Tuesday, February 15, 2011

MADUREIRA 0 X 1 FLUMINENSE (13/02/2011)


O primeiro grande passo (14/02/2011)

Mais uma vez, não houve um futebol primoroso, incontestável. Mais uma vez as adversidades estiveram em campo, principalmente diante de um time bem-arrumado, fechado, impetuoso e com um goleiro em tarde de esplendor. Mais uma vez, o favorito da imprensa não adentrou o gramado; porém, no fim das contas, o Fluminense não apenas venceu o confronto contra o Madureira, ontem, em Volta Redonda, como assegurou o primeiro lugar do grupo B da Taça Guanabara, também beneficiado pelo empate do Botafogo no Engenhão. Mais uma vez, Rafael Moura fez a diferença. O Tricolor está nas semifinais e enfrenta o Boavista no próximo sábado.

Foi uma partida dura, mas leal. O Madureira, tradicionalmente bem-arrumado em todos os campeonatos que tem participado no Rio, não foi um adversário fácil. Tivemos várias chances de gol, muitas defendidas pelo excelente goleiro Cleber e outras interceptadas pela defesa ou a trave. Nosso gol solitário, típico do velho timinho dos anos cinqüenta, aconteceu a quinze minutos do fim da partida, o que mostra a dificuldade de se bater o popular Carrossel Suburbano. No final, deu tudo certo e, felizmente, o Fluminense está onde deveria; depois do mal-estar na Libertadores, no meio de semana passada, estamos de volta. A camisa centenária não nos trai.

Nosso primeiro tempo não foi brilhante. Sentimos os desfalques, motivados pelos cartões amarelos: Leandro Euzébio, Carlinhos, Valencia, Edinho e Diguinho foram poupados para evitar alguma suspensão nas semifinais. Como alento. isso proporcionou a volta de guerreiros admiráveis como Digão e Diogo, nossos jovens heróis da salvação em 2009. Na frente, a volta de Rafael Moura ao lado de Fred, mostrando que os dois jogadores podem atuar juntos. E a principal das alterações, feita no gol: o Tricampeão Berna em lugar de Cavalieri. Ninguém desconsidera a qualidade do ex-palmeirense, por mais que seu desempenho em campo tenha sido muito aquém daquele que, um dia, provocou nos torcedores a impressão do pentacampeão Marcos ter um sucessor à altura. Futebol é momento e, neste exato momento, não há outro goleiro melhor em campo do que Berna em nossa meta – mostrou mais uma vez suas qualidades ontem, com defesas fantásticas, sendo um dos melhores em campo, ora em cabeçadas, chutes de fora da área, cobranças de falta e saídas do gol. Tecnicamente perfeito. Cavalieri precisa treinar, se condicionar e, aí sim, disputar a posição, é o que me parece óbvio.

Quem não foi bem em campo na primeira etapa foi Souza. Errou praticamente todos os passes que tentou, sua principal função, com exceção de algumas bolas paradas. Fred também pareceu um tanto apagado, ainda que seus pequenos lampejos causassem furor nas arquibancadas Tricolores do Raulino de Oliveira, principalmente nas tentativas de cabeçadas. Conca, aos poucos voltando à forma, quase fez um golaço ao limpar vários adversários e chutar rasteiro – e aí, claro, quem apareceu foi Cleber, a parede do Madureira. Em dois cruzamentos, Digão perdeu oportunidades. O Madureira não se fez de rogado e nos ameaçou várias vezes, a maioria muito bem-interceptadas por Berna. O empate foi justo no primeiro tempo: se não marcamos o gol, foi por nossas deficiências na finalização.

