Friday, February 11, 2011

FLUMINENSE 2 X 2 A.JUNIORS (09/02/2011)



Sem tempo para lamentos (10/02/2011)

Merecíamos muito mais do que tudo visto e vivido ontem. O primeiro capítulo da Copa Libertadores, especialmente depois do que nos custou daquele 2008 até o fim do ano passado, deveria ter sido um sonho, mas esbarrou em cruéis realidades. Empatamos em casa a primeira partida, quando a vitória era uma necessidade; por outro lado, perto do que jogamos e, principalmente, por conta de erros crassos individuais, escapamos de uma derrota justa e mantivemos a invencibilidade em competições internacionais jogando no Brasil. No fim das contas, saiu barato. Antes da partida, meu encontro com o camarada Paulo Cézar Filho revelava meu temor: ele estava mais confiante do que eu, e tentei levar esta mesma confiança para a Leste Superior. Nem lá, nem cá: o empate em casa não foi bom, mas perto da derrota iminente, foi menos pior.

O Engenhão não lotou, como se cogitaria na estréia de uma Libertadores. É um estádio bonito, mas com alguns problemas. Não fica longe do Maracanã como tanto se fala, embora ir de carro até lá seja quase uma odisséia, principalmente no incrível horário de sete e meia da noite durante a semana; muitos optam pelo combo trem-metrô e, por isso, chegam em casa depois de uma da madrugada. É evidente que tal horário desmotiva o torcedor a comparecer regularmente ao estádio. Não preciso dizer do escorchante preço dos ingressos, que alguns tentam justificar por conta da meia-entrada; qualquer desavisado sabe que um ingresso de quarenta reais, cobrado duas vezes por semana em média, gera uma despesa aviltante – se não houvesse a promoção, os estádios estariam às moscas. Quando criança, lembro que economizava minha mesada e ia a vários jogos, alternando com o cinema, que custava o dobro ou o triplo de um ingresso de arquibancada no Maracanã – hoje, é o contrário: o futebol é bem mais caro do que o espetáculo do cinema. Portanto, estão de parabéns os quatorze mil pagantes: além de enfrentarem um horário sacrificante para poder comparecer aos jogos, ainda disponibilizaram muitos e muitos reais. A grande massa ganha menos do que mil dinheiros brasileiros e, por isso, não pode gastar mais de trezentos deles somente com o futebol – sem contar a passagem, o deslocamento, a fome e a sede. Já que a bilheteria dos jogos responde por apenas oito por cento das receitas dos times de futebol no Brasil, talvez uma mobilização digna da diretoria do Fluminense no sentido de baratear os ingressos e garantir platéia máxima fosse bem-vinda. É claro que tudo fica na base do fosse.

Meus amigos, o Fluminense ainda não fez uma grande partida este ano. Em alguns momentos durante os jogos deste 2011, lampejos de craque surgiram nos pés e cabeça de Fred; algumas jogadas do herói Conca, incrivelmente já nos gramados após a cirurgia, mas ainda distante da forma física ideal; a excelente surpresa recente no retorno de Rafael Moura não foi suficiente para garantir triunfos. Figuras importantes do time campeão como Marquinho e Diogo não têm jogado, por razões diferentes. Mariano, símbolo da raça que salvou o time do inferno e foi até o céu, ainda não estreou em 2010 – apenas entrou em campo, ainda que ontem tenha ajudado a evitar a derrota. O Sheik está ausente. A gigantesca figura de Ricardo Berna, primordial no Tricampeonato, agora ocupa o banco. Nossa defesa, titubeante, tomou cinco gols nos últimos dois jogos. Tudo isso, com pesos diferentes, ajuda a tentar entender porque o Fluminense de 2011 ainda não é aquele que encantou o Brasil há pouco.

Falo do jogo. A bola parecia que queimava no pé de alguns dos nossos jogadores, de tão tensos que estavam com a estréia contra um adversário que, se não encanta, é digno representante da tradição do futebol argentino. Uma esperança no ataque, depois de boas participações nos jogos recentes era Willians, mas não se confirmou. Quem esteve bem – e confirmaria a boa atuação com gols – foi Rafael Moura, que em dois jogos produziu mais do que em toda a sua trajetória anterior com a nossa camisa. O Fluminense, contudo, tinha um conjunto nervoso e permitiu em algumas vezes bons ataques dos argentinos; no melhor deles, o baixinho Niell tocou para as redes após dividida com Gum e André Luis salvou teoricamente em cima da linha – mas apenas teoricamente, porque as câmeras permitiram confirmar o que se sentira no estádio com o ruído de mal-estar da nossa torcida: a bola passou inteira. Este seria um lance capaz de reanimar um time ainda tímido na partida, mas não foi o que aconteceu: ao fim da primeira etapa, os portenhos insistiram no ataque e, em cabeçada de Niell, a bola quicou entre a defesa; Cavalieri, atrasado e mal-posicionado como de costume, não evitou o gol. Descemos para o vestiário com duas certezas: perdemos o primeiro tempo merecidamente e, se o time argentino tivesse maior qualidade, poderia ter sido ainda pior.

