Tuesday, November 09, 2010

FLUMINENSE 1 X 0 VASCO (08/11/2010)


Missão (quase) cumprida, missão a cumprir (08/11/2010)

Dez da noite de ontem, avisto o monumental prédio da Central do Brasil ao saltar do trem. Ao meu lado, os companheiros de mais uma brilhante jornada. Um sentimento de dever cumprido na semana que passou. Meus caros amigos, a batalha continua. Faltam quatro jogos para o desfecho do campeonato brasileiro. Trezentos e sessenta minutos de apreensão, pensamentos ao longe, o inevitável medo que faz parte da natureza humana e, acima de tudo, o coração batendo mais forte porque todos sabemos que, a partir de agora, o Fluminense não é apenas um dos candidatos ao tão esperado título nacional, mas também o principal favorito a levantar a taça. Não falo de facilidades, pelo contrário: nunca as tivemos e não as teremos. Acontece, entretanto, que este é um campeonato completamente diferente dos muitos que o Fluminense já disputou e ganhou em sua monumental história: ele começou a ser disputado, na prática, no ano passado, quando impusemos a maior virada que já seviu no futebol brasileiro – magnânima, dentro de campo e com totais dedicação e merecimento, durante e depois respectivamente. Muitos não perceberam ali a mágica que rondou a centenária camisa das Laranjeiras depois de vencer dez jogos em treze e, dessa feita, garantir a permanência na primeira divisão. Tratou-se de um feito colossal, ainda mais diante das circustâncias: qualquer boçal sabe que o lugar do Fluminense não é lutando contra descenso, mas disputando títulos. É assim desde que tornamos o futebol brasileiro o que ele é – aos que ainda tiverem dúvidas a respeito, pesquisas históricas podem levar ao pleno entendimento da questão. É difícil bater nossas cores num momento decisivo até quando estamos em desvantagem; imaginem quando tempos a supremacia de um fabuloso e empolgante ponto.

O Fluminense passou a ser o favorito ao título deste ano na noite de ontem, quando venceu seu adversário mais difícil, o Vasco, pelo escore mínimo no Engenhão. Foi uma vitória admirável, que poderia ter sido por um placar bem mais elástico. Alguns falam da bola na trave que sofremos ao fim do jogo. Eu retruco com os gols que perdemos, e não foram poucos: se houve alguém que merecia ser vitorioso no clássico, não tenho dúvida de dizer: nós. Sem falsa modéstia, sem arroubos de imponência: nós. Em nossa pior fase no campeonato, não souberam nos ultrapassar e permitiram que retomássemos a ponta. Aos poucos, subimos de produção. Passamos a ter um super-goleiro em campo, para atenuar a perda de meio time e de nosso estádio. E então o Fluminense não perdeu mais, nem para o Botafogo da “alma vitoriosa” de Kfouri, nem para o Atlético do Paraná e o forte Internacional em casa, além de vencer o incensado Grêmio e o jogo de ontem. Não derrotávamos o Vasco há mais de dois anos. O Vasco tem sido nos últimos vinte anos o nosso adversário mais difícil: nos venceu até no ano em que sucumbiu frente ao descenso. Ontem era uma partida vital para quem quer ser campeão; derrotar o grande rival num estádio onde jamais perdera, sem dúvida, foi um marco. Faltam quatro jogos e todos são dignos da maior atenção. Quatro vitórias magras por um a zero asseguram o sonhado título, façam o que fizerem os adversários. E a tabela acabou sendo cruel, principalmente para o centenário Corinthians: além de vencer, precisaria contar com a máxima disposição de São Paulo e Palmeiras a seu favor e, ao que tudo indica, isso não será fácil. Os do Morumbi estão ainda engasgados com o ano passado, quando perderam o campeonato nas rodadas finais e o Corinthians faltou fazer três gols contra para beneficiar a Gávea. Num pênalti, o goleiro Felipe sequer se mexeu para tentar a defesa. A vingança é um prato que se come frio – ou morno, já que 2009 está frequinho nas memórias do futebol. E, se o São Paulo não tem vontade alguma de colaborar com qualquer festa corinthiana, o que dizer do Parque Antarctica? Neste caso, a vontade é dez vezes menor do que a são-paulina.

Antes do início do jogo de ontem, era visível a apreensão de todos nós. Corinthians e Cruzeiro tinham vencido jogos difíceis, contra São Paulo e Vitória, fora de casa. Lembrei ao Presidente Sussekind, ao Tiba e ao Dória que isso pouco iria importar se o Fluminense fizesse a sua parte. Logo de cara, fez: a bola chegou aos pés de Washington pela esquerda, depois do passe de Tartá; o chute saiu forte, Prass rebateu e o mesmo Tartá empurrou para as redes, sem apelação. Três minutos de jogo e oitenta e sete por sofrer, menos pela nossa atuação e mais pela pressão de ter que manter o resultado. Atordoado, o Vasco custou a se recuperar e, embora em desvantagem no marcador, não usava a velocidade como meio de atacar o Fluminense, com ligeira exceção para Éder Luis. As ações de São Januário eram coordenadas por Felipe, o que significa dizer muito talento, mas temperado com lentidão; como nosso time tinha recuado demais, era mais difícil chegar ao gol adversário, ainda mais porque este, com a demora na saída de bola, tinha mais gente em seu setor defensivo. Curiosamente Tartá, que foi o primeiro destaque da partida, embora tenha jogado com muita raça como de costume – além do gol, claro -, não marcou mais presença em boas jogadas ofensivas. Nossa defesa estava firme (exceto em duas falhas individuais de Euzébio e Mariano), o meio com Valencia e Bob também, apesar de alguns poucos erros que nos levaram à loucura na arquibancada oeste superior. O ataque não teve jeito, como se veria a seguir. O primeiro tempo terminou com o placar justo: soubemos aproveitar a chance e administrar o marcador.

Na segunda etapa, o Vasco mudou de postura. Passou a jogar mais ofensivamente e com mais velocidade. Nosso time mantinha a postura de administração do jogo, mas as finalizações vascaínas foram aparecendo e aí, mais uma vez, brilhou a estrela de Berna, principalmente numa defesa monumental em chute de fora da área desferido por Jonathan. A velocidade vascaína, entretanto, nos permitiu brechas: numa delas, Marquinho perdeu um gol incrível frente à frente com Prass; na outra, Washington, impedido, marcou um gol virtual. São Januário estava disposto a nos castigar no terço final da partida, ainda mais quando perdemos o mesmo Marquinho por contusão. Atento, Muricy colocou Thiaguinho no lugar de Tartá para reforçar a marcação. Julio César entrou em campo à última hora; o escolhido era Rodriguinho, que substituiria Washington, mas com a saída inesperada de Marquinho, a substituição foi anulada e isso permiritia ao camisa 99 ter a chance de marcar um dos gols mais fáceis de de sua vida. Permitiria... mas não permitiu. No fim do jogo Conca, livre, deu uma arrancada deixou os marcadores para trás, ficou cara a cara com Prass e faltamente faria o gol. Travou a bola, olhou para o lado e a tocou para Washington marcar e deixar a má fase frente a meta vazia e um desesperado zagueiro. Não deu certo: o atacante quase fez pênalti em sim mesmo, tropeçou nas próprias pernas e a defesa do Vasco aliviou a situação. No minuto final dos acréscimos do jogo, até Prass foi para nossa área tentar a cabeçada, em vão. Veio o fim, foi confirmada a vitória Tricolor e também veio a certeza de que estamos preparados de vez para esta conquista, caso ela se confirme. Saímos de alma lavada do estádio. Foi justo e merecido. Não importa que não tenha sido um triunfo de passes portentosos e jogadas cintilantes: foi a vitória da garra, da determinação e da atitude de quem quer ser campeão.

Uma semana de trabalho pela frente, tranqüilidade e a promessa de uma grande atuação contra o Goiás a nos cercar. Quando jogarmos no domingo à tarde, saberemos exatamente o que precisamos fazer. Antes disso, na véspera, Corinthians e Cruzeiro duelam no Pacaembu; no mínimo, um dos dois ficará mais distante da luta pela taça. Se empatarem e conseguimos um triunfo magro contra o Goiás, estaremos a três pontos dos dois, com saldo de vinte e dois gols, faltando três rodadas para o fim. Para quem passou cem anos ganhando títulos com total desvantagem, a possibilidade aqui apresentada é verdadeira fortuna. O fato é que só dependemos de nós mesmos e nada mais. Nenhum oba-oba, nenhuma empáfia. Confiança, força, talento e sorte – eis os nossos guias para estes jogos que faltam. A missão de ontem, uma das mais difíceis de todo o campeonato, foi cumprida.

Falta ainda a grande jornada final – e acreditamos no sucesso dela. Quem duvida?

Quem é capaz de dizer que o Fluminense é um cavalo paraguaio sem parecer um boboca?

Nossa arquibancada não tem bobocas. Humildade e concentração são fundamentais, mas ignorar a história é a mediocridade em contundência. Esta mesma história ensina que, quando o Fluminense está numa decisão, que os outros o respeitem. Nosso hino nos ensinou a esperar e muitas vezes a taça nacional nos escapou por um triz. Ela ainda não é nossa, mas todas as cores desenham a aquarela do nosso triunfo. É acreditar, esperar e torcer muito.

Paulo-Roberto Andel

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