Friday, October 30, 2009

FLUMINENSE 2 X 1 ATLÉTICO-MG (29/10/2009)

Ainda estamos vivos (30/10/2009)

O Maracanã é um palco que jamais se repete, por mais que eventuais cenas possam ser razoavelmente parecidas. Cada jogo é um jogo, uma história, um momento ímpar. E, ontem, mais uma vez, na vitória avassaladora do nosso querido Tricolor sobre o Atlético Mineiro, pude presenciar isso, testemunhando uma linda cena que jamais se apagará de minha memória. Ao término da partida, com o triunfo em nossas mãos, contrariando todos os idiotas da objetividade, o Maracanã era tomado por uma chuva galáctica. Nossa torcida, abrigada nas cadeiras azuis do estádio, começou a correr para o molhado, procurando se aproximar cada vez mais do nosso time que, humildemente, veio à beira do anel que nos separa do campo, para nos agradecer o apoio. Muitos companheiros nossos choravam, riam, gritavam. Álvaro Doria, como sempre, bradava e arrancava gargalhadas. Tiba mostrava a serenidade de sempre. E tenho certeza de que o nosso Presidente Sussekind, no camarote do alto das arquibancadas, sorria ali. O Fluminense ainda está vivo, o Fluminense não vai morrer. Ricos e pobres, jovens e velhos, em meio ao temporal todos ali saudavam a monumental vitória sobre o time mineiro, postulante ao título de campeão brasileiro deste ano; uma vitória que pode ser capaz de nos alavancar para uma grande seqüência de vitórias que nos permita escapar do descenso. Tudo ainda continua muito difícil, dirão os sóbrios, os céticos e, principalmente os idiotas da objetividade que, em tom professoral, já preveram a queda do Fluminense. O jornalista Kfouri, solidário aos idiotas, vociferou contra nós, dizendo que o Atlético teria mais torcedores no Maracanã do que o Fluminense; raras vezes um comentarista de futebol conseguiu ser tão abençoado pela mediocridade. Éramos dez mil, na chuva e na última colocação do certame. E vencemos. É uma situação ainda dramática, esta que vivemos, mas a maneira como vencemos ontem nos dá esperanças muito sérias de revertermos este quadro. Cada jogo será uma decisão. E o Fluminense é um dos times mais acostumados no mundo ao momento decisivo.

Foi um jogo duro e sofrido, bem de acordo com a nossa sina. O Tricolor nasceu para a obstinação, a luta, o sacrifício. Em nossa centenária sala de troféus, não há taças conquistadas de mão-beijada; tudo veio com esforço heróico, com o estoicismo que nasceu antes dos anos 10 e, mais tarde, foi consagrado por Carlos José Castilho. Precisávamos da vitória a todo custo e começamos no ataque, mas sem muitas conclusões. E era perigoso dar espaço ao time do Atlético; tomar o gol primeiro seria fatal para as nossas pretensões. Fred era muitíssimo marcado assim como Darío Conca. Pela direita, talvez nervoso por enfrentar o ex-clube, Mariano errava jogadas, mas compensava com uma garra extraordinária – tem sido dos jogadores mais aplicados em campo, desde que reconquistou a titularidade. Equi Gonzalez, mostrando muita categoria, liderava a meia-cancha com passes perfeitos. Fred, heróico. Aos poucos, fomos nos aproximando do gol. Diguinho acertou um chute perigoso à direita do experiente goleiro uruguaio Carini, titular de seu país. Numa outra jogada, o zagueiro Jorge Luiz testou em recuo contra seu próprio gol, quase nos favorecendo no marcador. Parecia frágil, era importante forçar o jogo com cima dele. E deu certo. Em meia hora de jogo, eis que Maicon, inconstante como nos últimos jogos, caiu pela esquerda de ataque e fez o cruzamento; Jorge Luiz praticamente socou a bola. O penal foi assinalado. Até neste momento vemos o que é o sofrimento nas Laranjeiras: Fred deu a tradicional paradinha, mas Carini não se mexeu. Foram quase dois segundos até que a bola morresse no canto esquerdo do arqueiro atleticano e nossa vantagem estivesse estabelecida. E posso dizer que o grito de gol dos nossos dez mil torcedores valeu por cinqüenta mil. A boa torcida mineira presente, em dois lances de cadeiras azuis, acusou o golpe e se calou momentaneamente. O Fluminense não é um peso-morto, um balaio de gatos que só existe na cabeça de Kfouri e os idiotas da objetividade que lhe prestigiam. Ainda houve tempo para Gum acertar uma boa cabeçada, mas para fora. Descemos para o vestiário no intervalo sob dois sentimentos: o de temor, por conta das partidas que poderíamos ter vencido recentemente, mas deixamos empatar; o de confiança, pois o time parecia bem, mostra evolução a cada partida e, especialmente ontem, dominara o adversário em boa parte do primeiro tempo.

