Thursday, November 19, 2009

FLUMINENSE 2 X 1 CERRO PORTEÑO (18/11/2009)



América, outra vez (19/11/2009)


Em alguma vez na vida, há um momento em que uma ação acaba sendo “menor” do que sua feitura. Explico: por exemplo, quando se ganha um presente pequeno e simples, mas de grande valia sentimental. Uma frase bem-dita que nunca é esquecida. A genialidade de uma foto que, num segundo, pode captar todo o esplendor de uma vida. E isso foi o que aconteceu ontem no Maracanã, após a vitória apoteótica sobre o paraguaio Cerro Porteño, numa virada colossal que garantiu nossa ida à final da Copa Sulamericana. Uma vitória que representa perfeitamente o sentimento que hoje assola o Fluminense como um todo: uma obsessão catalânica pelos três pontos, contra tudo e todos, desimportando qualquer revés que surja à frente. Assim foi ontem e, mesmo com uma enorme audiência contra, em grande parte reforçada pelos “melhores do mundo”, o Fluminense mostrou ao Brasil inteiro que as piadinhas de Kfouri, Renatomaurício e Paulocésar perderam a força e a graça por completo. Estamos de novo a um passo do topo da América. O Tricolor voltou. Como dissertarei, não foi fácil e, ao contrário de outras partidas desta recente jornada maravilhosa, não jogamos bem. Contudo, a maneira como ganhamos mostrou toda a dedicação e competência do grupo do Fluminense para extinguir o descenso e conquistar a taça internacional. E, para nossos torcedores mais jovens, que não puderam ver grande viradas do Fluminense em sua história de glórias, ontem foi uma excelente amostra do que a nossa camisa é capaz de fazer. Assim foi quando Delei rapidamente lançou Assis e a Gávea chorou. Assim foi quando Renato venceu o maior Fla-Flu de todos os tempos, arrebatou o centenário e a Gávea chorou. Assim foi ontem, com uma das mais espetaculares viradas da história moderna do Fluminense, quando todos já contavam com a disputa de pênaltis. E, depois de trinta e um anos ininterruptos nas arquibancadas do Mário Filho, eu mesmo não pensei que fosse capaz de me emocionar com tamanha capacidade de reação do time, decano que sou de outras grandes vitórias. Mas divido aqui com vocês, meus amigos: menos pelo jogo em si e mais pelo jeito como foi, ontem vivi um dos maiores momentos com o amor que o Fluminense me desperta. Uma virada digna de Pedro Amorim, de Preguinho, de Benedito de Assis e Washington. Uma virada de Edinho, Ricardo Gomes e Romerito. Uma virada digna de São Paulo Victor ajoelhado na pequena área comemorando. Uma virada que é a própria aquarela da apoteose Tricolor.

Eram quarenta e cinco minutos do segundo tempo, quando nosso artilheiro Fred acertou uma cabeçada fortíssima que passou triscando o ângulo direito do excelente goleiro paraguaio Barreto. E houve um silêncio no ar: tratou-se de uma bola que dificilmente Fred perde, mas aconteceu. E começamos a olhar uns para os outros em silêncio nas arquibancadas do Maracanã: o Cerro havia marcado seu gol no começo do primeiro tempo, em um rompante de pressão por pouquíssimos minutos; nós fomos melhores durante a partida e perdemos vários gols, mas o time parecia claramente cansado, sem a fúria física de outros jogos; não tínhamos força para nos lançarmos totalmente ao ataque e, mesmo que pudéssemos, não poderíamos fazer porque isso seria abrir espaço para os paraguaios. Mas tentamos, e muito. Mariano deu um lindo chute e Barreto defendeu espetacularmente. Conca, se não estava nos melhores dias com a bola rolando, na bola parada era um inferno: quase fez um gol olímpico e cobrou cinco corners seguidos, pelo desespero da zaga do Cerro. Enfim, sem qualquer detrimento da qualidade guarani, a verdade é que tomamos o gol num dos raros rompantes deles, e a desvantagem no placar evidentemente nos preocupou: ainda passamos por um momento difícil, onde não se pode errar e qualquer revés pesa dezesseis toneladas. Entretanto, entre os nossos quarenta mil fiéis que gritaram e incentivaram o time a todo momento, a expectativa era de melhora no segundo tempo. Antes disso, um momento muito ruim: Maicon, sentindo o desgaste das últimas jornadas, sozinho, sentiu fisgada na coxa a saiu imediatamente. Veio Alan, nosso velho conhecido e excelente promessa, talvez o melhor finalizador de todos os jovens valores revelados em Xerém. Quero ainda falar de Rafael, contestado por alguns poucos pelo gol de ontem: primeiro, a meu ver, não houve falha alguma – o gol de Cáceres foi num chute bem colocado e razoavelmente forte. Segundo: Rafael é um dos principais responsáveis pela ressurreição do Fluminense – o com o outro goleiro em campo, o Tricolor estaria definitivamente condenado à segunda divisão há dez rodadas, pelo menos. E quero novamente enaltecer a garra e a entrega de Mariano em campo: mesmo quando não está bem, luta incessantemente. Ele é um dos símbolos da obsessão catalânica do Fluminense pela vitória.

