Thursday, April 05, 2007

Quase inesperado

Devido ao não acontecimento do milésimo gol de Romário na partida contra o Botafogo, realizada no domingo passado com absoluta vitória alvinegra, foi criada à última hora uma rodada dupla no Maracanã, abrigando os jogos desta quarta, ambos pela Copa do Brasil. O jogo do Fluminense contra o América de Natal foi antecipado no horário, de modo a comportar o Vasco na partida de fundo contra o brasiliense Gama.

A preliminar foi assustadora para os torcedores do Centenário. O Fluminense, que vinha de uma derrota no clássico contra o Botafogo, mas tinha jogado bem, em seguida despencou. Derrotas inquestionáveis para o desfalcado Madureira e o limitado Americano praticamente alijaram o Tricolor de uma conquista carioca. Atuações péssimas. E não foi diferente ontem. A vantagem de ter marcado dois gols fora de casa, na partida de ida, foi a salvação de Laranjeiras – a de volta foi catastrófica, só não resultando em eliminação por causa das limitações imensas do time potiguar, que perdeu uma arroba de gols por absoluta escassez técnica. Os poucos e corajosos torcedores presentes ao Maracanã assistiram um espetáculo bizarro, um non sense, algo inimaginável para um time que, em tese, treina junto alguns dias da semana. Parece que alguns acabaram de colocar o manto Tricolor e entrar em campo, sem conhecer os companheiros de time, tamanho o desacerto. Outros, estigmatizados pela deficiência em passes simples e dribles, foram exorcizados com impactantes palavrões. Até mesmo o querido Carlos Alberto, jogador de grande potencial, mas que, reconhecidamente, ainda não atingiu o Pantheon, foi vaiado feito chuva em cântaros. Fato grave foi também o Tricolor atuar boa parte do segundo tempo com um jogador a mais e ser amplamente dominado – parecia que o América é que tinha o onze completo em campo. Não há um chute, um passe, um drible a ser destacado. Pavoroso. O Fluminense, beneficiado pelo regulamento, agora enfrenta o Bahia, e certamente terá sérias dificuldades de ir à frente na competição brasileira que, agora, começará a afunilar.

O raso público Tricolor na partida preliminar diminuiu ainda mais com o fim da lamentável partida, classificação com sabor de derrota. De toda forma, alguns ficaram para tentar testemunhar o tão esperado gol de Romário, fazendo galhofa também ao criarem torcida para o simpático Gama.

Ressentida com a derrota de domingo, além do péssimo horário de quase dez da noite para um match, a torcida de São Januário veio em bom número para uma partida comum, não para a festa que poderia acontecer. Mais de trinta mil pessoas. Não o desejado, mas suficiente para um barulho digno dos velhos tempos de Maracanã clássico.

Claro, todas as atenções e holofotes estavam direcionadas para Romário. Todos, absolutamente. Quando definiu-se para que lado o Vasco atacaria, todos correram para o gol à esquerda da tribuna, esperando com fé a finalização mágica do Baixinho, que acabou não acontecendo.

O primeiro tempo começou logo com o gol do Gama, num chute de longa distância dado por Ninja, isso mesmo, com a complacência de Cássio. Não seria o que se chama de um “frango” convencional, mas um gol evitável. E isso enervou os vascaínos, que sofreram bastante com o bom toque de bola e a velocidade do time planaltino, senhor da partida.

Uma jogada e outra, lá, houve um cruzamento e Renato cabeceou sem defesa para o bom goleiro Juninho, por volta dos quinze de jogo. Naquele momento, o Gama era melhor e o Vasco igualara o placar. Esperaria-se uma apoteose com a reação, apoiada pela massa vascaína. A torcida fez seu papel, mas o time não. De alguma forma, pode-se dizer que o jogo ficou mais próximo do equilíbrio do que do, até então, predomínio do Gama. Nos dez minutos finais, não houve grandes emoções e a partida continuou como estava, exceto por um lindo passe de Romário para a conclusão de Morais e defesa de Juninho.

Marcante foi que, a cada ataque do Vasco, havia um suspiro diferente, um “uhhhh”, mesmo que as jogadas não fossem tão ameaçadoras. Todos queriam o gol de Romário. Meu amigo Álvaro Dória alertou-me de que parecia mesmo um Maracanã de antigamente – um Maracanã que ele não identificou na volta dos times: o Vasco esperou vários minutos pela volta do Gama, e apenas o goleiro Cássio aquecia-se; o resto do time, de mãos na cintura, espreitava o círculo central. Ninguém chutando bola, trocando passes. Um mau sinal, que confirmou-se: voltou o panorama da primeira etapa, com a velocidade e o bom toque de bola do Gama, contra esparsos ataques do Vasco – num deles, Guilherme, que acabara de entrar, acertou a trave. Mas era pouco. Romário, vigiadíssimo, não teve chances reais.

O tempo foi passando e o empate garantia São Januário na fase seguinte. A força dos ataques do Gama foi diminuindo, devido ao cansaço e tudo parecia que terminaria como desde o primeiro tempo. Os suspiros da torcida estavam recolhidos. E, quase inesperadamente, no último ataque da partida, já nos acréscimos, uma excelente cobrança de falta de Marcelo Uberaba, no ângulo direito de Cássio, deu números finais ao jogo, eliminou o Vasco e aumentou o amargor pelo ainda não feito milésimo gol.

Esperava-se a festa cruzmaltina. Acabou com abraços efusivos do time alviverde, comemorando o feito histórico. Mais uma vez, adia-se o sonho de Romário.

Um ou outro torcedor do Fluminense mostrava satisfação: se fosse o Gama em vez do América, teria sido muito pior para Laranjeiras.


Paulo Roberto Andel, 05/04/2007

1 comment:

Rodrigo said...

Gol evitável?? Aquilo foi um frangaço!!!