Friday, October 30, 2009

FLUMINENSE 2 X 1 ATLÉTICO-MG (29/10/2009)

Ainda estamos vivos (30/10/2009)

O Maracanã é um palco que jamais se repete, por mais que eventuais cenas possam ser razoavelmente parecidas. Cada jogo é um jogo, uma história, um momento ímpar. E, ontem, mais uma vez, na vitória avassaladora do nosso querido Tricolor sobre o Atlético Mineiro, pude presenciar isso, testemunhando uma linda cena que jamais se apagará de minha memória. Ao término da partida, com o triunfo em nossas mãos, contrariando todos os idiotas da objetividade, o Maracanã era tomado por uma chuva galáctica. Nossa torcida, abrigada nas cadeiras azuis do estádio, começou a correr para o molhado, procurando se aproximar cada vez mais do nosso time que, humildemente, veio à beira do anel que nos separa do campo, para nos agradecer o apoio. Muitos companheiros nossos choravam, riam, gritavam. Álvaro Doria, como sempre, bradava e arrancava gargalhadas. Tiba mostrava a serenidade de sempre. E tenho certeza de que o nosso Presidente Sussekind, no camarote do alto das arquibancadas, sorria ali. O Fluminense ainda está vivo, o Fluminense não vai morrer. Ricos e pobres, jovens e velhos, em meio ao temporal todos ali saudavam a monumental vitória sobre o time mineiro, postulante ao título de campeão brasileiro deste ano; uma vitória que pode ser capaz de nos alavancar para uma grande seqüência de vitórias que nos permita escapar do descenso. Tudo ainda continua muito difícil, dirão os sóbrios, os céticos e, principalmente os idiotas da objetividade que, em tom professoral, já preveram a queda do Fluminense. O jornalista Kfouri, solidário aos idiotas, vociferou contra nós, dizendo que o Atlético teria mais torcedores no Maracanã do que o Fluminense; raras vezes um comentarista de futebol conseguiu ser tão abençoado pela mediocridade. Éramos dez mil, na chuva e na última colocação do certame. E vencemos. É uma situação ainda dramática, esta que vivemos, mas a maneira como vencemos ontem nos dá esperanças muito sérias de revertermos este quadro. Cada jogo será uma decisão. E o Fluminense é um dos times mais acostumados no mundo ao momento decisivo.

Foi um jogo duro e sofrido, bem de acordo com a nossa sina. O Tricolor nasceu para a obstinação, a luta, o sacrifício. Em nossa centenária sala de troféus, não há taças conquistadas de mão-beijada; tudo veio com esforço heróico, com o estoicismo que nasceu antes dos anos 10 e, mais tarde, foi consagrado por Carlos José Castilho. Precisávamos da vitória a todo custo e começamos no ataque, mas sem muitas conclusões. E era perigoso dar espaço ao time do Atlético; tomar o gol primeiro seria fatal para as nossas pretensões. Fred era muitíssimo marcado assim como Darío Conca. Pela direita, talvez nervoso por enfrentar o ex-clube, Mariano errava jogadas, mas compensava com uma garra extraordinária – tem sido dos jogadores mais aplicados em campo, desde que reconquistou a titularidade. Equi Gonzalez, mostrando muita categoria, liderava a meia-cancha com passes perfeitos. Fred, heróico. Aos poucos, fomos nos aproximando do gol. Diguinho acertou um chute perigoso à direita do experiente goleiro uruguaio Carini, titular de seu país. Numa outra jogada, o zagueiro Jorge Luiz testou em recuo contra seu próprio gol, quase nos favorecendo no marcador. Parecia frágil, era importante forçar o jogo com cima dele. E deu certo. Em meia hora de jogo, eis que Maicon, inconstante como nos últimos jogos, caiu pela esquerda de ataque e fez o cruzamento; Jorge Luiz praticamente socou a bola. O penal foi assinalado. Até neste momento vemos o que é o sofrimento nas Laranjeiras: Fred deu a tradicional paradinha, mas Carini não se mexeu. Foram quase dois segundos até que a bola morresse no canto esquerdo do arqueiro atleticano e nossa vantagem estivesse estabelecida. E posso dizer que o grito de gol dos nossos dez mil torcedores valeu por cinqüenta mil. A boa torcida mineira presente, em dois lances de cadeiras azuis, acusou o golpe e se calou momentaneamente. O Fluminense não é um peso-morto, um balaio de gatos que só existe na cabeça de Kfouri e os idiotas da objetividade que lhe prestigiam. Ainda houve tempo para Gum acertar uma boa cabeçada, mas para fora. Descemos para o vestiário no intervalo sob dois sentimentos: o de temor, por conta das partidas que poderíamos ter vencido recentemente, mas deixamos empatar; o de confiança, pois o time parecia bem, mostra evolução a cada partida e, especialmente ontem, dominara o adversário em boa parte do primeiro tempo.

O temporal inundou Maracanã. Chuva que não parava. E, no primeiro minuto da fase final, no primeiro ataque nosso, todos os que estavam atrás do gol defendido por Carini ou na diagonal, perceberam quando Conca matou a bola e ia chutar no canto direito do uruguaio. O gol já se desenhava dois segundos antes de sua feitura. E não poderia ser menos chorado: a bola bateu nas pernas de Jorge Luiz antes de entrar. Não gritamos o gol: urramos. Urramos com toda fúria e alegria. O Fluminense mostrava que é possível escapar do pior, por mais difícil que as coisas estejam. Os idiotas da objetividade calaram, mas ainda suspiraram quando, logo a seguir, numa infeliz jogada do excelente goleiro Rafael, o Atlético descontou numa cabeçada de Tardelli. Fizemos silêncio: o fastasma do empate nos atordoava. Mas não aconteceu: éramos melhores, continuamos melhores em campo e o Fluminense esteve mil, duas mil vezes mais perto do consagrador terceiro gol do o Atlético do empate. Uma linda troca de passes no meio de campo entra Conca e Fred quase resultou em gol de Mariano. E Fred quase marcou mais duas vezes: uma, em um chutaço que Carini, no chão, nem viu a bola que lhe abalroou e tomou a linha de fundo; outra, numa cabeçada perfeita, de cima para baixo, no canto direito do goleiro, tirada em cima da linha pelo arqueiro.

No final do jogo, o Atlético, já com um a menos, repetiu a tradição contra nós: pressionar-nos quanto temos vantagem numérica em campo. O Fluminense, cansado, recuou; as substituições não fizeram muito efeito: Roni e Tartá, mais uma vez, não disseram porque vieram a campo. Era preciso segurar a vitória com todas as forças. Fred entendeu isso e, muitas vezes, virou um verdadeiro lateral-esquerdo de marcação, até ser trocado por Patrício Urrutia, no minuto final. A pressão alvinegra foi inócua, mesmo com sua única chance derradeira de gol, desperdiçada por Éder Luiz. Foi uma vitória justa, verdadeira e merecida, debaixo do temporal que depois serviu de água-benta para a nossa torcida, junto do time na beira do gramado. O Fluminense venceu. O Fluminense está vivo. O campeonato não acabou para nós.

Hoje é dia do silêncio para os idiotas da objetividade. Quando a chama do Fluminense brilha no meio da escuridão, cento e sete anos de glórias se iluminam. Nós já vencemos campeonatos estando nove pontos atrás do grande líder e campeão da imprensa. Nós já chegamos a uma semifinal de campeonato precisando vencer cinco jogos seguidos – e conseguimos. Tudo ainda é muito difícil, mas só um pascácio hoje diria que não temos chance de reverter os cinco pontos de diferença para nos salvarmos do descenso.

Domingo é uma grande decisão contra o forte Cruzeiro. Temos chances de vencer; e, se vencermos, o descenso tomará ares de página virada.

Assim seja.


Paulo-Roberto Andel, 30/10/2009

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