Thursday, August 20, 2009

FLUMINENSE 0 X 0 FLAMENGO

Não importa a circunstância (13/08/2009)

Depois de noventa e sete anos, o maior clássico do futebol brasileiro finalmente foi disputado numa competição internacional. Poderia ter sido assim no ano passado, se os flamengos não tivessem sucumbido diante do mexicano América. E veio o Fla-Flu, nesta vez por conta da Copa Sulamericana.

Não importa o horário tardio, o esvaziamento do jogo, os times muito desfalcados de titulares: é um Fla-Flu. Assim tem sido desde 1912, assim será até o fim dos tempos. Os irmãos Karamazov do futebol brasileiro se digladiando incessantemente. Sou capaz de lembrar do Fla-Flu em que tomamos um gol de Titã no último minuto, há trinta anos, assim como lembro do sensacional drible de Cristóvão, deixando Manguito sentado e fuzilando Cantarele, também há trinta anos. E Paulo Goulart, que viria a ser o campeão de 1980, defendendo o pênalti de ninguém menos do que Zico? E Benedito de Assis? E Renato Portaluppi? O Fla-Flu nasceu com a vocação da história rica, sempre. E ontem, mais um capítulo dessa história foi escrito. O Fla-Flu sempre foi do mundo, mas agora ele é ratificado pelo regulamento de uma competição.

O primeiro tempo da partida foi marcado por grande movimentação e o predomínio dos flamengos, com duas bolas na trave, ainda que não provenientes de jogadas muito elaboradas. E o que não foi na trave, foi bem defendido por nosso goleiro Rafael, estreando no Maracanã. Na verdade, o Flamengo tinha meio time titular em jogo; nós, somente reservas, por decisão de Portaluppi. E o meio time do Flamengo, com bastante conjunto, fez a balança pesar a seu favor, mas não o suficiente para abrir a vantagem. Por nosso lado, o equívoco de se jogar com muitos homens no meio de campo acabou fazendo com que o ataque fosse limitado a Alan; não havendo a liga, o time não produzia na frente. Então, acabou sendo um jogo de defesa contra ataque; a defesa, nem tão pressionada assim. E o empate em zero acabou sendo relativamente justo. O destaque foi nosso goleiro, bem em todos os lances. Houve também a estreia do volante Fábio Santos, marcada por enorme disposição física e lances até ríspidos, embora sem deslealdade. Importante ressaltar que, sendo a Copa Sulamericana, vale a regra do gol fora de casa contar como dobrado em caso de desempate; por sermos os mandantes, o fundamental era mesmo não tomar gol. E conseguimos atravessar a primeira etapa em branco nas redes.

No segundo tempo, houve uma queda de rendimento dos flamengos, enquanto nós não éramos dos mais inspirados para criar. O que não mudou na fase final foi a voracidade de Fábio Santos, em várias disputas polêmicas de bola com o sérvio Petkovic. Eles ainda estavam melhores no jogo, mas aos poucos começamos a timidamente chegar no ataque. Nossa fase não é boa, o time pode ser reserva, mas é um Fla-Flu, não importa a circunstância.

Petkovic, em duas excelentes finalizações, quase marcou para a Gávea, mas Rafael fez honra à camisa que, um dia, foi de Carlos Castilho e Paulo Victor. Defendeu bem e manteve o zero no marcador. Pesados os erros e acertos, o jogo acabou sendo equilibrado; se os flamengos foram melhores, não finalizaram de modo a justificar a vitória. E o resultado, para nós, foi bom: qualquer empate com gols nos classifica à próxima fase na partida de volta. Claro que todos os olhos estão voltados para a luta contra o rebaixamento, que é a prioridade máxima de atenção. Mas não custa sonhar com degraus pequenos numa competição internacional. E o primeiro passo já foi dado.

O jogo de ontem não ficará escrito por grandes jogadas, por grandes craques ou um público avassalador. O Fla-Flu já é gigante por sua própria essência. A marca a ser deixada é a descoberta da América para o clássico que é sinônimo de Brasil.


Paulo-Roberto Andel 13/08/09

No comments: