUMINENSE (13/02/2011)


O primeiro grande passo (14/02/2011)

Mais uma vez, não houve um futebol primoroso, incontestável. Mais uma vez as adversidades estiveram em campo, principalmente diante de um time bem-arrumado, fechado, impetuoso e com um goleiro em tarde de esplendor. Mais uma vez, o favorito da imprensa não adentrou o gramado; porém, no fim das contas, o Fluminense não apenas venceu o confronto contra o Madureira, ontem, em Volta Redonda, como assegurou o primeiro lugar do grupo B da Taça Guanabara, também beneficiado pelo empate do Botafogo no Engenhão. Mais uma vez, Rafael Moura fez a diferença. O Tricolor está nas semifinais e enfrenta o Boavista no próximo sábado.

Foi uma partida dura, mas leal. O Madureira, tradicionalmente bem-arrumado em todos os campeonatos que tem participado no Rio, não foi um adversário fácil. Tivemos várias chances de gol, muitas defendidas pelo excelente goleiro Cleber e outras interceptadas pela defesa ou a trave. Nosso gol solitário, típico do velho timinho dos anos cinqüenta, aconteceu a quinze minutos do fim da partida, o que mostra a dificuldade de se bater o popular Carrossel Suburbano. No final, deu tudo certo e, felizmente, o Fluminense está onde deveria; depois do mal-estar na Libertadores, no meio de semana passada, estamos de volta. A camisa centenária não nos trai.

Nosso primeiro tempo não foi brilhante. Sentimos os desfalques, motivados pelos cartões amarelos: Leandro Euzébio, Carlinhos, Valencia, Edinho e Diguinho foram poupados para evitar alguma suspensão nas semifinais. Como alento. isso proporcionou a volta de guerreiros admiráveis como Digão e Diogo, nossos jovens heróis da salvação em 2009. Na frente, a volta de Rafael Moura ao lado de Fred, mostrando que os dois jogadores podem atuar juntos. E a principal das alterações, feita no gol: o Tricampeão Berna em lugar de Cavalieri. Ninguém desconsidera a qualidade do ex-palmeirense, por mais que seu desempenho em campo tenha sido muito aquém daquele que, um dia, provocou nos torcedores a impressão do pentacampeão Marcos ter um sucessor à altura. Futebol é momento e, neste exato momento, não há outro goleiro melhor em campo do que Berna em nossa meta – mostrou mais uma vez suas qualidades ontem, com defesas fantásticas, sendo um dos melhores em campo, ora em cabeçadas, chutes de fora da área, cobranças de falta e saídas do gol. Tecnicamente perfeito. Cavalieri precisa treinar, se condicionar e, aí sim, disputar a posição, é o que me parece óbvio.

Quem não foi bem em campo na primeira etapa foi Souza. Errou praticamente todos os passes que tentou, sua principal função, com exceção de algumas bolas paradas. Fred também pareceu um tanto apagado, ainda que seus pequenos lampejos causassem furor nas arquibancadas Tricolores do Raulino de Oliveira, principalmente nas tentativas de cabeçadas. Conca, aos poucos voltando à forma, quase fez um golaço ao limpar vários adversários e chutar rasteiro – e aí, claro, quem apareceu foi Cleber, a parede do Madureira. Em dois cruzamentos, Digão perdeu oportunidades. O Madureira não se fez de rogado e nos ameaçou várias vezes, a maioria muito bem-interceptadas por Berna. O empate foi justo no primeiro tempo: se não marcamos o gol, foi por nossas deficiências na finalização.

No segundo tempo, é fato que voltamos mais dispostos. Era preciso ganhar e, além disso, o Botafogo empatava no Engenhão, o que nos permitia sonhar com o primeiro lugar do grupo. E Souza acertou a sua primeira jogada: um chutaço de fora da área que exigiu esforço de Cleber. O goleiro de Conselheiro Galvão era, a essa altura, um verdadeiro chato a boicotar nossa tarde: pegava até pensamentos e suspiros. Outro bom chute de Souza, em cobrança de falta, lá estava o desgraçado a impedir o gol, voando no ângulo direito. E mais uma jogada de cabeça, no desvio de Gum após cobrança de falta feita por Conca, pela direita: claro que Cleber evitou.

O tempo passava e parecia que não íamos conseguir. Na jogada mais cristalina, Souza bateu a falta em cruzamento, Rafael Moura fuzilou de cabeça e a bola, que dessa vez tinha passado por Cleber, explodiu no travessão. Em seguida, um dos nossos grandes personagens dos últimos dois anos, um tanto apagado neste 2011, foi decisivo para a suada vitória de ontem: Mariano. Buscou uma bola na direita em arranque fulminante, como aqueles que o levaram à seleção brasileira; em seguida, sofreu falta. Souza, desde que chegou ao Fluminense, tem cobrado muitas faltas, mas esta ficou ao encargo de São Dario Conca. O argentino do lado direito da área, batendo com o pé esquerdo em curva, fez jogadas maravilhosas em 2008; naquele momento, nosso artilheiro das bolas paradas era Cícero, hoje em franco sucesso no futebol alemão. Conca parou, olhou e cruzou para o meio da área, com a perfeição habitual. Cícero pode estar longe de nós, mas temos um time de heróis e, mais do que isso, um super-herói: lá estava o He-Man de novo com sua cabeçada de artilheiro, raspando de cocoruto e finalmente batendo o quase invencível Cleber, num gol chorado a quinze minutos do fim. Era o gol da vitória, da classificação e da liderança do grupo, contrariando as convicções bonachonas da imprensa esportiva.

Ainda houve tempo para um verdadeiro show de Ricardo Berna: uma defesa espetacular no ângulo direito, espalmando para escanteio e na seqüência, contando com a ajuda do travessão. E Digão, que tirou um gol feito usando o ombro, sentado na pequena área? As três cores atravessaram um século com competência, fidalguia e aplicação, mas também sorte – e esta nos bafejou no momento exato.

Os minutos finais do jogo, com o Botafogo já tendo empatado seu jogo e nós precisando apenas manter o escore mínimo a nosso favor, me ofereceu duas reflexões: uma, sobre um outro herói, tímido, que adentrou o gramado pela Madureira, mas que estará sempre presente nas mentes das Laranjeiras. Falo de Adriano Magrão, que nos colocou na Libertadores de 2008 com seus gols e passes decisivos. Outra, sobre certos comentários que davam conta do Fluminense ter “escapado” do Flamengo na disputa semifinal. Creio não haver qualquer possibilidade de dúvida sobre o fato de que o Fluminense foi o primeiro por seus próprios méritos. Um Tricolor que conhece a história das Laranjeiras precisa mesmo “escapar” do Flamengo? A história da Gávea é mais do que respeitável, mas todos sabem a predominância Tricolor num Fla-Flu decisivo, como foi pelas décadas afora. O passado não veste nenhum favorito hoje, mas a história jamais colocou o Fluminense como um camundongo indefeso e fujão, mas sim um grande campeão, muitas vezes conquistando taças memoráveis contra o escrete rubro-negro. Não somos os mais-queridos da imprensa e nem os mais-favoritos de nada: somos apenas nós mesmos, com nossa trajetória infinita de lutas. A Libertadores mora logo ao lado e, nesta semana, o momento é de preparação para a batalha final da Guanabara, caso consigamos bater o Boavista. Ao sempre-favorito Flamengo, resta lembrar que há um Botafogo pelo caminho e, justamente por isso, estar na grande final ainda é um passo bastante longe. Ninguém bate o Botafogo de véspera e nem desclassifica o Fluminense por decreto. Oh, velha lição!

Paulo-Roberto Andel

Friday, February 11, 2011

FLUMINENSE 2 X 2 A.JUNIORS (09/02/2011)



Sem tempo para lamentos (10/02/2011)

Merecíamos muito mais do que tudo visto e vivido ontem. O primeiro capítulo da Copa Libertadores, especialmente depois do que nos custou daquele 2008 até o fim do ano passado, deveria ter sido um sonho, mas esbarrou em cruéis realidades. Empatamos em casa a primeira partida, quando a vitória era uma necessidade; por outro lado, perto do que jogamos e, principalmente, por conta de erros crassos individuais, escapamos de uma derrota justa e mantivemos a invencibilidade em competições internacionais jogando no Brasil. No fim das contas, saiu barato. Antes da partida, meu encontro com o camarada Paulo Cézar Filho revelava meu temor: ele estava mais confiante do que eu, e tentei levar esta mesma confiança para a Leste Superior. Nem lá, nem cá: o empate em casa não foi bom, mas perto da derrota iminente, foi menos pior.

O Engenhão não lotou, como se cogitaria na estréia de uma Libertadores. É um estádio bonito, mas com alguns problemas. Não fica longe do Maracanã como tanto se fala, embora ir de carro até lá seja quase uma odisséia, principalmente no incrível horário de sete e meia da noite durante a semana; muitos optam pelo combo trem-metrô e, por isso, chegam em casa depois de uma da madrugada. É evidente que tal horário desmotiva o torcedor a comparecer regularmente ao estádio. Não preciso dizer do escorchante preço dos ingressos, que alguns tentam justificar por conta da meia-entrada; qualquer desavisado sabe que um ingresso de quarenta reais, cobrado duas vezes por semana em média, gera uma despesa aviltante – se não houvesse a promoção, os estádios estariam às moscas. Quando criança, lembro que economizava minha mesada e ia a vários jogos, alternando com o cinema, que custava o dobro ou o triplo de um ingresso de arquibancada no Maracanã – hoje, é o contrário: o futebol é bem mais caro do que o espetáculo do cinema. Portanto, estão de parabéns os quatorze mil pagantes: além de enfrentarem um horário sacrificante para poder comparecer aos jogos, ainda disponibilizaram muitos e muitos reais. A grande massa ganha menos do que mil dinheiros brasileiros e, por isso, não pode gastar mais de trezentos deles somente com o futebol – sem contar a passagem, o deslocamento, a fome e a sede. Já que a bilheteria dos jogos responde por apenas oito por cento das receitas dos times de futebol no Brasil, talvez uma mobilização digna da diretoria do Fluminense no sentido de baratear os ingressos e garantir platéia máxima fosse bem-vinda. É claro que tudo fica na base do fosse.

Meus amigos, o Fluminense ainda não fez uma grande partida este ano. Em alguns momentos durante os jogos deste 2011, lampejos de craque surgiram nos pés e cabeça de Fred; algumas jogadas do herói Conca, incrivelmente já nos gramados após a cirurgia, mas ainda distante da forma física ideal; a excelente surpresa recente no retorno de Rafael Moura não foi suficiente para garantir triunfos. Figuras importantes do time campeão como Marquinho e Diogo não têm jogado, por razões diferentes. Mariano, símbolo da raça que salvou o time do inferno e foi até o céu, ainda não estreou em 2010 – apenas entrou em campo, ainda que ontem tenha ajudado a evitar a derrota. O Sheik está ausente. A gigantesca figura de Ricardo Berna, primordial no Tricampeonato, agora ocupa o banco. Nossa defesa, titubeante, tomou cinco gols nos últimos dois jogos. Tudo isso, com pesos diferentes, ajuda a tentar entender porque o Fluminense de 2011 ainda não é aquele que encantou o Brasil há pouco.

Falo do jogo. A bola parecia que queimava no pé de alguns dos nossos jogadores, de tão tensos que estavam com a estréia contra um adversário que, se não encanta, é digno representante da tradição do futebol argentino. Uma esperança no ataque, depois de boas participações nos jogos recentes era Willians, mas não se confirmou. Quem esteve bem – e confirmaria a boa atuação com gols – foi Rafael Moura, que em dois jogos produziu mais do que em toda a sua trajetória anterior com a nossa camisa. O Fluminense, contudo, tinha um conjunto nervoso e permitiu em algumas vezes bons ataques dos argentinos; no melhor deles, o baixinho Niell tocou para as redes após dividida com Gum e André Luis salvou teoricamente em cima da linha – mas apenas teoricamente, porque as câmeras permitiram confirmar o que se sentira no estádio com o ruído de mal-estar da nossa torcida: a bola passou inteira. Este seria um lance capaz de reanimar um time ainda tímido na partida, mas não foi o que aconteceu: ao fim da primeira etapa, os portenhos insistiram no ataque e, em cabeçada de Niell, a bola quicou entre a defesa; Cavalieri, atrasado e mal-posicionado como de costume, não evitou o gol. Descemos para o vestiário com duas certezas: perdemos o primeiro tempo merecidamente e, se o time argentino tivesse maior qualidade, poderia ter sido ainda pior.

Na volta, Willians, apagado, deu lugar a Rodriguinho, o que não mudou muito nosso panorama ofensivo, calcado na luta incessante de Rafael Moura. E ele mesmo fez seu terceiro gol em quatro dias, em bela cabeçada após cruzamento de Carlinhos. O empate alimentou a esperança da torcida, mas realmente não estávamos em um bom dia – mesmo após a reação, o Fluminense não cumpriu seu papel de mandante da partida, cada vez mais lenta por conta da catimba argentina e da leniência do árbitro paraguaio Torres, uma espécie de Gutemberg guarani – para culminar, o próprio senhor Gutemberg, depois da lambança de domingo passado, lá estava novamente no Engenhão como quarto árbitro. Ainda fizemos relativa pressão no ataque, mas sem finalizações perigosas e, então, oferecendo espaço aos argentinos para o contra-ataque - a exceção se deveu em um único bom chute de Mariano, pela direita, obrigando o arqueiro Navarro a espalmar a bola que ia no ângulo esquerdo para escanteio. A seguir, nossa zaga, titubeante durante os noventa minutos, deu mau sinal: André Luis recebeu um “drible da vaca” de Salcedo, que cruzou na área. Uma falha grotesca de Cavalieri ao não interceptar a bola e, em seguida, o azucrinador Niell chegou antes do também atrasado Gum e tocou de cabeça, livre, no canto direito, colocando o Argentinos na frente, agora a quinze minutos do fim. Não é o caso de crucificar ninguém, até porque a má atuação foi coletiva, mas é evidente que Cavalieri foi o principal responsável pelo segundo tento, assim como tem falhado constantemente nas partidas em que jogou. É um goleiro que ainda pode prosperar; o problema é saber se, à espera desta prosperidade, teremos que colocar em risco as duas competições que estamos disputando, uma vez que o sagrado gol do Fluminense não é lugar para experiências e adaptações. A torcida vaiou com razão e os mais apaixonados resolveram intervir; entendo o ponto de vista destes e merecem todo respeito, mas minha opinião é a de que ser apaixonado pelo Tricolor - e querer o melhor para ele - não deve ser confundido com uma ingenuidade quase infantil, onde tudo é belo e cristalino, onde não existe crítica. Estamos no futebol brasileiro, convém lembrar.

