Friday, September 17, 2010

FLUMINENSE 1 X 2 CORINTHIANS (16/09/2010)

Lições de uma derrota (16/09/2010)

A derrota dói. A dor dói, feito “Ferida” de Augusto de Campos. Tanto faz se é injusta ou merecida, se as condições forem duvidosas ou não. A derrota é feita de dor. Assim foi o jogo de ontem, meus amigos. Não que matematicamente o nosso Fluminense tenha sido mortalmente alvejado, longe disso – aos trancos e barrancos, por um mísero gol, ainda somos os líderes do campeonato. Mas perder para o Corinthians doeu bem mais do que três pontos: primeiro, porque em momento algum merecemos vencer o jogo; segundo, porque o fator de nossa maior preocupação é que a derrota nos força a uma rápida recuperação, num campeonato onde todas as partidas são complicadas, sem que possamos ver soluções imediatas à vista. Jogamos mal. Não foi a primeira vez nesta competição; porém, desta vez foi das piores, dos piores momentos. E perdemos para uma equipe de ponta na tabela, mas que esteve longe de fazer uma grande exibição: tratou apenas de marcar com maestria nossas trôpegas jogadas e, no momento certo, matar a partida com gols nas ocasiões em que estávamos completamente vulneráveis. Perder foi o de menos; grave foi como perdemos. De toda forma, o verdadeiro Tricolor não desiste: ele é do último minuto, do último suspiro. E não há tempo para lamentar: há um Fla-Flu na próxima esquina; o tempo não para.

Vinte mil bravos Tricolores enfrentaram o engarrafamento, o horário tardio, o caos do acesso ao Engenhão e o nosso mau momento, ávidos por uma vitória moralizadora. Não foi o que aconteceu. Podemos dizer que o primeiro tempo foi de enorme equilíbrio, porque os alvinegros marcavam com eficiência, mas não demonstravam o menor brilho nas ações ofensivas – nem precisamos ter a tradicional preocupação com os chutes contra o Perseguido. Alguns pequenos brilhos surgiam nas jogadas mais técnicas da nossa equipe, mas foi pouco: Darío Conca estava marcadíssimo, Deco fazia uma partida de muitos erros, Washington mostrava muita luta, mas parecia em total divergência com a bola. Num jogo truncado, amarrado, fechado, a fúria ofensiva de Mariano foi completamente abafada. Valencia tinha raça, mas abusava dos erros no tempo de bola e nas entradas: só não foi expulso junto com Jucilei porque o árbitro era Simon, e vocês sabem muito bem o que isso quer dizer. Na arquibancada leste superior, eu acompanhava tudo do último degrau, tal como era nos meus tempos de adolescente, onde Assis, Deley, Romerito e Paulo Victor ditavam os títulos. Ainda pude ver de longe meu amigo William torcendo fanaticamente desde cedo, além do presidente Sussekind, discretamente sentado na parte baixa do setor. Também pude ver de longe o caos a minutos do início da partida, quando centenas de pessoas adentraram o João Havelange sem que ingressos passassem na catraca ou passaportes na leitora. É necessário que as autoridades tomem providências, ou o primeiro jogo que vier a ser realizado lá com grande público poderá ter resultados catastróficos.

Volto à partida. Era um jogo equilibrado, tenso, onde não se podia perder, mas o empate era ruim para os dois times. O Corinthians era defesa; nós não sabíamos ser ataque. Ainda assim, poderíamo ter descido tranqüilamente com o empate no intervalo de jogo, não fosse o erro crasso da linha de impedimento num sistema defensivo com três zagueiros: a chance de um erro de sincronia é imensa e tudo podia ser posto a perder. Julio César, cujo forte não é a velocidade, deu condição. Jucilei, que não tem nada com isso, dominou a bola livríssimo e tocou no canto direito do Perseguido, que nada podia fazer e, mesmo que pudesse, não faria. O Corinthians aproveitou um erro coletivo e deu a primeira estocada. Terminou o primeiro tempo, de forma absolutamente desagradável para nós.