No segundo tempo, é fato que voltamos mais dispostos. Era preciso ganhar e, além disso, o Botafogo empatava no Engenhão, o que nos permitia sonhar com o primeiro lugar do grupo. E Souza acertou a sua primeira jogada: um chutaço de fora da área que exigiu esforço de Cleber. O goleiro de Conselheiro Galvão era, a essa altura, um verdadeiro chato a boicotar nossa tarde: pegava até pensamentos e suspiros. Outro bom chute de Souza, em cobrança de falta, lá estava o desgraçado a impedir o gol, voando no ângulo direito. E mais uma jogada de cabeça, no desvio de Gum após cobrança de falta feita por Conca, pela direita: claro que Cleber evitou.

O tempo passava e parecia que não íamos conseguir. Na jogada mais cristalina, Souza bateu a falta em cruzamento, Rafael Moura fuzilou de cabeça e a bola, que dessa vez tinha passado por Cleber, explodiu no travessão. Em seguida, um dos nossos grandes personagens dos últimos dois anos, um tanto apagado neste 2011, foi decisivo para a suada vitória de ontem: Mariano. Buscou uma bola na direita em arranque fulminante, como aqueles que o levaram à seleção brasileira; em seguida, sofreu falta. Souza, desde que chegou ao Fluminense, tem cobrado muitas faltas, mas esta ficou ao encargo de São Dario Conca. O argentino do lado direito da área, batendo com o pé esquerdo em curva, fez jogadas maravilhosas em 2008; naquele momento, nosso artilheiro das bolas paradas era Cícero, hoje em franco sucesso no futebol alemão. Conca parou, olhou e cruzou para o meio da área, com a perfeição habitual. Cícero pode estar longe de nós, mas temos um time de heróis e, mais do que isso, um super-herói: lá estava o He-Man de novo com sua cabeçada de artilheiro, raspando de cocoruto e finalmente batendo o quase invencível Cleber, num gol chorado a quinze minutos do fim. Era o gol da vitória, da classificação e da liderança do grupo, contrariando as convicções bonachonas da imprensa esportiva.

Ainda houve tempo para um verdadeiro show de Ricardo Berna: uma defesa espetacular no ângulo direito, espalmando para escanteio e na seqüência, contando com a ajuda do travessão. E Digão, que tirou um gol feito usando o ombro, sentado na pequena área? As três cores atravessaram um século com competência, fidalguia e aplicação, mas também sorte – e esta nos bafejou no momento exato.

Os minutos finais do jogo, com o Botafogo já tendo empatado seu jogo e nós precisando apenas manter o escore mínimo a nosso favor, me ofereceu duas reflexões: uma, sobre um outro herói, tímido, que adentrou o gramado pela Madureira, mas que estará sempre presente nas mentes das Laranjeiras. Falo de Adriano Magrão, que nos colocou na Libertadores de 2008 com seus gols e passes decisivos. Outra, sobre certos comentários que davam conta do Fluminense ter “escapado” do Flamengo na disputa semifinal. Creio não haver qualquer possibilidade de dúvida sobre o fato de que o Fluminense foi o primeiro por seus próprios méritos. Um Tricolor que conhece a história das Laranjeiras precisa mesmo “escapar” do Flamengo? A história da Gávea é mais do que respeitável, mas todos sabem a predominância Tricolor num Fla-Flu decisivo, como foi pelas décadas afora. O passado não veste nenhum favorito hoje, mas a história jamais colocou o Fluminense como um camundongo indefeso e fujão, mas sim um grande campeão, muitas vezes conquistando taças memoráveis contra o escrete rubro-negro. Não somos os mais-queridos da imprensa e nem os mais-favoritos de nada: somos apenas nós mesmos, com nossa trajetória infinita de lutas. A Libertadores mora logo ao lado e, nesta semana, o momento é de preparação para a batalha final da Guanabara, caso consigamos bater o Boavista. Ao sempre-favorito Flamengo, resta lembrar que há um Botafogo pelo caminho e, justamente por isso, estar na grande final ainda é um passo bastante longe. Ninguém bate o Botafogo de véspera e nem desclassifica o Fluminense por decreto. Oh, velha lição!

Paulo-Roberto Andel

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