Monday, August 31, 2009

SANTOS 2 X 0 FLUMINENSE (30/08/2009)

O fim ainda não chegou (31/08/2009)

Para deleite de boa parte da imprensa esportiva carioca, o Fluminense perdeu ontem mais uma partida, em momento crucial para manter as chances de sobrevivência na primeira divisão do campeonato brasileiro. Hoje, não faltaram galhofas e piadinhas de péssimo gosto sobre o fim das Laranjeiras. E mais: o Brasil se tornou, em um mês, o paraíso dos especialistas em estatística no planeta Terra! Não falta um estatístico sem diploma nas esquinas para dizer: “O Fluminense está rebaixado! Não há mais chance”, como se o campeonato tivesse acabado ontem. Não custa pensar no que Nelson Rodrigues escreveria a respeito, se vivo de corpo estivesse; provavelmente, alguma provocação contra os idiotas da objetividade.

Pois bem, o Fluminense perdeu. Houve três momentos cruciais na partida, e todos passam pelo zagueiro Luiz Alberto. O primeiro, quando ele, livre, esteve à frente do gol santista logo no começo do jogo, mas errou a finalização, por não ser do ramo. No segundo, quando estava na marcação de área quando a bola foi cruzada para o gol do Santos, no último minuto da primeira etapa, numa jogada claramente irregular, tendo em vista as faltas sofridas por Ruy e o estreante Gum no mesmo lance. O jovem André, atacante que substituía Kleber Pereira, cabeceou à direita do nosso goleiro Rafael, de cima para baixo, numa bola que um ou outro consideraria defensável. Não concordo: foi um lance difícil e cabe ressaltar que o Santos conseguiu boas finalizações no primeiro tempo, todas bem defendidas por Rafael. Não tenho dúvidas: temos um goleiro em campo melhor do que o das últimas jornadas. O terceiro lance de Luiz Alberto aconteceu no segundo gol santista, em cabeçada de cocuruto do jovem Paulo Henrique, o “Ganso”, tocando a bola no canto esquerdo de Rafael já a quinze minutos do fim do jogo. Não é o caso de crucificação, longe disso, mas o fato é que há várias partidas o zagueiro não tem rendido o que se esperaria – inclusive, isso sobrecarregou o time e causou a barração de Edcarlos, que pode ter alguma razão, mas não leva em conta o que se convenciona chamar de conjunto da obra. O segundo gol matou nossas esperanças, num segundo tempo em que dominávamos amplamente a partida, mas nos faltava talento para fazer o gol. Fizemos forte pressão, ainda que inócua pela falta de finalizações, por quase meia hora, dentro da Vila Belmiro que, um dia, abrigou Pelé. Se estivéssemos no meio da tabela, talvez a manchete de nossa derrota fosse: “Flu luta muito, mas perde”.

A primeira etapa foi dos santistas. Não que tivessem jogado uma partida primorosa, mas porque estávamos excessivamente recuados e sem a menor força de ligação defesa-ataque. Para piorar, nosso craque Conca errava passes demais e, extremamente marcado, nada conseguiu fazer de relevante. Mesmo assim, o gol saiu quase por acidente e quando já não se esperava; descer para o vestiário com o empate parcial certamente seria um alívio psicológico para um time marcado pela má campanha, pelas confusões da gestão e, principalmente, pelo sensacionalismo da imprensa. Na segunda etapa, mesmo com os problemas de sempre e más substituições, dominamos o jogo; quando tomamos um segundo gol bobo como foi, o time jogou a toalha. Mas o fim ainda não chegou.

Ora, se o Vasco, o grande Vasco da Gama, ano passado caiu de divisão ainda na última rodada – e desperdiçou vários jogos que poderiam tê-lo salvo -, porque nós seremos rebaixados por decreto jornalístico com dezesseis jogos? Em anos anteriores, vários times conseguiram uma reação, como o Goiás e a Gávea. Agora mesmo, na segunda divisão, davam o Ceará como rebaixado há coisa de dois meses; hoje, estão no grupo dos quatro candidatos a subir para a série A, assim como o São Caetano, já tido na série C e agora brigando pelo topo da tabela. Na elite, o São Paulo não teria chances este ano e o Goiás seriam galinha morta. Estão entre os quatro primeiros. O Avaí foi o primeiro rebaixado da competição; onde está na tabela? Nos país dos estatísticos, prognósticos certos não têm sido o forte. Sem contar que apontam a Gávea como futura postulante ao grupo dos classificados à Libertadores, o chamado G4. Ora, a distância que eles têm daquele grupo é a mesma que temos dos times que estão fora da zona de rebaixamento do campeonato. Se acabamos de eliminá-los da Copa Sulamericana, somos tão piores do que eles assim? Creio que não.

É um momento muito difícil e a matemática não nos favorece, na verdade. Mas nada é impossível ainda, o fim ainda não chegou. Sei das limitações que temos, mas não somos piores do que times que têm nove ou dez pontos a mais do que nós, neste momento. Podemos reagir.

Nelson Rodrigues, nosso troféu maior, dizia: “Se quiseres saber o futuro do Fluminense, olhai para o seu passado”. E, mais do que nunca, me apego à tradição de nossa centenária camisa no futebol. Quando Delei cobrou a falta apressadamente na lateral direita, toda a massa flamenga comemorava a ida à final e nossa eliminação. Benedito de Assis recebeu o passe, fez o gol sagrado e escreveu a história de um grande título. Em 1991, para chegarmos às semifinais, precisávamos de cinco vitórias seguidas. Nos jornais, o Fluminense já era. Vencemos e conseguimos a classificação. Não preciso lembrar 1995: com exceção de Washington Rodrigues, nenhum dos comentaristas e cronistas cariocas ousou apontar o Fluminense como candidato ao título. Boa era a Gávea, a campeã de terra, mar e ar. A seis rodadas do fim, tinham nove pontos de vantagem contra nós. Chegaram à final com a vantagem do empate, resultado que tinham à mão até quatro minutos antes do fim do jogo, além de um jogador a mais em campo. Contra tudo e todos, vencemos um dos grandes campeonatos de nossa história.

Que não me venham à frente os lacaios do sensacionalismo, para falar de rebaixamentos no passado. Não estamos tratando de uma conta corrente que, descoberta, causa perda de crédito em outros itens financeiros. Estamos tratando de um time centenário e vencedor, dos maiores do mundo, que passa por uma péssima fase, mas ainda pode superar o grande revés. Tivemos bons momentos ontem. Teremos uma semana de treinamentos. Patrício Urrutia e Fábio Santos, além de Equi González, darão outra alma ao time em campo. O matador Fred poderá voltar. Não faltam três ou quatro partidas, mas dezesseis. Noutra situação, dezesseis jogos poderiam valer um grande título em nossa história. Dessa vez, valem nossa luta contra toda uma nação. Precisamos do grito da nossa torcida, do brilho das nossas cores, da beleza das nossas torcedoras. O lugar do torcedor do Fluminense não é entocado como um rato indefeso, mas sim com os pulmões inflados e o berro à vista no Maracanã. Podemos reverter esse quadro. Para isso, não devemos nos omitir.

Logo à frente, já no domingo, o velho Náutico, de quem todos nos recordamos naquele dia de tempestade no Maracanã há dez anos, tão bem contado pelo genial texto de Marcos Caetano. Lá, diziam por escrito que o Fluminense estava no fim, que o Fluminense deveria se fundir com o Bangu e o Botafogo para aceitar passivamente a predominância de Flamengo e Vasco. Raras vezes li algo tão estapafúrdio. Sobrevivemos. E vencemos.

Calejado por tantas façanhas do passado, enquanto a exatidão da matemática me permitir, não caio de joelhos. O dia em que eu acreditar que o Fluminense não é capaz de uma revolução em dezesseis jogos, entenderei que não se tratará apenas de não ir ao Maracanã ou de abandonar o time, mas sim de nunca mais acompanhar futebol pelo resto de minha vida. E, olhando para o passado como ensinou o Mestre Nelson, creio que este dia jamais chegará.



Paulo-Roberto Andel, 31/08/2009

1 comment:

Cotia said...

Paulo, grande Paulo...

Sofrendo a distancia, a unica coisa que posso dizer e: Enquanto tu acreditar, EU ACREDITO!