Friday, June 19, 2009

FLUMINENSE 1 X 0 BOTAFOGO (07/06/2009)


Outro último pecado (08/06/2009)

No domingo passado, o Fluminense deixou a vitória escorrer por entre os dedos na partida contra o Náutico, e muito lamentamos. Ontem, a sorte sorriu a nosso favor. No apagar das luzes, o Fluminense conquistou uma vitória importantíssima sobre seu rival tradicional, o Botafogo. E vitória conquistada com um golaço de Fred – o lance em si foi a perfeita tradução do que não correu em toda a partida. Não foi uma partida boa para nós; contudo, os Aflitos, jogamos razoavelmente e deixamos de vencer; ontem, não tivemos uma boa performance mas a importante vitória veio. É o vaivém do futebol.

No início da noite no Maracanã, um frio vigoroso e dois times em mau momento. A conseqüência foi um baixíssimo público para as tradições do clássico.E se, antes do jogo, vínhamos cercados por desconfiança assim como os alvinegros, quando a bola rolou a decepção foi grande. Um jogo de baixo nível técnico em sua primeira etapa, válido apenas por ser brigado, disputado, como manda a regra do Clássico Vovô.

Não houve grandes jogadas, grandes passes, a ameaça constante aos goleiros. O Botafogo, em pior fase, dada a colocação na tabela, tentava marcar o Fluminense por pressão. Nós cuidávamos da defesa, com a boa atuação de Cássio, que substituiu a Luiz Alberto. Na frente, o Neves sem a velha objetividade pouco fazia. No meio, Conca batalhava contra os passes errados. Em resumo, que conseguisse a vitória sairia aliviado; o derrotado despencaria na pontuação. Entre um caminho e outro, o que resultou na primeira etapa foi uma briga pelo meio-campo, lenta, arrastada. Um jogo enfadonho, pode-se dizer. Mas clássico é clássico. Ainda assim, não sei dizer de uma grande intervenção dos goleiros, um arremate fantástico ou uma jogada bonita. Houve burocracia. O empate em zero foi justo diante da mediocridade dos times.

Todo torcedor espera que seu time, após o intervalo de uma partida onde não venha atuando bem, consiga reverter a situação. Em nosso caso, temos um dos maiores treinadores da história. Mesmo com nosso querido Parreira, a coisa não mudou. Para não parecer ranzinza, feito os comentaristas que só saúdam o futebol de outras décadas, diria que ao menos os times voltaram para o segundo tempo com alguma intenção ofensiva, mesmo que ela parasse em más conclusões ou erros nos passes. Mas foi efêmero, uns cinco a dez minutos no começo do segundo tempo. E o que era frio, mais tarde piorou: veio a chuva.

Quando se chegou à metade do segundo tempo, tanto Parreira quanto Ney Franco começaram a substituir peças, na tentativa de mudar o panorama do mau clássico. No Fluminense, entraram Maurício e, depois de longo afastamento, Leandro. Quero dizer que simpatizo com Maurício; de vez em quando, faz um golaço, tal como contra o São Paulo este ano ou como contra a Gávea, ano passado. Teve boas atuações na Libertadores. É um jogador que ainda pode crescer. Mas, neste domingo, sua atuação foi catastrófica: nos vinte minutos em que esteve em campo, errou tudo o que tentou. Mais ou menos como a regularidade de João Paulo. Já Leandro foi diferente, nem parecia vir de um período de inatividade. Buscava o jogo e se deslocava, como tradicionalmente faz.

Na má atuação, no frio, na chuva e no Maracanã vazio, seria plausível que as torcidas imaginassem o fim do jogo com um zero a zero mofado, sem brilho. Pequenos apupos já ecoavam das arquibancadas. E tudo caminharia para isso mesmo, só que o mesmo fim de tempo que nos castigou semana passada foi generoso ontem: Leandro, da intermediária, deu um maravilhoso passe para Fred, livre; lançou a bola por cima dos zagueiros. O atacante, com sua habitual categoria, aplicou um lençol no bom goleiro Renan e tocou para o gol vazio, inaugurando o marcador e praticamente consolidando a vitória. Nossa torcida era pequena, mas vibrou com a grandeza da jogada: o passe, o lençol, a finalização mortífera. Vencemos. Desta vez, o último pecado foi de General Severiano.

Mais uma vez, nossa atuação ficou muito distante do almejado. Neves está indo embora, o Fluminense carece de uma liderança no meio de campo para articular o ataque e, em paralelo, dividir as tarefas com Conca. O problema da lateral-esquerda é crônico. Ao menos, no gol, melhoramos. A vitória era fundamental para deixar o time em situação confortável na tabela. Ainda assim, é pouco. O Fluminense não pode se contentar com o oitavo ou o sexto lugar. Menos mal que os três pontos vieram.


paulo-roberto andel


Thursday, June 18, 2009

NÁUTICO 1 X 1 FLUMINENSE (31/05/2009)

Diante do último pecado (01/06/2009)

Para os Tricolores, que vinham do desastre de semana passada contra o Santos, empatar fora de casa contra o Náutico não chegaria a ser um péssimo negócio – sabe-se que o alvi-rubro dos Aflitos será osso duro de roer para muitos outros times no campeonato brasileiro. O Fluminense mostrou um bom futebol em boa parte do jogo, dentro de suas limitações, mas não venceu. Num lance, num rompante, deixou a vitória escapar por entre os dedos da mão cerrada. Os três pontos não vieram, mas a atuação ao menos tirou a agonia da goleada do domingo anterior – se não foi um primor de técnica, pelo menos pela disposição.

E a técnica não poderia prevalecer pelo que se viu de cara: o péssimo gramado dos Aflitos, capaz de fazer o antigo campo de areia do Aterro do Flamengo parecer Wembley. Era o primeiro desafio. As duas equipes visivelmente sofreram um bocado com o mau estado do carpete de jogo.

Contrariando a lógica recente, o Fluminense começou a acertar de primeira: logo aos cinco minutos, ao receber excelente passe do estreante lateral Diogo, Fred invadiu a área pela direita do ataque e disparou um petardo na diagonal com êxito, vencendo o veterano goleiro Eduardo, com a bola entrando no canto direito. Parecia alívio. Todos sabíamos da dificuldade de se enfrentar o Náutico em casa e, abrindo o marcador imediatamente, era natural a empolgação. A partir de então, mesmo em desvantagem, o dono da casa não se abriu; nós, do nosso jeito, com relativa velocidade, mas muita dificuldade no toque de bola, íamos regularmente ao ataque. Ainda poderíamos ter aumentado o marcador, com a bola que o Neves chutou na trave. Não corremos maiores riscos e, quando o Náutico finalizou, Berna esteve sempre seguro. Sem maiores surpresas, correu a primeira etapa com nossa vantagem parcial obtida de início. Parecia bom sinal.

O futebol, como a mais importante das coisas desimportantes do mundo, merece toda a atenção em seu exercício. Não se pode vacilar. Há casos esporádicos em outros esportes, quando um time teoricamente mais fraco, bate o outro; no futebol, acontece a toda hora: Davia apedrejando Golias. Então, não é qualquer vantagem que garante nenhuma vitória para nenhum time de futebol. Viria a segunda etapa e o Náutico, ciente de que nada estava perdido, seria outro.

Começaram com tudo. Buscaram campo. Passaram a pressionar como normalmente fazem os times que jogam em casa. E veio uma cabeçada em nosso travessão, desferida por Asprilla – um susto. A seguir, defesas de Berna que causariam orgulho até em São Paulo Victor Barbosa de Carvalho. Há anos, não via uma atuação de goleiro tão boa com o manto consagrado por Marcos Carneiro de Mendonça. Defesas sem tremeliques ou afetações; rápida e eficaz reposição de bola; sobriedade. Desconfio de que, se Berna tivesse sido o goleiro no Fla-Flu de Juan, ou ainda contra o Corinthians, nosso destino poderia ter sido outro.

O Fluminense não se acovardou na segunda etapa. Apesar da reação do Náutico, nosso contra-ataque era ameaçador e tivemos uma grande chance não aproveitada por Fred. Beliscávamos. O time estava com ímpeto guerreiro. E se passou meia hora do segundo tempo. Daí, meus amigos, o Náutico veio com tudo. Queria a reação. Fez de nosso campo um verdadeiro desembarque na Normandia. Estávamos acossados. Mas o placar ainda era nosso. Berna era uma muralha: defendia absolutamente tudo e sem possibilidade de sobra ou rebotes. Mesmo que não estivéssemos num grande dia tecnicamente falando, a atuação estava mais do que razoável e a pontuação era fundamental.

Quando tudo parecia a salvo, e uma importante vitória fora de casa era conquistada, já no último minuto dos acréscimos do árbitro, Maicon estava na lateral-direita e errou uma jogada. Foi desarmado numa desatenção, e cometeu um pênalti quando o árbitro já encostava os lábios no apito. A marcação foi inevitável. Nos ajoelhamos diante de nosso último pecado. Ainda cogitei que, da maneira como tinha atuado toda a partida, Berna pudesse pegar a cobrança. Não foi possível, e desperdiçamos dois pontos no último toque na bola.

Uma inspeção visual fria sobre nosso time há de atestar nossa evolução em relação ao caos de domingo passado, no Maracanã. É um fato. Naturalmente, deixar a vitória escapar no último lance é desagradável, mas creio que o time possa ainda melhorar para o jogo de semana que vem. Pela frente, o Botafogo que tanto tem nos incomodado nos últimos tempos. E, inevitavelmente, só a vitória nos interessa. Só a vitória.


paulo-roberto andel

Tuesday, June 02, 2009

FLUMINENSE 1 X 4 SANTOS

Debacle (28/05/2009)

Caros amigos, hoje é quinta-feira e somente agora venho falar do jogo de domingo. Segui minha intuição. O que aconteceu no Maracanã entre Fluminense e Santos não foi apenas um jogo no dia sagrado, mas sim uma partida que começou antes – segundos após o empate que nos tirou da Copa do Brasil – e que terminou bem depois do apito de Vuaden. Foi uma goleada. Foi uma hecatombe, prorrogada por dias, até o lamentável incidente ocorrido nas Laranjeiras envolvendo jogadores, torcedores e um suposto amigo do goleiro Fernando, armado e que disparou um tiro para o alto.

Quem viu o jogo de domingo em seu primeiro tempo, viu na maior parte do tempo um Fluminense com boa performance: marcava, corria e atacava. Há quem diga que Mariano tenha feito o gol praticamente sem querer, no começo da partida, ao chutar quando se desequilibrava; reconheço que o lateral não tem na habilidade o seu forte, mas o fato é que estava na área no momento certo e carimbou a rede. Era uma apresentação tranqüila, com até mais torcedores que eu esperaria devido à eliminação da quarta-feira anterior. Perdemos várias oportunidades de aumentar o marcador.

E então veio o gol do Santos.

Um frango. Um erro crasso de Fernando, em sua já conhecida deficiência de posicionamento nas cobranças de falta. Molina empatou o jogo, a sete minutos do intervalo.

O time do Fluminense sentiu o golpe e se descontrolou por completo. Quando voltou a campo, nem parecia uma equipe treinada por um profissional do garbo de Carlos Alberto Parreira. Tornou-se um bando inconseqüente, presa facílima para qualquer adversário que fosse – e, ali, o oponente não era um qualquer, mas o tradicional Santos. E veio uma goleada incontestável. Houve a expulsão de Dieguinho, errada a meu ver, que naturalmente atrapalhou um time já desnorteado; mais à frente, novo cartão vermelho para o inacreditável Ratinho. Ora, se um time enfrenta outro de igual para igual, jogando mal, já encontra dificuldades de um bom resultado, imagine aquele mesmo time, jogando pessimamente e com dois jogadores a menos? Batata. Contudo, cabe ressaltar que as expulsões só acentuaram o placar, pois a derrota, até mesmo para os mais fanáticos torcedores presentes, era questão de contar os minutos após a virada dos santistas, num tipo de gol que tem se repetido incessantemente contra nossa defesa: a insólita tentativa de se fazer a linha de impedimento com jogadores mais pesados e desatentos. Deu errado nos dois jogos contra o Corinthians e deu errado novamente contra o Santos.

