Friday, April 27, 2007

Heroísmo

Senhores, creio que, com o término da partida entre Fluminense e Bahia, há instantes atrás, a torcida do Tricolor tenha experimentado uma de suas maiores alegrias neste difícil ano de 2007, menos pela habilitação técnica e mais pela garra e busca permanente de uma classificação que, para muitos, já estava perdida - a começar pelo próprio time baiano, que vibrou intensamente com o empate no Maracanã. Meninos ainda, com muito a trilhar, esqueceram-se de que era o Fluminense, o Tricolor das Laranjeiras e não um Paraopeba qualquer.

Pelo regulamento, o Fluminense superou o Bahia pelo número de gols marcados fora de casa – o jogo de ida tinha terminado com o empate em um gol cada, este fechou igualdade com dois tentos.

As coisas começaram mal. O Bahia, animado por sua fanática e numerosa torcida, que estabeleceu o recorde de presença no estádio até este momento, com quase cinqüenta mil pessoas, imprimiu forte velocidade ao jogo, centralizado no jovem e bom Danilo Rios. Seis minutos de jogo e os baianos abriram o marcador: uma bola espirrou na frente da área e Emerson Cris, um meia, pegou meio sem convicção, quase caindo. Foi o suficiente para superar o inseguro goleiro Fernando, com a bola entrando à meia altura no canto esquerdo.

Parecia que tudo então estava perdido: o Bahia com vantagem, o estádio lotado e o Tricolor, após ter demitido o treinador Joel e combalido por força de sua má campanha nestes últimos meses, parecia à míngua. Parecia, mas não era.

Aos poucos, o Fluminense começou a domar a correria baiana, embora ainda cedesse espaços. Também atacava, de modo que gols foram desperdiçados por ambos os times. Das arquibancadas, Renato, o novo patrão, dava instruções ao auxiliar Eutrópio.Deu certo.

Perto dos trinta minutos, aconteceu a jogada que mudaria todo o panorama da partida. Após centro da direita, Luiz Alberto cabeceou para o meio da área. Lá estava Cícero, livre. Acertou uma mistura de puxeta e voleio, linda, que beijou a trave direita de Paulo Musse antes de ganhar as redes. O belíssimo gol deu moral aos cariocas e estabeleceu profundo silêncio na Fonte Nova – torcedores sentira que aquele não tinha sido um gol qualquer, vulgar, mas sim uma obra capaz de despertar gigantes adormecidos. Alguns dos atletas baianos que comemoraram a classificação afoitamente, no Maracanã, olharam assustadamente. E o Tricolor estava de novo no páreo. Não fazia uma partida brilhante, pelo contrário: errava passes e chutes. Porém, a garra que parecia distante há tempos, se fez presente como nunca. O jogo terminou sua primeira fase de forma equilibrada, sem favoritos.

Quando veio o segundo tempo, o Bahia voltou a pressionar. Não merecia exatamente o gol, dado o conjunto da obra, mas ele veio e de forma estúpida: um gravíssimo erro de arbitragem permitiu que Fábio O Saci socasse a bola para o canto esquerdo de Fernando – que, se não falhou como de costume, perdeu a chance de fazer uma defesa magnífica e evitar o desastre. Saci ainda simulou o cabeceio e correu feliz para a linha de fundo, ciente do delito em campo. A arbitragem deixou seguir e os baianos ganharam vantagem.

Porém, ninguém no estádio tinha perdido de vista a beleza do gol de Cícero, jovem jogador que careceu de confiança dos ex-comandantes, que não o deixavam jogar com Soares, seu parceiro desde os tempos de Figueirense. E a sombra do Tricolor ainda encobria a Fonte Nova.

O gol de Saci não abalou o Fluminense que, ainda atabalhoado tecnicamente, começou de toda forma a aumentar a velocidade, a valorizar a posse de bole e buscar alternativas. Cinco minutos depois do soco ilegal, o empate veio de forma justa: limitado, Rafael acertou finalmente um cruzamento para o centro da área, e Soares, que tinha entrado no lugar de Rafael Moura, escorou com categoria, de chapa, no canto direito de Musse. O empate foi novamente decretado, com mais um gol bonito – e, ali, que passava a ter a vantagem do empate era Laranjeiras. Vantagem que foi muitíssimo bem costurada nos trinta minutos que ainda restaram do jogo, mesmo com a expulsão de Rafael – o Bahia, por sua vez, perdeu Rios.

Nos cinco ou seis minutos finais, em muito admirei o Fluminense pela inteligência: marcava no campo do adversário, com relativa pressão, e gastava o tempo prendendo a bola com inteligência, no fundo do campo. O Bahia sentiu o golpe e, advindo de seis gols do Vitória no domingo, pelo certame baiano, não teve forças para buscar um gol salvador.

Não se comemora resultado em futebol antes da hora.

Saci esqueceu que, do outro lado, havia uma camisa com cento e cinco anos de conquistas e acostumada a superar todo tipo de mazelas. O empate com sabor de derrota tirou-lhe a outra perna e a chance de pular para qualquer comemoração. Ao final do jogo, recebeu de volta a gozação, bem lembrada pelo zagueiro Luiz Alberto.

O Tricolor segue em frente. Recebe o Atlético do Paraná.
É um jogo esperado há dez anos pelos de Laranjeiras, como veremos a seguir.

Paulo Roberto Andel, 26/04/2007

No comments: