Thursday, February 24, 2011

FLUMINENSE 0 X 0 NACIONAL (URU) - 23/02/2011



Dez mil maníacos (24/02/2011)

Ontem, enquanto o Fluminense empatava com o Nacional do Uruguai, por volta de meia hora da etapa final, fitei as informações de público no estádio do Engenhão e li dez mil e dezessete presentes. Na mesma hora, um breve alento: lembrar da maravilhosa Natalie Merchant e seu 10.000 Maniacs cantando “These are days”, que fala dos dias que serão lembrados num momento futuro. Não haveria trilha melhor. Não podemos cair na esparrela de que só a vitória constrói, que só a vitória traz os louros, ao contrário: muitas vezes, as lições advindas de um mau momento - como o que vivemos como torcedores – podem ser definitivas para um futuro melhor. E o torcedor do Fluminense, calejado por anos e anos de vitórias e superações tidas como impossíveis, mais uma vez se vê diante de um desafio que os corvos já traçaram como insuperável: buscar a classificação para a segunda fase do certame do sul da América. Desses corvos, quase sempre rio: quem não é capaz de aprender uma lição ensinada há mais de cem anos será capaz de quê? Amigos, não tomem minhas linhas como delírio ou otimismo fortuito; quero dizer nestas linhas que temos uma tarefa muito difícil, muitíssimo difícil, mas longe do impossível. Em campo, a camisa centenária ainda não foi devidamente honrada com uma atuação do Tricampeão neste 2011, mas ainda estamos em fevereiro e as águas descerão rumo ao mar. Ontem, mais uma vez, nosso jogo não fez prevalecer a força Tricolor em casa; empatamos sem gols, quase perdemos num momento, quase ganhamos noutro, a defesa melhorou em alguns aspectos, o ataque caiu.

Não houve falta de raça ou mesmo dedicação. O Fluminense mostrou sede de competir: entrou em campo antes de todo mundo, até mesmo o árbitro Amarilla. Éramos dez mil maníacos com fé: alguns querendo o apoio a todo instante, por conta do amor ao Tricolor; outros, mais céticos, preocupados com o que viria a seguir. Todos, namorando a vitória que não veio. Poucos, diante do mar de gente que é a nossa torcida; porém, o que queriam os dirigentes depois de uma desclassificação para o Boavista, num jogo às dez da noite de meio de semana, com transmissão pela tevê aberta e ingressos a módicos oitenta reais. Dez mil admiráveis e empolgantes maníacos. Voltando à questão do ingresso, quero dizer que é hora da dirigência Tricolor concentrar suas atenções mais no abusivo preço das entradas do que, veladamente, criar dificuldade para a compra de ingressos com meia-entrada. Aos que defendem argumentos compatíveis com o futebol europeu, limito-me a dizer que o futebol brasileiro viveu a lotar estádios enquanto os menos abonados, os humildes, os trabalhadores medianos os lotavam com ingressos populares, a preços acessíveis. Oitenta reais é o preço de alguns shows internacionais, não de uma (maravilhosa) diversão que se repete duas vezes por semana em onze meses do ano. Chega de hipocrisia: se querem o estádio lotado, basta incentivarem o torcedor – e não é com ingressos a preços escorchantes que se faz isso, principalmente porque eles não chegam a dez por cento da receita mensal que o clube dispõe.

A nova formação proposta por Muricy tinha a intenção de evitar que levássemos o gol precocemente, o que seria um desastre; por outro lado, os laterais na função de alas teriam a missão de municiar He-Man e, antes dele, Darío Conca. Não deu certo. Mariano teve 2009 e 2010 de esplendores, prometia mais para 2011. Ainda não estreou em campo como o velho mariano que nos acostumamos. Do outro lado, Carlinhos teve um dia de cão. Jogador de bons recursos técnicos, às vezes se perde quando seu arranque fica próximo de zero, incompreensível para um jovem – e bom – lateral. Errou tudo o que tentou, a ponto de sequer arriscar sua tradicional jogada de corte com o pé esquerdo para bater com o direito. E Conca? É craque, é jogador capaz de desequilibrar partidas e ganhar um Brasileiro, só que ontem teve uma noite negra: também errou tudo o que tentou; acontece muito pouco, mas acontece. Além de normalmente não engrenar o melhor da sua forma nos dois meses de verão que abrem a temporada, o argentino veio de operação e jogou muito antes do previso, daí ser normal a instabilidade que tem demonstrado. Ainda assim, não lhe faltou espírito de luta: tentou a todo instante, mesmo que sem êxito. O mesmo vale para Rafael Moura, valente brigador e buscando a bola fora da área, plenamente marcado pela forte retranca uruguaia que não ofereceu espaços – além do Fluminense estar neste momento sem a menor condição de exercer um futebol rápido, veloz, de toques curtos e objetivos. Mais atrás, Valencia deu conta de substituir o opaco Edinho e Digão esteve bem a maior parte do tempo. Marquinho lutou muito e quase fez um gol, com a bola pererecando rente à trave direita do gol do Nacional. Uma atuação regular, com eficiência na marcação, mas pouco agressiva frente ao drama de ter que vencer o jogo em casa a qualquer preço – o empate seria quase tão ruim quanto uma derrota; melhor dizendo, na prática seria uma derrota com bônus de um ponto. Era hora de mudar para jogar o segundo tempo.

Muricy, como de costume, manteve a equipe para os quarenta e cinco minutos finais. O panorama mudou um pouco porque nosso time passou a jogar mais adiantado e, com isso, imprensou o Nacional em seu campo. O problema era que esse encurralamento não provocava nenhum resultado prático em jogadas de perigo e finalizações. Quando finalmente aconteceu, o pênalti absurdo cometido por Píriz foi completamente ignorado por Amarilla. O tempo passava e os uruguaios começam a mostrar a sua tradicional catimba, caindo ao chão até por conta de golpes de ar. Tínhamos perdido a nossa grande chance de gol e voltamos a perder outra: o goleiro Burián falhou clamorosamente num cruzamento e a bola, que veio da direita e estava livre na pequena área, se ofereceu, mas o jogador mais perto dela não acreditou no lance e não chegou a tempo de concluir. Era Carlinhos. Mais tarde, ainda houve tempo para os uruguaios repetirem um 1950 no Engenhão, após falha gritante de Euzébio, driblado ridiculamente por Santiago Garcia, um jogador que lembra muito a silhueta mais alargada do atacante Obina. Ele ainda driblou Berna e ficou com o gol livre, mas a péssima finalização bem alta nos salvou da derrota. Muricy já tinha tentado Tartá como forma de conseguir alguma velocidade, mas o menino entrou tímido no jogo e pouco produziu. Quem ainda conseguiu alguns lampejos ao final da partida foi o veterano Araújo, que agora parece mais próximo da forma física minimamente adequada para um jogador de futebol. Todavia, não foi o suficiente para vencer o jogo.

Ao apito final, muitos dos dez mil admiráveis maníacos vaiaram mais o resultado do que propriamente a equipe – e o fizeram com todo direito. Deixemos de lado a hipocrisia de que torcer é parecer um expectador de claque, batendo palminhas e não se revoltando quando for preciso. São homens adultos em campo defendendo as nossas cores, não bebês indefesos. É claro que agora se trata de uma situação bastante incômoda, até porque será necessário vencer fora de casa estes times que não conseguimos superar em nossos domínios. Foi perceptível alguma melhora em relação ao desastre apresentado contra o Boavista, mas pouco para quem pretende chegar ao topo da América. Estamos alijados da Guanabara; o fim do verão não se desenha com a formosura que nos ofereceu ao começo dele. Tudo parece turvo e difícil. Mas essa é a sina das Laranjeiras: respirar, enfrentar o díifícil; expirar, encontrar outra intempérie à frente. Temos uma semana para tentar derrotar o poderoso América na cidade do México. É muito difícil – por isso, é uma tarefa digna do Tricolor. Nossas televisões estarão atentas a cada vírgula. Hoje, estamos cabisbaixos enquanto pré-campeões sorriem com sarcasmo. O futebol mostra que, muitas vezes, a volta por cima pode ser dar numa vírgula, um tropeço, um sopetão. Quem não aprende, paga o preço. Quem espera, sempre alcança. Nada está perdido.


Paulo-Roberto Andel

Tuesday, February 15, 2011

MADUREIRA 0 X 1 FLUMINENSE (13/02/2011)


O primeiro grande passo (14/02/2011)

Mais uma vez, não houve um futebol primoroso, incontestável. Mais uma vez as adversidades estiveram em campo, principalmente diante de um time bem-arrumado, fechado, impetuoso e com um goleiro em tarde de esplendor. Mais uma vez, o favorito da imprensa não adentrou o gramado; porém, no fim das contas, o Fluminense não apenas venceu o confronto contra o Madureira, ontem, em Volta Redonda, como assegurou o primeiro lugar do grupo B da Taça Guanabara, também beneficiado pelo empate do Botafogo no Engenhão. Mais uma vez, Rafael Moura fez a diferença. O Tricolor está nas semifinais e enfrenta o Boavista no próximo sábado.

Foi uma partida dura, mas leal. O Madureira, tradicionalmente bem-arrumado em todos os campeonatos que tem participado no Rio, não foi um adversário fácil. Tivemos várias chances de gol, muitas defendidas pelo excelente goleiro Cleber e outras interceptadas pela defesa ou a trave. Nosso gol solitário, típico do velho timinho dos anos cinqüenta, aconteceu a quinze minutos do fim da partida, o que mostra a dificuldade de se bater o popular Carrossel Suburbano. No final, deu tudo certo e, felizmente, o Fluminense está onde deveria; depois do mal-estar na Libertadores, no meio de semana passada, estamos de volta. A camisa centenária não nos trai.

Nosso primeiro tempo não foi brilhante. Sentimos os desfalques, motivados pelos cartões amarelos: Leandro Euzébio, Carlinhos, Valencia, Edinho e Diguinho foram poupados para evitar alguma suspensão nas semifinais. Como alento. isso proporcionou a volta de guerreiros admiráveis como Digão e Diogo, nossos jovens heróis da salvação em 2009. Na frente, a volta de Rafael Moura ao lado de Fred, mostrando que os dois jogadores podem atuar juntos. E a principal das alterações, feita no gol: o Tricampeão Berna em lugar de Cavalieri. Ninguém desconsidera a qualidade do ex-palmeirense, por mais que seu desempenho em campo tenha sido muito aquém daquele que, um dia, provocou nos torcedores a impressão do pentacampeão Marcos ter um sucessor à altura. Futebol é momento e, neste exato momento, não há outro goleiro melhor em campo do que Berna em nossa meta – mostrou mais uma vez suas qualidades ontem, com defesas fantásticas, sendo um dos melhores em campo, ora em cabeçadas, chutes de fora da área, cobranças de falta e saídas do gol. Tecnicamente perfeito. Cavalieri precisa treinar, se condicionar e, aí sim, disputar a posição, é o que me parece óbvio.

Quem não foi bem em campo na primeira etapa foi Souza. Errou praticamente todos os passes que tentou, sua principal função, com exceção de algumas bolas paradas. Fred também pareceu um tanto apagado, ainda que seus pequenos lampejos causassem furor nas arquibancadas Tricolores do Raulino de Oliveira, principalmente nas tentativas de cabeçadas. Conca, aos poucos voltando à forma, quase fez um golaço ao limpar vários adversários e chutar rasteiro – e aí, claro, quem apareceu foi Cleber, a parede do Madureira. Em dois cruzamentos, Digão perdeu oportunidades. O Madureira não se fez de rogado e nos ameaçou várias vezes, a maioria muito bem-interceptadas por Berna. O empate foi justo no primeiro tempo: se não marcamos o gol, foi por nossas deficiências na finalização.

No segundo tempo, é fato que voltamos mais dispostos. Era preciso ganhar e, além disso, o Botafogo empatava no Engenhão, o que nos permitia sonhar com o primeiro lugar do grupo. E Souza acertou a sua primeira jogada: um chutaço de fora da área que exigiu esforço de Cleber. O goleiro de Conselheiro Galvão era, a essa altura, um verdadeiro chato a boicotar nossa tarde: pegava até pensamentos e suspiros. Outro bom chute de Souza, em cobrança de falta, lá estava o desgraçado a impedir o gol, voando no ângulo direito. E mais uma jogada de cabeça, no desvio de Gum após cobrança de falta feita por Conca, pela direita: claro que Cleber evitou.

O tempo passava e parecia que não íamos conseguir. Na jogada mais cristalina, Souza bateu a falta em cruzamento, Rafael Moura fuzilou de cabeça e a bola, que dessa vez tinha passado por Cleber, explodiu no travessão. Em seguida, um dos nossos grandes personagens dos últimos dois anos, um tanto apagado neste 2011, foi decisivo para a suada vitória de ontem: Mariano. Buscou uma bola na direita em arranque fulminante, como aqueles que o levaram à seleção brasileira; em seguida, sofreu falta. Souza, desde que chegou ao Fluminense, tem cobrado muitas faltas, mas esta ficou ao encargo de São Dario Conca. O argentino do lado direito da área, batendo com o pé esquerdo em curva, fez jogadas maravilhosas em 2008; naquele momento, nosso artilheiro das bolas paradas era Cícero, hoje em franco sucesso no futebol alemão. Conca parou, olhou e cruzou para o meio da área, com a perfeição habitual. Cícero pode estar longe de nós, mas temos um time de heróis e, mais do que isso, um super-herói: lá estava o He-Man de novo com sua cabeçada de artilheiro, raspando de cocoruto e finalmente batendo o quase invencível Cleber, num gol chorado a quinze minutos do fim. Era o gol da vitória, da classificação e da liderança do grupo, contrariando as convicções bonachonas da imprensa esportiva.

Ainda houve tempo para um verdadeiro show de Ricardo Berna: uma defesa espetacular no ângulo direito, espalmando para escanteio e na seqüência, contando com a ajuda do travessão. E Digão, que tirou um gol feito usando o ombro, sentado na pequena área? As três cores atravessaram um século com competência, fidalguia e aplicação, mas também sorte – e esta nos bafejou no momento exato.

Os minutos finais do jogo, com o Botafogo já tendo empatado seu jogo e nós precisando apenas manter o escore mínimo a nosso favor, me ofereceu duas reflexões: uma, sobre um outro herói, tímido, que adentrou o gramado pela Madureira, mas que estará sempre presente nas mentes das Laranjeiras. Falo de Adriano Magrão, que nos colocou na Libertadores de 2008 com seus gols e passes decisivos. Outra, sobre certos comentários que davam conta do Fluminense ter “escapado” do Flamengo na disputa semifinal. Creio não haver qualquer possibilidade de dúvida sobre o fato de que o Fluminense foi o primeiro por seus próprios méritos. Um Tricolor que conhece a história das Laranjeiras precisa mesmo “escapar” do Flamengo? A história da Gávea é mais do que respeitável, mas todos sabem a predominância Tricolor num Fla-Flu decisivo, como foi pelas décadas afora. O passado não veste nenhum favorito hoje, mas a história jamais colocou o Fluminense como um camundongo indefeso e fujão, mas sim um grande campeão, muitas vezes conquistando taças memoráveis contra o escrete rubro-negro. Não somos os mais-queridos da imprensa e nem os mais-favoritos de nada: somos apenas nós mesmos, com nossa trajetória infinita de lutas. A Libertadores mora logo ao lado e, nesta semana, o momento é de preparação para a batalha final da Guanabara, caso consigamos bater o Boavista. Ao sempre-favorito Flamengo, resta lembrar que há um Botafogo pelo caminho e, justamente por isso, estar na grande final ainda é um passo bastante longe. Ninguém bate o Botafogo de véspera e nem desclassifica o Fluminense por decreto. Oh, velha lição!

Paulo-Roberto Andel

Friday, February 11, 2011

FLUMINENSE 2 X 2 A.JUNIORS (09/02/2011)



Sem tempo para lamentos (10/02/2011)

Merecíamos muito mais do que tudo visto e vivido ontem. O primeiro capítulo da Copa Libertadores, especialmente depois do que nos custou daquele 2008 até o fim do ano passado, deveria ter sido um sonho, mas esbarrou em cruéis realidades. Empatamos em casa a primeira partida, quando a vitória era uma necessidade; por outro lado, perto do que jogamos e, principalmente, por conta de erros crassos individuais, escapamos de uma derrota justa e mantivemos a invencibilidade em competições internacionais jogando no Brasil. No fim das contas, saiu barato. Antes da partida, meu encontro com o camarada Paulo Cézar Filho revelava meu temor: ele estava mais confiante do que eu, e tentei levar esta mesma confiança para a Leste Superior. Nem lá, nem cá: o empate em casa não foi bom, mas perto da derrota iminente, foi menos pior.

O Engenhão não lotou, como se cogitaria na estréia de uma Libertadores. É um estádio bonito, mas com alguns problemas. Não fica longe do Maracanã como tanto se fala, embora ir de carro até lá seja quase uma odisséia, principalmente no incrível horário de sete e meia da noite durante a semana; muitos optam pelo combo trem-metrô e, por isso, chegam em casa depois de uma da madrugada. É evidente que tal horário desmotiva o torcedor a comparecer regularmente ao estádio. Não preciso dizer do escorchante preço dos ingressos, que alguns tentam justificar por conta da meia-entrada; qualquer desavisado sabe que um ingresso de quarenta reais, cobrado duas vezes por semana em média, gera uma despesa aviltante – se não houvesse a promoção, os estádios estariam às moscas. Quando criança, lembro que economizava minha mesada e ia a vários jogos, alternando com o cinema, que custava o dobro ou o triplo de um ingresso de arquibancada no Maracanã – hoje, é o contrário: o futebol é bem mais caro do que o espetáculo do cinema. Portanto, estão de parabéns os quatorze mil pagantes: além de enfrentarem um horário sacrificante para poder comparecer aos jogos, ainda disponibilizaram muitos e muitos reais. A grande massa ganha menos do que mil dinheiros brasileiros e, por isso, não pode gastar mais de trezentos deles somente com o futebol – sem contar a passagem, o deslocamento, a fome e a sede. Já que a bilheteria dos jogos responde por apenas oito por cento das receitas dos times de futebol no Brasil, talvez uma mobilização digna da diretoria do Fluminense no sentido de baratear os ingressos e garantir platéia máxima fosse bem-vinda. É claro que tudo fica na base do fosse.

Meus amigos, o Fluminense ainda não fez uma grande partida este ano. Em alguns momentos durante os jogos deste 2011, lampejos de craque surgiram nos pés e cabeça de Fred; algumas jogadas do herói Conca, incrivelmente já nos gramados após a cirurgia, mas ainda distante da forma física ideal; a excelente surpresa recente no retorno de Rafael Moura não foi suficiente para garantir triunfos. Figuras importantes do time campeão como Marquinho e Diogo não têm jogado, por razões diferentes. Mariano, símbolo da raça que salvou o time do inferno e foi até o céu, ainda não estreou em 2010 – apenas entrou em campo, ainda que ontem tenha ajudado a evitar a derrota. O Sheik está ausente. A gigantesca figura de Ricardo Berna, primordial no Tricampeonato, agora ocupa o banco. Nossa defesa, titubeante, tomou cinco gols nos últimos dois jogos. Tudo isso, com pesos diferentes, ajuda a tentar entender porque o Fluminense de 2011 ainda não é aquele que encantou o Brasil há pouco.

Falo do jogo. A bola parecia que queimava no pé de alguns dos nossos jogadores, de tão tensos que estavam com a estréia contra um adversário que, se não encanta, é digno representante da tradição do futebol argentino. Uma esperança no ataque, depois de boas participações nos jogos recentes era Willians, mas não se confirmou. Quem esteve bem – e confirmaria a boa atuação com gols – foi Rafael Moura, que em dois jogos produziu mais do que em toda a sua trajetória anterior com a nossa camisa. O Fluminense, contudo, tinha um conjunto nervoso e permitiu em algumas vezes bons ataques dos argentinos; no melhor deles, o baixinho Niell tocou para as redes após dividida com Gum e André Luis salvou teoricamente em cima da linha – mas apenas teoricamente, porque as câmeras permitiram confirmar o que se sentira no estádio com o ruído de mal-estar da nossa torcida: a bola passou inteira. Este seria um lance capaz de reanimar um time ainda tímido na partida, mas não foi o que aconteceu: ao fim da primeira etapa, os portenhos insistiram no ataque e, em cabeçada de Niell, a bola quicou entre a defesa; Cavalieri, atrasado e mal-posicionado como de costume, não evitou o gol. Descemos para o vestiário com duas certezas: perdemos o primeiro tempo merecidamente e, se o time argentino tivesse maior qualidade, poderia ter sido ainda pior.

Na volta, Willians, apagado, deu lugar a Rodriguinho, o que não mudou muito nosso panorama ofensivo, calcado na luta incessante de Rafael Moura. E ele mesmo fez seu terceiro gol em quatro dias, em bela cabeçada após cruzamento de Carlinhos. O empate alimentou a esperança da torcida, mas realmente não estávamos em um bom dia – mesmo após a reação, o Fluminense não cumpriu seu papel de mandante da partida, cada vez mais lenta por conta da catimba argentina e da leniência do árbitro paraguaio Torres, uma espécie de Gutemberg guarani – para culminar, o próprio senhor Gutemberg, depois da lambança de domingo passado, lá estava novamente no Engenhão como quarto árbitro. Ainda fizemos relativa pressão no ataque, mas sem finalizações perigosas e, então, oferecendo espaço aos argentinos para o contra-ataque - a exceção se deveu em um único bom chute de Mariano, pela direita, obrigando o arqueiro Navarro a espalmar a bola que ia no ângulo esquerdo para escanteio. A seguir, nossa zaga, titubeante durante os noventa minutos, deu mau sinal: André Luis recebeu um “drible da vaca” de Salcedo, que cruzou na área. Uma falha grotesca de Cavalieri ao não interceptar a bola e, em seguida, o azucrinador Niell chegou antes do também atrasado Gum e tocou de cabeça, livre, no canto direito, colocando o Argentinos na frente, agora a quinze minutos do fim. Não é o caso de crucificar ninguém, até porque a má atuação foi coletiva, mas é evidente que Cavalieri foi o principal responsável pelo segundo tento, assim como tem falhado constantemente nas partidas em que jogou. É um goleiro que ainda pode prosperar; o problema é saber se, à espera desta prosperidade, teremos que colocar em risco as duas competições que estamos disputando, uma vez que o sagrado gol do Fluminense não é lugar para experiências e adaptações. A torcida vaiou com razão e os mais apaixonados resolveram intervir; entendo o ponto de vista destes e merecem todo respeito, mas minha opinião é a de que ser apaixonado pelo Tricolor - e querer o melhor para ele - não deve ser confundido com uma ingenuidade quase infantil, onde tudo é belo e cristalino, onde não existe crítica. Estamos no futebol brasileiro, convém lembrar.

A força do Fluminense é imensa e isso explica a nossa reação, mesmo numa noite onde quase tudo deu errado. No quase desespero na saída de bola após o segundo gol argentino, um cruzamento da direita, um rebote para a área e a bola chega a Mariano, depois de ter passado por Rafael Moura. O He-Man mostrou todo seu senso de área, ao dar um passo para trás e se recolocar em condições de finalização. Mariano acertou seu primeiro cruzamento no jogo e o artilheiro garantiu a igualdade com firme cabeçada. Ainda faltavam quinze minutos para o fim do jogo, mas o desgaste físico em campo era evidente, mesmo com a tardia entrada de Marquinho, o que impossibilitou nosso poder de reação. Os argentinos, satisfeitos com o ponto fora de casa, limitaram-se a retardar as bolas paradas e gastar o tempo; assim, saíram com um bom resultado rumo à terra portenha.

A lição de ontem passa por vários temas: a necessidade de juventude em campo, a mesma que nos salvou em 2009 e nos guinou em 2010; a humildade de reconhecer que alguns dos nossos jogadores não passam por bom momento, merecendo ser substituídos – no caso particular de Cavalieri, há anos sem treinamento de goleiro, não deveria sequer ter estreado. A sobriedade de perceber que a Libertadores é diferente do campeonato brasileiro. Mas não há tempo para lamentos: o campeonato carioca nos espera e termos que buscar os dois pontos perdidos ontem fora de casa. Uma tarefa dura, mas não surpreendente para a centenária camisa acostumada a desafiar paradigmas.


Paulo-Roberto Andel

Wednesday, February 09, 2011

A AMÉRICA EM DOIS ACTOS

03/07/2008
ACTO I

Talvez existam os deuses do futebol. Particularmente, não creio.

Dou-me o direito do engano, do erro. Respeito todas as crenças e credos, mas não compartilho deles.

Houvesse um grande deus do futebol em pleno exercício, caberia ao Fluminense erguer a gloriosa taça da América ontem. Estava escrito há cinco mil anos, como profetizaria nosso herói Nelson Rodrigues. Acabou o certame, e tivemos a melhor campanha; vencemos todos os jogos em casa; fomos heróicos em partidas contra os poderosíssimos São Paulo e Boca Juniors. Ontem, também. Mas não bastou para o Fluminense ser campeão.

Alguém, não se sabe de onde, rasgou os escritos e com crueldade: esperou os últimos momentos, os últimos chutes a gol, os últimos suspiros – momentos onde, normalmente, temos grande perícia. Não foi o caso desta vez, rasa e pontual vez.

O Fluminense não fez na final uma partida tão grandiosa como aquela contra os argentinos, e nem como o poderoso tricampeão mundial paulista. Ainda assim, fomos melhores que os equatorianos e a vitória no tempo normal foi merecidíssima. É fato que dois pênaltis ocorreram a nosso favor, sobre Washington e Cícero, não marcados pelo péssimo árbitro Baldassi, mas não quer dizer necessariamente que o título estivesse assegurado por isso, pela hipotética marcação. O árbitro argentino foi muito ruim para os dois times, chegando a anular um gol legítimo da LDU que nos destruiria na prorrogação. Bom, se tivesse marcado os dois penais claros, talvez a prorrogação nem acontecesse. Trata-se de um mundo de suposições. Lembro que acertamos a trave e fomos abalroados também. Conca foi um gigante na partida. Neves fez história, sendo o primeiro jogador a marcar três gols numa final da América do Sul, agora também enxertada pelo México. Superamos o gol trágico que sofremos logo aos cinco minutos, com uma reação vigorosa. Vencemos aqui e empatamos a competição.

Vencemos, mas não como das outras vezes. Nosso grande Washington não estava bem, e o mesmo se pode dizer de Marcos Arouca, Gabriel e Thiago, nosso zagueiro continental – Tricolor dentro do peito. Havia nervosismo, a tensão natural de um grande jogo final. Acertamos mais do que erramos, mas sem o brilhantismo de outrora. Ainda assim, o quarto gol era uma possibilidade real, e dele estivemos muito perto. Não aconteceu, entretanto.

Veio e nervosa prorrogação. O Maracanã, abarrotado em gente caindo às vistas a cântaros, era de um só coração, com exceção de parte das cadeiras azuis tomadas pelos bravios equatorianos. Tínhamos total confiança na vitória no tempo extra; entretanto, os cuidados que todos os times tomam num momento desses, onde a falha pode ser capital, acabam tornando a prorrogação muitas vezes num compasso de espera em agonia para as disputas na marca penal – o verdadeiro ai-jesus que povoa até o hino da Gávea. E foi o que aconteceu. A disputa por pênaltis para conquistar a América.

Entendo que seria de uma crueldade desumana colocar a culpa exclusiva pela perda da América em cima dos cobradores penais. O Fluminense deve muito a Darío Conca pela chegada a este momento apoteótico, mágico, que foi o de chegar à final da Libertadores. Deve muito ao Neves, que oscilou mas mostrou brilho, muitas jogadas e gols. Nada a lamentar de Washington, nosso guerreiro, nosso Coração Valente, que fez tudo para estar em campo ontem – e, se não conseguiu mostrar o seu melhor futebol, lutou como todos. O que falar de Renato Portaluppi, que tantas alegrias nos deu dentro do campo e na lateral dele? Ontem, o Maracanã estava com Romerito, com Benedito de Assis, com Edinho, com nossos ilustres e anônimos torcedores vindos de todo o país e do exterior.

Houve erro? Será que realmente houve erro? Ou o futebol não é realmente assim?

Em Laranjeiras, não há espaço para crucificações e torturas. Nossa formação é outra.

Havia um grande adversário contra nós, que nos derrotou no detalhe – onde quem erra menos, vence. Mereceram o título. Onde foi preciso, na vírgula e no hiato, foram melhores.

A tristeza de ter perdido uma taça que escapou entre nossos dedos está em meu coração desde vinte e um de maio. Naquele dia, o Fluminense teve um de seus jogos mais difíceis, enquanto eu velava meu pai em seu quarto – meu pai, que me ensinou a amar este clube, este time que é de um sabor especial em todos os momentos desde que me entendo por gente. Num dos piores dias de minha vida, o Fluminense foi gigantesco como merece ser - e quando Washington bateu forte no peito, tomei para mim mesmo aquela bravura para lidar com a terrível dor da morte, a dor de perder um pedaço de mim.

Conseguimos reverter o resultado que os homens de imprensa tanto deram quanto absoluto e inquestionável nos noventa minutos. Poderíamos ter feito mais; poderíamos ter ganho o título no campo com mais um mísero gol, mas ele não veio. Eu entendi a dor do futebol mais uma vez, quando meu irmão, ainda tão jovem, teve os olhos cheios d’água ao final das cobranças penais – e o Tiba, meu velho amigo Tiba, o Homem de Gelo, mais do que ponderado, apressou-se nervosamente rumo à própria casa. Era o Fluminense mexendo com os corações de seus apaixonados torcedores. Perdemos a taça num detalhe – importante, crucial, mas detalhe. O Brasil parou para nos ver, e entendo que parte dele tenha ficado desapontada.

Hoje é o dia de uma longe noite, o dia que emendou noutro sem terminar. Nossas bandeiras, a vento rasante, são Telê Santana, Tom Jobim, Marcos Carneiro de Mendonça, Preguinho, Nelson Rodrigues. Nossas bandeiras são Parreira, são Assis, são Batatais, são de São Paulo Victor. Estamos, vivos ou mortos, muito vivos. É um dia triste, mas não de luto. Fizemos jus à história que construímos. Fomos dignos. Lutamos até os últimos chutes. Não houve oba-oba ou deslumbramento. Fomos superados por um adversário num desempate, depois de uma grande vitória.

A América nos escapou por um detalhe. Nela, não fomos coadjuvantes, tal como os preferidos da imprensa. Fomos protagonistas. O que, hoje, parece dor, pode ser o início de uma nova era, da qual nem desconfiamos por ora.

Eram três horas da manhã. Meu irmão me perguntava se o jogo no próximo domingo era no Serra Dourada. Respondi que sim. E ali, tantos anos depois, eu entendi que o Fluminense nasceu para disputar um esporte que não é somente o futebol, mas sim uma competição que nunca termina, com uma força que nunca seca. O Fluminense nasceu com a vocação do Fla-Flu de Nelson Rodrigues: não vai morrer, nunca vai acabar. Vivemos uma tristeza momentânea, e só. O sol nascerá, como já disse Cartola, um de nossos poetas imortais.

Nós voltaremos à América.

Vivos e mortos serão fiéis testemunhas.


Paulo-Roberto Andel



09/02/2011

ACTO II

Quem espera sempre alcança, como diz a nossa história.

Foram quase mil dias e mil noites de espera. Uma vigília interminável.

Sofremos. Lutamos. Choramos.

Vencemos.

Torcer pelo Fluminense é muito mais do que torcer para um time de futebol, seja ele um grande campeão ou não. Ser Tricolor é desprezar obviedades, é trocar a maioria avassaladora pela minoria sofisticada. É não se curvar a falas e textos que, de tão repetidos, soam como chapa-branca imposta. É desafiar definições.

Certa vez, o maior cronista de futebol de todos os tempos, Nelson Rodrigues, escreveu que às vezes, o torcedor do Fluminense pode até deixar de ir ao estádio pelo comodismo de casa, mas nas horas decisivas lá está a urrar nas arquibancadas e celebrar vitórias. Quem descreveria o Tricolor de forma melhor? Ninguém.

Nossas vitórias são caleidoscópicas. Vejam o grande Tricampeonato conquistado em 2010, contra tudo e contra todos. As batalhas épicas de 2009 e 2008. Falo apenas dos últimos três anos, imaginem os outros cento e cinco. Pois bem: depois daquela longa noite de julho, terminada a série de cobrança de penais, o Fluminense era um time condenado à morte por seus inimigos e serviçais daqueles que têm horror às Laranjeiras, muitas vezes porque não entendem que um jogo de futebol é tão-somente um jogo de futebol, com tudo o que de belo e simples isso possa representar.

Queriam a nossa carne viva. Riram. Tripudiaram. Decretaram o fim do Tricolor. Houve uma campanha midiática tão pesada que o Fluminense chegou a adernar – mas não afundou. Insistem em resumir nossa história centenária a um péssimo momento de quinze anos atrás – ou a um idiota que resolveu abrir uma champagne. Como negar a história de Marcos Carneiro de Mendonça, Preguinho, Hércules, Tim, Castilho, Telê, Pinheiro, Denílson, Edinho, Ricardo, Branco, Paulo, Assis, Ézio, Renato, Thiago, Conca? Como negar a história viva de Nelson Rodrigues? Não podemos admitir o triunfo da imbecilização que se faz ao tentar diminuir o papel do Fluminense na vida brasileira, dentro e fora das quatro linhas.

Houve quase mil dias e mil longas noites de espera.

Nada dura para sempre, nem a pior das dores.

Nossas crianças, mulheres, homens e idosos choraram a perda daquele título que era tão nosso, tão evidente, com nossa campanha superior à de muitos times campeões do passado. O problema é que nada é fácil para o Fluminense: nós e nossos antepassados construímos uma grande história sempre lutando contra fortíssimos interesses. Tentaram nos impingir sempre uma pecha de clube da “elite” (com aspas pelo tom jocoso que emprestam a este termo), alheio às agruras do povo humilde e desligado da cena cotidiana real. Quanta bobagem! Não temos culpa de que nossos torcedores mais carentes financeiramente têm classe até para andar com uma camisa rasgada. Não podemos ser apedrejados porque nossa torcida lê, ouve, debate e tem opinião própria em vez da construída em manchetes de cinqüenta centavos. O Fluminense é um time de todos: brancos e pretos, ricos e pobres, nascidos em todos os berços. O Fluminense não é o mais-querido, mas sim o tão-querido-quanto. Ponto.

Houve o choro de 2008. Uma perda que parecia infinita. Mas estava escrito que, um dia, nós voltaríamos à América e que mortos e vivos seriam fiéis testemunhas deste novo feito.

Foram quase mil dias e mil noites insones.

Estamos de volta.

A história tratou de recolocar o gigantesco Fluminense em seu devido lugar.

Paulo-Roberto Andel

Tuesday, February 08, 2011

FLUMINENSE 2 X 3 BOTAFOGO (06/02/2011)



O time da virada (07/02/2011)

Um jogo entre duas grandes equipes não se torna um clássico à toa. Quando se trata de Fluminense e Botafogo, são cento e cinco anos de luta, tradição, títulos e uma história fantástica. Não poderia ter sido diferente ontem, no Engenhão: cinco gols, bolas na trave, duas viradas, pênaltis, disputas, disposição e uma tresloucada arbitragem como a cereja do bolo. General Severiano mereceu vencer, independentemente do verdadeiro desastre bancado pelo senhor Gutemberg: correu mais, aplicou-se mais, teve as melhores chances e, principalmente, soube explorar certas fragilidades nossas que já eram visíveis noutras partidas, mas que foram minimizadas por nossos talentos individuais. Sem qualquer desrespeito aos outros times competidores da Guanabara, uma coisa é reagir contra Olaria e Caxias; outra, contra o Botafogo. Na verdade, deixei o Olímpico ontem mais preocupado com o que nos espera depois de amanhã do que com a derrota em si. Ela veio quando era possível perder sem acontecer uma pane. Claro que seria menos tenso enfrentar o segundo time do outro grupo, em vez da Gávea, nas semifinais da Guanabara; porém, quem tem a sede do título não pode escolher adversários. É o que teremos pela frente, é como tem sido desde sempre. O favoritismo não é nossa pele.

Muito já foi dito sobre o que aconteceu em campo ontem, principalmente sobre a pavorosa arbitragem, sobre a qual falarei resumidamente mais à frente. Talvez não valha a pena enfatizar isso: foi de uma tal obviedade que ignorar as sandices do senhor Gutemberg beira à indulgência mental. Prefiro dizer nesta crônica sobre outras coisas. A lentidão do Fluminense em boa parte do jogo, ponto. É claro que, mais uma vez, o calor foi algoz de jogadores, torcedores e qualquer um que tenha tido a coragem de enfrentar os quarenta graus do Engenhão. Mas estamos em começo de temporada e, em algumas vezes, o que para alguns significa dosagem do ritmo de jogo feita pelo time do Fluminense, às vezes me parece precariedade física mesmo. Temos um dos grandes preparadores do país, Ronaldo Torres, e isso foi visível no grande Tricampeonato de 2010 e na salvação de 2009; entretanto, algo que me chama a atenção é que nosso time visivelmente tem uma média de idade maior do que a das temporadas mais recentes. Jovens como Alan e Maicon ganharam substitutos como o veteraníssimo Araújo – neste caso apenas apontando um exemplo. A raça implacável e a interminável força física de Mariano ainda não entraram em campo. Nossa defesa, titubeante, tem tomado muitos gols – Gum jogou bem boa parte do primeiro tempo, mas não teve sucesso no segundo. André Luis, que substituiu Euzébio, também não entrou bem. Carlinhos, salvo alguns bons chutes na fase final, parecia esgotado em campo desde os primeiros minutos. E Cavalieri, atrasado e visivelmente sem ritmo de jogo, ainda não demonstrou as qualidades que o consagraram no Palmeiras, há anos; a substituição de Ricardo Berna me parece hoje um equívoco completo. Diz-se que o goleiro só consegue ritmo jogando, mas eu pergunto: essa é a hora de testes numa posição que estava tão bem-guarnecida? Pois bem: o suspiro de ai-jesus voltou à nossa torcida a cada chute de longe, como nos tempos do Perseguido; torço sinceramente para que Cavalieri consiga reverter este momento, senão isso poderá nos custar muito caro. Assim, para quem queria vencer um clássico, somente em termos defensivos já tínhamos somado erros demais. Nosso craque Conca foi muito bem-marcado e, ainda se recuperando de cirurgia, não desfilou todo o seu potencial. Fred também foi anulado pela defesa alvinegra; quando esteve com pequena liberdade, parecia fora da velocidade necessária. Definitivamente, não era nosso dia.

Não bastasse nosso rol de erros, o Botafogo mereceu vencer porque teve um jogador espetacular em campo, que foi Renato Cajá. Fez um belo gol de falta, ainda que contasse com o atraso de Cavalieri, e ainda chutou duas bolas espetaculares na trave – os três lances no ângulo direito. Mereceu vencer porque teve o jovem impetuoso Márcio Rosário sendo useiro e vezeiro em cima da nossa ala direita. Mereceu vencer porque soube acalmar os nervos depois das expulsões em campo: o obsessivo Valencia do nosso lado, Marcelo Mattos do deles. Desceu para o intervalo debaixo da virada que lhe impusemos: um belo gol de cabeça do reestreante Rafael “He-Man” Moura, com ótima atuação, fuzilando o ângulo direito após cobrança de escanteio, e outro dele mesmo, numa sinuca maluca dos tempos de José Cunha na TVE, num bate-rebate com Fred e a bola passando centímetros da linha defendida por Jefferson. E voltou para ganhar o jogo: foi um time mais veloz; ocupou melhor os espaços vazios deixados pelos dois times, com dez jogadores em campo; superou a humorística perda do pênalti cobrado por Loco Abreu e, dois minutos após, ainda teve para si a sorte, que se manifestou pelo homem de preto, criando uma nova penalidade que, desta vez, foi bem convertida pelo ídolo uruguaio. E foi aí, meus amigos, que o Botafogo venceu o clássico de ontem: quando empatou o jogo, o Fluminense já não tinha condições físicas e psicológicas de superar o grande adversário. A virada se tornara iminente e, numa falha de Carlinhos no ataque, o contragolpe alvinegro foi cruel: com a defesa completamente errada em posicionamento de linha, Herrera entrou liberto e bateu com facilidade o atrasado Cavalieri. Ainda tivemos alguns poucos chutes, muito bem-defendidos pelo espetacular Jefferson, goleiro de primeira linha no país, além de chuveirinhos inócuos que não acrescentaram nada ao panorama da partida. E o Glorioso triunfou, tirando nossa invencibilidade com competência. Vários dos enganos que cometemos ontem já eram visíveis nas partidas anteriores desta Guanabara: tendo um Fred ou um Souza inspirados, conseguimos reagir e virar jogos contra equipes mais modestas. Contra o Botafogo, a história naturalmente seria outra: pagamos por conta de nossos erros. A meu ver, Muricy também não foi feliz nas substituições: Souza não deveria ter saído (Mariano poderia ter sido o sacado), Araújo não mostrou condições de jogar ao menos um tempo com pleno vigor e Fernando Bob, que substituiu He-Man, não supriu a ausência de Diguinho – este um termômetro do bom sistema de marcação do Fluminense. Enfim, dentro da noite de reveses, ao menos o consolo de que a derrota não nos trouxe maiores complicações: estamos classificados e, provavelmente, enfrentaremos a poderosa e pré-favorita Gávea nas semifinais da Guanabara. Não há opções: vencer ou vencer. E esta mesma derrota pode nos servir de lição de humildade, de alerta para que Muricy perceba os problemas que estão evidentes aos olhos da nossa torcida; de atenção para o grande ano que nos espera, mas que precisamos saber realizá-lo: o recente exemplo da hecatombe corinthiana deveria nos oferecer serventia.

Precisamos retomar a pegada de 2010 para daqui a dois dias. A América nos espera. É hora de sanar os erros. Não será fácil vencer os Argentinos Juniors na quarta-feira que vem, numa noite pela qual temos esperado há dois anos e sete meses. A hora está chegando. Um olho no peixe e outro no gato: a Guanabara de um lado, a Libertadores de outro. Não há o que escolher: é uma luta nas duas frentes.

Termino esta crônica desejando ao senhor Gutemberg que tenha dor-de-barriga, espinhas no ouvido e nariz, unha encravada nos dois dedões dos pés e, se possível, algum furúnculo nesta semana. É o mínimo que posso lhe oferecer diante daquela marcação do segundo pênalti contra nós, que transitou entre o (mau) cômico circense, o psicodélico e o realismo fantástico – tudo isso sem contar a inversão de faltas, os atrasos na marcação, a intimidação que aceitou quando da (justa) expulsão de Valencia. Por pouco, sua desastrada atuação não manchou completamente um grande clássico e uma justa vitória do Botafogo – que, novamente reitero, mereceu o triunfo, mas foi bafejado pela sorte em ganhar um inacreditável pênalti grátis num momento decisivo da partida. No entanto, apenas termino esta crônica: Botafogo e Fluminense não encerram sua queda-de-braço nunca. A história segue, cada vez mais viva.


Paulo-Roberto Andel

Friday, February 04, 2011

FLUMINENSE 3 X 1 CAXIAS (03/02/2011)



Água mole em pedra dura (04/02/2011)

Meu amigo William ganhou três importantes – e merecidos - pontos de aniversário, junto à nossa imensa torcida. O Fluminense tomou a ponta do grupo B na Taça Guanabara e encara o Botafogo no próximo domingo, novamente no Engenhão, com mais tranqüilidade. Fred marcou três gols na partida de ontem contra o Duque de Caxias, ficando cada vez mais artilheiro. Ainda chutamos duas bolas na trave. Tudo era flor e aroma? Nem tanto. Apesar da vitória importante, o time mostrou irregularidades no decorrer da partida e o resultado de forma alguma significou facilidade em campo, o que ficou evidente em vários momentos onde Muricy parecia ter ido à loucura, especialmente quando o Caxias fez seu gol de honra. Vamos em frente, ainda que se espere melhoras para o decorrer da Guanabara e principalmente para a estréia na Libertadores, semana que vem.

Justamente por conta da competição internacional, Muricy começou em campo com um time bem próximo daquele que deve ser o titular na próxima quarta-feira. À última hora, o experiente Araújo entrou para fazer sua primeira partida com nossa camisa. Conca estava de volta definitivamente com a sua camisa 11. Não foi um jogo fácil no primeiro tempo, ainda que nossas chances de gol tenham sido claras em pelo menos dois momentos: as duas bolas na trave, chutadas por Carlinhos e o próprio Araújo. A de Carlinhos foi antológica e, se tivesse entrado, seria com certeza um dos gols mais bonitos do ano no futebol brasileiro: após ótimo lançamento de Conca para a esquerda, um maravilhoso chapéu no zagueiro, a matada na coxa e a finalização no canto direito, espalmada pelo goleiro Fernando e, a seguir, beijando o poste direito. Ainda houve um bom chute de Souza, defendido para escanteio, quase ao fim do primeiro tempo. Se o Fluminense tinha qualidade técnica de sobra em alguns jogadores, o time parecia um pouco lento: Araújo não está em forma, evidentemente; Fred finalizou algumas bolas, mas parecia dispersivo; Conca ainda não está com o ritmo alucinante do ano passado. É claro que o calor também prejudica, mas o Fluminense mostrava calma demais no jogo, principalmente quando as grandes finalizações foram desperdiçadas, sugerindo que o time poderia vencer a qualquer momento, o que sabemos não ser verdade. É preciso dedicação sempre, seja qual for o adversário. O Caxias também quase marcou, no que pode ser considerada a segunda boa defesa feita por Cavalieri com nossas cores: Somália entrou na pequena área, finalizando o cruzamento da direita do ataque, tocando no contrapé, mas perto do goleiro, que mostrou reflexo e pegou. Mais tarde, outra boa defesa, a terceira, em chute de Lenilson pela esquerda diagonal. E terminou o primeiro tempo sem alterações no placar; merecemos marcar pelas boas jogadas, mas o conjunto da obra mostrava um Fluminense até preguiçoso em alguns momentos – e, por isso, não ter marcado soou até como um “castigo” justo.

Hoje em dia, felizmente para todos nós o Fluminense dispõe de um elenco com múltiplas possibilidades, dentro e fora da titularidade. Um dia, Emerson e Deco voltarão. Conca, nosso símbolo guerreiro, já voltou. E temos Fred, que abusara da lentidão na primeira etapa, mas mostrou toda a sua categoria quando marcou o golaço que abriu o marcador. Araújo, em sua última jogada antes de ser substituído, cruzou da esquerda e o artilheiro maior bateu de primeira com o pé direito, no canto direito. Somente um jogador com alto poder de recursos técnicos é capaz de finalizar daquele jeito. E Fred tem.

Marcado o gol, a expectativa era de acalmar as coisas e não apenas administrar o resultado, mas ampliar a vantagem. Só que para o Fluminense, nada é fácil: tudo vem a conta-gotas entupido. E mal deu tempo de nos tranqüilizarmos, houve uma ligação direta do meio campo com o ataque caxiense pela esquerda, numa bola parada. Nossa defesa parou, tentando fazer a linha maldita que, claro, não deu certo. Cavalieiri ficou parado e foi encoberto pela cabeçada do jovem Marlon. Recomeçar de novo.

Reagimos a seguir, com ótima cobrança de falta de Souza no ângulo direito da meta - ele mostra a cada dia ser uma importante opção nas bolas paradas em geral. O goleiro Fernando espalmou para escanteio com mão trocada, em linda defesa. Fred, agora aceso em campo, deu outro lindo chute de primeira, após cruzamento de Mariano e passe inicial de Conca, com a bola passando perto do ângulo esquerdo. E mais um outro voleio sensacional do artilheiro-mor, no bico direito da pequena área. Um chutaço de Conca e mais outra bela defesa de Fernando. O Fluminense deixou definitivamente a preguiça de lado e partiu para a vitória, principalmente quando houve a parada técnica e Muricy esbravejou para todos os lados, principalmente para com defesa e goleiro. Aí, sim, o Tricampeão disse a que veio.

O ditado fala da água mole que bate até furar a pedra dura. Assim sucedeu o placar. Num bate rebate, a bola caiu nos pés de quem sabe: Conca. Um lindo passe para Fred livre chutar por entre as pernas de Fernando, na diagonal, devolvendo a vantagem ao Tricolor. A partir de então o Caxias, que já havia marcado muito e corrido firme, claramente viu suas forças combalirem, de modo que não tinha mais como igualar o marcador. E ainda houve tempo de Fred fuzilar com pé esquerdo, pela esquerda, fazendo o terceiro gol e dando números finais ao jogo no último minuto. Para quem começou um tanto paradão, foi uma noite de glória para o artilheiro-mor.

Em cada partida, uma lição. O Fluminense que deve disputar as competições é o dos vinte minutos finais de ontem, mostrando garra, disposição, talento e aplicação. Não dar tempo ao adversário, não deixá-lo respirar. Respeitá-lo e, por isso mesmo, atacá-lo sem esperar vencer com facilidade a qualquer momento.

Agora pela frente, duas grandes batalhas. Na noite de domingo, o clássico centenário contra o Botafogo, que pode valer a consagração dos adversários nas finais da Guanabara. E, na quarta-feira, algo que temos pensado por dois anos e meio diariamente: a volta à América.. Novecentas noites em busca de um sonho que, muito antes do talvez imaginável, aconteceu. Estamos de volta. Alguns falavam de voltar a competições pela porta da frente: hoje, enquanto saem pela emergência, a América estende seu tapete grená para o Fluminense.

Vamos adorná-lo com branco e verde!


Paulo-Roberto Andel

Tuesday, February 01, 2011

CABOFRIENSE 2 X 4 FLUMINENSE (30/01/2011)

Quatro! (31/01/2011)

Uma vitória por quatro a dois. Quatro vitórias seguidas na Guanabara. A classificação às semifinais em uma das mãos. A expectativa da reestréia na Libertadores. A artilharia de Fred. Este é o Fluminense de hoje, ainda que as loas dos jornais estejam voltadas para outras cores. Mais uma vez, tivemos uma atuação oscilante, com direito a bons e maus momentos, entrecortados pelo calor equatorial de Macaé. Se não convenceu plenamente, o Fluminense venceu e prosseguiu em sua trajetória de vitórias; as sensações Botafogo e Flamengo também venceram e não convenceram. Em suma, tudo dentro do equilíbrio de um campeonato carioca (ou estadual, para quem preferir). Tudo isso sem contar com a volta do craque Conca e a também “estréia” de Willians.

Em tempos de verão, o calor durante os jogos pode até não ser desculpa, mas é evidente que ele atrapalha a performance dos times: basta ver como os jogadores quase desabam quando é marcado o tempo técnico, na metade de cada etapa de jogo. E o Fluminense sentiu o calor, como não poderia deixar de ser, ainda que tenha aberto o marcador no comecinho da partida, em excelente jogada ensaiada na cobrança rasteira de Souza para o meio da área e Fred, com a tradicional categoria, fuzilar o canto esquerdo do goleiro Fábio. Como quase sempre acontece, quando marcamos cedo, nosso time não sustenta a atuação com regularidade no decorrer do tempo. Tartá não estava bem. Por outro lado, Fred perdeu mais dois gols e Carlinhos, um. Outro gol poderia ter acontecido até a metade do primeiro tempo, mas fomos infelizes nos arremates, e quando houve a parada técnica, o Tricolor recuou mais do que o devido e cedeu espaços para a Cabofriense, muitas vezes levada ao ataque pelas jogadas nem sempre eficazes do veterano Schneider. Numa delas, a linda jogada do meia Wagner, acertando um “drible da vaca” em André Luis (escalado minutos antes da partida em lugar de Gum, que sentiu), provocou a primeira defesa feita pelo goleiro Cavalieri com a camisa do Fluminense, fechando o canto esquerdo com qualidade, mas ainda sem inspirar a confiança que os torcedores aprenderam a ter com o Tricampeão Ricardo Berna, barrado sem justificativa técnica plausível e, mais do que isso, uma profunda injustiça. Logo após a grande defesa, Cavalieri experimentou mais um gol sofrido: jogada e matada de Capixaba na área, finalizando no canto direito e igualando o marcador. Com o gol, o Fluminense fez menção de que o acerto de Muricy no intervalo era imprescindível. E o jogo ficou mais lento nos dez minutos finais do primeiro tempo, fazendo com que o empate parecesse o mais razoável. Podíamos ter vencido o jogo até ali, mas o calor, nossa certa ineficiência para lidar com o ataque da Cabofriense e nossas chances perdidas formaram um conjunto que explicou o empate.

Quero falar de Fred. Tem feito jogos de grande qualidade técnica, ainda que nem sempre a regularidade física esteja presente, como no caso contra o Bangu – não correu o tempo todo mas decidiu o jogo em linda cabeçada. Entretanto, sua qualidade, sua capacidade de antever as jogadas e sua frieza são características que podem levá-lo de volta à seleção brasileira, se a forma física se tornar fulgurante. A cada jogo, várias boas jogadas e gols importantes. Sobre os novatos em campo, creio que Souza já mostra a força de titular e Edinho é titubeante, nem de longe fazendo jus ao grande craque homônimo do passado Tricolor. Sabe-se que Muricy é grande fã de Edinho e foi o responsável por sua contratação, mas o fato é que ele não tem jogado melhor do que Valencia e Diogo jogaram na campanha do Tricampeonato. Vamos aguardar os fatos.

Na volta a campo, Muricy sacou Tartá, inconsistente na partida, e colocou Marquinho. Em lugar de Rodriguinho, entrou o Maestro Conca, para a alegria dos milhões de Tricolores. O argentino precisa ainda de ritmo de jogo, mas é claro que disse ao que veio ontem: comandou o meio de campo, criou jogadas e nenhum torcedor sóbrio seria capaz de acreditar que ele acabou de passar por uma cirurgia de joelho. Mas nada é fácil ou simples para o Fluminense: mal-começado o segundo tempo, um pênalti desnecessário de Souza em Diego Salles permitiu a virada do Cabofriense, a segunda que tomamos em uma semana e que, por si só, exige cuidados a seguir. O time da casa cometeu um pecado capital: virar o jogo cedo e tentar segurar o resultado, faltando quarenta minutos para o fim, tendo um Fluminense do outro lado – não daria certo. Conca passou a abusar da categoria, Marquinho perdeu um gol feito e o empate era questão de tempo, até que em linda e precisa cabeçada, André Luis igualou o jogo em dois gols, aos vinte.

Empatar é menos ruim do que perder, com certeza. Mas, tecnicamente falando, o que o Fluminense precisava era de uma vitória com bom saldo de gols, visando ultrapassar o Botafogo na liderança do grupo. Ainda faltava metade do segundo tempo e, após a parada técnica, nosso time retomou de vez as rédeas do jogo: passou a dominar a partida de vez, organizado por Conca e Fred, mais a agradável surpresa dos últimos jogos e que foi intensificada. Falo da “estréia” de Willians, que fez um ano de 2010 tíbio nas Laranjeiras e, nos últimos jogos, tem sempre entrado com esforço e algum talento. Ontem, apareceu de vez. Foi dele a ótima jogada que resultou no golaço da virada, marcado por Fred de bate-pronto no canto esquerdo de Fábio; a seguir, com muita raça, o próprio Willians finalizou com artilheiro, após jogada de Carlinhos e cruzamento de Marquinho. O jovem atacante que teve uma ótima passagem no Vitória da Bahia, mas ficou apagado no Palmeiras e no próprio Fluminense, parece dar a impressão de que vai ser um jogador muito útil nesta temporada. Além de nossas qualidades, foi inegável que o Cabofriense perdeu força quando seu zagueiro Alysson foi merecidamente expulso. Antes disso, o descontrole do time praiano era tamanho que proporcionou uma das cenas mais tresloucadas de todo o campeonato: após uma bola que Euzébio tentou salvam em cima da linha lateral e errou, ela resvalou no estreante treinador Waldemar Lemos que, sob completo – e injustificado - frenesi, entrou em campo para tentar agredir o zagueiro, o time e quem mais viesse pela frente, recebendo o cartão vermelho. Sem treinador, abalado psicologicamente e, a seguir, sem um zagueiro, o Cabofriense se tornou uma presa fácil nos minutos finais, o que não denigre a importante vitória Tricolor.

O Fluminense está com a classificação às semifinais da Guanabara por um triz. Todos indicam que haverá um Fla-Flu e que a Gávea é a grande favorita, todos dizem que ninguém será capaz de parar Ronaldinho Gaúcho, com se Zico já não tivesse sucumbido diante de Paulo Goulart. Nada pode ser melhor do que isso para começarmos um grande ano. Se conseguirmos ratificar a classificação diante do Duque de Caxias, na próxima quinta-feira calorenta do Engenhão, o jogo contra o Botafogo será um bom aperitivo para a semana de emoções que teremos. Para delírio de milhões e despeito de meia-dúzia, o Fluminense está de volta à América. Tomo emprestados os versos consagrados por Mário Reis, recentemente reavivados pelo grande Tricolor Chico Buarque: “Voltei a cantar/ porque senti saudade/ do tempo em que eu andava pela cidade”. A torcida Tricampeã voltou a cantar mais do que nunca. Ainda precisamos melhorar muita coisa, mas quem é tão melhor do que nós no Rio de Janeiro? Quem é tão melhor que não nos dá chances na Libertadores? Alguns parecem insistir em desaprender a lição.

Friday, January 28, 2011

FLUMINENSE 3 X 1 MACAÉ



Quase líder (28/01/2011)


Não foi uma jornada de brilho e nem era preciso, dado que o Fluminense foi superior e absoluto durante boa parte do jogo mesmo sem fazer grande esforço. Mais uma vez, vencer era a meta e houve pleno êxito: no exótico horário de rush, vencemos o Macaé por três a um e chegamos a nove pontos no certame, com três vitórias. Tudo correndo bem, ainda que abaixo das expectativas. E seguimos a passos largos para as semifinais da Guanabara.

Antes de nossa partida, o Vasco fez a preliminar contra o time do Boavista e perdeu. Furiosos com a má performance, alguns vascaínos promoveram cenas de confusão e tentativa de violência nos arredores do estádio, principalmente contra os Tricolores que chegavam. Apesar das providências policiais, ficou claro que é preciso repensar a segurança em torno do Engenhão, até porque sua geografia e vizinhança são diferentes do Maracanã. Todos esperamos pelas devidas atitudes.

Nas arquibancadas, outros vascaínos ainda tentaram a tradicional e saudável “secada” contra o Tricampeão, mas de nada adiantou: mesmo antes do gol de Carlinhos, marcado em sua tradicional jogada de corte para dentro da área e chute com a direita, acertando o canto direito, o Fluminense já fazia prever que o gol era questão de tempo, ainda que o jogo não tenha sido dos mais fáceis até o primeiro tempo – lembrando que o Macaé estava recheado de jogadores experientes e rodados, como Bill, Gedeil, André Gomes e Luis Mário. O gol de Carlinhos foi aos trinta e cinco minutos; antes disso, finalizamos muito pouco dentro da área, dada a fortíssima retranca macaense e, também, alguma falta de ímpeto de nosso ataque. A exceção, claro, foi Fred, que abusava de toques e dribles categóricos, além daquela que foi a jogada mais bonita de toda a partida, infelizmente não traduzida em gol: o artilheiro dominou no peito, acertou a bicicleta e a bola explodiu no travessão do goleiro Everton. Aos poucos, o Fluminense passou a tentar perigosos chutes de mais longe, até que Carlinhos fez o dele: até então, embora acertasse jogadas, não corria em ritmo máximo (o que pôde ser percebido até mesmo no gol marcado). Do outro lado, Mariano estava tímido e, no meio, Tartá não fez uma bom primeiro tempo – viria a ser substituído por Marquinho. Quem entrou com muita força foi Souza, disposto a mostrar serviço depois da prematura expulsão contra o Bangu. Rodriguinho foi Rodriguinho; em alguns momentos, Gum e Euzébio se enrolaram, mas nada que comprometesse, ainda que o segundo abusasse de cometer faltas. Edinho também não comprometeu, mas foi discreto. No gol, Cavalieri foi mero expectador, o que não ia acontecer na fase final. E o que se pode dizer mais do primeiro tempo? Aplicação, seriedade, mas falta de pressão máxima, o que era necessário porque não nos bastava apenas vencer, mas também conseguir um excelente saldo que pudesse superar General Severiano. Descemos aos vestiários com o escore mínimo, tradicional da nossa camisa, enquanto a nossa apoteótica torcida esperava por mais, muito mais, na segunda etapa. E vejam que falamos de um time sem Emerson e sem Conca. O Fluminense ainda tem muito a mostrar neste ano de 2011.

Voltamos para o segundo tempo com Marquinho em campo, o que significava dizer muita raça no meio de campo. Mal deu tempo de se instalar nas cadeiras azuis do Engenhão, Carlinhos veio pela esquerda e acertou, aí sim, um mortífero cruzamento. Quem chegou com força total, num quase carrinho de artilheiro, foi Souza, tocando para o gol vazio e ampliando o marcador, o que nos ofereceu maior tranqüilidade para administrar a partida. E o mesmo Souza, em bela cobrança de falta no canto direito do goleiro, faria o três a zero em menos de dez minutos. Em tese, o jogo estava decidido e isso refletiu na atuação da equipe a seguir, com alguns jogadores nitidamente se poupando. Nas arquibancadas, gritávamos galhofas contra o Neves, que optou por defender o rival. Souza virou o novo herói: ainda chutaria uma bola no travessão e mostraria que veio para o Tricolor com a sede da conquista.

Com a vantagem conquistada, quem desacelerou nitidamente foi Fred. Ainda houve tempo para algumas boas jogadas, uma quase letra e um pênalti chutado na trave. A meu ver, o artilheiro, excelente em praticamente todos os fundamentos, abriu vaga quando correu devagar para a cobrança, mostrando falta de convicção onde iria chutar; apesar de ter deslocado o goleiro, a bola beijou o pé da trave direita, frustrando a expectativa de chegarmos mais perto do Botafogo na pontuação geral.

Quero destinar estas linhas finais para falar de Cavalieri. Foi um reforço caro, ainda que não viesse de uma temporada de vitórias no futebol europeu, onde jamais repetiu a seqüência de boas atuações que teve quando era goleiro do Palmeiras. O custo da operação não deveria ser garantia de titularidade. É claro que foi bem-vindo às Laranjeiras, mas quero crer que o titular é Ricardo Berna, que entrou em campo nos momentos decisivos do ano passado e foi um dos heróis do tricampeonato, contrariando o senso comum. Entendo os critérios de Muricy para estrear os reforços, mas eu não mexeria num titular que está com ótima performance apenas pelo nome, pela suposta experiência internacional e, novamente, pelo preço. Parecia claro que Berna atravessa um melhor momento do que Cavalieri e isso pôde ser visto em campo ontem. O novo goleiro havia batido roupa num primeiro chute dos macaenses, causando suspiros na Leste Superior; pouco tempo depois, cometeu o mesmo erro e isso custou o gol de Macaé, além do adeus às nossas chances de igualarmos o Botafogo no saldo. Não se trata de crucificar Cavalieri, até porque é um jogador que pode ser muito útil neste ano árduo que teremos, mas era evidente em campo a sua falta de ritmo. Alguns dirão que um jogador só consegue evoluir jogando, mas e o goleiro? Vamos esperar que tenha ritmo? Debaixo das traves, esse argumento é inviável: não se pode esperar. E não cabem argumentos ou desculpas: o torcedor deve ser tratado com dignidade e isso também está no fato dos jogadores terem autocrítica e admitiram falhas. Esqueçam o gramado, a temperatura, a umidade do ar: houve um grande frango sim! O resultado final não foi sacrificado, não alterou os rumos da partida, mas aconteceu. Nada de mentiras. Que Cavalieri se prepare nos treinos e faça uma disputa igual com Berna: quem estiver melhor, que jogue. Neste momento, a vaga deveria ser do goleiro Tricampeão, mas quem resolve isso é nosso rabugento – e competentíssimo – treinador. Enfim, terminamos como líderes da chave e quase líderes do campeonato. Poderia ser melhor, mas é um bom começo, claro. Muito bom.

O quarto passo da Guanabara é no próximo domingo, justamente no estádio de Macaé, contra a Cabofriense. Uma vitória celebra nossa classificação. Iremos com tudo, seja qual for o time em campo. O Fluminense tem sede da Guanabara, tem saudades da Guanabara e nada é melhor do que o tempero carioca para uma grande estréia na América. Um dia eu disse que voltaríamos a ela. Está chegando a hora.


Paulo-Roberto Andel

Monday, January 24, 2011

FLUMINENSE 6 X 2 OLARIA (23/01/2011)


Dia de luz, festa de sol (24/01/2011)


Ontem, Fluminense e Olaria fizeram um jogo com várias nuances e circunstâncias, principalmente no primeiro tempo. Chutes perigosos, boas defesas, falhas, idas e vindas, viradas e reviravoltas no placar, bolas na trave: tudo aconteceu para uma partida rica e que acabou com uma poderosa goleada Tricolor por seis a dois no Engenhão. A alegria continua e, com ela, a certeza de que somos candidatos à Guanabara.

Nossa luta carioca começou na quinta-feira passada e, nela, a vitória mínima sobre o bom time do Bangu a poucos minutos do fim da partida serviu como amuleto: parecia ser o velho Fluminense de 1951, o rei dos um-a-zero que valeram um título. Porém, sabíamos que o time poderia render bem mais. Creio que o Fluminense buscará um equilíbrio no decorrer da competição; não é o caso de suspeitar do jogo contra os de Moça Bonita e nem de pular estrepitosamente com a goleada de ontem. Temos Muricy à beira do campo, seguindo os mandamentos do Mestre Telê Santana: nem desespero, nem euforia exagerada. Mas deixo claro: vencemos com autoridade, equilibro e atitude. Seis gols não são entregues de bandeja num drive-thru: o Tricolor cumpriu bem seu papel. Não me venham com galhofas.

Logo no primeiro minuto, ainda sob os raios de sol lambendo as arquibancadas do Engenhão, uma linda tabela entre Mariano, Deco e Fred fazia vezes de grande promessa para este ano tão esperado – o da nossa volta à América, o da luta pelo estadual e pelo tetracampeonato brasileiro. Os dez minutos seguintes foram de total predomínio das Laranjeiras, até que Fred, em passe típico dos melhores camisas dez de outros tempos, deu um passe de letra e deixou o brigador Marquinho – felizmente de volta ao futebol, após a fratura no braço - com a faca e o queijo nas mãos para abrir o marcador. Na marca do pênalti, livre, o camisa sete fuzilou de pé esquerdo no canto esquerdo do goleiro Renan. Mas não houve tempo para qualquer festa: enquanto vários dos nossos jovens leões ainda urravam por conta do gol, o Olaria deu a saída, não se fez de rogado e empatou: livre frente à área, Felipe chutou forte de pé esquerdo também, mas no canto direito de Ricardo Berna, que nada pode fazer. Evidentemente, o empate foi uma surpresa negativa, mas nada que abalasse a incessante fé da nossa torcida. Os cinco minutos seguintes é que nos deram certo mal-estar, porque os azuis ganharam confiança e vieram para a frente, geralmente em velozes contra-ataques. Num deles, o excesso de garra de Valencia resultou num pênalti contra nós, muito bem-cobrado por Renan Silva: pé esquerdo com força no canto esquerdo, Ricardo Berna completamente deslocado no chute. Sinceramente, não creio que o pênalti seria marcado com facilidade se estivesse em campo outra grande equipe que não fosse o Fluminense, mas estava feito e o jeito era seguir em frente. É sempre desagradável estar perdendo qualquer jogo de virada, ainda mais antes dos vinte minutos do primeiro tempo, mas justamente por causa disso é que o torcedor do Fluminense não precisava se abalar. Afinal, quem espera sempre alcança. Dada a saída de bola, retomamos a partida como se não estivéssemos em desvantagem no marcador: o Fluminense de hoje é um time confiante, calejado. E mostraria a que veio.

Deco ficou pouco tempo em campo, nitidamente ainda sente o forte calor do Rio de Janeiro e, tendo em vista já ser um veterano, tem dificuldades para chegar ao esplendor da forma. Contudo, nas poucas vezes que toca na bola, ela parece deslizar num perfeito carpete de sinuca. E foi assim que o Fluminense empatou o jogo: ele devolveu de primeira, com categoria, um rebote da defesa olariense e deixou Fred tão livre quanto este deixara Marquinho na abertura do placar. Com o grande artilheiro livre no semicírculo de ataque, a classe do pé direito no canto esquerdo foi absoluta, decretando o dois a dois. A primeira etapa ainda seria marcada pelo lance capital da partida: Renan Silva se aproveitou de uma furada calamitosa de Euzébio, entrou na área e driblou Berna; quando chutou para o gol livre, lá estava Carlinhos fazendo cobertura na trave direita e impedindo a nova desvantagem. O contra ataque foi mortífero: um inusitado cruzamento de pé esquerdo de Mariano, a confusão na defesa do Olaria e Fred, sempre ele, tocando de cabeça no canto esquerdo para o fundo das redes, decretando a revirada e permitindo uma descida tranqüila para o intervalo. Alívio: a dificuldade foi grande, mas deu tudo certo. Se Deco não esteve nos seus melhores dias, Tartá foi muito bem e decisivo; se Euzébio andou se equivocando, Berna e Carlinhos deram conta das tarefas; se Mariano parecia tímido e lento em parte do jogo, esteve presente na hora da virada com uma maravilhoso cruzamento. Falando particularmente em Berna, entendo que seu grande momento no gol Tricolor continua e não vejo o menor motivo para que Cavalieri ocupe esta vaga. Quem agüentou as pressões de 2006 e do fim do ano passado merece ser titular. É claro que Cavalieri é um goleiro de grande categoria, apesar de ter mostrado pouco serviço nos últimos anos em que esteve no futebol europeu. Brigará pela vaga e será uma grande disputa. Contudo, entendo que se Berna for barrado por questões extra-campo, uma enorme injustiça estará desenhada em Álvaro Chaves.

Podemos dizer que o jogo foi decidido na saída para o segundo tempo. No primeiro ataque, um escanteio cobrado por Marquinho e então Rodriguinho, que substituíra Deco, cabeceou no canto direito, fazendo quatro a dois e tirando qualquer ambição maior do Olaria. Nova revirada parecia algo improvável, ainda que nós, das Laranjeiras, bem saibamos sobre desmontar paradigmas. Mas o fato é que o jogo tomou ares de treino, abrindo alas para a colossal categoria de Fred, as boas jogadas de Tartá e um Fluminense que, mesmo tendo quase garantido os três pontos, não abdicou do ataque em momento algum. Coube a Rodriguinho marcar novamente após receber ótimo passe de Tartá, em chute rasteiro num ataque pela direita, jogada típica dele, para fazer o quinto gol. E ainda haveria novas emoções, contra e a favor: Marquinho, com absoluto merecimento, faria um lindo gol de falta no apagar das luzes, além do Olaria balançar a nossa trave antes do apito final. Para uma segunda partida de campeonato, foi excelente: um show de Fred, muito bem-coadjuvado por nossos outros jogadores.

Não custa lembrar que o Fluminense ainda tem o genial Conca em recuperação médica, além da ausência de Emerson no ataque. As opções de Araújo e Edinho. O elenco é forte e estamos apenas no começo. Nós não comemoramos títulos pré-datados, isso não tem a ver com as nossas cores. Mas fica evidente que o Fluminense vai brigar firme por todos os títulos que disputar este ano. Ganhar é outra coisa: todos brigam por um único grande lugar ao sol. Aqui estamos para tentar de novo. Time para isso, temos. O tempo há de confirmar ou não as nossas melhores expectativas e sonhos. De certo e real, sabemos ter um grande time, um dos melhores atacantes do Brasil, outros craques por voltar a campo e uma torcida infinita. Hoje, o Fluminense promete e muito. Repito: ninguém goleia à toa. O campeão brasileiro mostrou sua força e há de prosperar.


Paulo-Roberto Andel

Tuesday, January 18, 2011

FELIZ 2011!


Caros amigos do tricampeonato, há quantos anos não iniciamos uma temporada de futebol com tanta tranquilidade? Não sei dizer ao certo, é coisa de décadas. O Fluminense desafiou paradigmas, fugiu do inferno e invadiu o céu com seu maravilhoso título em 2010 - dominou o Brasil de ponta a ponta, derramou chopes centenários, falácias debochadas de jornalistas, maus palpites dos analistas de plantão. Os jovens leões tomaram as ruas numa tempestade de dezembro e isso ratificou o Tricolor Tricampeão. Estamos em paz; contudo, bem sabemos que o futebol não espera: ele já bate à nossa porta com novos paradigmas a serem superados.

O campeonato carioca, ou estadual se preferirem, é uma conquista fundamental. O Fluminense sempre teve a supremacia neste modelos de competição, até que permitiu o empate em 2009. Será difícil retomar a ponta: as rivalidades regionais pesam, as torcidas se superam, os jogadores se matam em campo. Temos um time capaz de ser campeão do Rio, mas é preciso que a prática comprove a teoria. Precisamos desse título como nunca.

Em paralelo, a volta à América. Outro dia mesmo, enxugávamos as lágrimas daquela final mal-terminada, que nos deixou com ares de continuação. Pagamos o preço, as dores por dois anos e agora, humildemente, retornamos com o tapete vermelho sob nossos pés. Os velhos bocós já manuseiam as línguas-de-sogra: é o grupo da morte, o Fluminense não tem chance. Ri, rio e rirei cada vez que tais sentenças fatigarem minha vista e minha audição. Não somos os mais-queridos nem os favoritíssimos: que nos deixem num cantinho, pois conhecemos como ninguém o caminho das beiradas até a vitória. Tem sido assim há quase cento e dez anos.

Mais tarde, no findar do primeiro trimestre, a ferocidade do campeonato brasileiro e seus quase quarenta jogos, atravessando um verdadeiro continente. A se julgar pelo elenco que montamos e que ele não se desfaça, o Fluminense será um dos times que brigará pelo G, seja ele 3 ou 4. Não chegamos até aqui à toa. Os desafios serão violentos, mas isso faz parte da nossa história: é a nossa verdadeira sina.

Um time campeão merece respeito e valorização. Quem chega, vem para somar e, se possível, ganhar vaga no time. Hoje, ninguém merece ser mais titular do gol Tricolor do que Ricardo Berna; Cavalieri vem com força, mas precisa mostrar serviço. Souza tem história em outros times, mas precisa escrever a sua nas Laranjeiras, assim como Edinho e o veterano Araújo. Enfim, o Fluminense de hoje tem muitas opções e eu espero que, dentre elas, também estejam as jovens promessas forjadas em Xerém, para mesclar o grupo em todos os aspectos.

Não diria aqui que o Fluminense irá longe com certeza. É tão somente uma esperança, uma vontade, uma saudável ânsia de dez milhões de torcedores. O que aposto mesmo é que temos chances. Boas chances. O que vier de melhor, basta; por enquanto, torço por uma alegria semelhante a 2010. Se forem duas, maravilhoso; se forem três, o céu não será limite para a nossa calejada galeria de taças. O que vier, vem bem. Time, elenco e treinador, temos.

Aproveito para deixar uma mensagem aos homens que dirigem as Laranjeiras: se chegamos até aqui, é porque tivemos vários fatores dentro e fora de campo para uma verdadeira ressurreição do Fluminense - neste último caso, a força da nossa maravilhosa, apaixonada e linda torcida. Não é o momento de visualizar somente as receitas e deixar a massa torcedora de lado. O Fluminense dentro de campo não seria campeão sem o Fluminense que inundou o concreto das arquibancadas de Volta Redonda, Engenhão e Barueri. Um grande campeão não se constroi apenas com a audiência da televisão, tampouco com a exclusividade das classes mais abonadas.

No mais, um grande ano de 2011 e o velho sentimento de esperança que volta a brilhar nas três cores da vitória.


Paulo-Roberto Andel

Monday, January 10, 2011

SOBRE FERNANDO HENRIQUE (O GOLEIRO, CLARO)


Recentemente, quando publiquei meu livro “Do inferno ao céu – a história de um time de guerreiros”, numa única noite folheei algumas páginas por curiosidade, aquela coisa de ver a obra em progresso estar erguida.

Para qualquer pessoa que goste de escrever, profissionalmente ou não, muitas vezes o que foi escrito deveria ter sido refeito ou até mesmo ser suprimido. É sina do escritor: escrever, reescrever, cortar.

Aconteceu comigo durante a folheada, num único momento: uma crônica que escrevi contra Fernando Henrique, o então arqueiro Tricolor na partida da publicação. Não que tenha de mudado de forma alguma meu pensamento sobre o dito naquele momento, mas sim a maneira como escrevi – essa é que me incomodou. De toda forma, como o que produzi sempre teve o calor do fim dos jogos, talvez fosse inevitável dizer o que foi dito. Enfim, eu teria feito de outra forma, mas não menos crítica: além do resultado ter sido mais ácido do que é o tradicional da minha personalidade, sei que Fernando teve e tem muitos admiradores entre os torcedores do Fluminense, aos quais eu jamais gostaria de ofender ou parecer ofensivo por conta de minhas palavras. Tudo o que falei e falo tem a ver com as quatro linhas e o que nelas influencia, tão-somente.

A meu ver, se tivesse se empenhado mais, principalmente na correção de deficiências claras e em não teimar com a prioridade de jogo com os pés, agindo como um beque-equipe, Fernando poderia ter ido muito mais longe diante das traves que consagraram craques como Marcos Carneiro de Mendonça, Batatais, Castilho, Veludo, Félix, Renato, Wendel e o monumental Paulo Victor – a quem ele mesmo, Fernando, num momento de rasa lucidez, criticou sem o menor conhecimento de causa, assim como criticava a torcida que o vaiava - motivo, aliás, da minha eventual ira. Todavia, essas hipérboles desastradas - muitas vezes temperadas com a arrogância que, às vezes, os jovens confundem com personalidade, além de arroubos estatísticos inconsistentes – não apagam o brilho de ter feito parte dos campeões do centenário de 2002 e da Copa do Brasil em 2007 (onde foi de grande importância). Tivesse a regularidade deste certame, iria longe, muito longe. Trocasse a noite dos pagodes e funks pelo dia dos treinos, faltas, cruzamentos e chutes, iria muito longe – e isso é que me parecia mais frustrante como torcedor: saber que, se tivesse aplicado a dedicação devida, ele teria me poupado de vaiar, criticar e escrever. Havia potencial, faltavam aplicação e humildade.

Fernando teve o seu momento bom, teve momentos bem ruins, fez uma vida nas Laranjeiras. Ganhou aplausos, algumas vezes com total justiça, noutras com certo exagero; foi também muito vaiado com justiça. Veio e foi, subiu e desceu. Não estou aqui para mudar o disse ou o que escrevi muitas vezes, mas para mudar o tom que parecia ser belicoso quando, na verdade, era a decepção por alguém por quem eu também torci – era o goleiro do meu time, ora! Era alguém que eu queria ver bem em campo a todo momento, o que espero que seus fãs entendam.

No mais, é evidente que desejo toda sorte ao ex-jogador Tricolor e que tenha uma grande fase em seu novo time – uma volta por cima feita com seriedade e aplicação maiores do que as do passado, capazes de agradar ao seu séqüito de admiradores e contestar humildes opiniões como a deste escriba.

Mas reitero: será preciso trabalho, muito trabalho.


Paulo-Roberto Andel, 10/01/2011

Tuesday, December 21, 2010

PONTOS DE VENDA DO LIVRO "DO INFERNO AO CÉU"





















Arlequim Livraria
Praça XV de Novembro 48
Paço Imperial – Centro

Timbre Livraria
Shoppinga da Gávea 2º Piso Loja 221

Só Tricolor – Flamengo
Rua Senador Vergueiro, 44 Loja A
Flamengo

Só Tricolor – Tijuca
Rua Santo Afonso, 153 Loja H

Argumento Livraria
Rua Dias Ferreira, 417
Leblon

Blooks Livraria
Praia de Botafogo, 316 Loja D/E
Galeria do Arteplex Botafogo

Bolívar Livraria
Rua Bolívar, 42 Loja A
Copacabana

Beco das Letras
Rua General Tibúrcio, 83 Loja 14
Urca

Moviola Livraria
Rua das Laranjeiras, 280 Loja C
Laranjeiras

Empório das Letras
Rua do Catete, 311 Sala 202
Largo do Machado

Leonardo da Vinci Livraria
Avenida Rio Branco, 185 Lj. 2, 3, 9
Centro

Só Tricolor Petrópolis
Rua Tereza , 1515 Loja 69
Alto da Serra

Só Tricolor Niterói
Rua Gavião Peixoto, 104 Loja 111
Icaraí

Rede de Livrarias da Travessa

Barra: Barra Shopping, nível américas
Leblon: Shopping Leblon, 2º piso - 3138-9600
Ipanema: R. Visconde de Pirajá, 572 - 3205-9002

Centro:
Travessa do Ouvidor, 17 - 2505-0400
Av. Rio Branco, 44 - 2519-9000
Rua Primeiro de Março, 66 - 3808-2066
Rua 7 de Setembro, 54 - 3231-8015


Ou ainda nos links:

http://www.7letras.com.br/destaques/do-inferno-ao-ceu.html


http://www.travessa.com.br/DO_INFERNO_AO_CEU_A_HISTORIA_DE_UM_TIME_DE_GUERREIROS/artigo/4dcf0445-b80b-43e4-a4e9-f6e5dc2ba2cd

Monday, December 13, 2010

LANÇAMENTO DE LIVRO


"DO INFERNO AO CÉU: A HISTÓRIA DE UM TIME DE GUERREIROS"

Monday, December 06, 2010

FLUMINENSE 1 X 0 GUARANI (05/12/2010)



Do inferno ao céu (06/12/2010)


Eu queria falar de várias coisas nesta crônica de hoje, mas sei que as palavras sempre serão poucas para definir a monumental vitória de ontem, quando o Fluminense se sagrou tricampeão brasileiro de futebol. Queria falar da lembrança saudosa dos meus amados pais que, certamente, comemoraram este grande triunfo em algum lugar do infinito, assim como meus grandes amigos João Carlos e Xuru – este, vascaíno de sete cidades, mas que volta e meia emprestava torcida ao meu amado Fluminense. Queria também falar da emoção que senti ao ver os milhares de jovens leões das Laranjeiras vibrando e chorando com esta conquista, jovens como eu era no dia em que vencemos o fortíssimo Vasco e ganhamos o bicampeonato em 1984.

Meus queridos amigos Tricolores, esqueçam de jogadas bonitas, passes mirabolantes e efeitos pirotécnicos: o Fluminense não entrou em campo ontem para fazer um show. Entrou para ser tricampeão. A maravilhosa festa coube à nossa imensa e belíssima torcida, que fez uma verdadeira procissão até o Engenhão e não deixou um centímetro de acrílico ou concreto sem as três cores da vitória. No campo, todos sabíamos que seria um jogo tenso. A obrigação de vencer abala até um par-ou-ímpar, quanto mais tendo um título tão importante em jogo. Nunca tivemos uma final fácil a nosso favor, não seria agora que isso iria acontecer. Ninguém definiu o roteiro da partida melhor do que Álvaro Doria: “Será um jogo difícil, com morrinha e o gol virá no segundo tempo – isso se não for depois dos quarenta minutos”. Fizemos antes do que o bruxo previra, mas o sofrimento até o fim foi o mesmo. E antes disso, o Engenhão mostrava seus cânticos de festa, mas também muitos suspiros nervosos, mais do que justificados: chutamos pouco a gol, Diguinho não repetia o brilho de outras jornadas, o craque Conca sentia o calor, Fred ainda pagava o preço da falta de ritmo. O esquema 3-5-2 não funcionou como deveria, porque Mariano acabou inibido e Gum não tinha o mesmo ritmo para puxar jogo pela direita. Num momento, o Guarani ameaçou com perigo e poderia ter feito o gol, mas Ricardo Berna mostrou – com sobras, ressalte-se - porque se tornaria o sucessor de Paulo Victor na galeria dos goleiros campeões brasileiros do Tricolor. Nas cadeiras azuis, apreensão: o Cruzeiro empatava zerado em Minas, o Corinthians empatava em um gol no Serra Dourada. Definitivamente, nada é fácil para nós. Num estalar de dedos, acabou o primeiro tempo e ficou claro que teríamos de melhorar para conseguir vazar o gol bugrino. Um mísero e surrado gol valia o título – meio-gol até, desde que fosse validado. Nas arquibancadas, os jovens leões rugiam com ânimo e também a natural preocupação.

Na volta para o segundo tempo, o time voltou sem alterações, mas por pouco tempo. Logo no começo, Júlio César sentiu e quem veio em seu lugar foi Washington. Ninguém ali sabia que essa substituição, feita por contusão, iria dar ao Fluminense o seu terceiro troféu minutos depois. Houve uma bola na esquerda, Carlinhos tentou cruzar e acertou um adversário em cima; puxou a bola mais para a linha de fundo, contra dois marcadores, e cruzou. O normal seria Washington cabecear para o gol, ou tentar, mas buscou o passe de cabeça para Emerson. Do jeito que veio, o atacante fuzilou de pé esquerdo - junto à canela, cadarço da chuteira e o que mais estivesse à frente, - por entre as pernas do goleiro, causando não somente um grito de gol comum, mas um verdadeiro tiro de canhão em cada voz dos nossos torcedores. Os jovens leões rugiram alto, juntos aos adultos, os idosos, os ressuscitados, os redivivos. Um barulho como eu nunca havia ouvido antes num estádio, a não ser quando havíamos vencido o Centenário de 1995, e então venho a senha: havia um novo Centenário a ser vencido, havia águias a dizimar os gaviões. Fizemos o primeiro gol e parecia escrito que nunca mais perderíamos esses três pontos. Foi o que aconteceu. A meia hora restante da partida foi disputada com o Fluminense tentando ainda o segundo gol em algumas chances, contra o Guarani respeitando o futuro campeão. Confesso que vi pouco dessa meia hora, talvez uns quinze ou vinte minutos, se muito: olhei para o lado, os queridos amigos de todos os jogos, os conhecidos e desconhecidos, as lindas mulheres e os rapazes embasbacados; as faixas, as bandeiras, os dizeres. Cada um deles trazia em si uma lágrima de alegria e um sorriso monumental, catalânico, inquestionável. Dez minutos para olhar para o gramado e rever nossos heróis, nossas conquistas, nossa interminável saga.

Exatamente no centro do campo, Simon deu o último apito e encerrou a partida. Eu pensava em Leo Feldman, eu pensava naquele vinte e cinco de junho de 1995: fiquei do mesmo jeito, sem entender muito bem o que se passava à minha volta, no bairro, na cidade e no país. O que melhor me lembro foi quando, perto do meu setor, vi nosso craque Fred levantando Benedito de Assis, nosso herói de outro tri, nos braços. O artilheiro guerreiro entendeu o que é o Fluminense. Não há dúvidas de que Conca é o craque do campeonato, mas o Fluminense é campeão com um time, um grupo, um jogo inteiro de camisas em vez de uma solitária. Havia Romerito, havia Marcão; eram muitos vitoriosos no estádio para que o Tricolor fosse campeão. E não deu outra.

Voltei a ser jovem: o Fluminense escreveu mais um capítulo típico da sua história. Enfrentou o precoce fechamento do Maracanã e ficou sem estádio; lutou meses contra as contusões de seus principais jogadores; teve para si as galhofinhas da imprensa que, mais uma vez, foram demolidas dentro de campo. Liderou dois terços do campeonato; quando rateou, os adversários não souberam tomar a dianteira e foram novamente ultrapassados. Não há o que contestar: é um campeão de terra, céu e mar. Mais precisamente, do inferno ao céu. Explico: quem diria que o time desacreditado do meio do ano passado conseguiria chegar ao topo do Brasil ontem? A perda da Libertadores nos custou caro: não faltaram críticas, deboches e falácias. Queriam o nosso sangue, queriam nos rebaixar por decreto em 2008 e 2009, mas não conseguiram. Meus amigos, essa conquista de ontem não é o fruto do acaso ou de algo rápido, recente: trata-se de um longo processo, que vem de muitos e muitos anos. Ninguém mereceu mais esse título do que o Fluminense; embora tenham insistido em nos tratar como o time do quase. Lembremos de 1988, 1991, 1995, 2000, 2001, 2002, 2005 e 2007 – em todos estes anos, o campeonato brasileiro poderia ter sido nosso, e ficou bem perto. O de 2010 nunca mais escapará. Somos os grandes campeões: os jovens leões não param de rugir pelas ruas, bares, faculdades, praias e qualquer lugar onde se saiba que hoje o Fluminense voltou ao seu devido lugar. Quem espera sempre alcança.

Aproveito as linhas desta crônica para subsidiar o raciocínio daqueles que insistem na pecha de bicampeão. O Fluminense não é apenas um tricampeão, mas sim um gigante tricampeão. Os homens de imprensa devem mostrar grandeza neste momento e revisar seus textos: como explicar que hexacampeões brasileiros disputem cinco Taças Libertadores por conta dos títulos obtidos, ao passo que bicampeões do mesmo certame tenham disputado três? Não há matemático que consiga justificar tal equação. Não reconhecer o tricampeonato das Laranjeiras soa tão exótico quanto ignorar outros campeões como o Cruzeiro de Tostão, o Botafogo de Gerson, a Academia palmeirense de Ademir da Guia e um certo Santos de um certo Pelé. Patético.

A águia do Atlântico Sul voa rasante. Os jovens leões rugem como nunca. Os cavalos paraguaios foram, mais uma vez, recolhidos às cocheiras centenárias. O Brasil tem um novo tricampeão: seu nome é Fluminense, seu nome é felicidade.


Paulo-Roberto Andel

Thursday, December 02, 2010

TRICAMPEÃO, SIM!


Descontemos as mentiras políticas de O GLOBO.

Abaixo, segue a página principal da edição de 21/12/1970.

Será possível que a imprensa vai insistir com essa MENTIRA de tirar um título nacional do Fluminense?





















Verifique também:

http://www.youtube.com/watch?v=8vIsLrollK4&NR=1

Wednesday, December 01, 2010

PALMEIRAS 1 X 2 FLUMINENSE (28/11/2010)



A linha do céu de Barueri (29/11/2010)

Foram sete dias de luta. Duas batalhas na elegante Arena Barueri. Duas vitórias absolutas, incontestáveis, e o Fluminense está na final do campeonato brasileiro, meus amigos. Final? O campeonato não é por pontos corridos? Sim. Mas o próximo domingo nos reserva uma grande final no Engenhão: precisamos vencer de qualquer maneira o Guarani para conquistar o tão sonhado título brasileiro deste ano. Esqueçam que o Guarani foi rebaixado. Esqueçam que temos um ponto à frente. Esqueçam os jogos dos rivais. Nossa missão é vencer este jogo, por meio a zero, por três milímetros a zero e então sucederá o ansiado tricampeonato.

Vencemos o Palmeiras com autoridade. Não importa a classificação do alviverde no campeonato: é um grande time, jogava em casa e mesmo com a rejeição de sua torcida por uma vitória contra nós – o que favoreceria o arqui-rival Corinthians – não foi um peso-morto. Pelo contrário: o golaço marcado por Dinei no começo do jogo foi uma verdadeira ducha de água quente em nosso ânimo. Água quente? Sim, o calor de Barueri era escaldante. Sentimos o golpe por alguns instantes; nossa linda torcida que invadiu a Arena, nosso bravo time diante de um potente jab no queixo. Leandro Euzébio falhou, concordo; contudo, tem enorme crédito pelo seu conjunto de atuações neste campeonato. O jogo seguiu e logo se repetiu a agonia de outros dias: nosso ataque perdendo gols deliberadamente. Emerson cabeceou no travessão. Fred cabeceou nas mãos de Deola. O goleiro palmeirense ainda faria ao menos duas ótimas defesas, até que Carlinhos empatou o jogo num lindo chute diagonal no ângulo esquerdo, após driblar. Acertou o gol com o pé direito. Os atacantes não faziam, o lateral marcou de pé trocado: eis o Fluminense de 2010, um coração na ponta de cada chuteira. Uma forma de compensar o que viria a seguir até o intervalo: Conca não sendo tão Conca, Fred não sendo tão Fred, Emerson muito longe de Emerson e Deco completamente diferente da partida contra o São Paulo – para pior. Pouco tempo mais tarde o luso-brasileiro, contundido, cederia a vez a Tartá - e isso iria fazer uma enorme diferença entre o que sentíamos ali e sentimos agora.

Depois do empate, restava quase meia hora para terminar o primeiro tempo e, mesmo não fazendo uma partida primorosa, o Fluminense se lançou ostensivamente ao ataque, tornando Deola o destaque dos primeiros quarenta e cinco minutos, com defesas sensacionais e decepcionando profundamente os palmeirenses que foram ao estádio torcer pela derrota do próprio time, fato que prejudicaria o Parque São Jorge. Faz sentido. A lógica do torcedor não é medida pela precisão da matemática. Não me venham com discursos hipócritas: a primeira etapa não foi um jogo fácil. No mais, o Fluminense não é líder do campeonato por cortesia: assumiu a dianteira em dois terços das rodadas. Em vários momentos quando poderia ter sido alijado da disputa final, os adversários tropeçaram nas próprias pernas. É tudo culpa da sina Tricolor, que faz desabar centenários. E enquanto Laranjeiras literalmente suava em bicas na Arena Barueri, o Corinthians contava com a enorme colaboração do goleiro vascaíno Prass – mesmo que tenha sido involuntária. Os deuses e demônios do futebol habitam todos os estádios e camisas, não apenas uma, embora haja privilégios claros quando se trata de certas cores – e, dentre elas, definitivamente não estão as três do Fluminense.

A volta para o gramado no segundo tempo era a exigência de uma virada Tricolor. Nos primeiros minutos a tensão foi evidente, e isso se traduziu em ao menos um inacreditável gol perdido por Fred – logo ele, que tem a vocação e a maestria para fazer os gols. Mais um escanteio, mais outro escanteio, mais um cruzamento e as coisas não aconteciam. Chegou o décimo-terceiro minuto. Deola, gante, reboteou; Tartá ajeitou e colocou a bola no canto direito com excepcional categoria. Aconteceu a virada. Vejam que Tartá é um jogador de poucos gols; neste ano, no entanto, mais do que decisivos: contra o Vasco, no difícil um a zero, e ontem na virada. Gols que fizeram a diferença e trouxeram o Fluminense até o pantheon de hoje. Bendita a hora em que Deco se machucou!

Depois do segundo gol, é verdade que o jogo tomou ares um tanto modorrentos. O Palmeiras não disputava mais nada, o Fluminense conseguiu o que queria, as coisas foram mais lentas, mais dosadas. Não me preocupo com quem queira colocar dúvidas sobre a beleza do futebol que temos jogado, assim como suspeições dos nossos jogos recentes contra os times paulistas. Ninguém escreveu uma vírgula sobre o hiper-frango do Pacaembu. Esqueceram de muitos pênaltis duvidosos marcados na competição a favor doa grandes favoritos. Esqueceram a vergonha de 2005. Hoje, o que importa é o Fluminense conquistar essa taça, tão desejada e que tantas vezes bateu à trave. Quantas não foram as vezes que jogamos bem, com vigor e beleza mas saímos derrotados? O momento é de vitória, o momento é de conquistar. Se puder ser com mais lances bonitos, jogadas plásticas e gols avassaladores, melhor; não sendo assim, meia vírgula a zero é soltar um grito entalado há um quarto de século. Os bebês de colo que nasceram em 1984 hoje são jovens homens feitos. Os garotos daquela época, feito eu, agora são quarentões. As gerações passaram, o Fluminense mereceu ganhar o campeonato várias vezes, mas não conseguiu. Foi uma época de quase: 1988, 1991, 1995, 2000, 2001, 2002, 2005, 2007 e agora. Nove temporadas em vinte e seis anos: a cada três, em média, lá estava o Fluminense suando pelo título sem conseguir. Hoje, é uma realidade: meio a zero contra o Guarani nos basta. Não precisamos pensar nos outros jogos. Não nos importará o que os árbitros possam vir a fazer para beneficiar um ou outro grande favorito da imprensa. Basta fazermos a nossa parte, basta cuidarmos do nosso jardim. Só dependemos de nós mesmos.

A fanática, numerosa e belíssima torcida do Fluminense confia no potencial de seu time, que não terminou a penúltima rodada do campeonato como líder por acaso, destino ou favor. É um time com méritos. Liderou a maior parte da competição com autoridade, soube superar os momentos difíceis, o desfalque de vários titulares, os momentos de oscilação dentro e fora das quatro linhas. É um time que soube caminhar o trilho da competição por pontos corridos, orientado por um treinador especialista na modalidade. Em suma, não é o cavalo paraguaio que só os ingênuos atestaram, mas a águia do Atlântico Sul.

Não há mais o que adiar. Uma semana que vai demorar um século, até que o domingo à tarde chegue. E que ele nos ofereça uma vista tão bonita quanto a linha do céu de Barueri ontem, onde vi estampadas as três cores que traduzem tradição, glória e vitórias inesquecíveis. Certa vez, alguns rubro-negros tentaram zombaram de nós no Maracanã, ridicularizando o verso “quem espera sempre alcança”. Nós sempre soubemos esperar; por isso, estamos aqui. Sinto um agradável aroma de felicidade; acima de tudo, que ele prospere e vigore pelos ares do Engenhão na batalha final.