A força do Fluminense é imensa e isso explica a nossa reação, mesmo numa noite onde quase tudo deu errado. No quase desespero na saída de bola após o segundo gol argentino, um cruzamento da direita, um rebote para a área e a bola chega a Mariano, depois de ter passado por Rafael Moura. O He-Man mostrou todo seu senso de área, ao dar um passo para trás e se recolocar em condições de finalização. Mariano acertou seu primeiro cruzamento no jogo e o artilheiro garantiu a igualdade com firme cabeçada. Ainda faltavam quinze minutos para o fim do jogo, mas o desgaste físico em campo era evidente, mesmo com a tardia entrada de Marquinho, o que impossibilitou nosso poder de reação. Os argentinos, satisfeitos com o ponto fora de casa, limitaram-se a retardar as bolas paradas e gastar o tempo; assim, saíram com um bom resultado rumo à terra portenha.

A lição de ontem passa por vários temas: a necessidade de juventude em campo, a mesma que nos salvou em 2009 e nos guinou em 2010; a humildade de reconhecer que alguns dos nossos jogadores não passam por bom momento, merecendo ser substituídos – no caso particular de Cavalieri, há anos sem treinamento de goleiro, não deveria sequer ter estreado. A sobriedade de perceber que a Libertadores é diferente do campeonato brasileiro. Mas não há tempo para lamentos: o campeonato carioca nos espera e termos que buscar os dois pontos perdidos ontem fora de casa. Uma tarefa dura, mas não surpreendente para a centenária camisa acostumada a desafiar paradigmas.


Paulo-Roberto Andel

Wednesday, February 09, 2011

A AMÉRICA EM DOIS ACTOS

03/07/2008
ACTO I

Talvez existam os deuses do futebol. Particularmente, não creio.

Dou-me o direito do engano, do erro. Respeito todas as crenças e credos, mas não compartilho deles.

Houvesse um grande deus do futebol em pleno exercício, caberia ao Fluminense erguer a gloriosa taça da América ontem. Estava escrito há cinco mil anos, como profetizaria nosso herói Nelson Rodrigues. Acabou o certame, e tivemos a melhor campanha; vencemos todos os jogos em casa; fomos heróicos em partidas contra os poderosíssimos São Paulo e Boca Juniors. Ontem, também. Mas não bastou para o Fluminense ser campeão.

Alguém, não se sabe de onde, rasgou os escritos e com crueldade: esperou os últimos momentos, os últimos chutes a gol, os últimos suspiros – momentos onde, normalmente, temos grande perícia. Não foi o caso desta vez, rasa e pontual vez.

O Fluminense não fez na final uma partida tão grandiosa como aquela contra os argentinos, e nem como o poderoso tricampeão mundial paulista. Ainda assim, fomos melhores que os equatorianos e a vitória no tempo normal foi merecidíssima. É fato que dois pênaltis ocorreram a nosso favor, sobre Washington e Cícero, não marcados pelo péssimo árbitro Baldassi, mas não quer dizer necessariamente que o título estivesse assegurado por isso, pela hipotética marcação. O árbitro argentino foi muito ruim para os dois times, chegando a anular um gol legítimo da LDU que nos destruiria na prorrogação. Bom, se tivesse marcado os dois penais claros, talvez a prorrogação nem acontecesse. Trata-se de um mundo de suposições. Lembro que acertamos a trave e fomos abalroados também. Conca foi um gigante na partida. Neves fez história, sendo o primeiro jogador a marcar três gols numa final da América do Sul, agora também enxertada pelo México. Superamos o gol trágico que sofremos logo aos cinco minutos, com uma reação vigorosa. Vencemos aqui e empatamos a competição.

Vencemos, mas não como das outras vezes. Nosso grande Washington não estava bem, e o mesmo se pode dizer de Marcos Arouca, Gabriel e Thiago, nosso zagueiro continental – Tricolor dentro do peito. Havia nervosismo, a tensão natural de um grande jogo final. Acertamos mais do que erramos, mas sem o brilhantismo de outrora. Ainda assim, o quarto gol era uma possibilidade real, e dele estivemos muito perto. Não aconteceu, entretanto.

Veio e nervosa prorrogação. O Maracanã, abarrotado em gente caindo às vistas a cântaros, era de um só coração, com exceção de parte das cadeiras azuis tomadas pelos bravios equatorianos. Tínhamos total confiança na vitória no tempo extra; entretanto, os cuidados que todos os times tomam num momento desses, onde a falha pode ser capital, acabam tornando a prorrogação muitas vezes num compasso de espera em agonia para as disputas na marca penal – o verdadeiro ai-jesus que povoa até o hino da Gávea. E foi o que aconteceu. A disputa por pênaltis para conquistar a América.

Entendo que seria de uma crueldade desumana colocar a culpa exclusiva pela perda da América em cima dos cobradores penais. O Fluminense deve muito a Darío Conca pela chegada a este momento apoteótico, mágico, que foi o de chegar à final da Libertadores. Deve muito ao Neves, que oscilou mas mostrou brilho, muitas jogadas e gols. Nada a lamentar de Washington, nosso guerreiro, nosso Coração Valente, que fez tudo para estar em campo ontem – e, se não conseguiu mostrar o seu melhor futebol, lutou como todos. O que falar de Renato Portaluppi, que tantas alegrias nos deu dentro do campo e na lateral dele? Ontem, o Maracanã estava com Romerito, com Benedito de Assis, com Edinho, com nossos ilustres e anônimos torcedores vindos de todo o país e do exterior.

Houve erro? Será que realmente houve erro? Ou o futebol não é realmente assim?

Em Laranjeiras, não há espaço para crucificações e torturas. Nossa formação é outra.

Havia um grande adversário contra nós, que nos derrotou no detalhe – onde quem erra menos, vence. Mereceram o título. Onde foi preciso, na vírgula e no hiato, foram melhores.

A tristeza de ter perdido uma taça que escapou entre nossos dedos está em meu coração desde vinte e um de maio. Naquele dia, o Fluminense teve um de seus jogos mais difíceis, enquanto eu velava meu pai em seu quarto – meu pai, que me ensinou a amar este clube, este time que é de um sabor especial em todos os momentos desde que me entendo por gente. Num dos piores dias de minha vida, o Fluminense foi gigantesco como merece ser - e quando Washington bateu forte no peito, tomei para mim mesmo aquela bravura para lidar com a terrível dor da morte, a dor de perder um pedaço de mim.

Conseguimos reverter o resultado que os homens de imprensa tanto deram quanto absoluto e inquestionável nos noventa minutos. Poderíamos ter feito mais; poderíamos ter ganho o título no campo com mais um mísero gol, mas ele não veio. Eu entendi a dor do futebol mais uma vez, quando meu irmão, ainda tão jovem, teve os olhos cheios d’água ao final das cobranças penais – e o Tiba, meu velho amigo Tiba, o Homem de Gelo, mais do que ponderado, apressou-se nervosamente rumo à própria casa. Era o Fluminense mexendo com os corações de seus apaixonados torcedores. Perdemos a taça num detalhe – importante, crucial, mas detalhe. O Brasil parou para nos ver, e entendo que parte dele tenha ficado desapontada.

