Monday, July 19, 2010

SANTOS 0 X 1 FLUMINENSE (18/07/2010)



Firme no topo (19/07/2010)

A dois dias de seu centésimo-oitavo aniversário, o Fluminense parece finalmente ter reencontrado o caminho das boas campanhas. Na próxima quinta-feira, nosso time entrará no gramado do Maracanã para enfrentar o Cruzeiro, na condição de vice-líder do campeonato brasileiro – à nossa frente, está o Corinthians, que nos venceu em um jogo onde tivemos tudo para, no mínimo, empatar a partida.

Não foi nada fácil o retorno ao campeonato. Quinta passada, o time deixou a torcida insatisfeita após o inesperado empate com o Prudente em casa. A torcida fez sua parte: iluminou a esquerda da Tribuna de Honra do sagrado estádio com isqueiros e colocou o time para cima. Fizemos um primeiro tempo de bela apresentação, com o gol de cabeça de Fred e perdemos outras chances. O que se viu em campo nos quarenta e cinco minutos iniciais foi um Fluminense senhor do jogo, com criação e arremates, ainda que Conca não estivesse numa noite de gala. No segundo tempo, o time minguou, ainda atacou, mas perdeu a força, o ímpeto e foi castigado com o gol de empate a dez minutos do fim, no primeiro chute real do Prudente em toda a partida. Veio o desespero e uma virada poderia significar forte abalo no time de Muricy, o que felizmente não aconteceu. Mas o empate deixou um gosto passado de derrota. O triunfo nos colocaria na liderança da competição, mas não deu certo. Pior: recuperar os pontos perdidos em casa contra o próximo adversário significava ter que vencer o poderoso Santos, dono da mais talentosa linha de ataque do Brasil, dentro de seus domínios. E, contrariando até mesmo os mais otimistas Tricolores, aí sim deu certo. O Fluminense venceu um dos mais difíceis adversários neste ano, numa partida em que suou muito. Em quatro dias, fomos da decepção à completa alegria.

Curioso o futebol. Contra o Prudente, com exceção dos dez minutos finais, quando entramos em choque com o empate, o Fluminense dominou o jogo amplamente, mesmo oscilando bons momentos com alguns de lentidão e dispersão. Ao cair de produção e não agredir mais na segunda etapa, o time vendia a idéia de que o jogo estava liquidado e isso se mostrou um ledo engano. De toda forma, o time foi superior em campo - ainda que isso seja discutível, pois muitos defendem que a superioridade se comprova pelos números e, de fato, fomos vacilantes nas conclusões. O jogo contra o Santos foi diferente. O Fluminense entrou ardiloso, matreiro e disposto a enfrentar a verdadeira avalanche que foi o ataque do Santos em praticamente toda a partida. A surpresa que Muricy preparou, entrando com três zagueiros, de certa forma controlou o ótimo ataque santista. Não foi o Fluminense da quinta, atacando obsessivamente, mas sim um Fluminense controlado, defensivo sim, buscando as brechas para poder contra-atacar. Tudo poderia ser mais tranqüilo, não fosse a insistência do atual goleiro Tricolor em chutar todas as bolas para frente e para o alto, recurso que se mostrou inútil porque só municiava ainda mais a ligação do Santos entre meio de campo e ataque, afora inúmeras bolas na lateral gratuitas, o que aumentou nossa pressão arterial consideravelmente. Porém, a qualidade da nossa marcação prevaleceu, e mesmo levando um verdadeiro sufoco, conseguimos o empate sem gols na primeira etapa. Uma preocupação era Diguinho, já punido com cartão amarelo e fazendo sucessivas faltas. Encaixamos alguns contra-ataques e até poderíamos ter marcado, mas ficou clara a total supremacia do Santos em termos de volume de jogo. Conseguir um ponto na Vila de Pelé contra um time que certamente disputará as primeiras colocações – e, por isso, vai tirar muitos pontos dos outros concorrentes – já seria um excelente negócio. E o segundo tempo nos prometia ainda mais, pela disposição do nosso time em campo, bem distante das merecidas vaias contra o Prudente. Uma diferença na escalação iria nos proporcionar o grande momento do jogo de ontem: na quinta, Alan começou e Rodriguinho entrou na segunda etapa; dessa vez, foi o contrário. E que presságio!

Voltamos mais dinâmicos, mais ofensivos, sem descuidos na marcação, que foi adiantada. O Santos se manteve perto da nossa área e criou novas chances, mas nós também atacávamos, mais do que no primeiro tempo, e isso trouxe um maior equilíbrio ao jogo. E Alan entrou no lugar de Rodriguinho, a substituição inversa do jogo anterior. Ganhamos em condução de bola, movimentação na frente e, principalmente, finalização – Alan é, sem sombra de dúvidas, o melhor finalizador revelado nas Laranjeiras nos últimos tempos. Assim, um olho no peixe e outro no gato. O Santos sentiu que não seria fácil conquistar a vitória, mas não poderia se contentar com o empate em casa, o que lhe fez atacar ainda mais e, diferentemente do outro tempo, deixar espaços vazios na defesa, que é o ponto menos luminoso da equipe. Conca fez uma linda jogada de calcanhar, Carlinhos chutou forte e o goleiro Rafael mandou para escanteio. O Fluminense virou tocha: pegou fogo e mostrou ser um time temível fora do Maracanã. A vitória poderia vir para qualquer um dos dois. A Vila Belmiro veio abaixo quando nosso travessão tremeu e quase tudo ficou perdido.

Mas o Fluminense tem Mariano, o Rei Zulu da nossa lateral, que vinha jogando com muita raça e tentando vários passes de qualidade. Ele driblou ninguém menos que o cotadíssimo Paulo Henrique “Ganso”, chegou perto da linha de meio-campo e acertou um lançamento primoroso para a direita do ataque, vazia. Quem ali estava era Alan, que entrou na área e não perdoou: chute rasteiro na diagonal, canto direito do goleiro Rafael, que nada pôde fazer. E abrimos o placar a dez minutos do fim, contra o time que tem o melhor ataque do Brasil, repito. Nossa defesa não fica atrás: a segunda menos vazada do certame. Nessa disputa, vencemos.

Ainda houve tempo para o Santos perder um gol incrível, com Robinho praticamente embaixo do travessão. Ao contrário de quinta-feira, onde tudo parecia festa e terminou com gosto de decepção, ontem era o nosso dia e tudo deu certo. Um campeão precisa de muitas qualidades e, dentre elas, a sorte – que é imprescindível. Não foi uma mera vitória de sorte, contudo: vencemos porque temos um técnico diferenciado, que soube surpreender o adversário; vencemos porque fizemos uma boa exibição; vencemos, porque soubemos desta vez matar a partida no momento certo; e também vencemos porque, nos momentos cruciais contra um adversário dos mais fortes, as boas luzes nos sorriram – dentre elas, a da sorte.

Agora é outra quinta-feira. O Fluminense busca consolidar sua posição de postulante ao título ou à vaga na Copa Libertadores de 2011. De certo, teremos a empolgação de milhares de torcedores e um time de guerreiros em campo? A outra quinta já passou. Quem espera sempre alcança.


Paulo-Roberto Andel

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