Thursday, February 11, 2010

FLUMINENSE 3 X 0 BOAVISTA; OLARIA 0 X 0 FLUMINENSE



A dois passos da Guanabara (08/02/2010)

Caros amigos, entre reveses e sucessos, o Fluminense está nas semifinais da Guanabara. Não tivemos a melhor das campanhas e, mesmo antes do desastre no Fla-Flu, nosso time oscilou bons e maus momentos, mesmo sem perder e sequer tomar gols. O clássico maior pode ter nos imposto dúvidas sobre o futuro deste time que, desde o ano passado, especializou-se em desafiar paradigmas. O próprio Fluminense de hoje talvez seja uma incógnita. Acima de tudo, estamos classificados e teremos uma semana de muito trabalho para o jogo decisivo contra o Vasco da Gama.

Qual seria a nossa dúvida? Talvez fossem muitas; fato, posto, é que o Fluminense terminou ano passado como unanimidade: o time de guerreiros, que colocou analistas, jornalistas e paramatemáticos na lona, depois do brilhante final de ano que espantou o descenso. Nosso time manteve a base, trouxe jogadores jovens que podem ter muito futuro e parecia o mais entrosado. O começo de campeonato foi empolgante. Quatro jogos com vitórias seguidas e defesa invicta. Veio então o Fla-Flu. Nunca um jogo tão ganho em nosso primeiro tempo foi tão perdido no segundo. O que poderia ter sido um de nossos massacres mais retumbantes se transformou numa goleada impiedosa contra nossa história. E as flores deram lugar ao nublado. Vieram mais dois jogos, conseguimos a classificação, mas as partidas não tiveram o brilho de outrora. Não fomos bem contra Boavista e Olaria, embora tenham sido partidas bem distintas, até porque na segunda – já classificados – éramos um “misto-quente” em campo. Contudo, o importante é estar credenciado para as batalhas finais, onde não se pode falhar. Conseguimos o primeiro passo. E agora? O Fluminense é o time de guerreiros mesmo ou o time da última semana? Meu coração insiste na primeira hipótese.

Há um problema de longa data que assola o Tricolor das Laranjeiras, estranhíssimo e que parece de difícil solução: a enorme dificuldade que apresentamos em qualquer jogo contra um adversário que, por alguma razão, tenha desvantagem numérica de jogadores. Não quero aqui parafrasear os alvinegros, eternamente embalsamados nas peripécias da sorte contra o azar, mas algo é muito estranho. Acompanhem nossas partidas mais difíceis nos últimos anos; na grande maioria, perdemos, deixamos de ganhar jogos ou até ganhamos (mas jogando mal) quando o adversário tinha um jogador a menos, ou até dois. Esta curiosidade exótica aconteceu exatamente nas três últimas partidas: contra a Gávea, Boavista e Olaria, todos os times tiveram ao menos um jogador expulso – o time litorâneo chegou a ter dois. Dos três jogos, perdemos um, mas os outros dois deixaram o gosto amargo da apreensão. O Boavista, com seu modesto time, tinha oito na linha com menos de meia hora de primeiro tempo e não soubemos expressar esta superioridade numérica em gols. Particularmente, o time, que ainda vinha da ressaca do Fla-Flu, caiu ainda mais de produção depois que nosso heróico Conca bateu o segundo pênalti e perdeu (ele tinha convertido o primeiro). Não foi o caso do Boavista nos ameaçar, mas pareceu que tínhamos perdido o gás a partir dali: se o argentino, símbolo da garra, podia falhar (e, ressalte-se: pode e muito, pois tem enorme crédito), o resto acabaria abatido da mesma forma. O próprio placar final mascara o que foi a partida em termos da nossa deficiência técnica: vencemos por três a zero basicamente pela dedicação de Thiaguinho, que entrara em campo no final do jogo, muito bem por sinal, e se encarregara de dois gols à base de muita raça. Vencemos, nos classificamos e é justa a comemoração, mas não convencemos. E, justamente por conta da garantia de presença nas semifinais, entrou o time misto em campo em nova rodada dupla, tendo o Botafogo na preliminar, para enfrentar o perigoso Olaria, tido como o melhor dos times de menor investimento na primeira fase da competição. Se houve algo de bom nesta partida, foi rever jogadores como Digão (que, quando saiu do time titulas por contusão, estava entre os melhores), Dieguinho, Fábio Neves e os muito jovens Ryan, Dori e Bruno Veiga. É natural que se entenda a partida contra o Olaria praticamente como um amistoso. O que talvez ainda não se entenda é a incrível dificuldade de finalização de Kieza – há meses, a jovem promessa oriunda do Americano não consegue concluir com eficiência. Por outro lado, Rafael manteve a regularidade e inclusive nos salvou de uma derrota, com ótimas defesas. Aproveito um paralelo para falar de um detalhe extra-campo: o festival de confusões imposto pela Federação com o devido endosso da televisão pôs Botafogo e Fluminense à míngua nestas duas partidas de rodada dupla – somados, os públicos dos dois jogos não chegaram a quinze mil pessoas, número ridículo em se tratando de duas equipes centenárias no futebol brasileiro, detentoras de algumas das nossas maiores glórias. É hora de rever conceitos antes de desrespeitar o torcedor com ingressos caros, dificuldade para compra e ausência de metrô na saída do jogo, como foi o caso de quinta passada.

Uma semana é o prazo para o Fluminense dizer a que veio: ou o time raçudo e persistente, que se nega a perder – como foi no fim do ano passado e começo deste 2010 – ou o time esmaecido que perdeu o rumo depois do Fla-Flu. Minha aposta é na recuperação.

Fred voltará e, com ele, o time ganha muito. Primeiro, é uma referência do ataque; segundo, sabe valorizar a posse de bole como ninguém – com o artilheiro em campo, jamais teríamos sequer sofrido o empate no Fla-Flu, pois não levaríamos uma bola na trave e dois gols em três minutos. Temos um bom conjunto. E chegou a hora da decisão. O Fluminense fez história no futebol brasileiro por ser o time que não pode ser posto em dúvida, nem em ridículo, antes do apito derradeiro do árbitro. Vejam quantos títulos já conquistamos quando não empenhavam um tostão furado em nossa campanha. Vejam o ano passado: tudo estava turvo e perdido; então, fizemos o dito impossível. Eu me recuso a acreditar que toda a magia apoteótica do fim de ano passado, com direito a sofrimento, dificuldades e perda de título, mais a maravilhosa recuperação atestada em dezembro, tenha sido em vão. O que fizemos não é coisa de time comum – é o aroma leve e impactante daqueles que amadurecem para celebrar grandes conquistas. À frente, um eterno adversário, difícil de ser batido e tido por muitos como nossa principal pedreira: São Januário. São favoritos e têm um histórico considerável contra nós. Mas, depois de tudo o que o Fluminense fez nos últimos tempos, minha confiança não será abalada por duas ou três más atuações recentes – vale o conjunto da obra. Temos Fred, Conca, os garotos do ataque, a segurança da defesa, um goleiro que respeita as tradições do clube. Temos a nossa camisa centenária e a nossa apaixonada torcida. Ingênuo daquele que não creia nas chances do Tricolor disputar – e vencer – a Guanabara. Melhor vingança não há e, para quem sabe ler, um pingo é letra.


Paulo-Roberto Andel, 09/02/2010

1 comment:

Lau Milesi said...

Paulinho, está faltando uma psicóloga nas Laranjeiras. Vá por mim...
[rsrs]
Beijos tricolores

Essa sua crônica (brilhante) vai para o "Bem Amigos". Ahaha...vai...se vai.
Beijos tricolores .