Friday, November 19, 2010

FLUMINENSE 1 X 1 GOIÁS (14/11/2010)



Desesperar, jamais! (15/11/2010)

Não foi o que esperávamos. A torcida do Fluminense queria gols e festa; na prática, um empate sofrido, muita luta e o resultado que nos deixou em segundo lugar na tabela do campeonato brasileiro a três jogos do fim da competição. Os nossos deixaram o Engenhão cabisbaixos, sob a fina chuva que cerrava as portas do domingo. Não brilhamos como era preciso; na prática, jogamos apenas no segundo tempo – o primeiro foi de dar dó. Não era hora da máquina falhar. E, para culminar, o favoritíssimo Corinthians conseguiu três pontos na véspera, graças a um pênalti duvidosíssimo marcado em cima do veterano Ronaldo – isso, sem contar os justos protestos do Cruzeiro contra a desastrada (e talvez planejada) arbitragem do Sr. Ricci, que não trabalhou em jogos corinthianos deste campeonato que não terminassem com vitórias alvinegras.

Foi de amargar? Sim.

E daí?

Ano passado, a três rodadas do fim do campeonato, éramos os rebaixados. Tentávamos reverter uma situação tida como impossível (erradamente) pelos paramatemáticos, jornalistas hexacampeões e similiares. Contra tudo e contra todos, empreendemos um salvamento fantástico que virou paradigma no futebol brasileiro e calou toda uma nação, enquanto a outra, linda e colorida, urrava, chorava e ria debaixo do pó-de-arroz.

Em suma, meus queridos amigos, reverter essa vantagem de um ponto que o Parque São Jorge nos impôs é bem menos impossível, sem aspas, do que a impossibilidade de 2009, devidamente sepultada e hoje lembrada como a grande vitória que foi e é. Nelson Rodrigues nos ensinou: para saber o futuro do Fluminense, é preciso desvelar o seu passado. E ele é cheio de pérolas e jóias conquistadas na última lufada, no último pique, na expiração derradeira. Tem sido assim há mais de um século. Não há o que temer. Deixemos o favoritismo absoluto com o Corinthians e sejamos apenas os favoritinhos. Quem sabe um timinho como aquele que a imprensa tanto caçoava e veio a ser campeão do mundo em 1952?

Não jogamos bem no primeiro tempo, definitivamente. Sentimos o gol de cabeça do ex-Tricolor Rafael Moura. Muitos defendem que Diguinho deveria ter começado jogando e não entrar no intervalo; é meu caso. Porém, discordo dos que sacariam Valencia; para mim, foi dos melhores ohomens contra o Vasco, tem espírito de decisão e foi bem no jogo. Sacar Bob talvez fosse a melhor alternativa. Mais à frente, Deco voltou visivelmente sem forma física ideal. É um craque, mas errou quase tudo o que tentou, inclusive passes de um metro. Sua única jogada certa foi a melhor de toda a primeira etapa, excluindo-se o gol alviverde: driblou três e chutou perto do canto direito de Harlei. Temos que reconhecer: em sua proposta de fugir desesperadamente do descenso, o Goiás nos anulou: Conca, marcadíssimo; Fred, ainda longe do ideal. No mais, temos sorte em Berna ser berna e não Fernando Henrique. Tartá, apagado. Carlinhos, péssimo. No conjunto, foi muito pouco. Melhor esquecer o time do primeiro tempo e se concentrar no do segundo.

O segundo tempo foi de um Fluminense patrulhando incessantemente a área do Goiás que jogava praticamente com nove homens atrás da linha da bola. Era muito difícil ter sucesso assim. Mas não deixamos de martelar; aos poucos, Fred mostrou arranhões de seu futebol, Carlinhos deixou de ser um dos piores em campo, Deco e Tartá saíram, Diguinho e Washington entraram. Com Diguinho, a raça de sempre e a melhora na ligação defesa-ataque. Já Washington...

Num certo momento, sabedor que o tarde não era de técnica ou talento, o Fluminense partiu para a raça e imprensou o Goiás. Houve chances de gol, mas poucas em relação ao nosso volume de jogo. A linda torcida Tricolor por vezes parecia silenciosa, triste: era para ser uma festa e alguns temiam perder o título naquela tarde, como se isso fosse possível. Na raça, tome cruzamentos que passaram por um triz das testas, chutes que foram imprensados ou desviados para escanteio; até mesmo o goleiro Harlei, famoso pela sua irregularidade, resolveu pegar tudo. Parecia maldição. Os minutos passavam, nossas chances escasseavam, o peito parecia apertado. Então, me lembrei daquele grande momento que foi a final da Copa do Brasil de 2007: a quinze minutos do fim, tomamos um golaço e tudo parecia perdido, até que nos últimos suspiros a raça de Magrão empatou o jogo e renovou as esperanças de torcedores como eu – a maioria deixou o Maracanã daquela noite tão cabisbaixa quanto a massa de ontem pós-Engenhão. Naquela vez, só a vitória na batalha final nos servia. Ela veio em Florianópolis e o Fluminense foi o grande campeão. Por que não agora? Por que não empataríamos?

Rodriguinho, última esperança no ataque, entrou em campo, foi chutado por trás, o pênalti justo foi marcado e Darío Conca não perdoou. Não que tenha batido bem, mas com a força que aplicou, a defesa de Harlei era impossível, mesmo tendo ficado muito perto da bola. Os gristos nas arquibancadas não foram de felicidade, mas de alívio. Ao menos um ponto para colar nos corinthianos. Muitas vezes, eu disse que se o Fluminense chegasse a esta rodada como líder, não perderia mais o título. Não aconteceu, mas quem disse que perdemos? Nós somos o time do último minuto – ainda faltam duzentos e setenta.

A discreta saída da nossa calada torcida ontem foi exatamente a de 2007. De tempero diferente, em vez da lua forte havia o céu em gris, o mesmo gris que fundou nossa primeira camisa. Onde muitos vêem azar e desesperança, eu vejo bons presságios. Não creio na derrota; este empate veio dos céus, estava tudo perdido. O Fluminense não vai morrer nem acabar. O Fluminense está vivo, é favorito e vai brigar com tudo em terras paulistas por este título. Já o favoritíssimo Corinthians terá uma carne-de-pescoço pela frente: o Vitória, no Barradão lotado, desesperado na luta contra o descenso. É jogo para empate. Se conseguirmos a proeza de vencer o São Paulo e o Vitória fizer a parte dele, voltamos ao topo. E faltarão dois jogos.

Era muito difícil escapar ano passado. Escapamos. É um pouco difícil virarmos o jogo de agora? Um dos nossos grandes torcedores, Ivan Lins, escreveu com o poeta Vitor Martins uma das nossas grandes canções brasileiras, chamada “Desesperar, jamais”.

Ivan, além de craque da música, pode também ser um profeta. Se puderem, ouçam a canção.


Paulo-Roberto Andel

1 comment:

Anonymous said...

Falta pouco, a ansiedade aumenta...

Seremos campeões!