Friday, March 02, 2007

Alegria para poucos

Ontem, o Tricolor, berço esplêndido do futebol brasileiro, adentrou Maracanã para mais um compromisso esportivo, contra a valorosa Adesg do Acre.
Independentemente do resultado final, foi bonito de se ver. E especial para todo torcedor que sopre os ventos sentimentais: ao que eu saiba, em trinta anos, é a primeira vez que uma equipe do Acre vem disputar uma partida oficial no estádio maior do Brasil. Consteste-me quem tiver outra informação.
Do Fluminense, todos sabem. É um predestinado a vencer, desde o nada, feito as sábias palavras do imortal Nelson. O Adesg fez sua estréia no estádio. Uma vigorosa viagem para atravessar o Brasil em busca de cumprir sua missão no futebol, assim aconteceu. A entrada do time, feita em negrume, mostrou presença. Pareciam altivos; humildes, sim, mas imponentes também. Sabiam da importância de colocar os pés naquele gramado sagrado, que já abrigou os melhores do melhor futebol do mundo.
O Tricolor começou impondo-se rapidamente. Em vinte minutos, nós já tínhamos três tentos. Uma boa cabeçada de Alex. Um belo chute de Cícero, bom jogador e cada vez mais à vontade em Laranjeiras, embora eu reconheça que ele teve total e absoluta liberdade para dominar a bola no alto e finalizar. Outra boa finalização de Thiago Neves, mais um gol. Em suma, o jogo estava liquidado com pouco menos de um terço do tempo. A partir de então, o jogo tomou ares de treino. Um treino rápido, empolgado, mas treino. E o outro Thiago, firme, consolidou o quarto gol com outra cabeçada ao fim da primeira etapa.
Para alguns, o jogo era de favas contadas, seria muito fácil. Eu discordo. É preciso respeitar o adversário sempre e sempre, feito estivesse numa luta decisiva no Coliseu. Não importa se oponente é grande, pequeno ou médio. Aplicação é sempre necessário. O Tricolor foi aplicado. Embora fosse natural esperar da Adesg um time frágil, por todas as dificuldades heróicas que tentam superar para praticar o futebol, é importante ressaltar que o Fluminense fez o jogo fácil, livre, tranquilo.
Houve a maestria de Joel? Não.
Nenhuma tática mirabolante, nenhum esplendor. Marcação firme e saída rápida para o ataque, nada mais. Nem daria tempo de o atual treinador construir o que quer que seja. Futebol simples, rápido e objetivo. Pena que, mais uma vez, faltaram torcedores. Muito poucos, uns quatro mil, nada para a grandeza de Fluminense e Maracanã. Podia ser o triplo, talvez quádruplo, se ajustassem a confusão absurda do preço majorado de ingressos - indevidamente, por sinal. O resultado é que as gentes afastam-se dos estádios, basicamente os mais populares - e Maracanã é templo do povo. Só a cegueira dos dirigentes é que não vê.
Veio o segundo tempo e, num mesmo começo, veio o quinto gol. Aleluia. Nós, carentes há tempos de goleadas a favor, louvamos a natureza. Jogo já liquidado, substituições, vieram Renato, Magrão e Lenny. Renato não teve nenhum trabalho. Magrão teve boas oportunidades, mas parecia incrivelmente nervoso e perdeu gols, jogadas. O garoto Lenny acabou sendo responsável por um momento de grande diversão entre os torcedores: ao final do jogo, numa excelente finalização, fez o sexto gol. Feliz e agradecido pela chance de Joel, correu para ele e, carinhosamente, tal como o filho querido, tascou-lhe um beijo. Os cadeirinos, sucessores dos geraldinos, cantaram e berraram, fazendo piadinhas maliciosas para Joel que, depois de uns dois minutos, virou-se para a torcida e, visivelmente constrangido, baixou cabeça e abriu braços como se dissesse "que culpa tenho eu?". Gargalhadas gerais. Não por coincidência, o técnico da agremiação acreana, proximamente colocado da situação do beijo entre iguais, atende pela alcunha de Zé Risada. Clássico!
O Fluminense passará uma semana mais tranquila e observará quem será o campeão da Guanabara, quem será o time a ser batido na batalha final. Foi uma boa preparação.
A Adesg, com sua respeitável humildade, não leva uma feliz recordação em termos de resultado, mas sim o inesquecível sabor de pisar no estádio de Pelé, Garrincha, Niltos Santos, Castilho, Telê e tantos outros, muitos.
Um jogo simples, mas com lembrança inesquecível. Pena que, por motivos que já tanto falei neste espaço, tenha sido uma festa para poucos, pouca torcida, muito menos do que qualquer jogo no Maracanã merece.
Paulo Roberto Andel, 01/03/2007

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