Thursday, August 27, 2009

FLAMENGO 1 X 1 FLUMINENSE

Entre o sonho e a ressurreição (26/08/2009)

Meus amigos, mais uma vez a tradição quase centenária pesou. O Fluminense era o ferido de morte. O Fluminense era o time sem qualificação; portanto, longe de ser o favorito da imprensa. Não davam um níquel pelos jogadores de Laranjeiras. Escreveram que o time era galinha-morta. Mais uma vez, o erro foi oceânico e o Tricolor fez a Gávea agonizar ontem.

Para muitos, era um jogo sem importância, sem maior valor. Uma sonora mentira. Só os boçais entenderiam o Fla-Flu como um jogo carente de impacto. Mesmo que as duas equipes atravessem um momento crítico – na visão dos jornalistas, o Flamengo pode ser campeão e nós já estamos rebaixados – não se pode ofertar ao Fla-Flu um valor apenas simbólico. Só os idiotas veem no Fla-Flu um jogo comum. Pela primeira vez, os dois clubes se enfrentavam por uma competição oficial de caráter eliminatório. Tanto havia importância que, ao contrário do propagado na imprensa, os times mandados a campo foram os titulares. Adriano faltou ao Flamengo, mas isso não chega a causar estranheza. O resto era o time de sempre. Sem desculpas.

Todo jogo entre os irmãos Karamazov do futebol brasileiro deveria ser disputado com, no mínimo, cem mil torcedores. Não foi o caso de ontem. A campanha dos dois times no campeonato brasileiro, mais o péssimo horário de dez da noite imposto pela televisão, mais o frio, mais o caro ingresso, tudo fez parte de um pacote de afugentou as massas do estádio. E é justamente aí que vemos a grandeza épica do Fla-Flu: quando há uma enorme crise, o público abnegado é de dez mil pessoas. Logo se vê que não é um jogo à toa, vulgar. Foi o Fla-Flu que semeou as grandes massas de torcedores nos times de todo o Brasil.

O regulamento da competição nos favorecia em caso da marcação de um gol, dado que tínhamos empatado o primeiro jogo, na condição de mandantes; assim como na Copa Libertadores, a Sulamericana prevê que, em caso de empate, tenha vantagem o time que marcou gols fora de casa, o que parece estranho a todos nós porque o Maracanã é a nossa casa. Então, era preciso marcar gols. E nos coube a iniciativa imediata quando o jogo começou, apitado pelo árbitro chileno de uniforme berrante. Na primeira finalização, Luiz Alberto deu boa cabeçada à esquerda do goleiro Bruno, para o primeiro suspiro de aperto dos flamengos, muito mais numerosos no estádio, na proporção de cinco para um – o que é natural, dado o enorme crédito que a imprensa esportiva regularmente concede à Gávea, mesmo que dentro do campo as coisas não coadunem com o que é escrito e falado. Bruno defendeu e os flamengos talvez tivessem entendido que, contra o Fluminense, as coisas não são tão fáceis quanto se poderia supor. Não somos galinha-morta.

O jogo foi corrido em sua primeira meia-hora, apesar de não apresentar grandes perigos para os goleiros. A rigor, nossa principal ameaça foi um chute de Kieza, por cima do travessão. O Flamengo parecia ter mais velocidade nas arrancadas, mas perto da nossa área não havia maiores ameaças. Houve um chute também por cima do travessão, desferido por Denis Marques, atacante da Gávea que, de longe, lembra o nosso velho Magno Alves em mais aspectos do que os somente agradáveis. E só. Era um jogo equilibrado, onde podíamos vencer também. No final do primeiro tempo, a jogada que se tornou polêmica mas apenas para os desinformados: o pênalti sofrido por Kieza, no bico da área direita da defesa flamenga, cometido por Angelim. Fez-se uma confusão enorme por pouco: Kieza recebeu o choque final exatamente em cima da linha da área; a linha faz parte da área e, portanto, com justiça se assinalou a falta penal. Roni fez uma excelente cobrança, forte, no canto direito, mais ao alto, sem a menor possibilidade de defesa para Bruno. Era um gol salvador! Descer para o intervalo com a vantagem foi um alívio para nós. Os flamengos vociferavam em vão. Nosso time não foi brilhante, mas mostrou muita garra e disposição, daqueles que agradam a Abel Braga e a Renato Portaluppi também.

No segundo tempo, pressionado pelo resultado e pela ilusão de ter um time muito superior, o Flamengo tentou colocar velocidade no jogo, mas sem muita força. Eles perderam alguns gols, mas em jogadas que não eram tão evidentes para se marcar. A rigor, uma falta bem-cobrada pelo excelente Petkovic, com ótima defesa de Rafael no canto direito. E a nossa torcida, que parecia minúscula nas arquibancadas verde e amarela, no grito tragava a pequena massa rubro-negra.

Numa jogada em que parecia previsível o desarme, Denis Marques foi de um lado a outro na frente da área e chutou. A bola ainda bateu em dois jogadores antes de ganhar o ângulo direito de Rafael. Eles empataram e sua massa enfurecida gritava como se vomitasse os cantos de guerra; contudo, ressalte-se que o gol foi muito mais fruto de uma jogada isolada do que de uma “pressão insustentável”. Ainda faltava mais meia hora para o término do jogo, mas é possível afirmar que não sofremos mais nenhuma situação apavorante contra nosso gol. E mais: quase viramos em seguida, com a boa cabeçada de Kieza, marcando o gol que foi invalidado por suposta situação de impedimento. Uma outra excelente chance também foi desperdiçada por Luiz Alberto, em ótima cabeçada, raspando a trave – o zagueiro parecia com uma gana especial em enfrentar o ex-time. O time todo com uma postura muito diferente do melancólico empate contra o Barueri, em casa, domingo passado, afora as derrotas acachapantes para São Paulo e Coritiba.

Embora cinco vezes maior, em muitos momentos a massa flamenga foi engolida pelo nosso grito em muitos momentos, como já é de praxe. E quando Renato mexeu no time, colocando Alan e Marquinho, nossa velocidade aumentou, ainda que tivéssemos perdido a força e a categoria do argentino Conca. O fato é que o Fluminense começou a explorar contra-ataques velozes e, por conta disso, ainda houve tempo de se expulsar dois jogadores da Gávea: David e, quase no fim do jogo, Fierro. Se contarmos os quinze minutos finais, quem mereceu vencer foi o Fluminense; porém, o empate era mais do que suficiente para a classificação e foi o que aconteceu no fim da partida.

Desesperados, os torcedores da Gávea gritavam “Segunda divisão!” para nós, quase um brado humorístico; afinal, eles estão na parte baixíssima da tabela. Nós os lembrávamos da condição de eliminados. Encarar o Fluminense num jogo decisivo jamais será algo fácil. O placar nos favoreceu e eliminamos nosso adversário de sempre. Eles chegaram ao ponto de delirar com sua enorme faixa de pano, onde se lê o Flamengo como “maior do que tudo e que todos”. Só não é maior do que a camisa Tricolor; por isso, nós somos os classificados da Copa Sulamericana.

Ainda é cedo para comemorarmos, mas estamos entre o sonho e a ressurreição. Evitar a queda passou a ser algo real, e ganhamos fôlego com a atuação de ontem.

Mais do que isso, este empate com sabor de vitória será um tempero para nossa recuperação no campeonato brasileiro, é o que todos esperamos. O Tricolor não morre, nem morrerá. Estamos vivíssimos e deixamos ao largo o maior rival.

Paulo-Roberto Andel

http://cronicasdoflu.blogspot.com

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