Monday, November 09, 2009

UNIVERSIDAD 0 X 1 FLUMINENSE/ FLUMINENSE 1 X 0 PALMEIRAS (09/11/2009)


1951 (09/11/2009)


Meus queridos amigos desta magnânima fraternidade que é o Fluminense, esta crônica será escrita de maneira diferente da habitual, quando normalmente foco numa única partida. Faço isso porque desde a quinta-feira temos jogado uma única partida: a de nossa sobrevivência contra tudo e todos na primeira divisão do campeonato brasileiro, além de galgar um novo passo rumo à conquista da América. É uma partida que não irá parar até sete de dezembro, data derradeira do futebol neste ano. E, até lá, com toda a confiança, eu vos digo: o descenso não nos sucederá! O Fluminense não vai morrer, o Fluminense não vai acabar. Mais do que redivivo, o Fluminense está vivíssimo e, de um mês para cá, é um dos melhores pontuadores do Brasil. Não importa o escore, que seja mínimo; precisamos vencer ou vencer, como bem nos ensinou o vitorioso Presidente Horta.

Na semana passada, sugeri que o Fluminense ressuscitasse o ano de 1951. Ganhávamos com garbo, mas a imprensa esportiva, já tendenciosa e invejosa da nossa condição de berço do futebol brasileiro, tentou nos impingir a pecha de “timinho”. Era o time que vencia seus jogos por um a zero, às vezes dois a um. Era o time que não goleava, não massacrava e, para alguns, passava o engano de não ter força. Engano, prontamente. Um ano depois, nos tornamos o segundo time brasileiro a conquistar o título mundial. O que precisamos é de humildade, e a esta mesma humildade passa pelo escore mínimo. Não queremos ser os campeões da imprensa, os mais-queridos, os mais-temidos: a beleza da nossa torcida, mais uma vez imposta ao mundo pelo maravilhoso mosaico de ontem, já diz tudo. Deixo de lado o comentar sobre o espetáculo de plasticidade dos parapentes com nossa bandeira a pousar no gramado; falar da beleza das milhares de torcedores Tricolores no Mário Filho é redundância. Tudo tem seu tempo.

Quero falar sobre o jogo de quinta-feira. A imprensa dizia que o Fluminense já era favas contadas, porque tinha deixado a classificação contra o Universidad de Chile no Maracanã. De fato, fomos muito superiores na primeira etapa e deixamos que empatassem em falhas individuais. Porém, depois de então, o time veio numa crescente inabalável e, com toda a justiça, venceu a partida com sobras. Desimportaram a pressão da torcida chilena, os objetos arremessados no campo, a tentativa de briga dos chilenos. Nós temos Fred, e Fred é o digno representante de uma linhagem que vem do nosso primeiro grande artilheiro, Henry Welfare. Desde que voltou de grava contusão, fez gols em todos os jogos e comandou vitórias memoráveis. Nós temos a raça de Darío Conca, nós temos um rapaz como Mariano se jogando ao chão, às placas de publicidade, ao concreto e a tudo o que venha pela frente, para defender nossa camisa. E quero aqui dizer de Diguinho, que fez uma partida impecável: se jogasse assim regularmente, já seria o maior ídolo atual de nossa torcida. O Fluminense foi melhor no Chile, jogou como um dos grandes times da América e mereceu a classificação com todo o louvor. Mas a partida não acabou ao apito do juiz: hoje, estamos num ciclo que não cessa – vencer desesperadamente a todo instante. Foi um placar de 1951: o gol solitário do nosso artilheiro mineiro e mais um passo rumo à reconquista da América. Os dados estão a nosso favor: é hora de colocá-los no copo de couro e jogar.

Não houve tempo para descanso. O Brasil é um continente e, mal-saído de uma vitória espetacular, outro leão à frente: a Sociedade Esportiva Palmeiras, lutando pelo título do certamente, mas sem cumprir recentemente bons jogos. Nós, ao contrário, estamos em franca ascensão e seremos carne de pescoço até dezembro, em toda e qualquer partida. Isso ficou claro no Maracanã lotado de ricos e pobres, de mulheres bonitas e lindíssimas, de crianças e velhos: todos, cobrindo o verde-amarelo das arquibancadas e forjando um coro dos mais lindos que o futebol brasileiro conhece. Não me canso de falar do mosaico: foi de um rigor estético fascinante. Obra de arte.

