Friday, August 27, 2010

GOIÁS 0 X 3 FLUMINENSE (25/08/2010)



Mais um algoz à lona (26/08/2010)

Quando um grande time encontra-se em grande fase, todos os percalços normalmente lembrados no mundo do futebol ficam por terra: jogadores que estão no banco conseguem suprir a ausência dos titulares, torcedores pés-frios que povoam as arquibancadas não conseguem exercer nenhuma carga negativa; o adversário pode ser forte e agressivo que, num estalo, tudo dá certo e vem um grande triunfo. Este último exemplo foi o caso de ontem, na grandiosa vitória do Fluminense sobre o Goiás em pleno Serra Dourada, por três a zero. Primeiro porque, tal como no jogo anterior contra São Januário, o esmeraldino das centrais é uma carne-de-pescoço para o Tricolor em qualquer situação; segundo, porque precisava desesperadamente da vitória e jogava em casa, onde costuma apresentar boas performances; terceiro, porque a essa altura da competição, são todos contra a nossa camisa, de modo que cada jogo é um desafio ainda maior em se manter no topo da tabela. Mas tudo deu certo: mesmo numa partida em que o time não foi permanentemente brilhante, os bons momentos foram muito mais numerosos do que os maus agouros. O talento do craque reluziu com vigor. Pouco resta aos famigerados editores de esportes para esconder o óbvio ululante à vista menos apurada que seja: o Fluminense é um dos reais candidatos ao título de campeão brasileiro e, se mantiver a pegada atual, é o grande favorito. Reitero: ninguém resiste ao talento de um craque!

Não me venham com bravatas de que o Fluminense não é mais o mesmo, que perdeu velocidade e que não é tão ameaçador quanto em outras partidas. Hoje escalado com jogadores experientes, o que se vê é um time preparado para dar o bote mortífero quando é o momento certo. Foi o que aconteceu. Ainda assim, buscamos o gol logo de saída, lembrando que, independentemente da fase em que se encontra hoje, o Goiás é sempre um adversário temível em seus domínios, afora o fato de contar com experimentados ex-Tricolores como Wellington Monteiro (carinhosamente apelidado por nossa amiga Marô de “Gordinho 5” nos tempo em que era nosso defensor), o quase folclórico Rafael “He-Man” Moura e o veloz Everton Santos, mais jogadores conhecidos como Jonilson, Júnior e Amaral. Começamos bem, mas, aos poucos, era normal que o time da casa buscasse resultado. O Goiás fez isso sem o sucesso esperado, felizmente. E não pecamos pela passividade: um dos lances mais perigosos ao fim da primeira etapa foi justamente nosso, com a cabeçada à queima-roupa de Diogo e a grande intervenção do veterano goleiro Harley. E o outro, com Gum perdendo o gol, chutando livre em cima de Tolói. Não foi uma primeira etapa de moleza, mas sim um jogo equilibrado, com alternativas e muito corrido debaixo da baixíssima umidade goiana. Foi bom para o Fluminense o empate neste tempo, como poderia ter sido em todo o jogo. Felizmente, excelentes surpresas estavam reservadas para os nossos corações, valentes como o de Washington.

Na volta ao campo, nem o “tranqüilo” Muricy (bem-humorada força de expressão) nem o tenso Leão mexeram em suas equipes, e o que se viu nos primeiros minutos foi uma retomada do que havia sido jogado antes: os times estudando o melhor momento para o grande golpe, os goleiros sem nenhuma intervenção relevante e o tempo correndo. Talvez alguém tivesse pensado que o jogo terminaria num empate sem gols, razoável para o Fluminense e péssimo para o Goiás. Talvez. A realidade desfraldou outros fatos.

Falei noutras linhas desta crônica e não cansarei de repetir: ninguém resiste ao talento de um craque. O craque rompe barreiras, desafia paradigmas, cria soluções geniais onde os olhos da obviedade não alcançam o horizonte. Se um desavisado soubesse do placar no intervalo, ficasse ausente e só o pesquisasse ao final do jogo, o que lhe viria primeiramente à cabeça para imaginar que o zero a zero se tornou um três a zero retumbante? Simples: o craque.

Deco não vinha de um bom ano: rendeu pouco nos últimos momentos com o poderoso Chelsea e pouco jogou na Copa da África do Sul. Se tivesse vindo para outro time, mais querido aos olhos da imprensa, certamente seria recebido como um mito: craque em Portugal, Espanha e Inglaterra; dotado de fundamentos como chute, passe e drible precisos, cairia como uma luva em novas manchetes. Mas a imprensa não gosta do Fluminense líder, menos ainda de que o Tricolor fosse capaz de trazer um reforço internacional, um craque além-mar e além-fronteiras. Diziam que era uma enganação, jogador de passagem. Como seria possível? Só os rancorosos e ressentidos com as glórias das Laranjeiras, isentos de esportividade, acreditariam em tal bobagem. O luso-brasileiro jogou seus vinte minutos contra o Vasco e mostrou seu talento em três ou quatro lances de fazer o Maracanã tremer. Ontem não foi diferente. Na tabela com o também craque – cracaço – Conca, Deco chega la lateral da área. Os desavisados pensariam se tratar de um cruzamento para o Coração Valente. Não foi o caso: era um passe, um passe precioso, digno, belo em sua trajetória de curva que tirou toda a defesa verde do lance. Washington pode não ser do trato com a pelota, mas sabe reconhecer um lindo passe a ponto de convertê-lo em gol. E foi mais um dos lindos gols do Fluminense nessa maravilhosa trajetória recente: chute forte, fuzilando Harley, um a zero. O Goiás acusou o golpe. O tento cheirava a mais uma vitória, a quinta fora de casa. O jogo estaria decidido? Quase.

Não se desafia o craque. Deco ainda queria mais. O toque de primeira para nosso cão de guarda, Mariano. O toque para Emerson, livre, marcar o segundo gol. Com dois a zero, aí sim os goianos reconheceram a derrota. Não é fácil virar um jogo contra o líder do campeonato em tais circunstâncias.

Ainda haveria o golpe final, com a entrada de Marquinho. O meia-lateral, muitas vezes contestado, mas bastante útil em outras, recebeu um primoroso passe do jovem Bob (que prima pela regularidade quando é chamado a jogo). Livre, diante de Harley, tocou rasteiro no canto esquerdo e, nos acréscimos, sacramentou o resultado final. Mais um de nossos algozes tradicionais ao nocaute.

Trinta e seis pontos a três jogos do fim do primeiro turno. Uma coisa é certa: entre muitos soluços e engasgos, o Fluminense cada vez mais mostra a sua força neste ano.


Paulo-Roberto Andel

3 comments:

carioca 07 said...
This comment has been removed by the author.
carioca 07 said...

Muito bom!!!
Gostei da crônica.

ST

Lau Milesi said...

Show de bola, como sempre.
Beijosss

E.T.
Para a próxima: Elio, tricolor, 2 anos, sabia que o Washington treinou com o Ceni.

Pergunta do torcedor precoce: por que, então,"ele" "cobrar/bater mal "[rs]o pênalti?

Neeeense...