Monday, January 29, 2007

O tropeço

Caríssimos, é como eu havia comentado: para galgar o Olimpo, o Tricolor precisaria tratar o futebol em campo como o lavrador que ara o terreno, carinhosamente, para nele semear e depois colher os melhores frutos.
Não foi o que aconteceu ontem, no belíssimo Estádio da Cidadania, na simpática cidade de Volta Redonda.
Encarar o aurinegro é sempre problemático: jogam com inegável disposição, tradicionalmente possuem bons elencos, times arrumados e não é de hoje. Vejam Moreno, o treinador do Volta Redonda. Foi um bom jogador. Meu primeiro radinho de pilha foi presente de minha amada mãe, no ano de 1979. Era um sábado à tarde. Moreno estava em campo, perdemos por 2 x 1. Nosso gol foi feito por Toinzinho. Vejam, 1979: há quase trinta anos, jogar lá é tarefa complicada.
O primeiro tempo do match teve boa movimentação. O time da casa tinha maior por posse de bola, mas não chegava ao gol com absoluta e decisiva ousadia, ao passo que nós tínhamos algumas boas chances, alguns chutes perigosos. O Volta treina há mais tempo, e num campeonato veloz como esse, o fator do entrosamento conta muito. De qualquer forma, o Tricolor treinou por duas semanas e não acho pouco. Coloquem seis garotos para bater bola nas areias do Juventus por volta de duas horas da tarde. Quando o sol se for, estarão tinindo e trocando passes como se fossem os Harlem Globetrotters.
Retornando ao jogo, estava sendo movimentado, agradável, divertido de se ver. Perto dos quarenta minutos, o lateral direito da casa, Julio César, fez belo corte no bico esquerdo da área e disparou um petardo monumental, impactante, violento, e abriu o marcador para o Volta. O Tricolor teve o natural e instantâneo desnorteio que atinge boa parte dos times feridos de gol. Era um jogo equilibrado e, de repente, houve a vantagem para os mandantes. Não constituiu uma enorme injustiça, de forma alguma, mas talvez não dissesse a realidade do campo. Veio o intervalo, hora de conversa e de recuperação.
Mal começou o segundo tempo, e a realidade do jogo voltou a ser levemente distorcida, mas do lado contrário. Aconteceu um escanteio e, em jogada ensaiada, o menino Soares cabeceou no ângulo, com o gol vazio, empatando o jogo. Imediatamente a seguir, Carlos Alberto executou um lindo drible em dois zagueiros aurinegros e acertou o ângulo esquerdo do goleiro Sandro. Os gols e a vantagem deveriam dar ânimo à equipe; contudo, minha vista é de que Paulo César Gusmão errou nas substituições durante o intervalo, e este mesmo erro seria glorificado com a virada. Porém, era cedo demais, o Volta Redonda tem boa equipe e o Tricolor parecia completamente desordenado em seu meio de campo, sem criação de jogadas, não fazendo jus à vantagem velozmente construída. Ele vieram para cima, implacavelmente, e estavam jogando melhor. Contudo, o gol de empate, feito por Welton, livre, quase debaixo do travessão, demorou a surgir, veio a dez minutos do final. E causou dúvidas sobre a atual zaga titular, enquanto Thiago Silva e Roger, que foram dois dos melhores jogadores da temporada passada, estão amargando o banco.
Quando aconteceu o gol, amigos, quebrou o cabo da enxada e o lavrador se viu sem ferramentas.
O Tricolor adormeceu. Minutos depois, numa jogada boba, o atacante Rafael foi expulso na hora em que ia para o ataque. Deu uma cotovelada inútil. Pelo pouco tempo que restava, nem dá para dizer que o ato corroborou a derrota, mas é claro que foi um obstáculo a mais para o time. Com um jogador a mais, faltando cinco minutos, o Volta atirou-se dos céus sem pára-quedas, e foi bem sucedido. A zaga novamente falhou, e o atacante Amaral deu números finais ao jogo. Esta vantagem sim, ao contrário das outras que sucederam-se durante o evento, foi justa e merecida. No conjunto da obra, ganhou o melhor. Tropeçou o Tricolor.
Ainda é cedo para uma longa jornada de sessenta partidas ao ano. Contudo, o campeonato do Estado é curto, veloz, não permite erro.
Erramos. Recuperar é possível, mas não haverá segunda chance.
O Vasco fez o dever dele; o Fluminense, não. E, por mais que o Volta Redonda mereça toda fidalguia e respeito, e bem merece, tomar três gols de times de menor investimento é assunto para muito mais treino e atenção. Há cinco dias de trabalho para isso. Paulo César não pode reclamar. Teve o crédito e a confiança depositados desde o ano passado. Elenco, há. Carlos Alberto, esparsamente, brilhou. Temos terra, enxada, aro e peões. Que venha a semeadura.
Paulo Roberto Andel, 29/01/2207

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