Perder faz parte do processo natural do futebol, sem dúvida. O que a torcida do Fluminense não aceitou, de forma alguma, foi como isso aconteceu. Pela desordem do time, os jogadores ficam mal-espaçados em campo; então, o cansaço sempre vem antes da hora. Com um a menos, aconteceu que o Santos passeou em campo com toda velocidade e autoridade, enquanto o Fluminense, atônito, praticamente apenas observava. Poderia ter sido pior, se a promessa Neymar estivesse em campo além dos minutos finais da partida, com tudo já decidido. Naquela partida, parecíamos em campo uma equipe modesta, de preliminar, e não o Fluminense. Desnecessário dizer que nossa torcida, desesperada e já em tom de justificável deboche, comemorou a expulsão de Ratinho.

Três gols no segundo tempo mostram bem o que aconteceu. O último, mais uma falha de rebote do goleiro, espalmando uma bola fraca nos pés do atacante Kleber Pereira. Um vitória justíssima do Santos, por tudo o que demonstrou em campo a partir de mais uma falha gritante de Fernando – que colaborou bastante, embora não tenha sido o único responsável pela quadra peixeira.

Era possível ver nos milhares de Tricolores a desilusão pela maneira como se perdeu. E compreensível. Tudo descambou para o pior, quando um grupo organizado adentrou Álvaro Chaves para satisfações com a torcida, dois dias depois da derrota. Houve atos de violência, indesejáveis e inaceitáveis, que merecem rigor na apuração e punição dos responsáveis. O cume da desordem veio com um amigo de Fernando, que atirou para o alto em busca da paz no gramado. Para o homem, sempre é possível ir mais longe, entretanto; os fortes das Laranjeiras decretaram a proibição do acesso de não-sócios ao veterano estádio, berço do futebol brasileiro, como “medida de segurança”, após o acontecimento. Ora, quem disparou um tiro foi um sujeito que entrou pela porta da frente do clube, acompanhante de um jogador! Evidentemente, precisamos de um novo e moderno centro de treinamento. Agora, proibir torcedores de se aproximar do time beira o patético. Bastaria que o clube dispusesse de condições mínimas de segurança e nada de violento teria acontecido. Em suma, para curarem uma luxação, não tiveram dúvida: ampute-se o braço.

Pouparei meu tempo e meus nervos; assim, não comentarei hoje sobre o descalabro que é o atual governo do Fluminense. A melhor medida de segurança no momento passaria por uma reformulação do time, coordenada pelo grande profissional que é Parreira. Nas partidas decisivas deste ano, fomos eliminados das competições por limitações técnicas e físicas. É o que precisa mudar, imediatamente.

Vem uma dificílima partida contra o Náutico, no temível estádio dos Aflitos. Não há nome mais apropriado: será uma aflição. Ano passado, na luta contra o rebaixamento, uma vitória expressiva por três a um tirou a corda de nosso pescoço; agora é diferente, há outra situação, o campeonato ainda começa. Mas precisamos saber qual é o Fluminense que ainda teremos este ano: o que pode ir mais longe ou o que enfrentará cinco meses de agonia.


Paulo-Roberto Andel

Friday, May 22, 2009

FLUMINENSE 2 X 2 CORINTHIANS

A batalha final (21/05/2009)

Meus amigos de sempre, é com tristeza que escrevo estas linhas. A tristeza de ver o Fluminense eliminado da Copa do Brasil num Maracanã lotado. A vantagem corinthiana pesou, devido à vitória no primeiro jogo, realizado semana passada. Nossa torcida fez o velho gigante de concreto tremer como nunca. Não foi o suficiente, mas todos os que lá estiveram viram um espetáculo belíssimo das nossas arquibancadas; no campo, deixamos a desejar no primeiro tempo, reagimos no segundo e o empate, pelo jogo que foi, ficou justo. Saímos, mas pela porta da frente.

As emoções da minha partida começaram no Caçador, veterano bar da Praça Afonso Pena, entre os amigos: Leo, Antonio, Tibamar e a família Sussekind. Esperávamos uma grande vitória, mesmo sabendo da forte equipe do alvinegro paulistano. Entre o chope e as pizzas, muitos risos e a apreensão natural às vésperas de uma grande batalha. Tibamar disse: “O presidente precisa estar tenso o tempo inteiro”, Raul seguiu a frase à risca.

O entorno do Maracanã era de uma beleza só, com nossas bandeiras e camisas, nosso branco de paz, e uma multidão adentrava o sagrado estádio sem saber da beleza que a nossa gente empenharia nas arquibancadas. Todos sabem da beleza que emprestamos ao concreto do Maracanã. Todos sabem das maravilhas que lá fizemos muitas vezes. Todos sabem que, em quase sessenta anos, Mário Filho nunca viu uma festa mais bonita do que a nossa na final da Libertadores do ano passado. E, desde aquela final, nos recolhemos: não tivemos motivos para mostrar nosso melhor. Ontem, voltamos à tona. Tenho orgulho de ter vivido para ver o maravilhoso mosaico que fizemos nas arquibancadas, o maior do Brasil, o mais bonito. Uma festa de gala como incentivo ao time, que precisava de um resultado difícil, mas longe de ser impossível. Pelo menos até a bola rolar.

Quando Simon apitou o início do jogo, uma forte chuva havia caído no Maracanã. Não saberia dizer quais os prenúncios das águas do céu, mas o fato é que nosso começo foi desastroso. O Corinthians, monumental, nos bloqueou de tal forma que muitos esperavam o pior: uma goleada. Em quinze minutos, já tinham feito o resultado. Dois gols. O primeiro, numa falta bem cobrada pelo zagueiro Chicão, mas defensável – Fernando, mais uma vez, se colocou mal na cobrança e não chegou a tempo no canto direito, onde a bola entrou; além do mais, é difícil defender uma falta com os pés, que têm sido sua melhor opção. O segundo, numa entrada livre de Jorge Henrique, em falha da defesa ao usar a desgastada tática do impedimento, tocando de coxa e encobrindo nosso goleiro. Para nossa sorte, Ronaldo não esteve bem e, mais uma vez, não fez gols em jogos oficiais.

Houve o temor. Tudo parecia perdido. Não merecíamos ser goleados em festa tão bonita. Não éramos o Fluminense implacável do jogo contra o São Paulo, mas sim o da apatia contra a Gávea – um buraco no meio de campo, a trágica improvisação de Mariano na lateral-esquerda e o acúmulo de erros de Maicon no ataque. De concreto, o gol legal que Fred marcou, errada e grosseiramente anulado por Simon. É certo que o Corinthians foi infinitamente superior a nós e mereceu vencer a primeira etapa, mas é certo também que, se descêssemos para o vestiário com a desvantagem menor, as coisas poderiam ser outras.

O pior, ali, felizmente passou. Acabou a primeira etapa. Mesmo impactada pelo pésimo resultado, nossa torcida cantava.

No segundo tempo, com tudo parecendo destruído, o Fluminense veio como outro time. Parreira colocou Alan e Dieguinho, nos lugares de Maicon e Ratinho. Tomamos as rédeas do jogo, enquanto o Corinthians, até por conta da enorme vantagem, pensava em administrar o resultado. Nos quinze primeiros minutos, foi esse o desenho: atacávamos, não conseguíamos o gol, eles tocavam a bola e valorizavam a posse. Justo.

Mais cinco minutos e tudo mudou. Numa cabeçada de Alan, em rebote do goleiro Felipe, mais a única finalização certa do Neves, empatamos o jogo e o Maracanã veio abaixo. O Fluminense não tem a vocação de ser goleado. O Fluminense é o time que reage quando tudo parece destroçado pelas torrentes. O Corinthians sentiu. Ainda havia vinte minutos a cumprir, o Parque São Jorge era cansaço e as Laranjeiras voavam. A garra e o apoio da torcida incensavam o time, mas as limitações técnicas e físicas não nos permitiam ir mais à frente. Ainda assim, perdemos gols e gols: Felipe largava várias bolas, mas não aproveitávamos.

Cada um de nós via que era mais difícil a classificação, a cada minuto que passava. Mas o Maracanã ainda gritava, ainda urrava e esperava um desfecho melhor. Antes de sair, Ronaldo quase nos liquidou, mas Fernando defendeu. Com os pés. O restante do jogo se deu com o Fluminense no ataque, na pressão, mas sem maiores riscos de gol, e o Corinthians se defendendo heroicamente, merecendo a vaga.

Como cantam os Gaviões da Fiel, eles têm um bando de loucos pelo seu time. Nós também temos os nossos, e são milhares. A força da nossa torcida, subestimada por alguns, se fez presente mais do que nunca. Não nos classificamos porque, na soma dos jogos, do talento e dos resultados, o Corinthians foi melhor. Não saímos do Maracanã com a vitória desejada, mas mostramos, mais uma vez, como tantas, que a nossa torcida é a dos gigantes, é a dos leões. É a das mulheres lindas, dos rapazes educados e trabalhadores. É a torcida dos gritos incessantes, mesmo quando o time parecia à beira de tomar uma goleada.

Nós, Tricolores, perdemos em campo, com dignidade e de cabeça erguida, em cada um dos nossos corações.

Nossa torcida, belíssima, não perde para nenhuma no Sistema Solar. É incomparável. Mais uma vez, todo o Brasil viu.

Parabéns ao Parque São Jorge. Mereceram a vaga. Para ser Tricolor, uma exigência de nascença é a justiça no trato com as cousas.


Paulo-Roberto Andel, 21/05/2009

Thursday, May 14, 2009

CORINTHIANS 1 X 0 FLUMINENSE

A primeira batalha (14/05/2009)

Caros amigos, depois de uma ótima atuação no domingo passado, contra o São Paulo, o Fluminense voltou ontem a campo para o embate contra o Corinthians, time do maior artilheiro das Copas do Mundo, Ronaldo Nazário. Não repetimos o bom jogo de dias atrás e perdemos por um a zero. É um placar que nos dificulta para o jogo de volta, mas também não torna nossa classificação impossível. O Corinthians tem um grande time, mas não é superior ao do São Paulo, a quem vencemos com propriedade em nossa casa. Antes da partida, declarações do lateral alvinegro Alessandro causaram espécie: disse que o Corinthians não sentiria a pressão da torcida do Fluminense do Maracanã, no jogo de volta. Deu até a impressão que nunca havia perdido partidas para nós, desde os tempos em que era uma promessa (não-cumprida) na Gávea.

Deixo as provocações para depois. Falarei do jogo.

Assim como no domingo passado, mas não a nosso favor, o jogo mal começou e teve um gol: o corinthiano. O atacante Dentinho, em jogada rápida, entrou pela direita de nossa defesa, livre, e fuzilou diagonalmente o canto esquerdo de Fernando. Nosso goleiro, por sinal, foi um dos grandes destaques do jogo.

A impressão era a de que o Fluminense estava atônito pela simples presença de Ronaldo. Sabemos que é um craque, mas não justifica tamanho bate-cabeça; bastaria uma forte marcação atenta de dois jogadores, sem lhe dar espaço. É preciso respeitá-lo como o grande jogador que é, mas sem medos e afobações. Os erros na insólita e repetida tentativa de se fazer uma linha de impedimento quase nos custaram a desclassificação já no primeiro jogo: os alvinegros tiveram a seu favor um sem-número de chances perdidas, escanteios e, num lance, Castilho, nosso fiel ídolo, nos salvou: a bola bateu na trave direita de Fernando e correu todo o gol, sem que ninguém a empurrasse. E foi Fernando quem defendeu, com maestria, duas jogadas de primeira finalizadas pelo Fenômeno, uma em cada canto. Desta vez, muito bem o nosso goleiro. O mesmo não se pode dizer do meio de campo, que nitidamente caiu de produção defensiva em relação a domingo. Sofremos uma forte pressão, mas o jogo terminou o primeiro tempo com o escore mínimo a favor dos corinthianos. Veio o intervalo e o alívio: tempo para Parreira tentar corrigir o posicionamento do time e tentar evitar a derrota. Mudar a atitude. Fazer com que o meio de campo valorizasse a bola, sem chutões inócuos para o ataque. Conca nos fez falta; Neves, mal; Maicon, titubeante. Um a zero foi pouco, felizmente.

O Fluminense voltou para a segunda etapa sem alterações, o que até me surpreendeu; de toda forma, um detalhe fez com que o jogo se equilibrasse: o cansaço do time do Corinthians, que não conseguiria jogar o segundo tempo com a mesma pressão e velocidade que impôs na primeira etapa. Ainda assim, o Parque São Jorge teve uma excelente falta cobrada por André Santos, no cantinho direito baixo, posta para escanteio por Fernando com grande eficiência.

Então, aos pouquinhos, nosso Tricolor aumentou a combatividade no meio de campo e tornou o jogo menos desequilibrado. Tivemos uma grande oportunidade para empatar o jogo aos vinte minutos, mas o Neves perdeu o gol, chutando em cima do bom goleiro Felipe. Em seguida, o Corinthians reagiu e quase sacramentou a vitória: André Santos, recebendo passe de Ronaldo, invadiu a área pela esquerda do ataque e fuzilou, mas Fernando fez sua tradicional defesa com o pé. As coisas pareciam difíceis.

Parreira só mexeu no time para os quinze minutos finais; lançou Darío Conca e Alan para as saídas de Neves e Maicon. Deu certo. Mesmo ainda recuperando o ritmo de jogo, o argentino entrou com a sua tradicional raça aliada à técnica. E, pela primeira vez no jogo, o Fluminense tomou as rédeas da partida: o Corinthians estava cansado e tínhamos gás novo na equipe. Finalmente passamos ao ataque e deixamos de ser coadjuvantes do jogo. Quase deu certo: em dois momentos de cruzamentos, num com os pés e outro com a cabeça, Fred chegou a milímetros das bolas, quase empatando o jogo. Pena que tenha sido tarde demais. E Fernando, o grande destaque da partida, ainda fez uma defesa difícil em chute do volante Boquita, que tinha entrado justamente para frear Conca.

Corremos o risco ontem de tomar uma goleada desclassificante no primeiro tempo. Depois, equilibramos a marcação. Foi pouco para o que precisávamos, mas os quinze minutos finais trouxeram algum alento: timidamente, o Fluminense repetiu um pouco do que havia mostrado contra o São Paulo no domingo.

Apesar da vantagem matemática em termos de não ter sofrido gol em casa, engana-se quem aposta no Corinthians já classificado. Assim, como podíamos ter colhido ontem um cacho de gols em nossa rede, não é nenhum milagre fazer um gol no alvinegro e ganhar nos pênaltis. Ou fazer dois a zero. É difícil, mas é preciso que o leitor entenda uma coisa: para o Tricolor, nada é impossível de ser ganho, nada!

As cores das Laranjeiras farão o Maracanã lotado tremer semana que vem.

Talvez Alessandro se cale.

Precisamos ser o Fluminense do jogo contra o São Paulo - o Fluminense da luta, da dedicação e da força inecessante; se conseguirmos, ninguém nos tira essa classificação. O Corinthians é um time de respeito e tradição, mas também somos. Não há favorito. Estamos no páreo.


Paulo-Roberto Andel, 14/05/2009

FLUMINENSE 1 X 0 SÃO PAULO

Começar de novo (11/05/09)

Depois da decepção no campeonato carioca, mas também da expectativa nas quartas-de-final da Copa do Brasil, após o difícil empate contra o Goiás, o Tricolor estreou ontem no campeonato brasileiro, contra o poderoso São Paulo, tricampeão do certame e um dos favoritos ao título. Vencemos. Mais do que vencer, nesta partida convencemos. Foi uma estréia com pé direito, ressaltada pelo fato de que tivemos dois adversários em campo: o time paulistano e o árbitro Ricci, cuja atuação foi calamitosa e, por pouco, não interferiu no resultado. Desastres da arbitragem à parte, pela primeira vez no ano o Fluminense apresentou um conjunto de marcação impecável, de parar o adversário literalmente. Com isso, conseguimos mais uma vitória sobre o temível rival.

O Maracanã não estava cheio, tendo em vista o Dia das Mães – com o horário de quatro da tarde para o início da partida, prestigiar as matriarcas era tarefa impossível. Porém, jogo vazio do Fluminense é com quinze mil pessoas – e, destes, alguns mal tinham tomado assento nas arquibancadas e cadeiras quando o jovem Maurício fez um golaço: na direita do ataque, em frente ao bico da grande área, matou a bola e acertou um petardo que beijou o travessão, o poste direito do goleiro Bosco e ganhou as redes, em nosso primeiro ataque, aos dois minutos de jogo. Um gol maravilhoso, tal como Maurício havia feito num Fla-Flu do ano passado; mais uma vez, um tiro varando o ângulo direito da meta. E o Fluminense estava na frente, como permaneceu durante toda a partida. Mal deu tempo sequer de vaiar Júnior, Arouca e Washington, ex-jogadores de nossa casa, todos em campo pela primeira vez contra nossa camisa depois do ano passado. Como se viu no decorrer da partida, o lateral e o atacante mostraram a irregularidade costumeira, não nos ameaçando em nenhum momento; o ala, cria das Laranjeiras, parecia tímido, constrangido até. Arouca não fez uma saída boa de nossa casa, deixando a porta aberta ou saudades.

Um gol no primeiro ataque muda o panorama de qualquer jogo; ora um time encolhido pode buscar ataque, ora um time ofensivo pode se retrair. E o Fluminense tem feito suas partidas utilizando o contra-ataque como arma; assim foi. A batalha de meio-campo era nossa: depois do golaço, Maurício ganhou confiança e foi soberano em todas as disputadas de bola, assim como Wellington, que parece ter melhorado em muito sua condição física: cobria todo lado, corria como um leão. O São Paulo, por conta da nossa marcação adiantada, não conseguia ligar meio de campo e ataque; nas réplicas, éramos mais perigosos – eles não estavam bem. Em duas jogadas, praticamente comemoramos: na primeira, um bate rebate na área, a bola no alto sobrou para Edcarlos, livre, que chutou de primeira por baixo de Bosco, mas Richarlyson tirou em cima da linha já com o goleiro batido; na segunda, um gol legal, legalíssimo, feito numa cabeçada de Maicon, terrivelmente anulado pelo bandeira – desastroso coadjuvante na arbitragem desta partida. Atrás, a defesa estava segura, Mariano tinha muita raça e até mesmo o oscilante jovem João Paulo acertava algumas jogadas.

Terminou o primeiro tempo, onde fomos amplamente superiores e estivemos mais perto do segundo tento do que de sofrer o empate.

Na segunda etapa, continuou a nossa incessante marcação e também a relativa apatia do São Paulo; até metade do segundo tempo, as coordenadas do jogo foram todas nossas. Quem visse com desatenção, poderia até pensar que tínhamos um jogador a mais em campo, tamanha a superioridade nas divididas. O Fluminense valorizava a posse de bola a cada momento, bem ao estilo tradicional de Carlos Alberto Parreira, o que criou enormes dificuldades para o tricampeão do Morumbi. Na parte final é que corremos algum risco: Fernando fez uma grande defesa em chute de Borges num lance, e praticamente defendeu sem ver o segundo – a bola resvalou em seu traseiro e parou no chão. Sem maior importância dos meios, foram duas intervenções que garantiram a vantagem no marcador. Depois de um ritmo incessante, naturalmente nosso time cansou, com as alterações feitas a partir da meia-hora final de partida. Talvez Maicon e Neves pudessem ter saído antes. Mas a vitória foi assegurada.

O São Paulo à frente outra vez. A estranheza de ver nossos jogadores com a camisa adversária. O novo começo de campeonato. Tudo, valorizado pela garra de nossa atuação, brindada com uma vitória justa sobre uma poderosa equipe, e que serve de ânimo para a verdadeira batalha que será promovida quarta-feira, contra o também poderoso Corinthians.

Não sei dizer se, por algum momento, Júnior, Washington e Arouca sentiram saudade da nossa camisa. Sei apenas que saíram porque quiseram e, hoje, o que lhes cabe é a derrota.

É o começo, é a primeira rodada. De toda forma, nem que por um instante, estamos na frente. E a atuação de hoje é encorajadora para todo o restante desta temporada: se repetir regularmente o entusiasmo em campo de ontem, e caprichando um pouco mais nas finalizações, o Fluminense, contra a vontade de toda a imprensa calhorda, passa a ser um dos times que podem despontar no campeonato brasileiro. Temos time para vencer os tricampeões, não é uma hipótese: na prática, um fato.

Uma coisa de cada vez. Mais uma decisão depois de amanhã.



Paulo-Roberto Andel, 11/05/2009

Friday, May 11, 2007

O grande campeão

Amigos, depois de longa jornada, finalmente o campeão do Rio recebeu os louros. A massa flamenga está de pé pelas ruas, bares, alamedas; pelos telhados e coletivos; na chuva ou no sol. Campeões.

Quando se pensa num melhor futebol jogado pelo Botafogo em boa parte do certa, como tudo em futebol, pensa-se questionar a conquista. Nesse caso, entretanto, fica mais difícil. O próprio Flamengo chegou à final do certame pela conquista da Taça da Guanabara, e entrou meio que de “araque” – goleados pelo Madureira, em tarde impiedosa de Marcelo, os da Gávea tiveram o favorecimento pela derrota do Botafogo para o Boavista. E então? Quem falhou mais?

O Botafogo apresentou um bonito futebol na Taça do Rio. Parecia que ia arrancar para o título. Contudo, a muralha de vermelho e preto brecou caminho.

No domingo passado, um detalhe selou o empate, quando da expulsão do jovem goleiro Júlio César. O Botafogo era muito superior, perdeu as rédeas da partida e não seria injusto se o Flamengo tivesse virado o jogo. Quem falhou mais?

Foi um grande jogo, o de ontem. Mesmo com limitações e sem jogadas de brilho intenso, a disposição dos dois leões era uma enormidade. Um primeiro tempo de idas e vindas, com chances para ambos os times. Ainda assim, o primeiro tempo foi de ôxo. O Botafogo, tenso pela oportunidade que teve de liquidar a competição na primeira partida; o Flamengo, sentindo o peso da derrota de três tentos para o uruguaio Defensor, no meio de semana. Os dois, naturalmente, muito preocupados um com o outro.

Quando veio o intervalo, Alexis Cuca Stival, o coach alvinegro, inovou: ficou com seu plantel no banco de reservas, em vez de tomar direção do túnel. Tinha a intenção de manter o time aceso com a chama da proximidade dos torcedores botafoguenses. O Flamengo desceu sereno.

E veio o segundo tempo. Arrebatador. Empolgante, talvez, como somente duas outras segundas etapas em muitos anos no Rio: a dos históricos confrontos entre Flamengo e Fluminense, 1995, e Vasco contra Flamengo, 2000. Jogo de arrepiar.

Começando tudo, um gol do artilheiro Souza, quase de carrinho, atirando-se à bola feito um kamikaze, após cruzamento de Juan, aos sete minutos. Boa parte do estádio explodiu como um tiro potente de canhão. E o que se esperaria era o recuo da Gávea, coisa que não aconteceu. Ou o abalo alvinegro, coisa que também não aconteceu.

Oito minutos depois, uma das viradas sensacionais que só o estádio de Mário Filho é capaz de abrigar. O Glorioso tomou frente no marcador. Tinha empatado a peleja com um gol de cabeça do zagueiro Juninho, aos doze. Três minutos depois, um golaço de Dodô, tocando suavemente e encobrindo o excelente goleiro Bruno. Mal sabiam que, uma hora depois, teriam trocado lugar nos postos de glória e lágrimas.

O Botafogo ainda acertou o travessão de Bruno, com nova jogada de Dodô, ao passo que o Flamengo, heróico, atacava incessantemente. Aos trinta, veio a apoteose: Renato Augusto, de longe, acertou o canto médio esquerdo de Max, num petardo daqueles que levanta qualquer torcida em qualquer decisão. Um golaço, digno da galeria de um título.

O empate da Gávea não trouxe predominância para os flamengos, e a partida manteve o equilíbrio que trazia desde o primeiro apito. Lutaram e lutaram, sem maior sucesso no gol redentor. Mais quinze minutos e o Botafogo levou nova estocada: era o fim do jogo. O ataque botafoguense entrou pelo meio de área, em condição legal. Dodô tocou para o gol no canto esquerdo, após a marcação errada do auxiliar Moutinho. Imediatamente, tendo já recebido o cartão amarelo, foi expulso. Uma grande confusão se instalou no gramado, o que geraria vários minutos de acréscimo. Contudo, o árbitro Beltrami, que já vinha com certa lesão no decorrer do jogo e trotava com dificuldade, e que acompanhava os lances à distância, preferiu não correr o risco de estar longe novamente num lance polêmico – e terminou a partida um minuto depois do imbróglio.

Exasperação alvinegra, Dodô fora. Pênaltis.

Bruno pulou com maestria e defendeu o primeiro pênalti, cobrado logo por Lúcio Flávio, um dos melhores do campeonato. Voou no canto direito baixo. Em seguida, fez nova grande defesa e contou também com a sorte: desviou o chute de Juninho e a bola foi ao travessão. Foi o que bastava, aliado aos bons cobradores da Gávea, todos com precisão na hora de converter. E o último, Leonardo Moura, deu uma paradinha de longe, antes de deslocar Max e chutar a bola no canto direito, trazendo a vigésima nona taça do Rio para a Gávea.

Flamengo e Botafogo foram iguais nos três empates que tiveram durante a competição. O Flamengo não conseguiu vencer os outros tradicionais rivais durante a disputa, Vasco e Fluminense. O Flamengo nem sempre teve brilho nas partidas. Porém, no detalhe, na pequena nuance, soube ser o vencedor.
O merecido vencedor. O grande campeão.
E, aos derrotados, o ônus da lamúria.

Paulo Roberto Andel, 07/05/2007

O tropeço

Em sua trilha pela Copa do Brasil, o Tricolor encarou ontem o Atlético do Paraná. Vinte mil pessoas na expectativa, o que pode ser considerado um bom público para os dias de hoje: além do horário tardio, a má jornada de Laranjeiras no ano é um revés para o estádio lotado.

Além do caráter decisivo, enfrentar o rubro-negro sulista tem sido uma batalha de vida ou morte para o Tricolor, seja em pingue-pongue, carteado ou futebol de botão. A massa das Laranjeiras não esquece jamais das cenas lamentáveis ocorridas nos jogos de 1996 – tanto a conturbada e violenta derrota em casa quanto a vergonhosa entrega do jogo seguinte, quando os paranaenses favoreceram claramente o Criciúma e nos conduziram ao descenso. Anos depois, cá estamos nós em nova batalha.

Novamente o Tricolor apresentou um velho problema. A síndrome do gol sofrido.

Tudo corria bem, num bom jogo. Com a volta de Renato à liderança do plantel, parecia um time vibrante, guerreiro, e com um espantoso aumento médio de velocidade, até mesmo de jogadores que não têm a explosão como forte, vide o exemplo de Carlos Alberto.

Na correria, logo veio o gol. Passe de Júnior César, um excelente cruzamento do lateral Carlinhos e uma cabeçada certeira daquele que tem sido o melhor Fluminense da temporada: Thiago Silva. Ângulo esquerdo do goleiro Guilherme vazado, havia um clima de alívio: depois de tempos sem atuações convincentes, o Tricolor parecia estabilizar-se. Ainda havia muito jogo pela frente e, quando ele veio, tudo levava a crer numa vitória convincente, gols e gols sendo perdidos. Supremacia completa de Laranjeiras, ainda que o Atlético não fizesse um mau jogo – estava, sim, era completamente perdido pelo poder do adversário. Aos poucos, o match tomou ares de equilíbrio e então veio a derrocada.

Aos trinta minutos, o time paranaense empatou o jogo, num lance quase despretensioso. O lateral-esquerdo paranaense Nei desferiu um chute de longa distância, com força. A Bola ainda resvalou na defesa e tomou a direção do ângulo esquerdo. O goleiro Fernando, que não tem sido muito afeito às bolas defensáveis, nada pôde fazer para desviar o tirambaço do gol. E o mar negro tomou o Maracanã. Um silêncio enorme, oceânico. Parecia a própria eliminação. Muitos exaltaram-se e passaram a xingar Fernando até mesmo na cobrança de um tiro de meta.

O time desmoronou. Passou a errar passes de meio metro. Tudo virou impaciência. O jogo passou a ser atleticano, o que perdurou até o apito final da primeira etapa.

Na volta, o que se viu foi o Tricolor em chamas, machucado, partindo até meio que atabalhoadamente para a vitória, enquanto os paranaenses agüentavam firme na defesa, buscando esparsos contra-ataques. Por volta do primeiro terço, Rafael Man e Carlos Alberto tiveram oportunidades. Em seguida, o Atlético encaixou sua primeira resposta firme, em chute de Pedro Oldoni e defesa esperta do desacreditado Fernando. Impaciente com as más finalizações, Renato sacou o centroavante herói e inseriu Adriano, o Magrão, buscando novos ventos.

A tendência do jogo não se alterou, exceto pelo maior equilíbrio nos volumes de posse da bola: o Fluminense mais voltado para o ataque, o Atlético buscando os golpes mortais. Os ataques não prevaleceram.

Renato, desesperado com o gol sofrido em casa, que conta como desempate em caso de necessidade, e sem a vitória, buscou ofensividade máxima, substituindo Cícero e Fabinho respectivamente por Thiago e Lenny. Nenhum maior efeito.

Os dez minutos finais ficaram por conta de mais dois gols perdidos: o Tricolor, em bom chute de Alex Dias e grande defesa de Guilherme; o Atlético, num chute de Ferreira para o gol vazio, com excelente corte de cabeça de Luiz Alberto.

O fato é que, se o Fluminense fosse durante todo o jogo o mesmo time dos primeiros trinta minutos, dificilmente não venceria. Ainda assim, foi visível o aumento de certa empolgação do time.

Ao final, claramente o Atlético saiu satisfeito. Jogará em casa por um empate em zero a zero ou uma vitória simples. Novamente os de Laranjeiras estão em apuros: vencer o adversário difícil, rancoroso, em seu campo. Esse time já tirou o Bahia na Fonte Nova lotada. Pode repetir o feito. Por que não? Para o Fluminense, o céu não é limite.


Paulo Roberto Andel, 03/05/2007


Mudança de rumos

Depois de meses, finalmente começou a grande final do campeonato carioca – ou fluminense, para os que queiram corrigir. Dois times com momentos distintos na competição. Dois gigantes que, em raríssimas oportunidades, digladiaram-se pelo título estadual, embora tenham quase cinqüenta taças, quando reunidos.

Com o digno público de uma final, o Botafogo disse ao que veio e foi todo ataque, todo velocidade e toque de bola, contra um Flamengo que veio mais fechado, cauteloso. Entretanto, essa mesma cautela não serviu para deter o ímpeto botafoguense: além dos dois gols, o Alvinegro foi absoluto na primeira etapa. Caso tivesse feito quatro ou cinco, ninguém que tivesse visto o match se assustaria, tamanha a superioridade de General Severiano.

A vantagem do Botafogo, contudo, não se cristalizou de primeira mão. Inauguraram o placar apenas depois de meia hora de jogo, quando um cruzamento rasteiro e esperto de Zé Roberto encontrou Dodô livre na pequena área. Ao contrário da tradicional classe nas finalizações, o sete botafoguense não titubeou: com a chance de gol, praticamente deu um carrinho na bola para impedir a chegada do goleiro Bruno. Ressalte-se, porém, que até os carrinhos de Dodô possuem charme, possuem classe. Talvez, ao notar tantos gols perdidos, Dodô viu a necessidade de que aquela bola entrasse – e, como já dito antes, até sujou o calção pelo tento.

O Flamengo, que já vinha impactado pela completa inferioridade técnica em campo, curvou-se. Havia o temor de uma goleada. Os flamengos, apaixonados por todo o estádio, silenciavam. A cinco minutos do fim, então veio o grande golpe numa rápida cobrança de falta, Lúcio Flávio, entrando elegantemente pela intermediária e meio da área rubro-negras, deixou cinco ou seis adversários caídos até deslocar Bruno com um leve toque no canto direito e explodir a massa alvinegra, num verdadeiro golaço.

O primeiro tempo fechou com a superioridade do Botafogo, tanto no placar quanto em termos de atuação. Magnífica. Tivesse alguém que apontar o vencedor ao final, creio que cada nove entre dez fichas seriam em branco e preto. Futebol, porém, é jogo de surpresas, de idas e vindas, mudança de rumos. E os times voltaram muito diferentes para o segundo tempo.

O Botafogo, estranhamente, recuou mais do que tinha feito em jogos anteriores, e talvez mais do que havia feito durante todo o ano. O Flamengo, que tinha sido um indefeso cordeiro, presa fácil para os alvinegros, voltou como um leão ferido, de Biafra, e ganhou a intermediária adversária. O jogo virou, o Flamengo passou a dar as cartas, alguns bons ataques aconteceram.

Tudo mudou de vez aos dezessete minutos do segundo tempo. Numa jogada rápida, Renato entrou livre pela esquerda do ataque; o jovem goleiro Julio César, afoito, trocou o gol real pela chance de defesa de um pênalti, defesa que a ele não caberia: era o último homem e foi justamente expulso. Renato fuzilou o ângulo direito do reserva Max, e a Gávea descontou.

O estádio levantou vôo com o grito da massa rubro-negra, e os botafoguenses é que tomaram lugar de calados, aflitos, ao enfrentarem um adversário recuperado, veloz e atuando com um jogador a menos. O Flamengo é que passou a mandar no jogo e perder gols seguidos. Tudo pelo avesso.

Aos trinta e três, novo golpe rubro-negro, jab de esquerda. Cruzamento de Leo Lima, que tinha acabado de entrar, falha do inseguro Max e soltura de bola nos pés de Souza, que completou para o gol vazio. Decretado o empate em dois tentos.

Em seguida, confusão. Um bate-rebate, falta quase na linha central do campo, Leo Lima e Diguinho, que tinham acabado de entrar, foram devidamente expulsos. O Botafogo, já sem Lúcio Flávio e sem o seu amuleto cão de guarda, esmoreceu. Por outro lado, o Flamengo, que tinha acabado de reforçar seu ataque, para explorar a vantagem de mais um jogador, perdeu opções. Leo Lima, mais uma vez, pareceu predestinado a seguir o autor de uma jogada só: o famoso cruzamento de letra para o gol vascaíno, na final contra o Fluminense, em 2003. E, portanto, perdendo chances de firmar-se de vez no futebol, enquanto o tempo passa.

Três jogadores a menos em campo significaram muito mais espaços; contudo, o cansaço das equipes, particularmente do Flamengo, que tinha um a mais, não contribuiu para novos gols. E o jogo terminou em empate final.

Cada time teve um tempo a seu favor. Pelas circunstâncias finais, meu palpite é de que, se houvesse um vencedor, ele estaria mais próximo de ser o Flamengo. Não foi. Assim são os clássicos.

Domingo, está programada a batalha final. Ambos os times têm compromissos perigosos no meio de semana: o Botafogo encara o Atlético em Minas, pela Copa do Brasil; o Flamengo visita o uruguaio Defensor, pela Libertadores. Depois de quinta, ficam as expectativas para se conhecer o novo campeão do Rio.

Paulo Roberto Andel, 30/04/2007

Friday, April 27, 2007

Heroísmo

Senhores, creio que, com o término da partida entre Fluminense e Bahia, há instantes atrás, a torcida do Tricolor tenha experimentado uma de suas maiores alegrias neste difícil ano de 2007, menos pela habilitação técnica e mais pela garra e busca permanente de uma classificação que, para muitos, já estava perdida - a começar pelo próprio time baiano, que vibrou intensamente com o empate no Maracanã. Meninos ainda, com muito a trilhar, esqueceram-se de que era o Fluminense, o Tricolor das Laranjeiras e não um Paraopeba qualquer.

Pelo regulamento, o Fluminense superou o Bahia pelo número de gols marcados fora de casa – o jogo de ida tinha terminado com o empate em um gol cada, este fechou igualdade com dois tentos.

As coisas começaram mal. O Bahia, animado por sua fanática e numerosa torcida, que estabeleceu o recorde de presença no estádio até este momento, com quase cinqüenta mil pessoas, imprimiu forte velocidade ao jogo, centralizado no jovem e bom Danilo Rios. Seis minutos de jogo e os baianos abriram o marcador: uma bola espirrou na frente da área e Emerson Cris, um meia, pegou meio sem convicção, quase caindo. Foi o suficiente para superar o inseguro goleiro Fernando, com a bola entrando à meia altura no canto esquerdo.

Parecia que tudo então estava perdido: o Bahia com vantagem, o estádio lotado e o Tricolor, após ter demitido o treinador Joel e combalido por força de sua má campanha nestes últimos meses, parecia à míngua. Parecia, mas não era.

Aos poucos, o Fluminense começou a domar a correria baiana, embora ainda cedesse espaços. Também atacava, de modo que gols foram desperdiçados por ambos os times. Das arquibancadas, Renato, o novo patrão, dava instruções ao auxiliar Eutrópio.Deu certo.

Perto dos trinta minutos, aconteceu a jogada que mudaria todo o panorama da partida. Após centro da direita, Luiz Alberto cabeceou para o meio da área. Lá estava Cícero, livre. Acertou uma mistura de puxeta e voleio, linda, que beijou a trave direita de Paulo Musse antes de ganhar as redes. O belíssimo gol deu moral aos cariocas e estabeleceu profundo silêncio na Fonte Nova – torcedores sentira que aquele não tinha sido um gol qualquer, vulgar, mas sim uma obra capaz de despertar gigantes adormecidos. Alguns dos atletas baianos que comemoraram a classificação afoitamente, no Maracanã, olharam assustadamente. E o Tricolor estava de novo no páreo. Não fazia uma partida brilhante, pelo contrário: errava passes e chutes. Porém, a garra que parecia distante há tempos, se fez presente como nunca. O jogo terminou sua primeira fase de forma equilibrada, sem favoritos.

Quando veio o segundo tempo, o Bahia voltou a pressionar. Não merecia exatamente o gol, dado o conjunto da obra, mas ele veio e de forma estúpida: um gravíssimo erro de arbitragem permitiu que Fábio O Saci socasse a bola para o canto esquerdo de Fernando – que, se não falhou como de costume, perdeu a chance de fazer uma defesa magnífica e evitar o desastre. Saci ainda simulou o cabeceio e correu feliz para a linha de fundo, ciente do delito em campo. A arbitragem deixou seguir e os baianos ganharam vantagem.

Porém, ninguém no estádio tinha perdido de vista a beleza do gol de Cícero, jovem jogador que careceu de confiança dos ex-comandantes, que não o deixavam jogar com Soares, seu parceiro desde os tempos de Figueirense. E a sombra do Tricolor ainda encobria a Fonte Nova.

O gol de Saci não abalou o Fluminense que, ainda atabalhoado tecnicamente, começou de toda forma a aumentar a velocidade, a valorizar a posse de bole e buscar alternativas. Cinco minutos depois do soco ilegal, o empate veio de forma justa: limitado, Rafael acertou finalmente um cruzamento para o centro da área, e Soares, que tinha entrado no lugar de Rafael Moura, escorou com categoria, de chapa, no canto direito de Musse. O empate foi novamente decretado, com mais um gol bonito – e, ali, que passava a ter a vantagem do empate era Laranjeiras. Vantagem que foi muitíssimo bem costurada nos trinta minutos que ainda restaram do jogo, mesmo com a expulsão de Rafael – o Bahia, por sua vez, perdeu Rios.

Nos cinco ou seis minutos finais, em muito admirei o Fluminense pela inteligência: marcava no campo do adversário, com relativa pressão, e gastava o tempo prendendo a bola com inteligência, no fundo do campo. O Bahia sentiu o golpe e, advindo de seis gols do Vitória no domingo, pelo certame baiano, não teve forças para buscar um gol salvador.

Não se comemora resultado em futebol antes da hora.

Saci esqueceu que, do outro lado, havia uma camisa com cento e cinco anos de conquistas e acostumada a superar todo tipo de mazelas. O empate com sabor de derrota tirou-lhe a outra perna e a chance de pular para qualquer comemoração. Ao final do jogo, recebeu de volta a gozação, bem lembrada pelo zagueiro Luiz Alberto.

O Tricolor segue em frente. Recebe o Atlético do Paraná.
É um jogo esperado há dez anos pelos de Laranjeiras, como veremos a seguir.

Paulo Roberto Andel, 26/04/2007

Mãos à taça

A fantástica vitória botafoguense na tarde de ontem, dia de Tiradentes, sobre o valoroso Cabofriense, foi muito importante; afinal, o time de General Severiano garantiu vaga para a grande final do campeonato do Rio, contra o Flamengo. De quebra, ainda venceu o segundo turno. Houve uma festa muito bonita, com o colorido das arquibancadas e cadeiras contrastando-se com o preto e branco da estrela solitária. Teria algo mais importante?

Sim.
Para os que acompanharam o jogo, seja pela tevê ou in loco, desconfio que a maior lembrança atrelada à conquista da Taça do Rio seja a do maravilhoso futebol jogado pelo Botafogo, com especial ênfase no primeiro tempo.

Com vinte minutos de jogo, o Botafogo já tinha emplacado três a zero. Acidente? Acaso? Falhas de Cabo Frio? Nada disso. Apenas um futebol belíssimo. E três golaços. De certa forma, tudo o que não havia ocorrido na primeira partida da final, domingo retrasado, aconteceu ontem. E como!

O primeiro deles, onze minutos. Lúcio Flávio levantou da esquerda, invertendo. O volante Túlio acertou um petardo com categoria, de primeira, meia altura do canto direito defendido pelo excelente Gatti. Em seguida, outro golaço que poucos jogadores brasileiros sabem fazer como Dodô: deixou o gigante Marcão, o Rei Zulu, no chão, trocou de pé, ajeitou e fuzilou com a direita, ângulo esquerdo de Gatti. O golpe fatal veio aos vinte: uma jogada maravilhosa, bem ensaiada e simples, com o Botafogo indo e vindo da intermediária de Cabo Frio, virando as jogadas, aprumando, até que Joílson veio pela direita e deu um passe para Zé Roberto livre, que entrou na área e fuzilou Gatti.

Três a zero. Um colosso. Mas o jogo não terminaria assim.

Um susto para os botafoguenses, mais do que plausível, ocorreu com o gol do Cabofriense, marcado de cabeça pelo atacante William. Coisa de vinte segundos. Mesmo com o gol e a valentia do time costeiro, o Botafogo não se intimidou: manteve as rédeas da partida e fechou o primeiro tempo com mão e meia na taça. Poderia cogitar até de pôr as duas; entretanto, como sabemos, a torcida mais supersticiosa do Brasil não faria isso por temer aquelas coisas que só acontecem ao Botafogo. Todavia, o segundo tempo e a vitória final colocariam por terra qualquer temor.

O segundo tempo veio, com o Cabofriense aguerrido e veloz, mas sem a força para enfrentar o verdadeiro aríete que o Botafogo incorporou. Demolidor. Cuca, no decorrer do tempo, fez alterações convencionais, tirando paulatinamente Zé Roberto, Lúcio Flávio e Jorge Henrique, respectivamente por Juca, Diguinho e André Lima. O ritmo da equipe, embora menos acelerado do que na primeira etapa, manteve-se em ótima forma.

E, claro, como não pode deixar de ser, como em toda final, polêmicas aconteceram. Os alvinegros reclamaram com provável razão um possível gol de Zé Roberto, questionando o impedimento marcado. Os cabofrienses, ao final do jogo, assinalaram o segundo tento, através de Alexandro. Entretanto, desde que a bola tinha partido da intermediária de Cabo Frio, o auxiliar Beival já tinha erguido sua bandeira. Houve discussão e confusão. Nada que pudesse manchar o brilho alvinegro, importante registrar.

Agora, depois de tantos lances bonitos, de um belo futebol que consagrou o Botafogo e parabenizou a bravura do Cabofriense, não se pode deixar de comentar um lance engraçadíssimo e, ao que se saiba, inédito: aconteceu uma jogada de falta na intermediária de Cabo Frio, contestada pelo punido, o bom zagueiro Cléberson. Ubiraci Damásio, o árbitro, veio lentamente e com bom-humor, contemporizando. Num momento, árbitro e jogador ficaram frente a frente, proximamente. Cléberson não titubeou e beijou carinhosamente Ubiraci. Constrangido, o árbitro não teve outro caminho a não ser aplicar o cartão amarelo por conta do beijo.

Os botafoguenses estão felizes. O time está bem, arranjado e veloz. Chegou à desejada final. O adversário é o sempre temível Flamengo. Espera-se um confronto épico. Momento por momento, sabe-se que o Botafogo está melhor. Outro fator, com maior ênfase psicológica do que propriamente técnica está no fato de que, desde a inauguração do Maracanã, os dois times decidiram apenas dois títulos estaduais, em 1962 e 1989, com vitórias do Botafogo. Outros podem lembrar que, na última vezes que decidiram um título no estádio, que era o do campeonato brasileiro de 1992, deu Flamengo.

Porém, quando dois gigantes enfrentam-se numa final, nada é simples nem previsível.

Aguardemos o domingo, quando os tambores começarão a rufar.

Paulo Roberto Andel, 22/04/2007

Complicações

Caríssimos, o Maracanã ontem presenciou a dificuldade no futebol quando um momento é essencialmente adverso.

O Tricolor deparou-se contra a equipe de três cores da Bahia de São Salvador. Primeiro jogo de eliminatórias pela Copa do Brasil, torneio que tem a sua importância: primeiro, ela traz ao cenário times que pouco aparecem na mídia durante boa parte da temporada. Segundo, permite a essas mesmas equipes, muitas consideradas de pequeno porte, o sonho de uma boa colocação e até mesmo do título – que o digam Criciúma, Santo André e Paulista. Terceiro, o fato de a competição ser no sistema popularmente conhecido como "mata-mata" tempera todos os jogos, que têm caráter decisivo.

Falarei do jogo. O Tricolor não passa por uma boa fase. Passes simples tomar enorme ar de dificuldade. Uma simples cobrança de lateral para ter a sombra do desespero. Compreende-se. Um clube centenário, criado do paradigma do futebol nacional, acostumado a títulos e com muito pouca coisa a comemorar nos dias vigentes. O escapar da degola no campeonato brasileiro do ano passado trouxe sopros de mudança. Contrataram dezessete jogadores e dispensaram Marcão, o novo Rei Zulu. Não poderia ser impunemente. Veio o fracasso na competição doméstica, não há um time pronto para o brasileiro e o que sobrou foi o sonho da Libertadores, cuja via de acesso com menor tráfego é a Copa do Brasil. Logo, todas as fichas nela estão, e a pressão é grande. Por outro lado, o descrédito gerado pela má campanha traz pouca gente ao estádio, uns dez mil. O Tricolor não é time de estádios vazios. Para ele, cem mil torcedores é uma reles bagatela. Injusto, portanto.

Sim, o jogo. O primeiro tempo não foi de todo mau; aliás, nem mau chegou a ser. O Fluminense, ao contrário de outras partidas, começou com ímpeto e criando jogadas, pressionando, fazendo valer sua condição de mandante, contra um Bahia grande de camisa, mas atualmente muito limitado. Pouco depois dos quinze minutos, Rafael Moura, perito, perdeu gol feito acertando a trave, para desespero da nação. Em seguida, veio um cruzamento da direita, Carlos Alberto matou, ajeitou e chutou bem, com força, no meio do gol, mas sem defesa para o veterano goleiro Paulo Musse. A partir de então, pelo restante do primeiro tempo, veio relativa calmaria para Laranjeiras: atacava, embora sem perícia nas finalizações, e não era incomodado em nenhum momento pelos baianos. Respirava-se com certo alívio. Veio o intervalo. O Fluminense terminou relativamente bem, terminou melhor do que todos os seus jogos recentes.

E então, amigos, aconteceu o que eu me referia no primeiro parágrafo, o pandemônio que é enfrentar a tempestade constante, a má fase. Tivesse um bom momento nas mãos, o Tricolor teria ampla vantagem no marcador durante a primeira etapa, pelo menos mais dois tentos, e tudo estaria num mar de rosas. Porém, o magro escore deu margem para novos temores. E na Copa do Brasil, sofrer gols em casa é perigo de óbito.

O Tricolor vive um mau momento.

O primeiro ataque baiano misturou falhas da zaga com a freqüente ineficácia do goleiro Fernando ao sair do gol. O veloz atacante Fábio Saci não perdoou e completou para as redes. A partir de então, outro Fluminense ocupou o campo, temeroso com o revés. Um Fluminense medíocre, acuado por um adversário naturalmente mais fraco, nervoso, perdido. Passou a errar tudo. E o jogo passou para as mãos do Bahia, que só não virou marcador devido, repito, à limitação de seu time. Torcedores de arquibancada vociferavam permanentemente e a vaia passou a dominar o Maracanã, com apupos reforçados para o ocupante da meta de Laranjeiras.
Não tenho em mente maiores lances de enorme perigo ou emoção no match. Lembro, isso sim, da vaia. A desconcertante e pavorosa vaia. Posso dizer que o jogo acabou na fantasia que tornou-se realidade, com o folclórico Saci. Tornou-se algo horrível de se ver, ainda que necessário para os torcedores de fé. Era quase uma autópsia de mau futebol.

Dez mil pessoas nervosas, irritadas.

O final não poderia ser pior. Houve uma falta desnecessária de Carlos Alberto, ao término do jogo. Tomaria apenas o amarelo. Nervoso como estava, alterou-se e foi expulso. As arquibancadas rejeitavam Joel e louvavam Renato Foi um empate com sabor de derrota.

Nada está perdido, senhores, é o Fluminense. Ao Bahia, serve um empate sem gols. Ou uma vitória simples. E só. Para os Tricolores, repetir o mediano primeiro tempo de ontem já seria um alento para uma vitória, ou mesmo um empate por dois ou mais gols, que traria a vaga para os cariocas.

O time está nervoso. Carlos Alberto não joga. A defesa confunde-se. A meta está vazia.
Reitero, porém, que, quando trata-se de Fluminense, a vitória impossível simplesmente não existe. É muito difícil, e poderá ser mais ainda. Impossível, jamais.
Nem com a má fase pelo caminho.

Paulo Roberto Andel, 19/04/2007

Suspense

O encanto do futebol vem da sua pluralidade, das inúmeras possibilidades que uma peleja permite, interpretações, panoramas. O futebol é um verdadeiro caleidoscópio – cada ângulo traz à mente uma diferente imagem. E é disso que nasce a paixão pelo esporte maior.

Assim foi o jogo de hoje, a grande final da Taça do Rio. O teoricamente favorito Botafogo contra o muito bem armado Cabofriense.

O placar não traduziu a dinâmica do jogo e, em alguns momentos, ele ficou completamente avesso ao que acontecia: quando o Botafogo era muito melhor, os de Cabo Frio igualaram o marcador. No fim do jogo, quando tudo indicava a vitória das três cores, o Alvinegro chegou ao empate. Partindo desse princípio, houve alternância, equilíbrio; contudo, ao verificar a quantidade de jogadas perigosas de ataque, o Botafogo foi avassalador. Somente no primeiro tempo, foram mais de vinte ataques e cinco chances reais de gol, com apenas um aproveitamento. E que aproveitamento! Dez minutos aproximadamente, uma cobrança de falta ensaiada, executada por Lúcio Flávio, chegou a Dodô. Ele raspou na bola, que tocou no travessão. Na sobra, prevaleceu o talento: ajeitou o corpo e desferiu belíssima bicicleta, abrindo o placar.

Os vinte e cinco minutos seguintes foram um verdadeiro show botafoguense, com ataques empolgantes e uma atuação espetacular do jovem goleiro Gatti, que provavelmente trocará de clube em breve, dado o enorme destaque de suas partidas no certame. Quem visse a primeira meia hora da partida seria capaz de apontar o Botafogo campeão da taça e do ano, sem piedade. Mas o futebol tem seus ares de caleidoscópio. Uma falta cobrada no travessão e a bola sobrou livre para a Cabofriense empatar a partida, num momento em que o Botafogo era senhor absoluto das ações em campo. Quem foi o artilheiro? Marcão, ídolo de Laranjeiras e que marcou boa parte de seus poucos gols na carreira contra o Alvinegro. E era uma decisão. Marcão fez gols nas partidas de conquistas do Tricolor em 2002 e 2005. Ratificou a característica de goleador em decisões.

Os minutos finais de jogo mostraram um Botafogo sentindo o golpe, mas sem desespero. E, claro, um Cabofriense mais confiante, que entrara em campo como coadjuvante do espetáculo e tinha revertido o quadro: o Botafogo vinha de um primeiro tempo excelente, afora a grande atuação do meio de semana, quando conquistou a vaga contra o Vasco. Terminou o primeiro tempo.

Retomada a partida, o Botafogo disse a que veio, com uma bola na trave logo de começo, sete minutos. Parecia que o time tinha absorvido bem o golpe do primeiro tempo.

Entretanto, como todos sabemos, há coisas que só acontecem ao Botafogo.
No minuto seguinte, uma falha de marcação na defesa botafoguense, com a linha de impedimento – para alguns, a linha "burra" – equivocada, permitiu que o ex-alvinegro Marcelinho entrasse sozinho pela direita, driblasse Júlio César e tocasse para o gol vazio. Pânico na parte cheia das arquibancadas do Maracanã. Sabia-se que a derrota no primeiro jogo aportaria enorme tensão para a partida final, a ser realizada no domingo que vem.

E o jogo mudou novamente.

O Botafogo não era mais o time bem-articulado da primeira etapa. Mas tinha a força, a vontade. E partiu para cima dos de Cabo Frio. As jogadas já não saíam com a mesma precisão, devido a erros e, claro, o nervosismo que toda equipe considerada de grande porte tem, quando encontra-se em desvantagem perante um adversário mais modesto.

No meio do segundo tempo, veio uma nova bola na trave, no travessão, cabeceada pelo zagueiro Juninho. Murmúrios das arquibancadas revelavam exasperação. E o Cabofriense defendia-se como era possível, utilizando bem os contra-ataques, embora sem ameaçar significativamente a meta de Júlio César.

A dez minutos do fim, um certo alívio inundou o Maracanã, quando Jorge Henrique cruzou da direita e ele, sempre ele, Lúcio Flávio, entrou pela diagonal da esquerda e cabeceou no contrapé de Gatti, dando números finais ao jogo.

Não foi um resultado que possa ser considerado bom para o Botafogo. Dadas as circunstâncias finais da partida, até foi; contudo, pela quantidade de gols perdidos e pelo enorme volume de jogo na primeira etapa, houve um sabor amargo de derrota. Matematicamente, a visão é outra: o empate salvou o Botafogo da enorme dificuldade que teria se, hipoteticamente, fosse enfrentar um time com a vantagem do empate.

A decisão mesmo, a primeira, é no domingo. O Botafogo luta. Até lá, ficamos sob suspense.
Enquanto isso, os outros descansam, pensam no futuro, na Copa do Brasil, no Brasileiro.

E o Flamengo espera, espera.

Paulo Roberto Andel, 16/04/2007

Os clássicos são eternos

O jogo entre Botafogo e Vasco, realizado na noite de ontem no Maracanã, provavelmente foi o mais emocionante do ano até agora. E pode ter sido também o mais emocionante desde muito tempo atrás – o primeiro tempo, com certeza, foi o melhor em mais de uma década. O horário tardio imposto pela transmissora e mais a transmissão aberta trouxeram menos púbico do que a partida pedia. De toda forma, clássico eterno!

Emoção que começou antes do jogo. Romário estava prestes a marcar o milésimo tento, mais uma vez, após fracassadas tentativas e ausência de jogos fora do Maracanã. Alguns botafoguenses desesperados temiam o rol das coisas que só acontecem ao Alvinegro.

E o começo foi de arrasar. Com falhas de goleiro Júlio César e do volante Túlio, em três minutos o Vasco já tinha aberto dois a zero, com gols de Renato e Abedi. Temia-se por uma goleada histórica em General Severiano. E, com esse retrospecto fulminante, seria o esperado.

Há coisas que só acontecem ao Botafogo.

Um minuto depois da segunda festa vascaína, o Botafogo eletrizou ainda mais o jogo, em súbita cabeçada de Luciano Almeida, após cruzamento de Lúcio Flávio pela direita. Em diante, a partida mais rápida e disputada do campeonato, com ataques e contra-ataques eletrizantes, até que aos vinte e um minutos, em ritmo frenético, o Botafogo chegou ao empate: houve um cruzamento rápido de Luciano Almeida, e Zé Roberto finalizou violentamente, de primeira. O silêncio vascaíno foi reflexo do que então aconteceu: ali, o jogo estava na mão dos alvinegros, e tudo indicaria que a virada seria questão de momento. Impunha-se mesmo diante de um Vasco vigoroso, raçudo e que tinha aberto dois gols em tempo recorde num clássico.

Gols de um lado e de outro, mas sentia-se no ar que a respiração diferente em todo o estádio acontecia quando Romário aproximava-se da bola. Isso aconteceu aos trinta e três minutos: Jorge Luiz, invertido, foi a fundo para o cruzamento pela direita -a bola encobriu Júlio César e entrou no ângulo direito. Romário vinha com tudo e chegou a três centímetros da bola, se muito. O Vasco, que tinha passado a ser dominado, avançou novamente no placar.

Há coisas que só acontecem ao Botafogo, mesmo que por pouco tempo.

Três minutos. Novamente, depois de mortalmente golpeado, o Botafogo saiu das cinzas aos céus. Mais uma vez, mais uma grande jogada de Lúcio Flávio, cruzando da direita, e Dodô cabeceou inapelavelmente contra as redes de Cássio. Alívio na esquerda das tribunas, mal estar na direita e, de certa forma, uma saudável sensação de justiça. O Botafogo estava muito melhor, muito mais firme e objetivo.

Os vascaínos sabiam disso. Perceberam que a vantagem inicial e o terceiro gol foram frutos da velha camisa, da força, e não de uma atuação soberba, embora com muita raça e velocidade. Não o suficiente para brecar a fúria alvinegra. A um minuto do fim, ele, decisivo, Lúcio Flávio, cobrou falta na frente da área. A bola quicou e entrou no canto esquerdo de Cássio, que falhou no lance. Pela primeira vez no incrível jogo, o Botafogo saltava no marcador e superava os vascaínos. E terminou o primeiro tempo de um jogo incessante, capaz de tirar o fôlego de qualquer um.

Veio o segundo tempo, incendiário com a falta que Guilherme acertou no travessão botafoguense. Depois, um momento de tensão; com a confusão do árbitro Calábria, Túlio foi expulso e o jogo, paralisado. A vantagem de um jogador para o Vasco foi temporária. Em paralelo, as modificações: Cuca, o treinador Alexis Stival, como anuncia o velho placar de lâmpadas, tirou Lúcio Flávio e colocou Diguinho, para aumentar a marcação e compensar Túlio. A famosa lei das compensações tirou André Dias dos cruzmaltinos, que tinha entrado justamente para aumentar a velocidade do time, no lugar de Júlio Santos, aos dezessete minutos. A partir de então, jogo franco, com velocidade forte embora não a mesma do alucinante primeiro tempo. Mais chances para o Botafogo: um pênalti em cima de Dodô não foi marcado,uma excelente jogada de Jorge Henrique para o desarme de Dudar.