O temporal inundou Maracanã. Chuva que não parava. E, no primeiro minuto da fase final, no primeiro ataque nosso, todos os que estavam atrás do gol defendido por Carini ou na diagonal, perceberam quando Conca matou a bola e ia chutar no canto direito do uruguaio. O gol já se desenhava dois segundos antes de sua feitura. E não poderia ser menos chorado: a bola bateu nas pernas de Jorge Luiz antes de entrar. Não gritamos o gol: urramos. Urramos com toda fúria e alegria. O Fluminense mostrava que é possível escapar do pior, por mais difícil que as coisas estejam. Os idiotas da objetividade calaram, mas ainda suspiraram quando, logo a seguir, numa infeliz jogada do excelente goleiro Rafael, o Atlético descontou numa cabeçada de Tardelli. Fizemos silêncio: o fastasma do empate nos atordoava. Mas não aconteceu: éramos melhores, continuamos melhores em campo e o Fluminense esteve mil, duas mil vezes mais perto do consagrador terceiro gol do o Atlético do empate. Uma linda troca de passes no meio de campo entra Conca e Fred quase resultou em gol de Mariano. E Fred quase marcou mais duas vezes: uma, em um chutaço que Carini, no chão, nem viu a bola que lhe abalroou e tomou a linha de fundo; outra, numa cabeçada perfeita, de cima para baixo, no canto direito do goleiro, tirada em cima da linha pelo arqueiro.

No final do jogo, o Atlético, já com um a menos, repetiu a tradição contra nós: pressionar-nos quanto temos vantagem numérica em campo. O Fluminense, cansado, recuou; as substituições não fizeram muito efeito: Roni e Tartá, mais uma vez, não disseram porque vieram a campo. Era preciso segurar a vitória com todas as forças. Fred entendeu isso e, muitas vezes, virou um verdadeiro lateral-esquerdo de marcação, até ser trocado por Patrício Urrutia, no minuto final. A pressão alvinegra foi inócua, mesmo com sua única chance derradeira de gol, desperdiçada por Éder Luiz. Foi uma vitória justa, verdadeira e merecida, debaixo do temporal que depois serviu de água-benta para a nossa torcida, junto do time na beira do gramado. O Fluminense venceu. O Fluminense está vivo. O campeonato não acabou para nós.

Hoje é dia do silêncio para os idiotas da objetividade. Quando a chama do Fluminense brilha no meio da escuridão, cento e sete anos de glórias se iluminam. Nós já vencemos campeonatos estando nove pontos atrás do grande líder e campeão da imprensa. Nós já chegamos a uma semifinal de campeonato precisando vencer cinco jogos seguidos – e conseguimos. Tudo ainda é muito difícil, mas só um pascácio hoje diria que não temos chance de reverter os cinco pontos de diferença para nos salvarmos do descenso.

Domingo é uma grande decisão contra o forte Cruzeiro. Temos chances de vencer; e, se vencermos, o descenso tomará ares de página virada.

Assim seja.


Paulo-Roberto Andel, 30/10/2009

Tuesday, October 27, 2009

PARA JUCA KFOURI (27/10/2009)

Caro Juca,

Com prós e contras, entendemos que você seja uma das autoridades jornalísticas esportivas deste país. Até mais, se levarmos em conta a carreira televisiva ou a revista Playboy. Entendemos eu e os milhões de torcedores do Fluminense que existem.

Vale a pena lembrar de tua brilhante atuação nas denúncias contra os escândalos da Loteca. Um momento brilhante, dentre muitos outros. Vale a pena lembrar de teu combate aos desmandos da CBF e o estranho jogo que se desenrola nesta entidade. Brilhante. Vale a pena lembrar de muitos outros momentos oferecidos por você como profissional. Muitos.

Porém, tem um momento em que você, definitivamente, tem escorregado no quiabo – e, infelizmente, não cabe aqui outra expressão menos vulgar. Não é de hoje, não é a quinta, a décima, a qüinquagésima ou centésima vez. Trata-se de quando se refere ao Fluminense. E não vale aqui usar o encardido argumento que diz tratar-se somente de gozação, porque NÃO é. Milhares de pessoas no Brasil te lêem, te ouvem e isso forma opinião.

Que jornalistazinhos vendidos por dez mi-réis a grupos econômicos façam isso, entende-se, embora não se justifique. Mas você? Por favor, coerência e respeito. O Fluminense inventou o futebol brasileiro e, por consequência, o Corinthians. O Fluminense forjou a história da seleção brasileira pentacampeã mundial. Não falamos de Bambala ou Arimatéia. Sem o Fluminense, simplesmente o futebol brasileiro não existiria.

Comprar essa falácia tosca de que o Fluminense já está rebaixado, em tom de desdém e deboche, mesmo com todas as nuances da tabela do atual campeonato em voga? Maior ironia ainda quando vindo de um corinthiano, que já conhece bem o que é a segunda divisão e, mais ainda, a manobra da “virada de mesa”e dos “acertos” (vide a vergonha de 1996, com os resultados combinados pelos Senhores Dualibi e Petraglia, como também a incrível Taça de Prata de 1982 – competição que permitia a um time da segunda divisão jogar as semifinais da primeira, em fato mundialmente inédito... afora 2005, claro). Até aqui, apenas momentos que não condizem com o que se espera da trajetória do Juca. O Fluminense faz uma péssima campanha, está serissimamente ameaçado pelo descenso, tem uma diretoria esdrúxula – e nós, Tricolores de truz, como diria nosso brilhante companheiro Marcos Caetano, sabemos disso. Agora, quem conhece o futebol brasileiro deveria esperar para as previsões, em se tratando de Fluminense: nossa história, para grandes títulos e também em fugas de descensos, é rica quando se trata da virada quando ninguém mais espera – não a virada de mesa, tão associada covardemente ao Fluminense, mas também tão usada por grande parte dos chamados maiores times do Brasil, em condições particulares. Esqueceram de 2003, 2006 e 2008? Nós já estávamos “rebaixados” de acordo com a imprensa, e deu no que deu.

Agora, o que é inaceitável, bizarro e parece vindo de um amador das arquibancadas, não um profissional da imprensa do futebol, com renome e garbo, é sugerir que a torcida do Fluminense vai ser menor do que a do Atlético Mineiro no jogo da próxima quinta-feira. Basta dizer que na rodada do dia 18 de outubro, colocamos 30.000 pessoas contra o Internacional, maior público da série A do campeonato brasileiro naquele dia. E isso porque o Fluminense é o último colocado. Cheguei até a duvidar que logo você tivesse assinado uma tolice dessas.

Caro Juca, você chegou a dizer que a torcida do Fluminense fez a festa mais bonita que você presenciou em sua vida nos gramados, na final da Copa Libertadores de 2008. Não se deixe trair por falácias ou bairrismos rasos, ultrapassados. Como leitores, gostaríamos que você respeitasse o Fluminense, a história do Fluminense, a grandeza do Fluminense. Graças ao Fluminense, você pôde ter uma brilhante carreira no jornalismo esportivo brasileiro: sem ele, não haveria a popularidade do futebol, e você dependeria do basquete, há muito depauperado em nossa terra. Sinceramente, ironizar o tamanho da torcida do Fluminense nos estádios é dar um tiro no próprio pé, suicidando teu crédito jornalístico.

Se tiver de cair, o Fluminense cairá de pé e voltará como o gigante que sempre foi, é e será, queira ou não a “imprensa especializada”. Mas isso ainda depende da tabela de classificação, não das Mães Dinahs do futebol, sempre ávidas por “acertar previsões” que nunca se concretizam. Não é uma ciência exata e muitas águas ainda podem rolar; até mesmo matemáticos de plantão mostram-se cautelosos, porque sabem que esse jogo pode virar, por mais difícil que seja.

Leio você desde 1980. Na sua fortuna pessoal, lá está o meu dinheirinho como mísero contribuinte do montante. Não mereço deboche nem descaso. Nem eu, nem os milhões de Tricolores em todo o Brasil e o mundo.

O Fluminense não estar na primeira divisão, assim como o Vasco não esteve – lamentavelmente – este ano, bem como outros grandes times brasileiros em outras circunstâncias, é uma derrota para o maior de nossos esportes.

Fazer pouco caso do Fluminense rebaixa você para a segunda divisão do jornalismo esportivo brasileiro, coisa que nunca poderíamos esperar ou querer.

Por favor, não caia. Não seja rebaixado; ou melhor, não se rebaixe.

Olhe para o passado e não o negue.

Reflita.

Obrigado pela atenção.

“Se quiseres antever o futuro do Fluminense, olhai para o seu passado”
(Nelson Rodrigues)


Paulo-Roberto Andel

Friday, October 23, 2009

FLUMINENSE 2 X 2 UNIVERSIDAD DE CHILE


De mãos beijadas (23/10/2009)

Meus amigos, definitivamente a sorte não está do lado do Fluminense. Claro que soaria como verdadeira patetice creditar a nossa atual situação aos desígnios da sorte; mais ainda, seria ridículo. Entretanto, por mais competência que tivéssemos hoje, seria muito difícil estar em outro patamar que não este sem a fundamental sorte. E o empate de ontem com o Universidad do Chile em dois a dois nos colocou em situação dramática para tentar chegar às semifinais da Copa Sulamericana.

Por mais que os meios de imprensa nos boicotem, por mais que nossa situação matemática na tabela seja de derrota fragorosa, os que veem futebol com sobriedade podem atestar que, aos poucos, o Fluminense de Cuca apresenta progressos – basta citar os últimos cinco ou seis jogos da equipe. Domingo, jogávamos uma boa partida após o empate em um gol contra o Inter; então, eles marcaram o segundo tento e nos descontrolamos completamente, quando poderíamos ter ido bem mais longe apenas com um pouco de calma. Curiosamente, nosso gol de empate contra os gaúchos veio de uma jogada bastante serena e produtiva de Gum, driblando como um atacante portentoso e fuzilando o gol dos colorados – o mesmo Gum que falhara nos dois gols que havíamos sofrido. Ontem, ainda foi pior: no começo do segundo tempo, Fred sacudiu as redes dos chilenos e fizemos dois a zero. O jogo era nosso. E, num verdadeiro caos, em menos de dez minutos tomamos dois gols que beiram à infância, os chilenos empataram e a desgraça se consolidou. Chegou-se ao cúmulo de se “trabalhar” o nome do Sr. Joel Santana, figura non grata em Álvaro Chaves, para substituir Cuca. Sinceramente, na falta de opções, é menos pior ser rebaixado com Cuca no comando. Aliás, houvesse entre os dirigentes do Fluminense um mínimo de dignidade e respeito ao clube, o nome daquele senhor nunca mais seria cogitado para integrar nosso corpo de profissionais. Para os que desconhecem os fatos ou se esqueceram, recordo apenas dois: o primeiro, relativo aos nebulosos dias de quinta e domingo entras as partidas da nossa semifinal do campeonato brasileiro de 1995, contra o Santos, onde valeu TUDO em termos de ausência ética por parte do então futuro treinador da Gávea em 1996; o segundo, quando o Sr. Santana, em partida decisiva no campeonato brasileiro de 1996, resolveu escalar o time de reservas da Gávea contra o Bahia, onde perdeu por dois a um e contribuiu decisivamente – e, mais uma vez, de forma desprovida de ética – para o descenso do Fluminense naquele ano. Perguntado a respeito do excêntrico ato, limitou-se a dizer “Não tenho nada com isso; é problema deles”.

Fizemos um ótimo primeiro tempo, ainda mais se levarmos em conta que perdemos uma de nossas forças, que é o garoto Alan, nos primeiros minutos da partida. Adeílson, com seus arranques duvidosos e a já conhecida dificuldade no trato com a pelota, veio a campo. Não produziu, mas também não comprometeu. Fred mostrou a habitual categoria de sempre, e nos colocou em vantagem logo aos quinze minutos, em jogada em que a bola pouco passou da linhas, mas tranqüilamente confirmada pela arbitragem; além disso, obrigava os chilenos a cercarem-no com dois ou três jogadores, abrindo espaço para os avanços de Conca. E, para surpresa de eventuais Tricolores desatentos, o melhor jogador em campo no primeiro tempo foi Diguinho, que fez até então sua melhor partida pelo Fluminense: desarmava sem faltas, coordenava ataques e chegava até para chutar a gol. Outro jogador com boa trajetória e muita velocidade foi Mariano que, apesar das deficiências já conhecidas, superava tudo com muita raça e criava várias jogadas pela direita. Quem realmente não acertava, apesar da velocidade, era Maicon: parecia bastante abatido após a perda do título mundial de juniores, semana passada. A defesa estava tranqüila (com exceção do sempre fraco João Paulo), o meio-campo parecia seguro e tudo indicava que prevaleceríamos sobre um tímido Universidad, que em nada nos ameaçava e até parecia tranqüilo com a derrota mínima. De toda forma, o primeiro tempo terminou com o placar mínimo a nosso favor e, mais uma vez, ele poderia ter sido mais elástico se não tivéssemos gasto tanto tempo mais recuados após a vantagem inicial. Ainda assim, foi o suficiente para o time descer ao vestiário saudado e aplaudido. Podia ainda melhorar, contudo.

Mal deu tempo de pensar. Veio o segundo tempo e o grande matador não vacila duas vezes: Fred errou numa conclusão, mas a bola ficou de frente para ele e o goleiro chileno foi bombardeado. Dois a zero. Festa dos nossos oito mil companheiros. Em uma situação normal, seria o suficiente para liquidar o jogo; jogar com inteligência, marcar bem, atrair o Universidad para nosso campo e criar contra-ataques que pudessem até mesmo gerar uma goleada a nosso favor. Mas não foi assim.

Um branco abateu sobre a equipe e, três minutos depois, aconteceu o que congela o Fluminense: um gol adversário, mesmo que estejamos em vantagem. Montillo, tão livre que para os distraídos parecia até impedido, entrou na área pela esquerda do ataque e fuzilou Rafael sem piedade. O silêncio no Maracanã era mau agouro notório. Porém, com a atuação que tivemos até ali, seria possível buscar o terceiro com naturalidade. Seria, pois somos órfãos da sorte. Minutos depois, uma inacreditável jogada bisonha do nosso melhor homem em campo, Diguinho, perdendo uma bola infantil dentro da área para Vyllalobos, que tinha acabado de substituir o algoz Montillo. O lance sobrou para Olivera, com o gol escancarado, e aconteceu o empate. A partir de então, o Fluminense de tornou um time em frangalhos; entregou de mão beijada uma vitória até fácil. Dominou amplamente o primeiro tempo e merecia uma vantagem até maior do que dois gols. De repente, tudo ruiu por terra. Difícil entender como uma partida tão boa se torna um punhado de cinzas; somente a instabilidade emocional da equipe, em função da pavorosa situação no campeonato brasileiro, pode justificar isso. E, quando mais precisamos, a sorte nos abandona: lances que, para outros times, seriam gols certos, para nós têm morrido nas pontas das luvas dos goleiros, no ferro das traves, no roçar de um cocoruto.

Ainda houve tempo para um chutaço de Marquinho, que tinha entrado no lugar de João Paulo, batendo no travessão. Ainda houve tempo para um outro chutaço, lindo, de Fred, num voleio que o goleiro Miguel Pinto sequer viu – a bola bateu nele e foi para escanteio. Conca já estava muito cansado, assim como Fred. E o retrato real veio quando demos a última cartada, com a entrada de Roni em lugar do nulo Adeílson; em certo momento, num cruzamento, Roni tentou matar a bola no peito quase fora da área, mas o efeito “pombo” fez com que a pelota simplesmente chegasse às mãos de Miguel. Alguns achavam, quase romanticamente, que o veterano centroavante pouco afeito às boas finalizações tinha tentado fazer um gol de peito. Meus amigos Raul Sussekind, Leonardo Prazeres e Álvaro Doria, de frente para o lance nas cadeiras azuis, vaticinaram sem perdão: a tentativa, torpe, na realidade foi a de matar a bola no peito. Era o golpe final. E o empate teve um sabor amargo de derrota. Contudo, nunca é demais lembrar: numa jornada de melhor sorte e equivalente aplicação em campo, não será nenhuma surpresa derrotar o Universidad em casa. É muito difícil, mas há dois anos, revertemos quatro vantagens de mandos de campo consecutivas e vencemos a Copa do Brasil, na única vez em que um time conseguiu isso nesta competição. E vale o exemplo.

Que a reticente boa sorte nos sorria domingo, no Serra Dourada. Precisamos muito.

Somente ela pode nos redimir.


Paulo-Roberto Andel, 23/10/2009

Friday, October 16, 2009

SANTO ANDRÉ 1 X 2 FLUMINENSE (10/10/2009)



Fred venceu (13/10/2009)

Meus caros amigos das Laranjeiras, esta crônica demorou um pouco mais do que o habitual por conta do fracionamento de jogos no campeonato brasileiro. Por conta da partida da seleção brasileira pelas eliminatórias da Copa do Mundo, contra a Bolívia, parte dos jogos ocorreu no sábado e parte ontem. Assim, poderíamos ver melhor o que nos espera. Não foi bom para nós que o Náutico vencesse o líder Palmeiras de forma estrondosa, ou o Sport ter conseguido o empate no Serra Dourada contra o Goiás. De toda forma, dentro da missão muito difícil – mas não impossível – de escapar do rebaixamento neste ano, o Fluminense cumpriu de forma brilhante seu jogo contra o Santo André. Não foi brilhante porque jogou um futebol de altíssimo nível todo o tempo, mas porque soube aliar eficiência e raça, dois pontos fundamentais no atual momento que passamos. E, para aqueles que dizem ser impossível uma seqüência de vitórias, eu lembro que nas partidas mais recentes, conseguimos uma vitória de virada contra o bom time do Avaí – o mesmo que empatou ontem em dois contra o Botafogo, num Engenhão abarrotado pelos alvinegros -, uma goleada contra o peruano Alianza, um empate contra o Corinthians e a vitória deste sábado, a primeira fora de casa pelo campeonato brasileiro. A derrota para o Flamengo foi um resultado normal. Por mais que a situação seja drástica em termos matemáticos, nossa campanha recente é de time de briga. E, se tudo correr bem, passamos a contar com um reforço especial de alto nível: Fred.

A semana passada foi marcada por suspeitas de que o artilheiro mineiro, jogador do porte de seleção brasileira, estivesse de “corpo mole” tendo em vista sua dificuldade em retornar aos gramados, após contusão seríssima. Mais ainda: teria sido visto em aulas de surfe, colocando o Fluminense em segundo plano. Seja lá o que tenha acontecido, uma coisa é clara: Fred, em campo, acertando ou não, é dotado de disposição e raça absolutas. Jamais vestiu a camisa Tricolor para jogar de forma apática, desinteressado. E mostrou isso mais uma vez, contra o Santo André. Contra tudo o que se esperava, Fred entrou em campo, jogou praticamente a partida inteira e fez a diferença.

Quando o jogo começou, cedo se via que era um outro Fluminense em campo, bem diferente do que os números da última colocação no campeonato apresentam: um time vibrante, veloz, com forte marcação e boa saída para o ataque. Na defesa, o esquema com três zagueiros funcionou muito bem. Ainda assim, enfrentar um jogador do talento de Marcelinho, mesmo veterano, é sempre complicado; o craque chutou e cruzou várias vezes para o gol de Rafael que, de forma eficiente, nos tranqüilizou com defesas seguríssimas e uma, fantástica, ao evitar gol feito no canto esquerdo. Por mais que precisássemos desesperadamente da vitória, era possível ver que as coisas caminhavam bem; havia uma postura correta em campo de nossa parte. Ali não era um reles time de lanterna e rebaixado.

Nos primeiros vinte minutos, já tínhamos dado alguns tímidos sinais de ameaça ao goleiro Neneca. Foi o tempo que bastou. O jovem Alan, o melhor chutador dos garotos recém-formados nas divisões de base, tomou uma bola na intermediária dos paulistas, limpou e chutou, como costuma fazer. Um golaço. Um grande golaço, com bola no ângulo esquerdo, indefensável. E o golaço redime: um time que o marca pode tomar as rédeas de uma partida e até mesmo inverter uma situação francamente desfavorável. Era o gol que o Fluminense precisava para marcar posição na partida e, finalmente, tentar a primeira vitória fora de casa na competição. O golaço redime, e foi o que sucedeu: o Fluminense passou a dar as cartas na partida. Nossa principal preocupação era a de não sofrer o empate, fato que tem se repetido muitas vezes na competição e que, por conta disso, tem feito com que nos encolhamos absurdamente. Dessa vez, tinha de ser diferente. E foi: numa jogada velocíssima de Dieguinho pela esquerda do ataque, aconteceu um pênalti a nosso favor, cometido pelo também veterano Gustavo Nery, ressentido com nossa casa. Fred deu a paradinha, colocou no canto esquerdo e, pela primeira vez em meses, o Fluminense desceu realmente tranqüilo para o vestiário num intervalo. O golaço de Alan, a segurança de Rafael e Digão, a fúria ofensiva de Dieguinho, a experiência e o talento de Fred não deixam mentir: era outro Fluminense.

