Friday, June 02, 2006

Domingo é dia de Fla-Flu!

Dia de luz, festa do sol! Já dizia a canção, clássico da bossa nova.

Ainda trago na memória, lá dos tempos da bossa nova, as tardes de domingo de sol e Fla-Flu. Lembro de certo alvoroço, de meu pai agitado, ouvindo o jogo pelo rádio da vitrola com meu avô e eu tentando entender e já começando a definir minhas cores de coração e como canta hoje a torcida tricolor no Maracanã: “A minha vida, a minha alma, o meu amor...”.

O Fla-Flu começa na semana anterior, quando termina a última partida. A semana que antecede ao clássico é recheada de comentários, dúvidas sobre escalações, especulações, frios na barriga, prognósticos e provocações. Nada mudou de lá pra cá. É como diz o locutor: “Lobo não come lobo”. A cidade fica mais elétrica do que já é normalmente, mais colorida.

É verdade que já tivemos tempos melhores, jogos mais técnicos, público maior no estádio, hoje reduzido em função de vários aspectos como violência, indefinição de horários e calendários, além da situação financeira da população. Mas Fla-Flu é Fla-Flu, sempre cercado de muita mística, superstições, polêmicas, emoções e tudo mais. O fim de semana do torcedor tricolor e rubro negro depende única e exclusivamente do resultado da peleja e já começa com o desfile de camisas no sábado, as provocações são sentidas nas ruas, nos bares, nos shoppings, nos supermercados, nas feiras de domingo, nos parques, em toda cidade. Eu, particularmente durmo e acordo pensando no jogo, é um compromisso inadiável para a tarde de domingo, sofrer com cada lance, ter dor de barriga, roer unhas.

Hoje, com a idade mais avançada e o coração mais cansado, prefiro ir ao Estádio e não sofrer com a narração pelo rádio, onde o sofrimento é ainda maior. Lembro das narrações do Jorge Cury e do Doalcey Camargo; eram de tirar o fôlego e fazer o coração disparar a cada lance de perigo. Nos Fla-Flus, não agüentava ouvir um gol do Flamengo narrado pelo Jorge Cury, pois ele gritava uns três minutos e eu abaixava o volume do rádio e já no gol do tricolor eu me vingava pois sabia de seu sofrimento. Do Doalcey, lembro do suspense para narrar o desfecho da jogada: Disparooouuu...gol!

Que angústia!

Saudosos locutores! Saudosos tempos!

São incomparáveis a beleza e emoção da festa no estádio. Lá a gente grita, xinga, canta, pula, sofre, chora, comenta o jogo com o cara do lado, que nunca vimos mais gordo, nos abraçamos na hora do gol, reclamamos do juiz a cada lance polêmico.

Ontem, no intervalo, o Flu vencia por um a zero e no banheiro, em pleno ato público/fisiológico de urinar, um verdadeiro debate sobre as falhas do time e possíveis substituições a serem feitas, discussões táticas e outras cositas mais. O juiz é sempre lembrado, é claro! Aquela cervejinha ajuda a relaxar um pouco, o segundo tempo sempre promete, um biscoito de vento cai bem, um Geneal também.

O Fla-Flu pode nem ser maravilhoso tecnicamente, como o de ontem, por exemplo, mas sempre movimentado e polêmico. Ontem, tivemos o lance da bola que saiu(?) na cobrança de escanteio, segundo o bandeirinha, que anulou o suposto gol do Flamengo. Castigo! Foi cobrado por um ex-tricolor e tinha que sair mesmo. Ouvi um comentário de um botafoguense pai de um amigo tricolor, ambos presentes ao Estádio, que antes mesmo da cobrança do tiro de canto já havia sacramentado: a bola vai fazer a curva e sair, pois vai ser alçada por um canhoto e está posicionada no canto externo da marca de cal. Comentário tecnicamente perfeito, digno de um torcedor atento, que bem poderia ser tricolor. Pra mim já vale, não foi gol e pronto!

O jogo era nervoso e o Flu ainda teve um jogador expulso no início do segundo tempo ficando a coisa ainda mais complicada. A emoção foi até o apito final do árbitro decretando a vitória tricolor. Não poderia ser diferente; era Fla-Flu.

Ao final, eu, meu irmão mais novo e meu pai, o grande responsável por essa paixão ainda juvenil e quase irresponsável que trago no peito, nos abraçamos e comemoramos a vitória sobre o arqui-rival, cantando o hino junto à torcida na saída pela rampa de acesso da UERJ. Olhava meu pai, hoje de cabeça branca, já dispensado do pagamento do ingresso e me lembrava de quantos jogos já estivemos juntos ali, tomados daquela mesma emoção, da emoção que não envelhece.

Meu pai sentenciou então: O meu fim de semana foi feliz! Faltava a vitória do tricolor!

Viva o futebol! Viva o futebol carioca! Viva o Fla-Flu!


Jocemar de Souza Barros.
29/05/06

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