Na volta, Willians, apagado, deu lugar a Rodriguinho, o que não mudou muito nosso panorama ofensivo, calcado na luta incessante de Rafael Moura. E ele mesmo fez seu terceiro gol em quatro dias, em bela cabeçada após cruzamento de Carlinhos. O empate alimentou a esperança da torcida, mas realmente não estávamos em um bom dia – mesmo após a reação, o Fluminense não cumpriu seu papel de mandante da partida, cada vez mais lenta por conta da catimba argentina e da leniência do árbitro paraguaio Torres, uma espécie de Gutemberg guarani – para culminar, o próprio senhor Gutemberg, depois da lambança de domingo passado, lá estava novamente no Engenhão como quarto árbitro. Ainda fizemos relativa pressão no ataque, mas sem finalizações perigosas e, então, oferecendo espaço aos argentinos para o contra-ataque - a exceção se deveu em um único bom chute de Mariano, pela direita, obrigando o arqueiro Navarro a espalmar a bola que ia no ângulo esquerdo para escanteio. A seguir, nossa zaga, titubeante durante os noventa minutos, deu mau sinal: André Luis recebeu um “drible da vaca” de Salcedo, que cruzou na área. Uma falha grotesca de Cavalieri ao não interceptar a bola e, em seguida, o azucrinador Niell chegou antes do também atrasado Gum e tocou de cabeça, livre, no canto direito, colocando o Argentinos na frente, agora a quinze minutos do fim. Não é o caso de crucificar ninguém, até porque a má atuação foi coletiva, mas é evidente que Cavalieri foi o principal responsável pelo segundo tento, assim como tem falhado constantemente nas partidas em que jogou. É um goleiro que ainda pode prosperar; o problema é saber se, à espera desta prosperidade, teremos que colocar em risco as duas competições que estamos disputando, uma vez que o sagrado gol do Fluminense não é lugar para experiências e adaptações. A torcida vaiou com razão e os mais apaixonados resolveram intervir; entendo o ponto de vista destes e merecem todo respeito, mas minha opinião é a de que ser apaixonado pelo Tricolor - e querer o melhor para ele - não deve ser confundido com uma ingenuidade quase infantil, onde tudo é belo e cristalino, onde não existe crítica. Estamos no futebol brasileiro, convém lembrar.

A força do Fluminense é imensa e isso explica a nossa reação, mesmo numa noite onde quase tudo deu errado. No quase desespero na saída de bola após o segundo gol argentino, um cruzamento da direita, um rebote para a área e a bola chega a Mariano, depois de ter passado por Rafael Moura. O He-Man mostrou todo seu senso de área, ao dar um passo para trás e se recolocar em condições de finalização. Mariano acertou seu primeiro cruzamento no jogo e o artilheiro garantiu a igualdade com firme cabeçada. Ainda faltavam quinze minutos para o fim do jogo, mas o desgaste físico em campo era evidente, mesmo com a tardia entrada de Marquinho, o que impossibilitou nosso poder de reação. Os argentinos, satisfeitos com o ponto fora de casa, limitaram-se a retardar as bolas paradas e gastar o tempo; assim, saíram com um bom resultado rumo à terra portenha.

A lição de ontem passa por vários temas: a necessidade de juventude em campo, a mesma que nos salvou em 2009 e nos guinou em 2010; a humildade de reconhecer que alguns dos nossos jogadores não passam por bom momento, merecendo ser substituídos – no caso particular de Cavalieri, há anos sem treinamento de goleiro, não deveria sequer ter estreado. A sobriedade de perceber que a Libertadores é diferente do campeonato brasileiro. Mas não há tempo para lamentos: o campeonato carioca nos espera e termos que buscar os dois pontos perdidos ontem fora de casa. Uma tarefa dura, mas não surpreendente para a centenária camisa acostumada a desafiar paradigmas.


Paulo-Roberto Andel

1 comment:

PC Filho said...

Xará,

Foi um prazer finalmente falar com você pessoalmente, apesar de sua profética e pessimista previsão.

Concordo com sua análise da partida, em especial com as críticas ao Diego Cavalieri. Faço coro pelo retorno de Ricardo Berna, o goleiro do tri.