Quando a vitória se aproximava e a superioridade alvinegra era inquestionável, a menos de dez minutos do fim, Alan Kardec subiu sozinho para cabecear a bola advinda de cruzamento da esquerda, e fuzilou o ângulo direito de Júlio César. Era o empate em quatro tentos. Seria um gol espírita?

Alan Kardec. Há coisas que só acontecem ao Botafogo.

Inimaginável um jogo com oito gols e nenhum de Romário. Fato quase inédito em sua carreira.
Jogo encerrado, tudo entregue à magia dos pênaltis. Melhor dizendo, tiros livres diretos cobrados da marca penal. Drama para depois da meia noite.

Em tese, e apenas tese, em geral quem empata o jogo vai para os pênaltis com certa, digamos, força na hora de cobrar. O time que tinha a vitória nas mãos geralmente sofre certo abatimento. Dessa vez, tudo mudou.

Morais e Dudar, bons jogadores vascaínos, realizaram cobranças esdrúxulas. Uma, bem defendida por Júlio César; outra, longe da esquerda do gol. E o Alvinegro fechou a série com quatro gols contra um, conquistando o direito de decidir a Taça do Rio contra o vencedor da partida de hoje, envolvendo o Madureira e o Cabofriense. Uma vitória que varou madrugada.
Em futebol, tudo pode acontecer. Há lenha para ser queimada. Contudo, pelo visto, o Botafogo tem favoritismo para chegar à grande final do certame. Que o vencedor de hoje se cuide.

E o Flamengo também.

Há coisas que só acontecem ao Botafogo. Algumas, maravilhosas.
Paulo Roberto Andel, 13/04/2007

A derrocada

Amigos, o Tricolor despediu-se do campeonato estadual no dia de ontem, após uma difícil vitória sobre a atlântica equipe do Boavista, pelo placar de quatro tentos a três.

Foi uma tarde tristonha. Inicialmente, pelo reduzidíssimo público presente ao Maracanã. Cerca de duas mil pessoas. Havia um vazio enorme nas arquibancadas, um sentimento de solidão. Compreende-se o desinteresse pelo jogo, tendo em vista que a classificação do Fluminense tinha probabilidades mínimas, devido a uma péssima campanha no certame atual. O simpático Boavista trouxe sua pequena leva de torcedores de Saquarema, apoiados pela prefeitura local, acrescidos de mais uns dois ou três rubro-negros – sim, incrivelmente, rubro-negros porque o jogo de fundo, após o pesadelo de Laranjeiras, viria a ser Flamengo x América, mero amistoso com a consolidação dos resultados das partidas até às seis da tarde.

O Maracanã não nasceu para ficar vazio. Dentro dele, é preciso um turbilhão de pessoas, um mundaréu de gentes. O grito das torcidas, a tensão, as cores e a festa.

Tarde ensolarada, vendedores de picolés e bebidas gritando seus produtos, começa o jogo. Parecia que o Tricolor, em sua batalha final, tomaria ares de vitória: numa jogada confusa, com bola quicando na área, Cícero tocou para as redes e abriu o escore. A minúscula massa vert, blanc & rouge teve segundos de satisfação. Segundos.

Saída de bola, ataque do Boavista pela direita da defesa, falha de Luiz Alberto, e o cruzamento veio na medida para o esperto atacante Anselmo fuzilar a rede. Mal construíra vantagem, o Tricolor sentiu o peso, a consolidação da precoce eliminação, e tudo temperado com vaias e palavrões dos torcedores mais exasperados. Toda a frustração aos berros, e poderia até piorar. Piorou.

O lateral Paulo Rodrigues, aos vinte e três minutos, acertou um chutaço do bico esquerdo da grande área, decretando a virada. Com a vantagem de Saquarema, os arquibaldos dirigiram-se furiosamente para a grade que os separa das tribunas, e xingaram ardorosamente o presidente Horcades. O baixo calão também atingiu em muito a Joel Santana. Em dado momento, foi mais interessante ver o espetáculo bizarro das arquibancadas do que, propriamente, assistir o jogo. Em campo, o Fluminense estava completamente perdido e alguns cogitaram o terceiro gol do Boavista, que não aconteceu. Assim terminou a primeira etapa.

Com a péssima atuação, era difícil imaginar o que poderia ser feito para alterar os ventos do Tricolor. Joel tirou Roger e Soares, para as entradas de Júnior César e Rafael Moura. Se as substituições feitas levassem em conta o histórico dos jogadores, eu diria que a de Roger foi péssima e a de Soares, ruim. Entretanto, por se tratar de questão pontual, deu certo. Ainda que com muitos erros, Júnior deu mais velocidade ao time. E Rafael Moura, bastante desengonçado, entrou raivoso, mito disposto. Aconteceu que o panorama do jogo se alterou: o Fluminense, aos tropeços, tomou as rédeas da partida – ruim, ressalte-se – e ofereceu ao Boavista apenas as opções de contra-ataque. Isso, no campo. A torcida ainda estava, com justiça, muito irritada com a atuação horrorosa.

Veio uma cobrança de falta, aos dezessete minutos. A defesa do Boavista parou, Luiz Alberto raspou de cabeça, sozinho, para decretar o empate. Então, o desgastado Boavista deu sinais de derrota, quase consolidada sete minutos depois do gol de Luiz, quando o limitadíssimo mas esforçado Rafael Moura escorou bem um cruzamento e virou o jogo. No outro lado, o de Boavista, o destaque ficou por conta da entrada do polêmico atacante Alex Alves, fora do peso e metrossexual assumido.

Não se pode negar jamais o espírito crítico dos torcedores do Fluminense. Mesmo com a virada, a torcida em momento nenhum aprovou a atuação do Tricolor, e manteve suas críticas, mesmo com a vantagem no placar. Para se ter uma idéia, a melhora substancial do time do Fluminense fez com que a partida se tornasse apenas, digamos, ruim.

Os momentos finais do jogo foram marcados por mais um gol de Carlos Alberto, sem comemorações, a dez minutos do fim. A cinco, mais um lance patético envolveu o goleiro Fernando: atrasado no tempo de bola, saiu mal do gol na esquerda da grande área e cometeu pênalti em Everton. Por ser o último homem da falta, foi devidamente expulso. O Fluminense já tinha feito as três alterações e, com isso, Cícero foi para o gol. Quase pegou o pênalti, cobrado por Anselmo e provocou a reação de torcedores mais bem-humorados, que pregavam sua efetivação na nova posição.

Os cinco minutos finais serviram para celebrar a péssima partida. Curiosamente, quem vir apenas o placar, terá a impressão de um match emocionante – e não foi absolutamente o caso. O adeus do Fluminense foi vitorioso no placar, mas amargo no que significou.

Torcedores do Flamengo, que chegaram antes para a preliminar, devem ter divagado sobre o que lhes esperava em seguida. Seria uma vitória, como a Tricolor. Seria um jogo fraco, como o anterior. Mas o Flamengo está na final. O Fluminense busca a sorte no futuro.
Paulo Roberto Andel, 08/04/2007

Thursday, April 05, 2007

Quase inesperado

Devido ao não acontecimento do milésimo gol de Romário na partida contra o Botafogo, realizada no domingo passado com absoluta vitória alvinegra, foi criada à última hora uma rodada dupla no Maracanã, abrigando os jogos desta quarta, ambos pela Copa do Brasil. O jogo do Fluminense contra o América de Natal foi antecipado no horário, de modo a comportar o Vasco na partida de fundo contra o brasiliense Gama.

A preliminar foi assustadora para os torcedores do Centenário. O Fluminense, que vinha de uma derrota no clássico contra o Botafogo, mas tinha jogado bem, em seguida despencou. Derrotas inquestionáveis para o desfalcado Madureira e o limitado Americano praticamente alijaram o Tricolor de uma conquista carioca. Atuações péssimas. E não foi diferente ontem. A vantagem de ter marcado dois gols fora de casa, na partida de ida, foi a salvação de Laranjeiras – a de volta foi catastrófica, só não resultando em eliminação por causa das limitações imensas do time potiguar, que perdeu uma arroba de gols por absoluta escassez técnica. Os poucos e corajosos torcedores presentes ao Maracanã assistiram um espetáculo bizarro, um non sense, algo inimaginável para um time que, em tese, treina junto alguns dias da semana. Parece que alguns acabaram de colocar o manto Tricolor e entrar em campo, sem conhecer os companheiros de time, tamanho o desacerto. Outros, estigmatizados pela deficiência em passes simples e dribles, foram exorcizados com impactantes palavrões. Até mesmo o querido Carlos Alberto, jogador de grande potencial, mas que, reconhecidamente, ainda não atingiu o Pantheon, foi vaiado feito chuva em cântaros. Fato grave foi também o Tricolor atuar boa parte do segundo tempo com um jogador a mais e ser amplamente dominado – parecia que o América é que tinha o onze completo em campo. Não há um chute, um passe, um drible a ser destacado. Pavoroso. O Fluminense, beneficiado pelo regulamento, agora enfrenta o Bahia, e certamente terá sérias dificuldades de ir à frente na competição brasileira que, agora, começará a afunilar.

O raso público Tricolor na partida preliminar diminuiu ainda mais com o fim da lamentável partida, classificação com sabor de derrota. De toda forma, alguns ficaram para tentar testemunhar o tão esperado gol de Romário, fazendo galhofa também ao criarem torcida para o simpático Gama.

Ressentida com a derrota de domingo, além do péssimo horário de quase dez da noite para um match, a torcida de São Januário veio em bom número para uma partida comum, não para a festa que poderia acontecer. Mais de trinta mil pessoas. Não o desejado, mas suficiente para um barulho digno dos velhos tempos de Maracanã clássico.

Claro, todas as atenções e holofotes estavam direcionadas para Romário. Todos, absolutamente. Quando definiu-se para que lado o Vasco atacaria, todos correram para o gol à esquerda da tribuna, esperando com fé a finalização mágica do Baixinho, que acabou não acontecendo.

O primeiro tempo começou logo com o gol do Gama, num chute de longa distância dado por Ninja, isso mesmo, com a complacência de Cássio. Não seria o que se chama de um “frango” convencional, mas um gol evitável. E isso enervou os vascaínos, que sofreram bastante com o bom toque de bola e a velocidade do time planaltino, senhor da partida.

Uma jogada e outra, lá, houve um cruzamento e Renato cabeceou sem defesa para o bom goleiro Juninho, por volta dos quinze de jogo. Naquele momento, o Gama era melhor e o Vasco igualara o placar. Esperaria-se uma apoteose com a reação, apoiada pela massa vascaína. A torcida fez seu papel, mas o time não. De alguma forma, pode-se dizer que o jogo ficou mais próximo do equilíbrio do que do, até então, predomínio do Gama. Nos dez minutos finais, não houve grandes emoções e a partida continuou como estava, exceto por um lindo passe de Romário para a conclusão de Morais e defesa de Juninho.

Marcante foi que, a cada ataque do Vasco, havia um suspiro diferente, um “uhhhh”, mesmo que as jogadas não fossem tão ameaçadoras. Todos queriam o gol de Romário. Meu amigo Álvaro Dória alertou-me de que parecia mesmo um Maracanã de antigamente – um Maracanã que ele não identificou na volta dos times: o Vasco esperou vários minutos pela volta do Gama, e apenas o goleiro Cássio aquecia-se; o resto do time, de mãos na cintura, espreitava o círculo central. Ninguém chutando bola, trocando passes. Um mau sinal, que confirmou-se: voltou o panorama da primeira etapa, com a velocidade e o bom toque de bola do Gama, contra esparsos ataques do Vasco – num deles, Guilherme, que acabara de entrar, acertou a trave. Mas era pouco. Romário, vigiadíssimo, não teve chances reais.

O tempo foi passando e o empate garantia São Januário na fase seguinte. A força dos ataques do Gama foi diminuindo, devido ao cansaço e tudo parecia que terminaria como desde o primeiro tempo. Os suspiros da torcida estavam recolhidos. E, quase inesperadamente, no último ataque da partida, já nos acréscimos, uma excelente cobrança de falta de Marcelo Uberaba, no ângulo direito de Cássio, deu números finais ao jogo, eliminou o Vasco e aumentou o amargor pelo ainda não feito milésimo gol.

Esperava-se a festa cruzmaltina. Acabou com abraços efusivos do time alviverde, comemorando o feito histórico. Mais uma vez, adia-se o sonho de Romário.

Um ou outro torcedor do Fluminense mostrava satisfação: se fosse o Gama em vez do América, teria sido muito pior para Laranjeiras.


Paulo Roberto Andel, 05/04/2007

Monday, April 02, 2007

Retrato em branco e preto

Depois de dois meses, finalmente o Maracanã teve o público que merecia para o jogo entre Vasco e Botafogo. Mais meses, talvez. Um clássico, com gritos de torcida, confrontos e a saudável tonalidade de perto e branco que cobre o estádio quando os dois times se enfrentam, uma ligeira impressão de que as coisas voltam aos anos sessenta, quando parecia que tudo daria certo no país do futuro denominado Brasil.

Mais do que a disputa pelo acesso às semifinais da Taça do Rio, que já parecia quase assegurado para ambas as equipes, houve o principal motivo para a lotação do Maracanã: o milésimo gol de Romário. O astro, a atração máxima. Não faltavam motivos: o Baixinho foi o principal algoz botafoguense dos últimos vinte anos, marcando mais de trinta tentos, e brilhou na maior goleada que o Alvinegro tomou em toda a história do Maracanã. Romário está no canto do cisne de sua carreira, impulsionado pela marca história – aos 41 anos, mostra que ainda pode e sabe fazer os gols. Em suma, as estatísticas indicavam que lugar dos vascaínos era ontem, na arquibancada da direita. E eu creio que foi justamente o milésimo gol que decidiu a partida, embora não tenha sido marcado.

Tenho minhas razões.

Primeiramente, embora o Vasco seja um gigante do futebol, um colosso mundial, sua direção tem resistências em jogar no Maracanã porque, como dizem, “o Vasco tem estádio”. E tem mesmo. São Januário, berço de beleza e pioneiro na democracia do futebol brasileiro. Porém, São Januário é de 1927, quando o time vascaíno não tinha cinco anos de primeira divisão. A partir de 1950, como seria para todos os outros gigantes, era natural que o Vasco fizesse do Maracanã o seu palácio – e assim o fez, por quase quarenta anos. Das equipes de imensa torcida do Rio, o Vasco é o único que não faz do Mário Filho a sua prioridade, e nele joga menos do que deveria. Resultado é que ontem, com todo o respeito que o clássico mais do que merece, Maracanã tomou ares de final da Copa do Mundo, dada a possível marca de Romário. Pela atuação cruzmaltina, há uma impressão de que o time sentiu o peso do gol mil, o estádio abarrotado, a pressão – coisas que, se estivesse com justiça mais vezes no Maracanã, provavelmente os jogadores não sentiriam. Pode ter sido um mísero detalhe, mas as grandes vitórias no futebol são conquistadas em detalhes, às vezes. O Vasco merece mais o Maracanã e vice-versa. Quando o Maracanã foi erguido, o grande time do país era justamente o Vasco – e dele, Vasco, generosas sementes floresceram nos anos cinquenta para que o Brasil iniciasse a trajetória para o tope do mundo futebolístico.

Outra questão. É claro que a imprensa incendiou General Severiano, ao presumir que Romário faria o gol de qualquer forma contra o Botafogo. Treinados por Cuca, grande jogador que por muito tempo aliou técnica e raça, os alvinegros alimentaram-se da mídia para dar o máximo de si no campo. E foi o que aconteceu. O Botafogo entrou em campo como um leão ferido, ávido de vingança e rei das selvas. E foi senhor absoluto do jogo, imponente, como não se via há muito tempo, mesmo quando vencia o Vasco. A última vez que me lembro de tamanha autoridade dos botafoguenses foi nos tempos do time de Túlio, mais de dez anos.

Clássico não se vence de véspera, e os vascaínos já deveriam saber disso.

Com quinze minutos de partida, o Botafogo vencia com o gol do excelente Lúcio Flávio, um chute forte, de fora da área, que tocou a trave esquerda de Cássio antes de beijar a rede, mas no lado oposto. E estes quinze minutos foram fulminantes, com cinco chances reais de gol e um Vasco recuado em seu próprio campo. Como reza a tradição, após a desvantagem, os vascaínos arriscaram-se mais no ataque, embora sem nenhuma ameaça causada ao jovem e bom goleiro Júlio César. Romário teve apenas duas aparições na primeira etapa; na primeira, pôs a mão na bola e foi advertido com cartão. Na segunda, encobriu o goleiro botafoguense, que defendeu bem. O primeiro tempo encerrou botafoguense.

A segunda etapa foi aberta por chance clara de Jorge Henrique, para brilhante defesa de Cássio – seria a primeira de muitas. O goleiro vascaíno fez uma série de grandes intervenções e impediu o que seria uma justa e implacável goleada de General Severiano. Em contrapartida, o Vasco melhorou no segundo tempo e passou a atacar mais. Iniciou tudo com uma finalização de Romário, sempre ele, mas a bola tocou o lado direito de fora da rede.

Perto dos vinte minutos, o Maracanã foi tomado por um clamor extraordinário, quando Romário novamente tentou encobrir Júlio César, mas a bola foi para fora, por cima do travessão. Segundos extraordinários e, apesar do maior volume alvinegro, parecia que a tradicional “freguesia” entraria em ação a favor do Vasco. Ledo engano. Em seguida, Dudar foi expulso e isso atrapalhou a reação dos vascaínos.

O Botafogo foi perdendo uma seqüência de gols, todos com grandes defesas de Cássio, o melhor em campo. A cinco minutos do fim, Joílson foi expulso, o que poderia significar o último fôlego vascaíno, mas não aconteceu – houve apenas uma finalização, claro, de Romário.

Ao apagar das luzes, um contra-ataque botafoguense deixou o time à frente do gol vazio, dado que Cássio saiu da meta para impedir o tento. Uma ótima tabela entre Jorge Henrique, Zé Roberto e Juca fez com que a bola chegasse aos pés do volante Túlio, que fuzilou sem piedade para o gol escancarado, e o Alvinegro assegurava a vitória.

Foi um dia em que o Vasco foi pouco Vasco, mas o Botafogo foi extremamente botafoguense. Uma atuação de muita garra, velocidade, técnica e conjunto, irresistível. Qualquer resultado que não apontasse o Botafogo vencedor ontem estaria sob a égide da injustiça.

O campeonato segue. O Botafogo é o favorito para vencer a Taça do Rio, pelo que está apresentando. O Vasco também tem suas chances. O Flamengo fica na espreita, enquanto o Tricolor amarga mais uma despedida precoce, após novo desastre contra o limitado Americano.

O gol mil fica adiado. Talvez não tenha as luzes do Maracanã, talvez aconteça em São Januário, na quarta, contra o Gama, pela Copa do Brasil. Talvez não seja nada disso. Ele acontecerá, em breve. Ao certo, ninguém sabe ainda. Esperemos.

Por enquanto, de certo mesmo, apenas o brilho do Botafogo no sensacional jogo de ontem. A estrela solitária falou mais alto.


Paulo Roberto Andel, 02/04/2007


Friday, March 30, 2007

A chama infinita

O futebol não tem magia e fascínio à toa. Quando menos se espera, surgem guinadas para cima ou para baixo; o favorito pode ser desbancado pelo azarão que corre por fora da raia.

Terminada a rodada de domingo passado, todos imaginariam que o meio de semana teria destaque absoluto pela iminência do milésimo gol de Romário. Viria a partida contra o Americano e o mundo congelaria vistas para enaltecer um dos maiores jogadores da história. Acontece, porém, que o futebol tem sempre uma vertente, uma saída.

Esqueceram-se do Fla-Flu. Deixaram o Fla-Flu à míngua. Compreendo que parte disso adveio da má campanha dos flamengos na Taça do Rio, em contrapartida à trilha da Libertadores, somada ao péssimo trajeto Tricolor em 2007. Como agravante, um clássico no meio de semana, quando o esperado é sempre na tarde dominical.

Domingo encerrado, mantido o jogo do Vasco no estádio de São Januário, Romário não atuou e o gol mil foi adiado. Aos vascaínos, coube um insosso empate sem gols e maiores emoções contra o time do falecido Caixa.

Quinta em riste, os irmãos Karamazov do futebol brasileiro encontraram-se mais uma vez. Tem sido assim desde antes do Big Bang, será depois do fim do mundo. Nelson foi perfeito: o Fla-Flu é eterno, o Fla-Flu não vai morrer jamais.

Não gosto de ver este clássico com vazios nas arquibancadas. Nenhum clássico, aliás. Difícil acostumar com isso. Mesmo assim, bandeiras dos dois lados tremulavam firmes, crentes numa vitória salvadora: tanto um lado como o outro precisava dos três pontos como fosse um balão de oxigênio para a sobrevivência.

O jogo começou com toda a força do Flamengo, dominando as ações, embora a partida estivesse muito mais para a correria do que propriamente a qualidade técnica. O Tricolor levou quinze minutos para ameaçar a meta de Bruno, através de uma cobrança de falta do lateral Carlinhos. Pouco, em se tratando de enfrentar a Gávea.

A supremacia flamenga foi registrada na meia hora de jogo. Aconteceu um bom cruzamento de Roni, raro, e Souza fez seu primeiro gol vermelho e preto utilizando-se dos pés – até ali, somente gols com cabeçadas. Ainda houve tempo para uma chance de gol desperdiçada quase aos quarenta, pelo jovem capixaba Cícero, e o Fluminense parou nisso. O jogo foi movimentado, mas carente de sofisticação técnica.

Veio o intervalo.

Mal começou o match, o Tricolor chegou ao empate. Carlinhos cruzou bem e Cícero chegou complementando dentro da área, sem chances para Bruno. Dali em diante, foi possível ver uma melhora no padrão das equipes, com menos erros de passes, alguns dribles e ainda muita velocidade.

Apesar do empate de Laranjeiras, a Gávea manteve a supremacia no ataque, perdendo vários gols. Dois foram gritantes. O primeiro, com a cabeçada de Ronaldo Angelim e a bola no travessão, após escanteio pela esquerda do ataque – gol que, se acontecesse, aumentaria o rol de falhas do goleiro Fernando, que ficou apenas olhando a jogada. Segundo, chute de Renato Augusto que bateu na trave direita – no rebote, aí sim Fernando fez bela defesa.

Então, havia o clima de que o empate seria uma realidade, e os irmãos Karamazov morreriam juntos, abraçados. A poucos minutos do fim, uma inacreditável furada do zagueiro Irineu deixou o veterano Alex Dias de frente para o crime; entretanto, após invadir a área, chutou para fora.

Poderia ter sido o fim.

Mas um Tricolor sabe que os jogos contra o Flamengo não acabam nem com o apito do juiz. Empatar ali seria o adeus. Alguns devem ter lembrado de Renato, de Assis, das coisas do último minuto do jogo.

Na última jogada da partida, Alex recebeu um passe pela direita da área flamenga. Cruzou esplendidamente, de primeira. A bola chegou na direita da pequena área, onde Cícero arrematou de bate-pronto. Bruno ainda foi na bola, mas foi inevitável. Um golaço Tricolor, com a sina do último minuto, do apagar das luzes. Cícero refez Assis, Renato, os gigantes da última volta do ponteiro.

Tecnicamente, o jogo esteve longe da sua tradição. Entretanto, jamais se pode desprezar um Fla-Flu: mesmo que não valha nada em termos de classificação, sempre nele terá a história de um Brasil em campo. O Fla-Flu é chama infinita.

O Flamengo aguarda seu adversário da grande final. O Fluminense sobreviveu, sem ajuda de aparelhos, respira bem e, se a sorte lhe bafejar, pode arrancar para a Taça do Rio.
Não há outra chance. É agora ou nunca.
Romário fica para depois.

Paulo Roberto Andel, 30/03/2007