Thursday, February 24, 2011

FLUMINENSE 0 X 0 NACIONAL (URU) - 23/02/2011



Dez mil maníacos (24/02/2011)

Ontem, enquanto o Fluminense empatava com o Nacional do Uruguai, por volta de meia hora da etapa final, fitei as informações de público no estádio do Engenhão e li dez mil e dezessete presentes. Na mesma hora, um breve alento: lembrar da maravilhosa Natalie Merchant e seu 10.000 Maniacs cantando “These are days”, que fala dos dias que serão lembrados num momento futuro. Não haveria trilha melhor. Não podemos cair na esparrela de que só a vitória constrói, que só a vitória traz os louros, ao contrário: muitas vezes, as lições advindas de um mau momento - como o que vivemos como torcedores – podem ser definitivas para um futuro melhor. E o torcedor do Fluminense, calejado por anos e anos de vitórias e superações tidas como impossíveis, mais uma vez se vê diante de um desafio que os corvos já traçaram como insuperável: buscar a classificação para a segunda fase do certame do sul da América. Desses corvos, quase sempre rio: quem não é capaz de aprender uma lição ensinada há mais de cem anos será capaz de quê? Amigos, não tomem minhas linhas como delírio ou otimismo fortuito; quero dizer nestas linhas que temos uma tarefa muito difícil, muitíssimo difícil, mas longe do impossível. Em campo, a camisa centenária ainda não foi devidamente honrada com uma atuação do Tricampeão neste 2011, mas ainda estamos em fevereiro e as águas descerão rumo ao mar. Ontem, mais uma vez, nosso jogo não fez prevalecer a força Tricolor em casa; empatamos sem gols, quase perdemos num momento, quase ganhamos noutro, a defesa melhorou em alguns aspectos, o ataque caiu.

Não houve falta de raça ou mesmo dedicação. O Fluminense mostrou sede de competir: entrou em campo antes de todo mundo, até mesmo o árbitro Amarilla. Éramos dez mil maníacos com fé: alguns querendo o apoio a todo instante, por conta do amor ao Tricolor; outros, mais céticos, preocupados com o que viria a seguir. Todos, namorando a vitória que não veio. Poucos, diante do mar de gente que é a nossa torcida; porém, o que queriam os dirigentes depois de uma desclassificação para o Boavista, num jogo às dez da noite de meio de semana, com transmissão pela tevê aberta e ingressos a módicos oitenta reais. Dez mil admiráveis e empolgantes maníacos. Voltando à questão do ingresso, quero dizer que é hora da dirigência Tricolor concentrar suas atenções mais no abusivo preço das entradas do que, veladamente, criar dificuldade para a compra de ingressos com meia-entrada. Aos que defendem argumentos compatíveis com o futebol europeu, limito-me a dizer que o futebol brasileiro viveu a lotar estádios enquanto os menos abonados, os humildes, os trabalhadores medianos os lotavam com ingressos populares, a preços acessíveis. Oitenta reais é o preço de alguns shows internacionais, não de uma (maravilhosa) diversão que se repete duas vezes por semana em onze meses do ano. Chega de hipocrisia: se querem o estádio lotado, basta incentivarem o torcedor – e não é com ingressos a preços escorchantes que se faz isso, principalmente porque eles não chegam a dez por cento da receita mensal que o clube dispõe.

A nova formação proposta por Muricy tinha a intenção de evitar que levássemos o gol precocemente, o que seria um desastre; por outro lado, os laterais na função de alas teriam a missão de municiar He-Man e, antes dele, Darío Conca. Não deu certo. Mariano teve 2009 e 2010 de esplendores, prometia mais para 2011. Ainda não estreou em campo como o velho mariano que nos acostumamos. Do outro lado, Carlinhos teve um dia de cão. Jogador de bons recursos técnicos, às vezes se perde quando seu arranque fica próximo de zero, incompreensível para um jovem – e bom – lateral. Errou tudo o que tentou, a ponto de sequer arriscar sua tradicional jogada de corte com o pé esquerdo para bater com o direito. E Conca? É craque, é jogador capaz de desequilibrar partidas e ganhar um Brasileiro, só que ontem teve uma noite negra: também errou tudo o que tentou; acontece muito pouco, mas acontece. Além de normalmente não engrenar o melhor da sua forma nos dois meses de verão que abrem a temporada, o argentino veio de operação e jogou muito antes do previso, daí ser normal a instabilidade que tem demonstrado. Ainda assim, não lhe faltou espírito de luta: tentou a todo instante, mesmo que sem êxito. O mesmo vale para Rafael Moura, valente brigador e buscando a bola fora da área, plenamente marcado pela forte retranca uruguaia que não ofereceu espaços – além do Fluminense estar neste momento sem a menor condição de exercer um futebol rápido, veloz, de toques curtos e objetivos. Mais atrás, Valencia deu conta de substituir o opaco Edinho e Digão esteve bem a maior parte do tempo. Marquinho lutou muito e quase fez um gol, com a bola pererecando rente à trave direita do gol do Nacional. Uma atuação regular, com eficiência na marcação, mas pouco agressiva frente ao drama de ter que vencer o jogo em casa a qualquer preço – o empate seria quase tão ruim quanto uma derrota; melhor dizendo, na prática seria uma derrota com bônus de um ponto. Era hora de mudar para jogar o segundo tempo.

Muricy, como de costume, manteve a equipe para os quarenta e cinco minutos finais. O panorama mudou um pouco porque nosso time passou a jogar mais adiantado e, com isso, imprensou o Nacional em seu campo. O problema era que esse encurralamento não provocava nenhum resultado prático em jogadas de perigo e finalizações. Quando finalmente aconteceu, o pênalti absurdo cometido por Píriz foi completamente ignorado por Amarilla. O tempo passava e os uruguaios começam a mostrar a sua tradicional catimba, caindo ao chão até por conta de golpes de ar. Tínhamos perdido a nossa grande chance de gol e voltamos a perder outra: o goleiro Burián falhou clamorosamente num cruzamento e a bola, que veio da direita e estava livre na pequena área, se ofereceu, mas o jogador mais perto dela não acreditou no lance e não chegou a tempo de concluir. Era Carlinhos. Mais tarde, ainda houve tempo para os uruguaios repetirem um 1950 no Engenhão, após falha gritante de Euzébio, driblado ridiculamente por Santiago Garcia, um jogador que lembra muito a silhueta mais alargada do atacante Obina. Ele ainda driblou Berna e ficou com o gol livre, mas a péssima finalização bem alta nos salvou da derrota. Muricy já tinha tentado Tartá como forma de conseguir alguma velocidade, mas o menino entrou tímido no jogo e pouco produziu. Quem ainda conseguiu alguns lampejos ao final da partida foi o veterano Araújo, que agora parece mais próximo da forma física minimamente adequada para um jogador de futebol. Todavia, não foi o suficiente para vencer o jogo.

Ao apito final, muitos dos dez mil admiráveis maníacos vaiaram mais o resultado do que propriamente a equipe – e o fizeram com todo direito. Deixemos de lado a hipocrisia de que torcer é parecer um expectador de claque, batendo palminhas e não se revoltando quando for preciso. São homens adultos em campo defendendo as nossas cores, não bebês indefesos. É claro que agora se trata de uma situação bastante incômoda, até porque será necessário vencer fora de casa estes times que não conseguimos superar em nossos domínios. Foi perceptível alguma melhora em relação ao desastre apresentado contra o Boavista, mas pouco para quem pretende chegar ao topo da América. Estamos alijados da Guanabara; o fim do verão não se desenha com a formosura que nos ofereceu ao começo dele. Tudo parece turvo e difícil. Mas essa é a sina das Laranjeiras: respirar, enfrentar o díifícil; expirar, encontrar outra intempérie à frente. Temos uma semana para tentar derrotar o poderoso América na cidade do México. É muito difícil – por isso, é uma tarefa digna do Tricolor. Nossas televisões estarão atentas a cada vírgula. Hoje, estamos cabisbaixos enquanto pré-campeões sorriem com sarcasmo. O futebol mostra que, muitas vezes, a volta por cima pode ser dar numa vírgula, um tropeço, um sopetão. Quem não aprende, paga o preço. Quem espera, sempre alcança. Nada está perdido.


Paulo-Roberto Andel

2 comments:

P. P. P. said...

Enquanto a rede lobo mandar, os clubes brasileiros vão soçobrar.

Marcar jogo para as 22H, é um absurdo.

E todos aceitam calados.

Viva o Eurico, era o único que peitava esta cambada.

Saudações TRICOLORES.

VERT, BLANC et GRENAT.

P. P. P. said...

Que falta faz um MANOEL SCHWARTZ, no meu FLU.

E um EURICO MIRANDA no VASCO, peitando a VENUS PLATINADA.

Os atuais ‘ir’-responsáveis por BOTAFOGO, VASCO e FLUMINENSE seguindo, como cordeirinhos para o abatedouro, a Patricia-Cerra-Amoringa, é muito patético.

São todos uns DESCATEGORIZADOS.

Para não dizer outra coisa….