Hoje é o dia de uma longe noite, o dia que emendou noutro sem terminar. Nossas bandeiras, a vento rasante, são Telê Santana, Tom Jobim, Marcos Carneiro de Mendonça, Preguinho, Nelson Rodrigues. Nossas bandeiras são Parreira, são Assis, são Batatais, são de São Paulo Victor. Estamos, vivos ou mortos, muito vivos. É um dia triste, mas não de luto. Fizemos jus à história que construímos. Fomos dignos. Lutamos até os últimos chutes. Não houve oba-oba ou deslumbramento. Fomos superados por um adversário num desempate, depois de uma grande vitória.

A América nos escapou por um detalhe. Nela, não fomos coadjuvantes, tal como os preferidos da imprensa. Fomos protagonistas. O que, hoje, parece dor, pode ser o início de uma nova era, da qual nem desconfiamos por ora.

Eram três horas da manhã. Meu irmão me perguntava se o jogo no próximo domingo era no Serra Dourada. Respondi que sim. E ali, tantos anos depois, eu entendi que o Fluminense nasceu para disputar um esporte que não é somente o futebol, mas sim uma competição que nunca termina, com uma força que nunca seca. O Fluminense nasceu com a vocação do Fla-Flu de Nelson Rodrigues: não vai morrer, nunca vai acabar. Vivemos uma tristeza momentânea, e só. O sol nascerá, como já disse Cartola, um de nossos poetas imortais.

Nós voltaremos à América.

Vivos e mortos serão fiéis testemunhas.


Paulo-Roberto Andel



09/02/2011

ACTO II

Quem espera sempre alcança, como diz a nossa história.

Foram quase mil dias e mil noites de espera. Uma vigília interminável.

Sofremos. Lutamos. Choramos.

Vencemos.

Torcer pelo Fluminense é muito mais do que torcer para um time de futebol, seja ele um grande campeão ou não. Ser Tricolor é desprezar obviedades, é trocar a maioria avassaladora pela minoria sofisticada. É não se curvar a falas e textos que, de tão repetidos, soam como chapa-branca imposta. É desafiar definições.

Certa vez, o maior cronista de futebol de todos os tempos, Nelson Rodrigues, escreveu que às vezes, o torcedor do Fluminense pode até deixar de ir ao estádio pelo comodismo de casa, mas nas horas decisivas lá está a urrar nas arquibancadas e celebrar vitórias. Quem descreveria o Tricolor de forma melhor? Ninguém.

Nossas vitórias são caleidoscópicas. Vejam o grande Tricampeonato conquistado em 2010, contra tudo e contra todos. As batalhas épicas de 2009 e 2008. Falo apenas dos últimos três anos, imaginem os outros cento e cinco. Pois bem: depois daquela longa noite de julho, terminada a série de cobrança de penais, o Fluminense era um time condenado à morte por seus inimigos e serviçais daqueles que têm horror às Laranjeiras, muitas vezes porque não entendem que um jogo de futebol é tão-somente um jogo de futebol, com tudo o que de belo e simples isso possa representar.

Queriam a nossa carne viva. Riram. Tripudiaram. Decretaram o fim do Tricolor. Houve uma campanha midiática tão pesada que o Fluminense chegou a adernar – mas não afundou. Insistem em resumir nossa história centenária a um péssimo momento de quinze anos atrás – ou a um idiota que resolveu abrir uma champagne. Como negar a história de Marcos Carneiro de Mendonça, Preguinho, Hércules, Tim, Castilho, Telê, Pinheiro, Denílson, Edinho, Ricardo, Branco, Paulo, Assis, Ézio, Renato, Thiago, Conca? Como negar a história viva de Nelson Rodrigues? Não podemos admitir o triunfo da imbecilização que se faz ao tentar diminuir o papel do Fluminense na vida brasileira, dentro e fora das quatro linhas.

Houve quase mil dias e mil longas noites de espera.

Nada dura para sempre, nem a pior das dores.

Nossas crianças, mulheres, homens e idosos choraram a perda daquele título que era tão nosso, tão evidente, com nossa campanha superior à de muitos times campeões do passado. O problema é que nada é fácil para o Fluminense: nós e nossos antepassados construímos uma grande história sempre lutando contra fortíssimos interesses. Tentaram nos impingir sempre uma pecha de clube da “elite” (com aspas pelo tom jocoso que emprestam a este termo), alheio às agruras do povo humilde e desligado da cena cotidiana real. Quanta bobagem! Não temos culpa de que nossos torcedores mais carentes financeiramente têm classe até para andar com uma camisa rasgada. Não podemos ser apedrejados porque nossa torcida lê, ouve, debate e tem opinião própria em vez da construída em manchetes de cinqüenta centavos. O Fluminense é um time de todos: brancos e pretos, ricos e pobres, nascidos em todos os berços. O Fluminense não é o mais-querido, mas sim o tão-querido-quanto. Ponto.

Houve o choro de 2008. Uma perda que parecia infinita. Mas estava escrito que, um dia, nós voltaríamos à América e que mortos e vivos seriam fiéis testemunhas deste novo feito.

Foram quase mil dias e mil noites insones.

Estamos de volta.

A história tratou de recolocar o gigantesco Fluminense em seu devido lugar.

Paulo-Roberto Andel

Tuesday, February 08, 2011

FLUMINENSE 2 X 3 BOTAFOGO (06/02/2011)



O time da virada (07/02/2011)

Um jogo entre duas grandes equipes não se torna um clássico à toa. Quando se trata de Fluminense e Botafogo, são cento e cinco anos de luta, tradição, títulos e uma história fantástica. Não poderia ter sido diferente ontem, no Engenhão: cinco gols, bolas na trave, duas viradas, pênaltis, disputas, disposição e uma tresloucada arbitragem como a cereja do bolo. General Severiano mereceu vencer, independentemente do verdadeiro desastre bancado pelo senhor Gutemberg: correu mais, aplicou-se mais, teve as melhores chances e, principalmente, soube explorar certas fragilidades nossas que já eram visíveis noutras partidas, mas que foram minimizadas por nossos talentos individuais. Sem qualquer desrespeito aos outros times competidores da Guanabara, uma coisa é reagir contra Olaria e Caxias; outra, contra o Botafogo. Na verdade, deixei o Olímpico ontem mais preocupado com o que nos espera depois de amanhã do que com a derrota em si. Ela veio quando era possível perder sem acontecer uma pane. Claro que seria menos tenso enfrentar o segundo time do outro grupo, em vez da Gávea, nas semifinais da Guanabara; porém, quem tem a sede do título não pode escolher adversários. É o que teremos pela frente, é como tem sido desde sempre. O favoritismo não é nossa pele.

Muito já foi dito sobre o que aconteceu em campo ontem, principalmente sobre a pavorosa arbitragem, sobre a qual falarei resumidamente mais à frente. Talvez não valha a pena enfatizar isso: foi de uma tal obviedade que ignorar as sandices do senhor Gutemberg beira à indulgência mental. Prefiro dizer nesta crônica sobre outras coisas. A lentidão do Fluminense em boa parte do jogo, ponto. É claro que, mais uma vez, o calor foi algoz de jogadores, torcedores e qualquer um que tenha tido a coragem de enfrentar os quarenta graus do Engenhão. Mas estamos em começo de temporada e, em algumas vezes, o que para alguns significa dosagem do ritmo de jogo feita pelo time do Fluminense, às vezes me parece precariedade física mesmo. Temos um dos grandes preparadores do país, Ronaldo Torres, e isso foi visível no grande Tricampeonato de 2010 e na salvação de 2009; entretanto, algo que me chama a atenção é que nosso time visivelmente tem uma média de idade maior do que a das temporadas mais recentes. Jovens como Alan e Maicon ganharam substitutos como o veteraníssimo Araújo – neste caso apenas apontando um exemplo. A raça implacável e a interminável força física de Mariano ainda não entraram em campo. Nossa defesa, titubeante, tem tomado muitos gols – Gum jogou bem boa parte do primeiro tempo, mas não teve sucesso no segundo. André Luis, que substituiu Euzébio, também não entrou bem. Carlinhos, salvo alguns bons chutes na fase final, parecia esgotado em campo desde os primeiros minutos. E Cavalieri, atrasado e visivelmente sem ritmo de jogo, ainda não demonstrou as qualidades que o consagraram no Palmeiras, há anos; a substituição de Ricardo Berna me parece hoje um equívoco completo. Diz-se que o goleiro só consegue ritmo jogando, mas eu pergunto: essa é a hora de testes numa posição que estava tão bem-guarnecida? Pois bem: o suspiro de ai-jesus voltou à nossa torcida a cada chute de longe, como nos tempos do Perseguido; torço sinceramente para que Cavalieri consiga reverter este momento, senão isso poderá nos custar muito caro. Assim, para quem queria vencer um clássico, somente em termos defensivos já tínhamos somado erros demais. Nosso craque Conca foi muito bem-marcado e, ainda se recuperando de cirurgia, não desfilou todo o seu potencial. Fred também foi anulado pela defesa alvinegra; quando esteve com pequena liberdade, parecia fora da velocidade necessária. Definitivamente, não era nosso dia.

Não bastasse nosso rol de erros, o Botafogo mereceu vencer porque teve um jogador espetacular em campo, que foi Renato Cajá. Fez um belo gol de falta, ainda que contasse com o atraso de Cavalieri, e ainda chutou duas bolas espetaculares na trave – os três lances no ângulo direito. Mereceu vencer porque teve o jovem impetuoso Márcio Rosário sendo useiro e vezeiro em cima da nossa ala direita. Mereceu vencer porque soube acalmar os nervos depois das expulsões em campo: o obsessivo Valencia do nosso lado, Marcelo Mattos do deles. Desceu para o intervalo debaixo da virada que lhe impusemos: um belo gol de cabeça do reestreante Rafael “He-Man” Moura, com ótima atuação, fuzilando o ângulo direito após cobrança de escanteio, e outro dele mesmo, numa sinuca maluca dos tempos de José Cunha na TVE, num bate-rebate com Fred e a bola passando centímetros da linha defendida por Jefferson. E voltou para ganhar o jogo: foi um time mais veloz; ocupou melhor os espaços vazios deixados pelos dois times, com dez jogadores em campo; superou a humorística perda do pênalti cobrado por Loco Abreu e, dois minutos após, ainda teve para si a sorte, que se manifestou pelo homem de preto, criando uma nova penalidade que, desta vez, foi bem convertida pelo ídolo uruguaio. E foi aí, meus amigos, que o Botafogo venceu o clássico de ontem: quando empatou o jogo, o Fluminense já não tinha condições físicas e psicológicas de superar o grande adversário. A virada se tornara iminente e, numa falha de Carlinhos no ataque, o contragolpe alvinegro foi cruel: com a defesa completamente errada em posicionamento de linha, Herrera entrou liberto e bateu com facilidade o atrasado Cavalieri. Ainda tivemos alguns poucos chutes, muito bem-defendidos pelo espetacular Jefferson, goleiro de primeira linha no país, além de chuveirinhos inócuos que não acrescentaram nada ao panorama da partida. E o Glorioso triunfou, tirando nossa invencibilidade com competência. Vários dos enganos que cometemos ontem já eram visíveis nas partidas anteriores desta Guanabara: tendo um Fred ou um Souza inspirados, conseguimos reagir e virar jogos contra equipes mais modestas. Contra o Botafogo, a história naturalmente seria outra: pagamos por conta de nossos erros. A meu ver, Muricy também não foi feliz nas substituições: Souza não deveria ter saído (Mariano poderia ter sido o sacado), Araújo não mostrou condições de jogar ao menos um tempo com pleno vigor e Fernando Bob, que substituiu He-Man, não supriu a ausência de Diguinho – este um termômetro do bom sistema de marcação do Fluminense. Enfim, dentro da noite de reveses, ao menos o consolo de que a derrota não nos trouxe maiores complicações: estamos classificados e, provavelmente, enfrentaremos a poderosa e pré-favorita Gávea nas semifinais da Guanabara. Não há opções: vencer ou vencer. E esta mesma derrota pode nos servir de lição de humildade, de alerta para que Muricy perceba os problemas que estão evidentes aos olhos da nossa torcida; de atenção para o grande ano que nos espera, mas que precisamos saber realizá-lo: o recente exemplo da hecatombe corinthiana deveria nos oferecer serventia.

Precisamos retomar a pegada de 2010 para daqui a dois dias. A América nos espera. É hora de sanar os erros. Não será fácil vencer os Argentinos Juniors na quarta-feira que vem, numa noite pela qual temos esperado há dois anos e sete meses. A hora está chegando. Um olho no peixe e outro no gato: a Guanabara de um lado, a Libertadores de outro. Não há o que escolher: é uma luta nas duas frentes.

Termino esta crônica desejando ao senhor Gutemberg que tenha dor-de-barriga, espinhas no ouvido e nariz, unha encravada nos dois dedões dos pés e, se possível, algum furúnculo nesta semana. É o mínimo que posso lhe oferecer diante daquela marcação do segundo pênalti contra nós, que transitou entre o (mau) cômico circense, o psicodélico e o realismo fantástico – tudo isso sem contar a inversão de faltas, os atrasos na marcação, a intimidação que aceitou quando da (justa) expulsão de Valencia. Por pouco, sua desastrada atuação não manchou completamente um grande clássico e uma justa vitória do Botafogo – que, novamente reitero, mereceu o triunfo, mas foi bafejado pela sorte em ganhar um inacreditável pênalti grátis num momento decisivo da partida. No entanto, apenas termino esta crônica: Botafogo e Fluminense não encerram sua queda-de-braço nunca. A história segue, cada vez mais viva.


