Friday, October 23, 2009

FLUMINENSE 2 X 2 UNIVERSIDAD DE CHILE


De mãos beijadas (23/10/2009)

Meus amigos, definitivamente a sorte não está do lado do Fluminense. Claro que soaria como verdadeira patetice creditar a nossa atual situação aos desígnios da sorte; mais ainda, seria ridículo. Entretanto, por mais competência que tivéssemos hoje, seria muito difícil estar em outro patamar que não este sem a fundamental sorte. E o empate de ontem com o Universidad do Chile em dois a dois nos colocou em situação dramática para tentar chegar às semifinais da Copa Sulamericana.

Por mais que os meios de imprensa nos boicotem, por mais que nossa situação matemática na tabela seja de derrota fragorosa, os que veem futebol com sobriedade podem atestar que, aos poucos, o Fluminense de Cuca apresenta progressos – basta citar os últimos cinco ou seis jogos da equipe. Domingo, jogávamos uma boa partida após o empate em um gol contra o Inter; então, eles marcaram o segundo tento e nos descontrolamos completamente, quando poderíamos ter ido bem mais longe apenas com um pouco de calma. Curiosamente, nosso gol de empate contra os gaúchos veio de uma jogada bastante serena e produtiva de Gum, driblando como um atacante portentoso e fuzilando o gol dos colorados – o mesmo Gum que falhara nos dois gols que havíamos sofrido. Ontem, ainda foi pior: no começo do segundo tempo, Fred sacudiu as redes dos chilenos e fizemos dois a zero. O jogo era nosso. E, num verdadeiro caos, em menos de dez minutos tomamos dois gols que beiram à infância, os chilenos empataram e a desgraça se consolidou. Chegou-se ao cúmulo de se “trabalhar” o nome do Sr. Joel Santana, figura non grata em Álvaro Chaves, para substituir Cuca. Sinceramente, na falta de opções, é menos pior ser rebaixado com Cuca no comando. Aliás, houvesse entre os dirigentes do Fluminense um mínimo de dignidade e respeito ao clube, o nome daquele senhor nunca mais seria cogitado para integrar nosso corpo de profissionais. Para os que desconhecem os fatos ou se esqueceram, recordo apenas dois: o primeiro, relativo aos nebulosos dias de quinta e domingo entras as partidas da nossa semifinal do campeonato brasileiro de 1995, contra o Santos, onde valeu TUDO em termos de ausência ética por parte do então futuro treinador da Gávea em 1996; o segundo, quando o Sr. Santana, em partida decisiva no campeonato brasileiro de 1996, resolveu escalar o time de reservas da Gávea contra o Bahia, onde perdeu por dois a um e contribuiu decisivamente – e, mais uma vez, de forma desprovida de ética – para o descenso do Fluminense naquele ano. Perguntado a respeito do excêntrico ato, limitou-se a dizer “Não tenho nada com isso; é problema deles”.

Fizemos um ótimo primeiro tempo, ainda mais se levarmos em conta que perdemos uma de nossas forças, que é o garoto Alan, nos primeiros minutos da partida. Adeílson, com seus arranques duvidosos e a já conhecida dificuldade no trato com a pelota, veio a campo. Não produziu, mas também não comprometeu. Fred mostrou a habitual categoria de sempre, e nos colocou em vantagem logo aos quinze minutos, em jogada em que a bola pouco passou da linhas, mas tranqüilamente confirmada pela arbitragem; além disso, obrigava os chilenos a cercarem-no com dois ou três jogadores, abrindo espaço para os avanços de Conca. E, para surpresa de eventuais Tricolores desatentos, o melhor jogador em campo no primeiro tempo foi Diguinho, que fez até então sua melhor partida pelo Fluminense: desarmava sem faltas, coordenava ataques e chegava até para chutar a gol. Outro jogador com boa trajetória e muita velocidade foi Mariano que, apesar das deficiências já conhecidas, superava tudo com muita raça e criava várias jogadas pela direita. Quem realmente não acertava, apesar da velocidade, era Maicon: parecia bastante abatido após a perda do título mundial de juniores, semana passada. A defesa estava tranqüila (com exceção do sempre fraco João Paulo), o meio-campo parecia seguro e tudo indicava que prevaleceríamos sobre um tímido Universidad, que em nada nos ameaçava e até parecia tranqüilo com a derrota mínima. De toda forma, o primeiro tempo terminou com o placar mínimo a nosso favor e, mais uma vez, ele poderia ter sido mais elástico se não tivéssemos gasto tanto tempo mais recuados após a vantagem inicial. Ainda assim, foi o suficiente para o time descer ao vestiário saudado e aplaudido. Podia ainda melhorar, contudo.

Mal deu tempo de pensar. Veio o segundo tempo e o grande matador não vacila duas vezes: Fred errou numa conclusão, mas a bola ficou de frente para ele e o goleiro chileno foi bombardeado. Dois a zero. Festa dos nossos oito mil companheiros. Em uma situação normal, seria o suficiente para liquidar o jogo; jogar com inteligência, marcar bem, atrair o Universidad para nosso campo e criar contra-ataques que pudessem até mesmo gerar uma goleada a nosso favor. Mas não foi assim.

Um branco abateu sobre a equipe e, três minutos depois, aconteceu o que congela o Fluminense: um gol adversário, mesmo que estejamos em vantagem. Montillo, tão livre que para os distraídos parecia até impedido, entrou na área pela esquerda do ataque e fuzilou Rafael sem piedade. O silêncio no Maracanã era mau agouro notório. Porém, com a atuação que tivemos até ali, seria possível buscar o terceiro com naturalidade. Seria, pois somos órfãos da sorte. Minutos depois, uma inacreditável jogada bisonha do nosso melhor homem em campo, Diguinho, perdendo uma bola infantil dentro da área para Vyllalobos, que tinha acabado de substituir o algoz Montillo. O lance sobrou para Olivera, com o gol escancarado, e aconteceu o empate. A partir de então, o Fluminense de tornou um time em frangalhos; entregou de mão beijada uma vitória até fácil. Dominou amplamente o primeiro tempo e merecia uma vantagem até maior do que dois gols. De repente, tudo ruiu por terra. Difícil entender como uma partida tão boa se torna um punhado de cinzas; somente a instabilidade emocional da equipe, em função da pavorosa situação no campeonato brasileiro, pode justificar isso. E, quando mais precisamos, a sorte nos abandona: lances que, para outros times, seriam gols certos, para nós têm morrido nas pontas das luvas dos goleiros, no ferro das traves, no roçar de um cocoruto.

Ainda houve tempo para um chutaço de Marquinho, que tinha entrado no lugar de João Paulo, batendo no travessão. Ainda houve tempo para um outro chutaço, lindo, de Fred, num voleio que o goleiro Miguel Pinto sequer viu – a bola bateu nele e foi para escanteio. Conca já estava muito cansado, assim como Fred. E o retrato real veio quando demos a última cartada, com a entrada de Roni em lugar do nulo Adeílson; em certo momento, num cruzamento, Roni tentou matar a bola no peito quase fora da área, mas o efeito “pombo” fez com que a pelota simplesmente chegasse às mãos de Miguel. Alguns achavam, quase romanticamente, que o veterano centroavante pouco afeito às boas finalizações tinha tentado fazer um gol de peito. Meus amigos Raul Sussekind, Leonardo Prazeres e Álvaro Doria, de frente para o lance nas cadeiras azuis, vaticinaram sem perdão: a tentativa, torpe, na realidade foi a de matar a bola no peito. Era o golpe final. E o empate teve um sabor amargo de derrota. Contudo, nunca é demais lembrar: numa jornada de melhor sorte e equivalente aplicação em campo, não será nenhuma surpresa derrotar o Universidad em casa. É muito difícil, mas há dois anos, revertemos quatro vantagens de mandos de campo consecutivas e vencemos a Copa do Brasil, na única vez em que um time conseguiu isso nesta competição. E vale o exemplo.

Que a reticente boa sorte nos sorria domingo, no Serra Dourada. Precisamos muito.

Somente ela pode nos redimir.


Paulo-Roberto Andel, 23/10/2009

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