Wednesday, May 05, 2010

FLUMINENSE 2 X 3 GRÊMIO (29/04/2010)


Azar de estreante? (30/04/2010)

Em torno de oito da noite de ontem, eu fitava a minha querida UERJ, vizinha do Maracanã, postado na rampa da estação do metrô ao lado do Presidente Sussekind e à espera de nossa turma para assistirmos o difícil confronto contra o Grêmio, primeira partida das quartas-de-final da Copa do Brasil. De repente, a maldição chega pelo blackberry do amigo: Fred estava fora do jogo. Em seguida, meu amigo Bolinha, vascaíno, me telefonou e não somente confirmou a notícia, como disse que Fred poderia ter ido para um hospital.

Houve silêncio e mal-estar nos arredores do grande estádio. Não bastasse ficamos sem Conca, a ausência de Fred soava como golpe duríssimo em nossos planos, ainda mais num jogo decisivo contra uma das mais aguerridas equipes do futebol brasileiro. E veio o nocaute: o artilheiro não entraria mesmo em campo, por motivos que hoje já sabemos, mas os jornais-de-um-time-só, em tom de galhofa, sugeriram que seria alguma indisciplina do jogador contra o estreante – e vencedor – Muricy Ramalho. Não apuraram nem corrigiram a gafe. Fred teve uma apendicite e foi operado imediatamente. Vejam, amigos, quanta falta de sorte: algum de vocês já soube de algum time na história que, num intervalo de uma semana, perdesse dois jogadores importantes por conta de apendicite? A princípio, só o Fluminense. E, com esse mau clima, entramos em campo para o difícil embate em campo encharcado pelas chuvas do Rio.

Logo de cara, mesmo com a imponente chuva e o desfalque dos craques, tudo parecia que ia ser bom para o Fluminense: André Lima fez um lindo gol de cabeça após o passe de Diguinho, o sensacional cruzamento de Mariano da Raça (em belíssima curva). O artilheiro fuzilou o canto esquerdo baixo do selecionável Victor e abriu o marcador. Parecia alívio, parecia bom presságio ainda mais depois do inesperado revés do começo da noite. Parecia, não era.

Dez minutos depois, os gaúchos empataram. Jonas fez o que quis na esquerda de nossa defesa, driblou e cruzou. Douglas desferiu um chute forte e a bola bateu em Gum, mas a bola ficou limpa para ele mesmo, Douglas, cabecear sem defesa para Rafael, no canto direito, enquanto nossa defesa permanecia atônita debaixo da chuva. A partir de então, o time sulista deu as cartas na partida, virou a partida com justiça na total liberdade de Jonas para chutar rasteiro no canto direito de Rafael e, mesmo com a posterior expulsão do zagueiro Rodrigo, jogou como se não tivesse qualquer desvantagem numérica. Foi absoluto em campo. A nós, restou a lembrança de alguns bons momentos na partida e a dor-de-cabeça de ver nossa defesa batendo pino, sendo facilmente ultrapassada pelos gremistas e nos fazendo temer até uma goleada humilhante e eliminadora, justamente na estréia do treinador discípulo de nosso Telê Santana. Muricy sempre foi um sonho para as Laranjeiras e, por conta disso, merecia uma primeira partida com mais qualidade de nossos zagueiros. Fazendo as contas, com humildade, principalmente pela pressão que levou nos últimos quinze minutos do primeiro tempo, saiu barato para nós a derrota por escore mínimo, apesar de que levar dois gols em casa nesta competição é uma sentença de morte. Só cabia correr atrás do prejuízo.

Para a segunda etapa, Muricy tentou mudar o time, tirando Digão para a entrada de Equi. O jovem zagueiro é dos nossos melhores jogadores, mas não estava bem e, além do mais, já tinha cartão. Com o argentino, a idéia foi a de agredir mais o Grêmio e tentar o empate. De certa forma, a qualidade do argentino tornou bem menos pior a nossa performance, mas o estado do gramado e a nossa má atuação comprometiam qualquer tentativa mais objetiva. Erros de passes eram uma constante, para desespero do nosso novo treinador. Equi, uma exceção, jogava bem. Desde o ano passado, mesmo ainda fora de forma, o argentino demonstrava que seria uma excelente opção para o meio-campo, mas foi pouco aproveitado por Cuca. E, graças a Equi, algumas poucas jogadas chegaram perto da área do Grêmio. Ainda houve uma boa cabeçada de Wellington, defendida por Victor. Mas era pouco, mesmo que tivéssemos alguma maior ocupação da meia-cancha. Desesperado, Muricy tentou uma outra cartada ao tirar o inexplicavelmente inoperante Julio César para a entrada do, bem, inesperado Adeilson, famoso por sua dificuldade em marcar gols e criar jogadas. A impaciência tomou conta do Maracanã, e ainda seria pior.

Douglas é reconhecidamente um dos bons jogadores do futebol brasileiro. Em algumas vezes, não se firmou em times por conta de suas aventuras noturnas. Sabe chutar, passar, cobra faltas, tem categoria. Mas normalmente é lento; ainda carrega o estilo clássico de outras décadas. Imaginem-no sobre um gramado encharcado e a quinze minutos do fim. Pois é, mas mesmo assim, fez gato e sapato do pobre Everton, bom jogador, mas inteiramente perdido ontem, entrou pela esquerda do ataque e fez o terceiro gol, que praticamente aniquilaria nossas chances. Por sorte, pouco tempo depois, quem estava lá para chutar quase sem ângulo no alto do gol de Victor, diminuindo o placar? Ele mesmo: Ezequiel González, o Equi. O três a dois aconteceu aos trinta e três minutos e, dali até o fim do jogo, o Fluminense perseguiu o empate com muita luta, mas atabalhoadamente. Muita vontade e pouca técnica. A verdade é que, num hipotético segundo tempo com Conca, Alan e Fred, mesmo em dias pouco inspirados, o Fluminense seria outro, muito outro. Infelizmente, não foi.

O torcedor do Fluminense não é um deslumbrado. Não tem a seu favor manchetes colossais nos jornais a enaltecer-lhe noite e dia, principalmente em façanhas quixotescas. Muito pelo contrário. Mais ainda, o Grêmio foi superior ontem e tem enorme vantagem num estádio onde raramente perde, ainda mais por dois gols de diferença. É o grande favorito e só uma grande atuação do Fluminense, daquelas que tivemos na luta contra a UTI do ano passado, pode nos dar alguma chance. Novamente não teremos Fred, precisamos de uma vantagem enorme em se tratando de Estádio Olímpico e, antes de Muricy, o time não vem jogando nada bem. Mas quem disse que a lógica é o fato? Somos dos poucos times que já eliminaram o Grêmio em uma Copa do Brasil, cinco anos atrás. Poucos lembram disso. E Conca estará de volta, com toda a sede. Seria azar do estreante Muricy? Que nada! Em todos os times em que foi campeão, o treinador perdeu seu primeiro jogo.

Só um louco acharia que a classificação do Fluminense não é muito difícil. Para superá-lo, somente outro, mais louco ainda, ao dizer que o Tricolor chegar às semifinais nestas circunstâncias é impossível. Já rebaixamos os matemáticos, os parajornalistas calhordas e podemos muito bem dar um bico nas expectativas de hoje à noite. Quem tem essa camisa imortal, tem Dario Conca e Muricy, pode chegar longe.

Muito longe.


Paulo-Roberto Andel

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