Paulo-Roberto Andel

Friday, February 04, 2011

FLUMINENSE 3 X 1 CAXIAS (03/02/2011)



Água mole em pedra dura (04/02/2011)

Meu amigo William ganhou três importantes – e merecidos - pontos de aniversário, junto à nossa imensa torcida. O Fluminense tomou a ponta do grupo B na Taça Guanabara e encara o Botafogo no próximo domingo, novamente no Engenhão, com mais tranqüilidade. Fred marcou três gols na partida de ontem contra o Duque de Caxias, ficando cada vez mais artilheiro. Ainda chutamos duas bolas na trave. Tudo era flor e aroma? Nem tanto. Apesar da vitória importante, o time mostrou irregularidades no decorrer da partida e o resultado de forma alguma significou facilidade em campo, o que ficou evidente em vários momentos onde Muricy parecia ter ido à loucura, especialmente quando o Caxias fez seu gol de honra. Vamos em frente, ainda que se espere melhoras para o decorrer da Guanabara e principalmente para a estréia na Libertadores, semana que vem.

Justamente por conta da competição internacional, Muricy começou em campo com um time bem próximo daquele que deve ser o titular na próxima quarta-feira. À última hora, o experiente Araújo entrou para fazer sua primeira partida com nossa camisa. Conca estava de volta definitivamente com a sua camisa 11. Não foi um jogo fácil no primeiro tempo, ainda que nossas chances de gol tenham sido claras em pelo menos dois momentos: as duas bolas na trave, chutadas por Carlinhos e o próprio Araújo. A de Carlinhos foi antológica e, se tivesse entrado, seria com certeza um dos gols mais bonitos do ano no futebol brasileiro: após ótimo lançamento de Conca para a esquerda, um maravilhoso chapéu no zagueiro, a matada na coxa e a finalização no canto direito, espalmada pelo goleiro Fernando e, a seguir, beijando o poste direito. Ainda houve um bom chute de Souza, defendido para escanteio, quase ao fim do primeiro tempo. Se o Fluminense tinha qualidade técnica de sobra em alguns jogadores, o time parecia um pouco lento: Araújo não está em forma, evidentemente; Fred finalizou algumas bolas, mas parecia dispersivo; Conca ainda não está com o ritmo alucinante do ano passado. É claro que o calor também prejudica, mas o Fluminense mostrava calma demais no jogo, principalmente quando as grandes finalizações foram desperdiçadas, sugerindo que o time poderia vencer a qualquer momento, o que sabemos não ser verdade. É preciso dedicação sempre, seja qual for o adversário. O Caxias também quase marcou, no que pode ser considerada a segunda boa defesa feita por Cavalieri com nossas cores: Somália entrou na pequena área, finalizando o cruzamento da direita do ataque, tocando no contrapé, mas perto do goleiro, que mostrou reflexo e pegou. Mais tarde, outra boa defesa, a terceira, em chute de Lenilson pela esquerda diagonal. E terminou o primeiro tempo sem alterações no placar; merecemos marcar pelas boas jogadas, mas o conjunto da obra mostrava um Fluminense até preguiçoso em alguns momentos – e, por isso, não ter marcado soou até como um “castigo” justo.

Hoje em dia, felizmente para todos nós o Fluminense dispõe de um elenco com múltiplas possibilidades, dentro e fora da titularidade. Um dia, Emerson e Deco voltarão. Conca, nosso símbolo guerreiro, já voltou. E temos Fred, que abusara da lentidão na primeira etapa, mas mostrou toda a sua categoria quando marcou o golaço que abriu o marcador. Araújo, em sua última jogada antes de ser substituído, cruzou da esquerda e o artilheiro maior bateu de primeira com o pé direito, no canto direito. Somente um jogador com alto poder de recursos técnicos é capaz de finalizar daquele jeito. E Fred tem.

Marcado o gol, a expectativa era de acalmar as coisas e não apenas administrar o resultado, mas ampliar a vantagem. Só que para o Fluminense, nada é fácil: tudo vem a conta-gotas entupido. E mal deu tempo de nos tranqüilizarmos, houve uma ligação direta do meio campo com o ataque caxiense pela esquerda, numa bola parada. Nossa defesa parou, tentando fazer a linha maldita que, claro, não deu certo. Cavalieiri ficou parado e foi encoberto pela cabeçada do jovem Marlon. Recomeçar de novo.

Reagimos a seguir, com ótima cobrança de falta de Souza no ângulo direito da meta - ele mostra a cada dia ser uma importante opção nas bolas paradas em geral. O goleiro Fernando espalmou para escanteio com mão trocada, em linda defesa. Fred, agora aceso em campo, deu outro lindo chute de primeira, após cruzamento de Mariano e passe inicial de Conca, com a bola passando perto do ângulo esquerdo. E mais um outro voleio sensacional do artilheiro-mor, no bico direito da pequena área. Um chutaço de Conca e mais outra bela defesa de Fernando. O Fluminense deixou definitivamente a preguiça de lado e partiu para a vitória, principalmente quando houve a parada técnica e Muricy esbravejou para todos os lados, principalmente para com defesa e goleiro. Aí, sim, o Tricampeão disse a que veio.

O ditado fala da água mole que bate até furar a pedra dura. Assim sucedeu o placar. Num bate rebate, a bola caiu nos pés de quem sabe: Conca. Um lindo passe para Fred livre chutar por entre as pernas de Fernando, na diagonal, devolvendo a vantagem ao Tricolor. A partir de então o Caxias, que já havia marcado muito e corrido firme, claramente viu suas forças combalirem, de modo que não tinha mais como igualar o marcador. E ainda houve tempo de Fred fuzilar com pé esquerdo, pela esquerda, fazendo o terceiro gol e dando números finais ao jogo no último minuto. Para quem começou um tanto paradão, foi uma noite de glória para o artilheiro-mor.

Em cada partida, uma lição. O Fluminense que deve disputar as competições é o dos vinte minutos finais de ontem, mostrando garra, disposição, talento e aplicação. Não dar tempo ao adversário, não deixá-lo respirar. Respeitá-lo e, por isso mesmo, atacá-lo sem esperar vencer com facilidade a qualquer momento.

Agora pela frente, duas grandes batalhas. Na noite de domingo, o clássico centenário contra o Botafogo, que pode valer a consagração dos adversários nas finais da Guanabara. E, na quarta-feira, algo que temos pensado por dois anos e meio diariamente: a volta à América.. Novecentas noites em busca de um sonho que, muito antes do talvez imaginável, aconteceu. Estamos de volta. Alguns falavam de voltar a competições pela porta da frente: hoje, enquanto saem pela emergência, a América estende seu tapete grená para o Fluminense.

Vamos adorná-lo com branco e verde!


Paulo-Roberto Andel

Tuesday, February 01, 2011

CABOFRIENSE 2 X 4 FLUMINENSE (30/01/2011)

Quatro! (31/01/2011)

Uma vitória por quatro a dois. Quatro vitórias seguidas na Guanabara. A classificação às semifinais em uma das mãos. A expectativa da reestréia na Libertadores. A artilharia de Fred. Este é o Fluminense de hoje, ainda que as loas dos jornais estejam voltadas para outras cores. Mais uma vez, tivemos uma atuação oscilante, com direito a bons e maus momentos, entrecortados pelo calor equatorial de Macaé. Se não convenceu plenamente, o Fluminense venceu e prosseguiu em sua trajetória de vitórias; as sensações Botafogo e Flamengo também venceram e não convenceram. Em suma, tudo dentro do equilíbrio de um campeonato carioca (ou estadual, para quem preferir). Tudo isso sem contar com a volta do craque Conca e a também “estréia” de Willians.

