Friday, July 23, 2010

FLUMINENSE 1 X 0 CRUZEIRO (22/07/2010)


Topo! (23/07/2010)

Era a celebração do centésimo-oitavo aniversário. Era o Maracanã tomado de pó-de-arroz à esquerda da tribuna. Eram trinta mil torcedores dispostos a ver a última pá-de-cal em tudo o que foi mal-escrito contra nosso time no ano passado. Foi um placar magro, o velho um a zero dos tempos pré-campeonato mundial de 1952, quando Telê era o Fio de Esperança em campo e Zezé Moreira escrevia seu nome na história Tricolor. Um a zero. Ponto. O Fluminense venceu e, ao menos momentaneamente, se tornou o líder do campeonato brasileiro de 2010. Quem seria capaz de pensar isso em setembro do ano passado, quando os grandes cientistas e filósofos do futebol tinham decretado a morte do Fluminense? Pois é, a vingança é um prato que se come frio – e no momento certo.

Nada de maus sentimentos. Vamos falar de festa. Que beleza foi a nossa torcida saudando Cuca! A façanha de 2009 está eternizada na história do futebol brasileiro. O Fluminense está morto, era o que se dizia e escrevia incessantemente. Aconteceu uma virada monumental, oceânica – e Cuca teve grande participação neste processo, não à toa sendo imensamente saudado ontem por toda a nossa torcida. E se Cuca teve festa, Muricy também teve a sua: não queremos de forma alguma que, neste momento, o excelente treinador paulista deixe as Laranjeiras, por conta da vigorosa proposta que deverá emanar da CBF.

Foi uma grande noite, mas é importante deixar claro que foi um jogo duro e que não tivemos grandes momentos de gala. O Cruzeiro, bem-armado por Cuca, veio num esquema que parecia até ser bastante defensivo, tendo geralmente oito jogadores na marcação e defesa – no entanto, o perigo estava no bote da Raposa, em contra-ataques velocíssimos felizmente impedidos pela nossa defesa, ainda que Gum estivesse cumprindo uma jornada bastante insegura – chegou a errar quatro jogadas seguidas, talvez ainda confuso pela adaptação ao sistema com três zagueiros. Diguinho, por sua vez, voltou a repetir o velho erro de ter a bola dominada e ser roubado sem perceber, mesmo com milhares de torcedores gritando “Ladrão!”.O veterano Gilberto era o principal coordenador das jogadas do time celeste, que não permitia as nossas investidas de ataque. Outro bom jogador em campo pelo time do Cruzeiro era nosso Everton, vendido tão rapidamente e com tanto a dar pela nossa camisa. E também deve ser registrada a boa atuação do sempre perigoso atacante Thiago. Do nosso lado, com a raça de sempre, Mariano voava em campo – é outro jogador quando comparado com o meio do ano passado. E, se o Cruzeiro estava fechadíssimo, quem seria nossa dupla capaz de desmantelar a sólida defesa azul? Fred e Conca, naturalmente. Entretanto, ambos estiveram abaixo do rendimento normal: Conca, muito marcado, pouco produziu; o craque do nosso ataque parecia lento e com dificuldades físicas até. Aproveito para não agir injustamente com o nosso atual goleiro: quando foi exigido, mostrou-se bem, embora eu discorde da opinião da crítica especializada de que foi o melhor do nosso time ontem. Fez o que cabe a um goleiro que veste a camisa do Fluminense. E, justamente também, conseguiu uma façanha pessoal rara: conseguiu terminar dois jogos seguidos no campeonato brasileiro sem ser vazado, o que talvez possa ser visto como um bom presságio.

Pouco antes do fim do primeiro tempo, um acontecimento foi decisivo para a mudança dos ventos e a construção da nossa vitória: a contusão de Gilberto, que sensivelmente diminuiu o ímpeto cruzeirense, para quem um empate seria ótimo resultado. E ainda houve tempo para a segunda melhor jogada de Conca na partida: um lindo lançamento para Carlinhos, que chutou para a defesa de Fábio.

Na volta para o segundo tempo, Muricy fez a alteração tradicional: pôs Alan no lugar do atrapalhado Rodriguinho, o que deu mais mobilidade na frente para nosso time, já que Fred não estava num de seus melhores dias. Mesmo sem Gilberto em campo, o Cruzeiro continuou a buscar o ataque e quase fez um gol com Thiago. No contra-ataque, houve um escanteio; Conca, que não vinha numa noite excepcional, sendo craque, compensou: cobrou com maestria na cabeça de Leandro Euzébio que, com muita força, acertou ótima cabeçada no canto direito de Fábio e abriu o placar que viria a ser definitivo. Num jogo difícil como estava sendo, era uma promessa de conquistar a importante vitória. Logo em seguida, Alan perdeu outro gol e, a partir de então, Fluminense e Cruzeiro revezaram-se nos ataques, embora o time mineiro tenha sido mais insistente, até porque estava em desvantagem no marcador. Aí, entrou o velho Gum de sempre, não o do primeiro tempo, tirando tudo da nossa área. E o jogo seguiu equilibrado até seu final, embora as equipes estivessem naturalmente desgastadas pela enorme força física aplicada. Terminamos o jogo segurando um excelente resultado: o Cruzeiro partiu para o jogo aéreo, mas a defesa do Fluminense estava imbatível – até o goleiro saiu da meta para defender, fato também raro.

O apito final do árbitro Sampaio significou muito mais do que uma simples vitória. Significou a reconquista do topo, o lugar onde o Fluminense sempre deve estar, no mínimo, bem perto. A torcida das Laranjeiras pode fazer festa sim; nada está ganho, ainda falta muita coisa para um campeonato que está no meio de julho e só terminará em dezembro. Contudo, uma coisa é certa: se os ventos não forem contrariados, o time que promoveu a maior virada em campo da história do futebol brasileiro é candidatíssimo a brigar por, ao menos, uma vaga na Libertadores de 2010. O título é um sonho. Mas real. É hora de sedimentar esse longo - e maravilhoso – caminho.


Paulo-Roberto Andel

No comments: