Wednesday, November 24, 2010

SÃO PAULO 1 X 4 FLUMINENSE (21/11/2010)



A dois passos da vitória (22/11/2010)

Nem profecia, nem bruxaria, nem forças ocultas. Tudo muito claro e plausível, exceto para alguns doutores. Ontem, o Fluminense venceu o São Paulo por quatro a um e deu um passo gigantesco para o título brasileiro deste ano, beneficiado que também foi pelo previsível empate corinthiano em um gol contra o Vitória da Bahia, no Barradão. No encalço dos dois times, o perigoso Cruzeiro, que despachou o desmotivado Vasco por três a um. No fim das contas, hoje só um time depende de si mesmo para ser campeão brasileiro. O nome dele é Fluminense. Tem apenas um ponto à frente de seu adversário mais perto, pode-se dizer. Mas a questão principal é que para nós, um ponto é uma eternidade. Quantos não foram os títulos que ganhamos por conta de um ponto? Muitos, inclusive um outro centenário!

Eu e meus amigos fizemos uma viagem divertida até a simpática e colorida Arena Barueri, local da magnífica vitória sobre o tricampeão mundial. É claro que estávamos preocupados com o jogo, pois um erro seria fatal – e em vários momentos durante a partida, principalmente entre seu começo até o meio do segundo tempo, parecia que poderia acontecer algum desastre, tamanha a quantidade de gols que perdemos. Entre erros e acertos, Rogério Ceni – o paradigma atual do goleiro brasileiro – foi um gigante em campo, com várias grandes defesas. E Ricardo Berna não fez por menos: salvou um gol certo dos paulistas em grande defesa no canto esquerdo baixo. Gum abriu o marcador em bela cabeçada na primeira etapa; antes do tento, Washington teria desencantado se não estivesse impedido como sempre. E foi Gum que, no segundo tempo, fez um gol contra após letra de Lucas Gaúcho. E antes do empate são-paulino, que gerou até contrariedade em grande parte de sua torcida, o personagem tinha sido novamente Washington, ao perder mais um daqueles gols inacreditáveis e que, àquela altura, selaria a vitória do Tricolor. Aqui encerra um jogo: o que durou do apito inicial até o empate adversário. E qual foi outro? O que começou da saída de meio de campo até o apito final, quando um Fluminense guerreiro, vigoroso e demolidor adentrou o gramado, conquistou uma de suas maiores vitórias e mostrou que a sua centenária camisa jamais poderia ser menosprezada num momento de decisão. São centro e oito anos disputando e ganhando títulos, todos com a mesma marca: a dificuldade, o sacrifício, a dedicação. Todo Tricolor nasce órfão do favoritismo; para vencer, precisa jogar e lutar dobrado.

O Fluminense começou seu jogo, perdeu gols, marcou e manteve boa parte do tempo o placar mínimo. Quem disse que o São Paulo iria entregar a partida para prejudicar o Corinthians deve rever a atuação de Carlinhos Paraíba, que não deu um segundo de sossego ao Fluminense. E como explicar o golaço de Lucas Gaúcho, ajudado involuntariamente por Gum? E as defesas espetaculares de Ceni, mesmo tendo falhado no terceiro gol marcado por Fred? E a disposição do ex-zagueiro Tricolor Xandão em derrubar Fred para impedi-lo de marcar o segundo gol, sendo justamente expulso? Os entreguistas do futebol não podem depositar perícia e técnica nos pés de Conca, sem que ele tivesse nascido com tais atributos para o futebol: basta rever o belo segundo gol do Fluminense, o chute que gerou o terceiro gol e o golaço que fechou o placar. É um craque inconstestável.