Em tempos de verão, o calor durante os jogos pode até não ser desculpa, mas é evidente que ele atrapalha a performance dos times: basta ver como os jogadores quase desabam quando é marcado o tempo técnico, na metade de cada etapa de jogo. E o Fluminense sentiu o calor, como não poderia deixar de ser, ainda que tenha aberto o marcador no comecinho da partida, em excelente jogada ensaiada na cobrança rasteira de Souza para o meio da área e Fred, com a tradicional categoria, fuzilar o canto esquerdo do goleiro Fábio. Como quase sempre acontece, quando marcamos cedo, nosso time não sustenta a atuação com regularidade no decorrer do tempo. Tartá não estava bem. Por outro lado, Fred perdeu mais dois gols e Carlinhos, um. Outro gol poderia ter acontecido até a metade do primeiro tempo, mas fomos infelizes nos arremates, e quando houve a parada técnica, o Tricolor recuou mais do que o devido e cedeu espaços para a Cabofriense, muitas vezes levada ao ataque pelas jogadas nem sempre eficazes do veterano Schneider. Numa delas, a linda jogada do meia Wagner, acertando um “drible da vaca” em André Luis (escalado minutos antes da partida em lugar de Gum, que sentiu), provocou a primeira defesa feita pelo goleiro Cavalieri com a camisa do Fluminense, fechando o canto esquerdo com qualidade, mas ainda sem inspirar a confiança que os torcedores aprenderam a ter com o Tricampeão Ricardo Berna, barrado sem justificativa técnica plausível e, mais do que isso, uma profunda injustiça. Logo após a grande defesa, Cavalieri experimentou mais um gol sofrido: jogada e matada de Capixaba na área, finalizando no canto direito e igualando o marcador. Com o gol, o Fluminense fez menção de que o acerto de Muricy no intervalo era imprescindível. E o jogo ficou mais lento nos dez minutos finais do primeiro tempo, fazendo com que o empate parecesse o mais razoável. Podíamos ter vencido o jogo até ali, mas o calor, nossa certa ineficiência para lidar com o ataque da Cabofriense e nossas chances perdidas formaram um conjunto que explicou o empate.

Quero falar de Fred. Tem feito jogos de grande qualidade técnica, ainda que nem sempre a regularidade física esteja presente, como no caso contra o Bangu – não correu o tempo todo mas decidiu o jogo em linda cabeçada. Entretanto, sua qualidade, sua capacidade de antever as jogadas e sua frieza são características que podem levá-lo de volta à seleção brasileira, se a forma física se tornar fulgurante. A cada jogo, várias boas jogadas e gols importantes. Sobre os novatos em campo, creio que Souza já mostra a força de titular e Edinho é titubeante, nem de longe fazendo jus ao grande craque homônimo do passado Tricolor. Sabe-se que Muricy é grande fã de Edinho e foi o responsável por sua contratação, mas o fato é que ele não tem jogado melhor do que Valencia e Diogo jogaram na campanha do Tricampeonato. Vamos aguardar os fatos.

Na volta a campo, Muricy sacou Tartá, inconsistente na partida, e colocou Marquinho. Em lugar de Rodriguinho, entrou o Maestro Conca, para a alegria dos milhões de Tricolores. O argentino precisa ainda de ritmo de jogo, mas é claro que disse ao que veio ontem: comandou o meio de campo, criou jogadas e nenhum torcedor sóbrio seria capaz de acreditar que ele acabou de passar por uma cirurgia de joelho. Mas nada é fácil ou simples para o Fluminense: mal-começado o segundo tempo, um pênalti desnecessário de Souza em Diego Salles permitiu a virada do Cabofriense, a segunda que tomamos em uma semana e que, por si só, exige cuidados a seguir. O time da casa cometeu um pecado capital: virar o jogo cedo e tentar segurar o resultado, faltando quarenta minutos para o fim, tendo um Fluminense do outro lado – não daria certo. Conca passou a abusar da categoria, Marquinho perdeu um gol feito e o empate era questão de tempo, até que em linda e precisa cabeçada, André Luis igualou o jogo em dois gols, aos vinte.

Empatar é menos ruim do que perder, com certeza. Mas, tecnicamente falando, o que o Fluminense precisava era de uma vitória com bom saldo de gols, visando ultrapassar o Botafogo na liderança do grupo. Ainda faltava metade do segundo tempo e, após a parada técnica, nosso time retomou de vez as rédeas do jogo: passou a dominar a partida de vez, organizado por Conca e Fred, mais a agradável surpresa dos últimos jogos e que foi intensificada. Falo da “estréia” de Willians, que fez um ano de 2010 tíbio nas Laranjeiras e, nos últimos jogos, tem sempre entrado com esforço e algum talento. Ontem, apareceu de vez. Foi dele a ótima jogada que resultou no golaço da virada, marcado por Fred de bate-pronto no canto esquerdo de Fábio; a seguir, com muita raça, o próprio Willians finalizou com artilheiro, após jogada de Carlinhos e cruzamento de Marquinho. O jovem atacante que teve uma ótima passagem no Vitória da Bahia, mas ficou apagado no Palmeiras e no próprio Fluminense, parece dar a impressão de que vai ser um jogador muito útil nesta temporada. Além de nossas qualidades, foi inegável que o Cabofriense perdeu força quando seu zagueiro Alysson foi merecidamente expulso. Antes disso, o descontrole do time praiano era tamanho que proporcionou uma das cenas mais tresloucadas de todo o campeonato: após uma bola que Euzébio tentou salvam em cima da linha lateral e errou, ela resvalou no estreante treinador Waldemar Lemos que, sob completo – e injustificado - frenesi, entrou em campo para tentar agredir o zagueiro, o time e quem mais viesse pela frente, recebendo o cartão vermelho. Sem treinador, abalado psicologicamente e, a seguir, sem um zagueiro, o Cabofriense se tornou uma presa fácil nos minutos finais, o que não denigre a importante vitória Tricolor.

O Fluminense está com a classificação às semifinais da Guanabara por um triz. Todos indicam que haverá um Fla-Flu e que a Gávea é a grande favorita, todos dizem que ninguém será capaz de parar Ronaldinho Gaúcho, com se Zico já não tivesse sucumbido diante de Paulo Goulart. Nada pode ser melhor do que isso para começarmos um grande ano. Se conseguirmos ratificar a classificação diante do Duque de Caxias, na próxima quinta-feira calorenta do Engenhão, o jogo contra o Botafogo será um bom aperitivo para a semana de emoções que teremos. Para delírio de milhões e despeito de meia-dúzia, o Fluminense está de volta à América. Tomo emprestados os versos consagrados por Mário Reis, recentemente reavivados pelo grande Tricolor Chico Buarque: “Voltei a cantar/ porque senti saudade/ do tempo em que eu andava pela cidade”. A torcida Tricampeã voltou a cantar mais do que nunca. Ainda precisamos melhorar muita coisa, mas quem é tão melhor do que nós no Rio de Janeiro? Quem é tão melhor que não nos dá chances na Libertadores? Alguns parecem insistir em desaprender a lição.

