Friday, August 06, 2010

FLUMINENSE 3 X 1 ATLÉTICO-PR (31/07/2010)


(Mais: Botafogo 1 x 1 Fluminense - 25/07/2010)


O primeiro da lista (01/08/2010)

Quem te viu, quem te vê... mais duas rodadas se passaram e, ao lado da competência, a sorte se alinhou; assim, o Fluminense é novamente o líder do campeonato brasileiro, queiram ou não os marrons, os mais-queridos e outros menos votados no cenário. Temos duas alegrias: a de ver o time no topo da tabela e a de testemunhar os velhos “seca-pé-de-pimenteira” prevendo nossa efêmera liderança, assim como fizeram com os “cálculos” do rebaixamento ano passado. É um autêntico "faz-me rir".

Primeiro, o clássico contra o Botafogo, disputado no Engenhão, com um certo gosto de despedida do Maracanã. Gosto do campo alvinegro, mas ainda preciso sentir um que é um jogo entre os grandes times com lotação máxima por lá. A nossa torcida não se fez de rogada, compareceu em maior número e pareceu animada com o desfecho da dramática possível saída de Muricy: o treinador ficou conosco, ainda que dissessem que contra a vontade. Duvido: nenhum jogador ou treinador fica em clube nenhum no futebol de hoje por obrigação. A verdade é que Muricy quis ficar no Fluminense e o Fluminense queria ficar com Muricy. Estranhíssima também a postura do presidente da confederação, chamando primeiramente o treinador para um café sem qualquer consulta ao clube. Drama à parte, Muricy foi compulsivamente saudado quando da entrada em campo. Havia outras tensões também presentes por conta da colocação na tabela: o Tricolor brigando pela ponta e o Botafogo lutando contra a zona de rebaixamento. Desimporta a pontuação de cada time: era um clássico, e no clássico os times se igualam.

O primeiro tempo foi bastante movimentado e equilibrado, com ligeiríssima superioridade para General Severiano, apenas porque seus finalizadores arriscavam mais. Do nosso lado, Fred e Conca não pareciam bem – o artilheiro, inclusive, saiu machucado em lance sozinho na segunda etapa. A compensar, as estréias de Emerson e Beletti. O primeiro mostrou a garra e velocidade costumeiras dos tempos da Gávea, embora ainda precise de certo ritmo natural para quem não vinha jogando. O segundo, se não fez uma partida brilhante e mostrou também problemas físicos, atuou regularmente e salvou um gol certo do Botafogo no primeiro tempo, quando apareceu como quarto-zagueiro. Mais tarde, por conta do cansaço e de um cartão amarelo, saiu para a entrada de Thiaguinho, que esteve com um pé do Cruzeiro, mas ficou na última hora. Alguns chutes a gol, algumas boas defesas dos dois lados, mas nada que mostrasse a absoluta supremacia de um time sobre o outro - meio ponto a mais para o Botafogo, e só. Nosso maior risco foi numa jogada de Diogo que, ao final do primeiro tempo, quase fez um gol contra, evitado pela providencial defesa de Fernando. A seguir, as coisas mudariam.

Segundo tempo iniciado, de cara Fred deu dois bons passes para Emerson marcar. No primeiro ele perdeu, mas no segundo foi demolidor: driblou Jefferson, que tinha iniciado a jogada com uma reposição de bola errada, e tocou para o fundo das redes, abrindo o placar. A partir de então, uma partida mais nervosa e dividida, até que o Botafogo, desesperado, veio para cima e empatou o jogo a quinze minutos do fim, num cruzamento de Renato Cajá que quicou, não alcançou Edno, mas foi suficiente para superar o pé de Fernando, ganhando o filó. Equilíbrio no jogo, igualdade no placar. Depois disso, o Botafogo quase virou, em cabeçada do nosso velho Antônio Carlos no travessão. E nós também quase ganhamos, em bola que bateu no poste direito de Jefferson depois do cruzamento de Darío Conca. Um placar justo, mas que nos pareceu amargo, já que a vitória corinthiana nos tomara a liderança. Mas o campeonato é disputado palmo a palmo, centímetro após centímetro; portanto, ainda vão rolar os dados. Só que não entendeu isso foram os papagaios da imprensa, que repetiram mil vezes: “O Fluminense é fogo-de-palha; isso já, já, acaba.”. Enquanto isso, Washington, de forma surpreendente, retornou às Laranjeiras. Havia cheiro de gol.

