Friday, October 09, 2009

FLUMINENSE 1 X 1 CORINTHIANS (07/10/2009)



Extrema-unção (08/10/2009)


Talvez seja a hora de reconhecer a derrota aviltante neste ano. Na verdade, uma derrota que começou muito antes, lá atrás, no ano passado, quando a América escapou por entre nossos dedos. Um ano e quatro meses. Desde então, em instâncias diferentes, restou-nos agonia. E, ontem, por força do empate contra o Corinthians, a única coisa que pode salvar a salvação do Fluminense, traduzida na manutenção do time na primeira divisão do futebol brasileiro, é a nossa história. Sim, nela, escrevemos inúmeros capítulos a sangue-frio de histórias fantásticas, histórias com desfecho inesperado a nosso favor a segundos ou minutos do fim de uma grande decisão ou um grande título. Não foram poucas as vezes que grandes torcidas adversárias comemoravam nossa derrota e revertemos o quadro de maneira estupenda. Agora, porém, não se trata de um título, mas sim o tentar escapar de uma grande derrota, que já nos afligiu no passado, ainda que por formatos estranhos.

Com o mau resultado no Fla-Flu de domingo, o Fluminense não poderia mesmo contar com parte de sua enorme torcida, que já abandonou o time. Então, houve quase dez mil pessoas no Maracanã – boa parte delas, da torcida corinthiana. Do nosso lado, a velha equipe que não falha, sol e chuva, alegria ou luto. Horas antes, desapareceu a chance de voltarmos a ver Fred no ataque Tricolor, o que seria garantia de reação – o craque ainda sentiu a indisposição causada ainda pela terrível contusão que teve, e não conseguiu estar pronto para a peleja.

Parecia que, dessa vez, as coisas funcionariam. Mal começou o jogo e marcamos um gol, em jogada de raça e perspicácia do menino Alan, já recuperado do acidente de domingo, quando teve um violento choque de cabeça e saiu do estádio direto para exames hospitalares. Um a zero e um Fluminense inflamado foram o panorama dos primeiros vinte minutos da partida: um time solto, pressionando, com vocação para o ataque e muito, muito próximo de aumentar a vantagem no marcador, principalmente na linda cobrança de falta de Darío Conca, acertando o poste esquerdo do goleiro alvinegro Felipe.

Ledo engano.

Na primeira jogada clara de ataque do Corinthians, pela direita, Mariano e Gum praticamente bateram cabeça e o atacante Dentinho tocou de cabeça indefensavelmente para Rafael. E aconteceu o mesmo desastre de jornadas anteriores: o time do Fluminense teve um apagão que simplesmente durou até o fim da partida. Nem foi o caso de dizer que foi uma atuação péssima, nem o caso de falta de raça. O problema é se deparar com toda a situação de hoje, com a proximidade do fim, com um panorama onde nada dá certo, de modo que, se resolvesse terminar a crônica por aqui, eu pouco ou nada teria a acrescentar ao jogo, exceto pelo fim da partida, quando Roni perdeu mais um de seus gols chutando para muito acima do travessão uma boa chance de gol. Não quero aqui acusar o veterano atacante, pois não tem culpa de ter voltado a envergar nossa camisa. Trata-se de um bom sujeito, trabalhador, como outros de nossa casa. O que não podemos é nos iludir: trata-se de um jogador bastante limitado; logo, quando surge um momento crucial, não é com ele que podemos contar com absoluta certeza. E não é de hoje. Roni finaliza mal desde sua aparição, há dez anos, mas também não é o culpado exclusivo, claro. A crise do Fluminense hoje é grande demais para se limitar a uma só pessoa.

Volto ao gol de empate. Ele não teve a fúria do primeiro gol de Adriano, domingo passado, mas parecia uma punhalada do mesmo jeito. Nossa turma se deixou esmaecer pelo silêncio sepulcral, exceto os jovens das organizadas – eles não desistem nunca. E o mal-estar tomou conta do Mário Filho como há muito não se via em nossos assentos. A impressão que me dá que quando levamos um gol, o mundo explode numa hecatombe. A parte psicológica está muito afetada por conta da ultima colocação, de modo que um simples tapa se torna um nocaute. E então, mais sessenta minutos de futebol onde deixamos de ser um time aguerrido em busca do gol para, lentamente, nos apequenarmos. A lentidão e o torpor nos tomam de assalto a ponto de qualquer troca de três passes oferecer sério risco contra nós. Por outro lado, falar da péssima fase de muitos jogadores chegaria a ser redundante: alguns não acertam um passe há meses. E o resultado aí está. Os ótimos resultados contra o Avaí, na emocionante virada, mais a boa goleada sobre o peruano Alianza não foram suficientes para nos fazer deslanchar uma boa fase e, mesmo que com muita dificuldade, tentar escapar do descenso. Como explicar?

Por mais que tudo pareça perdido, não se pode desistir. Por mais que estejamos nos últimos grãos de areia da ampulheta, não se pode desistir. A nove pontos de disputar a saída da zona de rebaixamento, faltando dez jogos, em tese a salvação do Fluminense é praticamente impossível. E, se eu não conhecesse o Fluminense e sua história, não apostaria nele nem meia-pataca. Evidentemente que se tratava de outro tempo, mas recordo que, em 1991, tínhamos talvez uns três por cento de chances de chegar às semifinais do campeonato brasileiro: para a façanha, seria preciso vencer os cinco últimos jogos da competição em sua fase classificatória. E conseguimos. Não valeu de muito, pois todos se lembram da derrota para o Bragantino, nas semifinais, com o gol de Franklin, nossa cria, a minutos do fim do jogo – éramos setenta e cinco mil pessoas no Mário Filho. Mas a façanha de se classificar jamais será esquecida pelos mais atentos. E lembrar disso é uma espécie de anestésico para a situação atual.

Está praticamente perdido. É quase impossível. Mas não é totalmente. Trata-se do Fluminense e, com tudo o que aí está em cento e sete anos, o que eu diria para os mais jovens no futuro se o time vencesse oito jogos e não caísse de divisão? Simples: seria apenas mais um fato fantástico da nossa grande história, onde ninguém acreditava em nós, nem nossa outrora apaixonada massa de torcedores, mas superamos muito. Para alguns, ou muitos, logicamente é um devaneio e beira à loucura; compreendo. É quase impossível de acontecer no panorama de hoje, mas, se acontecer, eu não terei duvidado. É um momento de extrema-unção; contudo, sem saber de onde, eu ainda tenho alguma esperança e busco algum sentido.


Paulo-Roberto Andel, 08/10/2009

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