Havia um calor incessante no começo do jogo; claramente, isso influenciou na partida. Por outro lado, o Fluminense melhorou muito nos últimos tempos e o Palmeiras sentiu as dificuldades. Perdemos vários gols: um que Fred passou em vez de chutar de primeira; outro que Dieguinho estava livre e o goleiro Bruno espalmou com a ponta dos dedos para o córner. Outra que Dieguinho também chutou para fora. E uma cabeçada de Dalton, livre à frente do gol, rente à trave esquerda. Foi meu único momento de saudosismo na jornada: lembrei de Edinho e o que faria numa situação daquelas. O gol era certo. E quero falar também dos pascácios que surgem como moscas varejeiras à procura do primeiro vestígio de carne podre que encontram: querem dizer que o gol de Obina foi legal. Ora, nem o próprio jogador comemorou o tento com veemência. O braço esquerdo do atacante baiano, aberto, tocou no rosto de Digão e o tirou do lance. Para se marcar uma falta, não é necessário que o adversário desabe ao chão. E fala-se deste lance apenas porque há um forte interesse paulista na questão, associado ao que há de mais perverso na imprensa esportiva brasileira, que é a perseguição ao Fluminense. A ânsia ensandecida pelo descenso do Fluminense que, a cada dia, toma ares de desistência. Simon é um péssimo árbitro e errou para os dois lados, se é que errou no suposto lance de gol de Obina. Poderia ter facilmente expulsado Vagner Love, useiro e vezeiro de faltas desleais. Francamente, falemos da verdade: o Fluminense foi muito superior, o Fluminense foi um aríete e só não venceu o primeiro tempo por sorte dos periquitos-porcos. Minha amiga Marô falou de oito gols perdidos, e creio que seja verdade. Apesar da dificuldade, algo dizia que as coisas dariam certo. Meu amigo Álvaro Doria comentava sobre o perigo de se deixar Diego Souza livre; ele foi muito marcado e pouco produziu. O mesmo valeu para o nosso Conca, vigiado em cima permanentemente; dele, numa falta da direita, veio um chute-cruzamento de grande perigo que Bruno espalmou para fora.

Após quinze minutos no mesmo panorama da primeira etapa, que foi o Fluminense atacar e o Palmeiras se conter, com direito a um chute perigosíssimo de Diguinho que passou a centímetros do ângulo esquerdo da meta palmeirense, aconteceu uma jogada de muita raça, numa arrancada fulminante de Maicon, pela esquerda. Cruzou e conseguiu o escanteio pela esquerda do ataque. Darío Conca fez a tradicional cobrança aberta. O Palmeiras queria a liderança, mas esqueceu Fred livre dentro da área, de frente para o gol, a ponto de sequer precisar subir para cabecear. Testou com padrão de craque: forte, diagonal, de cima para baixo, canto direito do goleiro. E o Fluminense marcou o gol de que tanto precisava. Nosso grande artilheiro explodiu: correu para nossa imensa torcida e beijou dignamente o escudo das Laranjeiras. Todos sabemos que Fred é cruzeirense, mas não é possível viver o Fluminense sem se apaixonar por ele. E Fred está apaixonado pelo gol: marcou o oitavo em oito jogos. Se não tivesse ficado de fora três meses, poderia perfeitamente lutar pela artilharia do certame. O gol soou no Maracanã como o estampido de um tiro de canhão. O Fluminense não iria mais morrer: o tiro foi da nossa artilharia.

Ainda houve tempo para mais um gol perdido pelo menino Mariano, que tem mostrado uma raça extraordinária em todos os lances. Incorporou a pele Tricolor. Do meio para o fim do jogo, debaixo do calor arábico, deu uma arrancada espetacular pela esquerda após maravilhoso passe de Fred e só não fez o gol pela falta de cacoete para a finalização. Tem sido um símbolo: sabemos que não é dos jogadores de fartos recursos técnicos, mas sua determinação tem incendiado o time. Tartá também entrou muito bem. E cabe aqui dizer de alguém que pouca gente fala: nosso preparador físico, Ronaldo Torres, que mudou para muito melhor a nossa condição em campo. O Fluminense é outro time: no calor carioca de quarenta graus, suporta os jogos até o fim. Meu amigo Raul Carvalho, rubro-negro de estirpe Tricolor, me alertara semanas atrás: “O Fluminense vai melhorar muito a sua condição física com esse profissional”. Acertou na mosca.

Vencemos. Com o placar mínimo, que era o que nos bastava. Um a zero, um a zero, feito 1951.

Dormem em pranto os humoristas da imprensa esportiva. As lágrimas sujam a maquiagem de Renato Maurício e o sorriso alvar de Juca Kfouri. Suam os matemáticos. Não conseguiram assassinar o Tricolor, em nome da moral e dos bons costumes.

O Fluminense está de volta, mais vivo do que nunca.

Não importa se temos uma diferença de cinco pontos para deixar a região de descenso. Enfrentaremos diretamente dois times que lutam pela permanência na primeira divisão – o primeiro dele, domingo: Atlético Paranaense, num Maracanã abarrotado até o último banco de acrílico.

Quatro vitórias por um a zero no campeonato brasileiro e nem os céus nos tiram a primeira divisão. O Fluminense só depende de si para conseguir isso.

E que os céus nos proporcionem um novo encontro com os equatorianos da LDU, para que retomemos o que sempre nos pertenceu por direito: a América de 2008.


Paulo-Roberto Andel, 09/11/2009

1 comment:

Lau Milesi said...

Nosso profeta Nelson Rodrigues está que é uma alegria só... Ele está olhando por nós, acredite.

Beijossss