O Maracanã com ótimo público num sábado à tarde, de quarenta mil presentes. O Fluminense, sedento pela vitória e torcendo pela reconquista da liderança. Do outro lado, o time que entregou um jogo vergonhosamente para nos derrubar em 1996, mais o debochado e folclórico Guerrón. O time que é uma espinha na nossa garganta, ainda a ser devidamente digerida. Ingredientes de uma partida para pegar fogo. E foi o que se viu. O Atlético perder um gol feito com o mesmo Guerrón, logo no começo; era um time veloz que não parecia disposto a se retrancar: pelo contrário, queria mandar no Maracanã. Foram vinte minutos de equilíbrio, até que o velho ditado de Muricy prevaleceu: a bola pune. E o algoz é o craque. Bola na lateral-esquerda, Bruno Costa titubeou e perdeu para Darío Conca. O argentino executou cruzamento mortífero para o meio da área. Quando as coisas estão escritas cinco mil vezes, não há como questionar: em condições normais, dada a precária técnica, Washington dificilmente acertaria o chute. Mas estava escrita, ele pegou de primeira e fez um golaço, estufou a rede e carimbou a vitória do Fluminense. Não me tenham como arrogante ou prepotente, essa não é minha marca. O bom Tricolor tem a estampa da humildade. Apenas falo da verdade: depois do gol, o Fluminense foi senhor absoluto da partida, o que não quer dizer que o Atlético não tenha tentado o empate. Nossos onze estiveram bem em campo, sem dúvida: Cássio fez sua partida mais veloz com a camisa Tricolor e, aliando isso à sua considerável técnica, foi um gigante na defesa; Julio César, outrora indeciso, jogava firme. Nem parecia que estávamos sem Fred em campo. Washington, matador quando foi preciso. E o primeiro tempo acabou com o Atlético tentando reagir, mas fornecendo espaços e, a cada vez que o Fluminense arrancava impiedosamente para o ataque, uma voz do além dizia: “São favas-contadas. O Fluminense vencerá. O Fluminense é melhor”. A descida para o vestiário foi confiante: ainda havia o que mostrar no segundo tempo.

Se alguém ainda tinha dúvidas sobre o que seria o Fluminense em seus domínios, não gastou dez minutos para perdê-las. Outra jogada sensacional e surpreendente de Washington, em ótimo passe; a arrancada estonteante de Emerson; o chute impiedoso, inquestionável, veloz e fortíssimo, no alto: em poucos segundos, nova explosão da massa Tricolor em seu campo maior. Os rubro-negros sentiram o golpe: ali, o Fluminense não perderia nunca mais. E os jovens predominaram, para colocar mais velocidade na partida: Alan, bem como sempre, no lugar de Emerson; Fernando, o Bob, substituindo muito bem a Belletti desde o intervalo.

O terceiro gol do Fluminense foi de Washington, após ótimo passe do argentino. Foi a apoteose das três cores, mas poderia ter sido muito mais: antes do passe final, Conca praticamente driblou toda a defesa paranaense; seguro, preferiu servir ao Coração Valente, que não perdoou e empurrou a bola rasteira no canto esquerdo do goleiro Neto. E quando sofremos o primeiro tento, o jogo estava mais do que liquidado, tanto que não naasceu a partir de então nenhuma pressão atleticana.

O Fluminense dormiu no sábado como líder do campeonato e assim continuou, com o empate do Corinthians contra o Palmeiras. Somos os primeiros. Ainda é muito cedo para qualquer comemoração, mas gostaria de lembrar artigos do passado; quando éramos a galinha-morta do campeonato, noutras temporadas, o que diziam é que em doze jogos, se um time estivesse na zona de rebaixamento, já seria bem complicado de se recuperar nos próximos meses. Passou um terço do campeonato. Estamos em agosto. Quatro meses para se saber quem pisará no pantheon do futebol brasileiro. O título do campeonato, depois de vinte e seis anos – e muitas tentativas que ficaram bem próximas da taça – ainda é um sonho. A diferença de hoje para maio, julho e julho, é que hoje este sonho é real.

Para a alegria da enorme massa Tricolor, hoje somos os primeiros. Uma coisa é certa: brigaremos por essa taça, milímetro a milímetro, gota a gota, respiração a respiração. Este ano, nossa meta é cercar e dominar o topo. Nenhum gigantismo, nenhuma falácia insolente: não temos rádios, jornais e tevês para fazer do nosso time um sonho dos mitômanos. Temos trabalho. Um Tricolor me disse no metrô, depois do jogo: “Agora temos um time e um treinador”. Foi o que houve de mais sóbrio ontem. Estamos no páreo e que ninguém se surpreenda com nosso eventual triunfo. Agora é esperar que nada nos atrapalhe dentro do clube e fora das quatro linhas; dentro delas, tudo corre bem sob a batuta de Muricy.

No mais, resta perguntar a quem possa responder: que fim levou Guerrón?


Paulo-Roberto Andel

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