A segunda etapa chegou e precisávamos do empate de qualquer jeito, sem falhar na defesa. A mesma pressão que tem nos cercado a todo tempo, sem nos permitir opções. Não temos saída: vencer o vencer, como ensinou o Presidente Horta. E é claro que ficamos nervosos: ao meu lado, os velhos amigos de sempre, como Leo, Marô e Tiba. Os jovens leões da UERJ, Marcelo e André. Nos arredores, Rita, Doria e o Presidente Sussekind. Os amigos da Fluokut, como William e Leonardo. Quarenta mil pessoas roendo as unhas, fazendo figas, rezando, meditando e esperando pelo melhor. Do lado de fora, dez milhões de torcedores nas televisões, rádios e internet. Mas o gol não saía: era Diguinho que chutava de longe e para longe, era Fred que fuzilava à queima-roupa e Barreto defendia milagrosamente, Era Marquinho que, mesmo lentamente, cruzava, mas a cabeçada não saía. O tempo passava, não podíamos falhar na defesa e não conseguíamos a igualdade. Então, perdemos nosso valoroso Digão na defesa. Parecia que os pênaltis seriam inevitáveis, mas alguém se lembrou que o Fluminense não nasceu para desistir antes do último apito. O Fluminense só perde um jogo ou uma conquista após o árbitro apontar para o centro de campo. Talvez os torcedores paraguaios presentes ao Maracanã não soubessem disso, ao vibrarem com a cabeçada perdida de Fred. Minutos antes, Gum levara cinco pontos na testa e voltara a campo com um protetor na cabeça. O time era um leão e, finalmente, foi premiado. Nos descontos, Gum na marca do pênalti matou uma bola, driblou e, caindo, acertou o canto direito baixo de Barreto para decretar o empate e a nossa classificação à final. O Maracanã explodiu de alegria feito uma impactante bomba. E todos nós nem tínhamos noção do que ainda aconteceria: até então, estávamos apenas classificados para a final da América.

Ainda havia restos de minutos no relógio. O Fluminense nasceu com a vocação da eternidade, como bem rezou nosso mestre Nelson Rodrigues – e quem tem a eternidade para si faz de um minuto uma vida. O Cerro veio para o ataque, desesperado, buscar o gol que lhe daria a classificação. Era o último minuto. Era a única falha do excelente goleiro Barreto no jogo: saiu da meta e deixou o gol vazio para tentar ajudar o ataque; a bola, cortada em nossa defesa, foi muito bem lançada por Diogo, nosso voluntarioso volante que, às vezes, tem divergências com a pelota, mas uma raça infinita. Caiu nos pés de Alan, na ponta-esquerda, antes da divisória de campo. O menino disparou para a meta, driblou Barreto e tocou para o gol vazio. Foi como um tiro de canhão ao fim de um show do Pink Floyd! O Fluminense venceu o jogo. O Fluminense virou um jogo que só ele é capaz. E, para desespero dos agourentos e parajornalistas, o Fluminense está de volta à disputa da América. Certamente há quem desdenhe da Sulamericana, mas que outro time brasileiro, com exceção do poderoso e favorito São Paulo, conseguiu disputar duas finais de competições continentais em dois anos seguidos na história recente? Meus amigos, do Fluminense não se duvida nem se tripudia. Estávamos com o descenso nas mãos; agora, outros tremem. Éramos um timinho que não disputaria nada, e estamos a um passo a América. Quem vive o amor destas três cores jamais desiste! Não importa se a atuação não foi das melhores, como ontem: o certo é que hoje, dia da bandeira brasileira, também é o dia da bandeira Tricolor, que será hasteada pelos quatro cantos desta cidade.

Temos um time cansado, mas com uma raça incomensurável. Voltamos para a dura empreitada do campeonato brasileiro. Não podemos escolher campo ou adversário: é vencer ou vencer, vencer obsessivamente, conquistar três pontos da maneira mais catalânica possível. Temos à frente Sport e Vitória, dois jogos perigosíssimos. Porém, o time que não dá descanso e não se entrega até depois do último minuto voltou. Mais uma partida revivendo 1951, o ano que vencíamos a todos pelo escore mínimo e que desembocou em nosso título mundial em 1952.

Quem esteve ontem no Maracanã viu uma das grandes vitórias de nossa história. Vencemos este jogo como nunca. Vencemos sem Maicon, sem Digão, sem Dieguinho e, pela primeira vez em onze jogos, sem os maravilhosos gols de Fred. Vencemos, mais uma vez, quando ninguém mais acreditava, exceto a nossa torcida, e com o desdém de outros adversários. Somos teimosos e eles também: insistimos em mostrar-lhes nossa vocação para a vitória, eles insistem em fingir que nos desprezam. Continuamos muito vivos. E, com todo respeito aos demais adversários, quem venceu como ontem, menos pela atuação e mais pelo jeito, pode perfeitamente vencer os cinco jogos restantes da temporada. E quem ainda aposta que somos galinha-morta no campeonato brasileiro, cada vez mais troca a emoção do futebol pelo ridículo da teimosia fracassada. Nós, que não somos fracassados, seguimos nosso caminho. Ninguém nos vence de véspera, nem por falácias encomendadas em jornal.

O Tricolor voltou.

Eles que saiam da frente.


Paulo-Roberto Andel, 19/11/2009

2 comments:

Blá blá Gol said...

Esta Sulamericana é um retorno ao passado das ROMÂNTICAS Libertadores de outrora com seus jogadores dopados e/ou ensanguentados.
Sem aquela frescurada à européia que a atual Libertadores se transformou.
Segue resenha do jogo no Blá blá Gol:
Um jogo sulamericano de um time copeiro

Lau Milesi said...

Paulinho...nem fale. Quase morri do coração . Mesmo no finalzinho, sem gol, eu ainda tinha esperança.E não é que aconteceu???Youhuhubuhu!
Eu só tive um probleminha com o Cerro...a todo momento eu insistia em chamá-lo de "Cerro Corá".[rs]
E no final do jogo? Que coisa feia... Fizeram pior do que muitos bandidos que vivem à solta.
Ô cambada de marginais frustrados,não é?
Beijos tricolores.