Repito: foram dois jogos na mesma partida. Desde o empate do São Paulo, a tensão tomou conta da nossa arquibancada e, felizmente, o Fluminense mostrou a seguir porque é a águia do Atlântico Sul e não o cavalo paraguaio dos trôpegos analistas. Muricy foi à loucura com o gol perdido de Washington e imediatamente o sacou para a entrada de Rodriguinho. Mais tarde, foi Tartá quem veio a campo. Desse jeito, o Fluminense ficou mais rápido, leve, ofensivo e, não por sua culpa, facilitado pelas expulsões são-paulinas – Xandão e Richarlysson. Então, quando Conca virou o corpo e acertou o canto esquerdo de Ceni, sabíamos que se tudo desse certo no Barradão, a liderança voltaria às nossas mãos.

Ainda não falei de Deco. Fez sua melhor partida com nossa camisa – e que partida! Não errou um passe, driblou como quis; jogando mais recuado, não embolou com Conca e pôde mostrar seu requintado repertório de jogadas. E Fred? Ainda está fora de forma, mas é craque: logo, quando a bola lhe sorriu, não teve piedade e deixou a sua marca, no momento certo. Poderia ter feito um golaço de voleio em linda jogada no segundo tempo.

Não se ganha um tricampeão do mundo à toa por quatro a um, num momento decisivo e com absoluta autoridade. Certa vez, li que um grande são-paulino escreveu sobre aquela nossa vitória inesquecível na Libertadores, que serviu de réquiem para meu pai, dizendo que ninguém fazia três gols no São Paulo impunemente e que, quando fazia, merecia passar. Um texto de rara grandeza. Para golear um gigante como o São Paulo, é preciso estar à espreita da grande vitória, do título. É preciso ser poderoso na técnica e da força. É preciso estar preparado para conquistar. A dois jogos do fim do campeonato, o Fluminense é assim: um candidato preparado para o título. Nenhuma empáfia, meus amigos, longe disso; tão somente é a constatação de uma longa, centenária história cheia de capítulos como esse. Ninguém aqui dirá que o Fluminense será o grande campeão: não somos os mais-queridos da imprensa. Ficaremos como favoritinhos, lutaremos com todas as nossas forças e, se possível, gritaremos toda a nossa fé.

Esse foi um jogo de dez milhões de torcedores pelo Brasil afora. A alegria que nos toma é incomensurável. Esta partida pode ser resumida por diversos ângulos: a raça e o talento dos nossos craques em campo; o entusiasmo da nossa torcida; o clima que ronda as Laranjeiras. Eu, particularmente, elegeria dois: primeiro, a beleza continental e avassaladora envolta no semblante tranqüilo da atriz Letícia Spiller que, despreocupadamente, ocupava as arquibancadas da Arena Barueri em admirável gravidez. Segundo, a simpatia e a simplicidade do nosso atleta Marquinho que, de braço engessado, estava também tranqüilamente encostado numa parede perto das bilheterias, como se nada estivesse acontecendo na saída do jogo – como se ele não fosse um dos principais colaboradores de tudo o que está acontecendo, desde o golaço no Couto Pereira que selou a maior virada em campo da história do futebol brasileiro, ocorrida ano passado. Há um ano, meus amigos, saímos do inferno com vibração, dignidade e dedicação. Hoje, com calma e elegância, buscamos o topo do futebol brasileiro, ao qual sempre pertencemos, mas os invejosos insistem em tentar nos alijar. O Fluminense é isso: um pouco da beleza de Letícia, um pouco da entrega de Marquinho; um pouco do talento de Berna, Conca, Deco e Fred. Um pouco de três cores que traduzem tradição, fidalguia e vitória. Um pouco da história do grande futebol brasileiro.

Não se comemora título algum a três rodadas do fim de um campeonato, ainda mais quando o Fluminense está a um ponto de distância atrás. É um filme que já vi, é um filme que quero muito rever. Oxalá o carnaval aconteça!

Paulo-Roberto Andel

2 comments:

Fabio Carneiro T. Trino said...

é o FLU contra o mal !!!

PARABENS !!!

Que venha o título contra a escória da roubalheira CBFeana.

Carlos said...

Só falta um! Calemos a boca de certos comentaristas esportivos que davam certo o campeonato ao Corinthians, não há tres, mas há cinco rodadas atrás. viva o FLU!