Tuesday, October 27, 2009

PARA JUCA KFOURI (27/10/2009)

Caro Juca,

Com prós e contras, entendemos que você seja uma das autoridades jornalísticas esportivas deste país. Até mais, se levarmos em conta a carreira televisiva ou a revista Playboy. Entendemos eu e os milhões de torcedores do Fluminense que existem.

Vale a pena lembrar de tua brilhante atuação nas denúncias contra os escândalos da Loteca. Um momento brilhante, dentre muitos outros. Vale a pena lembrar de teu combate aos desmandos da CBF e o estranho jogo que se desenrola nesta entidade. Brilhante. Vale a pena lembrar de muitos outros momentos oferecidos por você como profissional. Muitos.

Porém, tem um momento em que você, definitivamente, tem escorregado no quiabo – e, infelizmente, não cabe aqui outra expressão menos vulgar. Não é de hoje, não é a quinta, a décima, a qüinquagésima ou centésima vez. Trata-se de quando se refere ao Fluminense. E não vale aqui usar o encardido argumento que diz tratar-se somente de gozação, porque NÃO é. Milhares de pessoas no Brasil te lêem, te ouvem e isso forma opinião.

Que jornalistazinhos vendidos por dez mi-réis a grupos econômicos façam isso, entende-se, embora não se justifique. Mas você? Por favor, coerência e respeito. O Fluminense inventou o futebol brasileiro e, por consequência, o Corinthians. O Fluminense forjou a história da seleção brasileira pentacampeã mundial. Não falamos de Bambala ou Arimatéia. Sem o Fluminense, simplesmente o futebol brasileiro não existiria.

Comprar essa falácia tosca de que o Fluminense já está rebaixado, em tom de desdém e deboche, mesmo com todas as nuances da tabela do atual campeonato em voga? Maior ironia ainda quando vindo de um corinthiano, que já conhece bem o que é a segunda divisão e, mais ainda, a manobra da “virada de mesa”e dos “acertos” (vide a vergonha de 1996, com os resultados combinados pelos Senhores Dualibi e Petraglia, como também a incrível Taça de Prata de 1982 – competição que permitia a um time da segunda divisão jogar as semifinais da primeira, em fato mundialmente inédito... afora 2005, claro). Até aqui, apenas momentos que não condizem com o que se espera da trajetória do Juca. O Fluminense faz uma péssima campanha, está serissimamente ameaçado pelo descenso, tem uma diretoria esdrúxula – e nós, Tricolores de truz, como diria nosso brilhante companheiro Marcos Caetano, sabemos disso. Agora, quem conhece o futebol brasileiro deveria esperar para as previsões, em se tratando de Fluminense: nossa história, para grandes títulos e também em fugas de descensos, é rica quando se trata da virada quando ninguém mais espera – não a virada de mesa, tão associada covardemente ao Fluminense, mas também tão usada por grande parte dos chamados maiores times do Brasil, em condições particulares. Esqueceram de 2003, 2006 e 2008? Nós já estávamos “rebaixados” de acordo com a imprensa, e deu no que deu.

Agora, o que é inaceitável, bizarro e parece vindo de um amador das arquibancadas, não um profissional da imprensa do futebol, com renome e garbo, é sugerir que a torcida do Fluminense vai ser menor do que a do Atlético Mineiro no jogo da próxima quinta-feira. Basta dizer que na rodada do dia 18 de outubro, colocamos 30.000 pessoas contra o Internacional, maior público da série A do campeonato brasileiro naquele dia. E isso porque o Fluminense é o último colocado. Cheguei até a duvidar que logo você tivesse assinado uma tolice dessas.

Caro Juca, você chegou a dizer que a torcida do Fluminense fez a festa mais bonita que você presenciou em sua vida nos gramados, na final da Copa Libertadores de 2008. Não se deixe trair por falácias ou bairrismos rasos, ultrapassados. Como leitores, gostaríamos que você respeitasse o Fluminense, a história do Fluminense, a grandeza do Fluminense. Graças ao Fluminense, você pôde ter uma brilhante carreira no jornalismo esportivo brasileiro: sem ele, não haveria a popularidade do futebol, e você dependeria do basquete, há muito depauperado em nossa terra. Sinceramente, ironizar o tamanho da torcida do Fluminense nos estádios é dar um tiro no próprio pé, suicidando teu crédito jornalístico.

Se tiver de cair, o Fluminense cairá de pé e voltará como o gigante que sempre foi, é e será, queira ou não a “imprensa especializada”. Mas isso ainda depende da tabela de classificação, não das Mães Dinahs do futebol, sempre ávidas por “acertar previsões” que nunca se concretizam. Não é uma ciência exata e muitas águas ainda podem rolar; até mesmo matemáticos de plantão mostram-se cautelosos, porque sabem que esse jogo pode virar, por mais difícil que seja.

Leio você desde 1980. Na sua fortuna pessoal, lá está o meu dinheirinho como mísero contribuinte do montante. Não mereço deboche nem descaso. Nem eu, nem os milhões de Tricolores em todo o Brasil e o mundo.

O Fluminense não estar na primeira divisão, assim como o Vasco não esteve – lamentavelmente – este ano, bem como outros grandes times brasileiros em outras circunstâncias, é uma derrota para o maior de nossos esportes.

Fazer pouco caso do Fluminense rebaixa você para a segunda divisão do jornalismo esportivo brasileiro, coisa que nunca poderíamos esperar ou querer.

Por favor, não caia. Não seja rebaixado; ou melhor, não se rebaixe.

Olhe para o passado e não o negue.

Reflita.

Obrigado pela atenção.

“Se quiseres antever o futuro do Fluminense, olhai para o seu passado”
(Nelson Rodrigues)


Paulo-Roberto Andel

2 comments:

PC Filho said...

Clap! Clap! Clap!

Sensacional.

Eduardo Vieira said...

Muito adequado o texto. Como vascaíno, torço para que o Fluminense permaneça onde merece sempre estar, por mérito e direito, a abrilhantar a primeira divisão. A fantástica torcida não merece o que se passa atualmente, mas é ela que dará forças para o que quer que venha a acontecer.
Forte abraco!