Friday, January 28, 2011

FLUMINENSE 3 X 1 MACAÉ



Quase líder (28/01/2011)


Não foi uma jornada de brilho e nem era preciso, dado que o Fluminense foi superior e absoluto durante boa parte do jogo mesmo sem fazer grande esforço. Mais uma vez, vencer era a meta e houve pleno êxito: no exótico horário de rush, vencemos o Macaé por três a um e chegamos a nove pontos no certame, com três vitórias. Tudo correndo bem, ainda que abaixo das expectativas. E seguimos a passos largos para as semifinais da Guanabara.

Antes de nossa partida, o Vasco fez a preliminar contra o time do Boavista e perdeu. Furiosos com a má performance, alguns vascaínos promoveram cenas de confusão e tentativa de violência nos arredores do estádio, principalmente contra os Tricolores que chegavam. Apesar das providências policiais, ficou claro que é preciso repensar a segurança em torno do Engenhão, até porque sua geografia e vizinhança são diferentes do Maracanã. Todos esperamos pelas devidas atitudes.

Nas arquibancadas, outros vascaínos ainda tentaram a tradicional e saudável “secada” contra o Tricampeão, mas de nada adiantou: mesmo antes do gol de Carlinhos, marcado em sua tradicional jogada de corte para dentro da área e chute com a direita, acertando o canto direito, o Fluminense já fazia prever que o gol era questão de tempo, ainda que o jogo não tenha sido dos mais fáceis até o primeiro tempo – lembrando que o Macaé estava recheado de jogadores experientes e rodados, como Bill, Gedeil, André Gomes e Luis Mário. O gol de Carlinhos foi aos trinta e cinco minutos; antes disso, finalizamos muito pouco dentro da área, dada a fortíssima retranca macaense e, também, alguma falta de ímpeto de nosso ataque. A exceção, claro, foi Fred, que abusava de toques e dribles categóricos, além daquela que foi a jogada mais bonita de toda a partida, infelizmente não traduzida em gol: o artilheiro dominou no peito, acertou a bicicleta e a bola explodiu no travessão do goleiro Everton. Aos poucos, o Fluminense passou a tentar perigosos chutes de mais longe, até que Carlinhos fez o dele: até então, embora acertasse jogadas, não corria em ritmo máximo (o que pôde ser percebido até mesmo no gol marcado). Do outro lado, Mariano estava tímido e, no meio, Tartá não fez uma bom primeiro tempo – viria a ser substituído por Marquinho. Quem entrou com muita força foi Souza, disposto a mostrar serviço depois da prematura expulsão contra o Bangu. Rodriguinho foi Rodriguinho; em alguns momentos, Gum e Euzébio se enrolaram, mas nada que comprometesse, ainda que o segundo abusasse de cometer faltas. Edinho também não comprometeu, mas foi discreto. No gol, Cavalieri foi mero expectador, o que não ia acontecer na fase final. E o que se pode dizer mais do primeiro tempo? Aplicação, seriedade, mas falta de pressão máxima, o que era necessário porque não nos bastava apenas vencer, mas também conseguir um excelente saldo que pudesse superar General Severiano. Descemos aos vestiários com o escore mínimo, tradicional da nossa camisa, enquanto a nossa apoteótica torcida esperava por mais, muito mais, na segunda etapa. E vejam que falamos de um time sem Emerson e sem Conca. O Fluminense ainda tem muito a mostrar neste ano de 2011.

Voltamos para o segundo tempo com Marquinho em campo, o que significava dizer muita raça no meio de campo. Mal deu tempo de se instalar nas cadeiras azuis do Engenhão, Carlinhos veio pela esquerda e acertou, aí sim, um mortífero cruzamento. Quem chegou com força total, num quase carrinho de artilheiro, foi Souza, tocando para o gol vazio e ampliando o marcador, o que nos ofereceu maior tranqüilidade para administrar a partida. E o mesmo Souza, em bela cobrança de falta no canto direito do goleiro, faria o três a zero em menos de dez minutos. Em tese, o jogo estava decidido e isso refletiu na atuação da equipe a seguir, com alguns jogadores nitidamente se poupando. Nas arquibancadas, gritávamos galhofas contra o Neves, que optou por defender o rival. Souza virou o novo herói: ainda chutaria uma bola no travessão e mostraria que veio para o Tricolor com a sede da conquista.

Com a vantagem conquistada, quem desacelerou nitidamente foi Fred. Ainda houve tempo para algumas boas jogadas, uma quase letra e um pênalti chutado na trave. A meu ver, o artilheiro, excelente em praticamente todos os fundamentos, abriu vaga quando correu devagar para a cobrança, mostrando falta de convicção onde iria chutar; apesar de ter deslocado o goleiro, a bola beijou o pé da trave direita, frustrando a expectativa de chegarmos mais perto do Botafogo na pontuação geral.

Quero destinar estas linhas finais para falar de Cavalieri. Foi um reforço caro, ainda que não viesse de uma temporada de vitórias no futebol europeu, onde jamais repetiu a seqüência de boas atuações que teve quando era goleiro do Palmeiras. O custo da operação não deveria ser garantia de titularidade. É claro que foi bem-vindo às Laranjeiras, mas quero crer que o titular é Ricardo Berna, que entrou em campo nos momentos decisivos do ano passado e foi um dos heróis do tricampeonato, contrariando o senso comum. Entendo os critérios de Muricy para estrear os reforços, mas eu não mexeria num titular que está com ótima performance apenas pelo nome, pela suposta experiência internacional e, novamente, pelo preço. Parecia claro que Berna atravessa um melhor momento do que Cavalieri e isso pôde ser visto em campo ontem. O novo goleiro havia batido roupa num primeiro chute dos macaenses, causando suspiros na Leste Superior; pouco tempo depois, cometeu o mesmo erro e isso custou o gol de Macaé, além do adeus às nossas chances de igualarmos o Botafogo no saldo. Não se trata de crucificar Cavalieri, até porque é um jogador que pode ser muito útil neste ano árduo que teremos, mas era evidente em campo a sua falta de ritmo. Alguns dirão que um jogador só consegue evoluir jogando, mas e o goleiro? Vamos esperar que tenha ritmo? Debaixo das traves, esse argumento é inviável: não se pode esperar. E não cabem argumentos ou desculpas: o torcedor deve ser tratado com dignidade e isso também está no fato dos jogadores terem autocrítica e admitiram falhas. Esqueçam o gramado, a temperatura, a umidade do ar: houve um grande frango sim! O resultado final não foi sacrificado, não alterou os rumos da partida, mas aconteceu. Nada de mentiras. Que Cavalieri se prepare nos treinos e faça uma disputa igual com Berna: quem estiver melhor, que jogue. Neste momento, a vaga deveria ser do goleiro Tricampeão, mas quem resolve isso é nosso rabugento – e competentíssimo – treinador. Enfim, terminamos como líderes da chave e quase líderes do campeonato. Poderia ser melhor, mas é um bom começo, claro. Muito bom.

O quarto passo da Guanabara é no próximo domingo, justamente no estádio de Macaé, contra a Cabofriense. Uma vitória celebra nossa classificação. Iremos com tudo, seja qual for o time em campo. O Fluminense tem sede da Guanabara, tem saudades da Guanabara e nada é melhor do que o tempero carioca para uma grande estréia na América. Um dia eu disse que voltaríamos a ela. Está chegando a hora.


Paulo-Roberto Andel