Um Tricolor sempre tem a esperança da virada, e este era o sentimento comum entre a grande torcida presente – senhores, vinte mil pessoas às dez da noite no Engenhão é um público bastante respeitável. Era o que precisávamos, mas não aconteceu. Rodriguinho entrou e melhorou um pouco a apatia e a lentidão do ataque, mas tropeçou em suas próprias deficiências. Deco, que tem enorme categoria e mostra um brilhante toque de bola, era desarmado de forma até infantil. Um tanto desordenados, buscamos o ataque nos minutos iniciais, mas não soubemos criar ameaças efetivas de gol. Aos poucos, o Corinthians deixou de ser um time acanhado na defesa para buscar contra ataques mortífeiros. Realizou um, dois, três. No quarto, o amaldiçoado Alessandro invadiu livre a direita de ataque, serviu o veterano Iarley também livre e, com raça e astúcia, tocou de carrinho para o gol e fez o segundo, não dando números finais à partida, mas decidindo a vitória. Estavam melhores, senhores do jogo, mesmo sem o domínio completo. Cinco minutos depois, o nosso gol, fruto da raça de Conca, do ímpeto de Rodriguinho e até mesmo de sua má conclusão, que fez de seu chute forte um cruzamento para que Washington tocasse para o gol vazio no canto direito. Foi a nossa única jogada de alta veocidade na partida inteira e isso quer dizer alguma coisa. Ganhamos vários jogos no primeiro turno usando e abusando da raça de Mariano, voando pela direita, assim como Carlinhos na esquerda. Emerson é um gigante no ataque. E Diguinho? E a raça de Diogo? E o talento de Fred? Todos estes faltam ao time de hoje: Mariano joga, mas a entrada de Deco como titular fez com que ele se tornasse menos ofensivo, dado que o lado direito já está congestionado de gente. Ah, e Washington? Fez o gol, é o artilheiro da competição, mas definitivamente não contem com ele para ser o 1 do esquema 3-6-1: não há como. Jogamos mal, muito mal. O Corinthians não foi brilhante, mas mereceu nos vencer com sobras: soube administrar e liquidar o jogo. O Corinthians é um grande time, mas o Fluminense perdeu para o próprio Fluminense: precisamos recobrar nossa velocidade, nem que seja sacando algum dos titulares absolutos para a entrada de jogadores mais jovens e rápidos. É preciso acertar as faixas de jogo de Deco e Conca, pois várias vezes quase se dão encontrões em campo. É preciso resgatar o time de guerreiros, com sua pontuação de campeão no segundo turno do ano passado e no primeiro do atual. São muitas tarefas para se acertar até domingo e não se pode esperar: um Fla-Flu está à espreita.

Temos problemas e problemas. Nosso padrão de jogo caiu. Substituições se fazem necessárias imediatamente. Mas isso pode ser muito bem-resolvido: não somos paracampeões por decreto e não estamos lutando contra a zona de rebaixamento. Este é um campeonato difícil onde os times alternam bons e maus momentos: que o diga o incensado Botafogo - dotado de alma vencedora, segundo Kfouri - derrotado de quatro pelo lanterna Goiás.

Muita coisa precisa ser feita e já. Temos um grande treinador para isso e confiamos nele. Uma coisa é certa: não se iludam aqueles que já tiraram o Fluminense do páreo a dois meses e meio do fim do campeonato, com suas bravatas nos jornais e botequins. Eu pensei que a lição do ano passado tivesse sido suficiente absorvida por aqueles que zombavam de nós. Pelo visto, não.

Estamos mal, mas já tiramos títulos certos e pré-comemorados de times com nove pontos à nossa frente. É apenas uma pequena lembrança, nada além disso.

Ainda é cedo, meus amigos. Bem cedo.


Paulo-Roberto Andel

1 comment:

Anonymous said...

Venceremos o FlaFlu. E aí calaremos novamente a imprensa, espantaremos a "crise" e retomaremos nosso rumo. Longe ou perto, nunca abandonarei o Fluminense.