No segundo tempo, cometemos o engano tradicional do recuo excessivo, quando poderíamos muito bem ter ganhado espaço à frente para o definitivo gol da vitória. Isso deu força ao Santo André que, também desesperado, veio para a frente em busca da reação. O talento de Marcelinho imperava em campo, obrigando Rafael a intervenções sucessivas. Recuamos demais, além da conta e eles marcaram um gol de cabeça aos quinze minutos do segundo tempo, com o jogador Camilo. Imaginem se estivéssemos apenas com um gol no placar: seria o terror. Contudo, a vantagem ainda era nossa e, na meia hora seguinte, coadjuvado por boas atuações de vários jogadores nossos, Fred mostrou a que veio, embora ainda longe da forma ideal. Pedia a bola para si, cavava faltas a todo instante, valorizava a posse de bola no ataque – algo que o Fluminense tinha muita dificuldade em fazer nas vitórias que deixou escapar recentemente. Dessa forma, tomamos o gol, mas não perdemos as rédeas da partida. O Santo André, cansado, tendo em vista a alta média de idade de seu elenco, fraquejou, enquanto mantivemos a pegada até o fim do jogo. Pouco antes disso, Fred deixou o campo em boa condição, para a entrada de Adeílson. Antes, Marquinho tinha entrado no lugar de Alan, para melhorar o poder de marcação.

E o Fluminense venceu. Fora de casa. E Fred venceu. Mostrou que está de volta, com muita vontade e sendo capaz de decidir a nosso favor.

Na verdade, a situação ainda é muitíssimo grave. Entretanto, a atuação do time numa difícil partida o credencia a buscar novas vitórias. Dentro das expectativas atuais do futebol brasileiro, fizemos um bom jogo. Conquistamos mais três pontos fundamentais.

Ainda é muito cedo, mas desconfio que, se conseguirmos fazer três partidas do mesmo nível seguidamente nas próximas rodadas, com três vitórias simples, o cenário muda de figura: faltariam seis jogos e o Fluminense precisaria de onze pontos. Seria muito; porém, haveria a nossa ascensão. E quando ascendemos, o que cabe aos adversários é sair da frente, mesmo que esteja em jogo uma virada muito difícil como a de agora.

Muito difícil. Muitíssimo. Mas não impossível.

Não podemos mais falhar.

E, de forma muito tênue, se pode enxergar uma melhora. Com mais esta semana de treinos, vem à frente o poderoso Internacional, que empatou com o mediano Atlético Paranaense ontem.

Jogando como sábado, com raça e aplicação, não é impossível vencermos.


Paulo-Roberto Andel, 13/10/2009

Friday, October 09, 2009

FLUMINENSE 1 X 1 CORINTHIANS (07/10/2009)



Extrema-unção (08/10/2009)


Talvez seja a hora de reconhecer a derrota aviltante neste ano. Na verdade, uma derrota que começou muito antes, lá atrás, no ano passado, quando a América escapou por entre nossos dedos. Um ano e quatro meses. Desde então, em instâncias diferentes, restou-nos agonia. E, ontem, por força do empate contra o Corinthians, a única coisa que pode salvar a salvação do Fluminense, traduzida na manutenção do time na primeira divisão do futebol brasileiro, é a nossa história. Sim, nela, escrevemos inúmeros capítulos a sangue-frio de histórias fantásticas, histórias com desfecho inesperado a nosso favor a segundos ou minutos do fim de uma grande decisão ou um grande título. Não foram poucas as vezes que grandes torcidas adversárias comemoravam nossa derrota e revertemos o quadro de maneira estupenda. Agora, porém, não se trata de um título, mas sim o tentar escapar de uma grande derrota, que já nos afligiu no passado, ainda que por formatos estranhos.

Com o mau resultado no Fla-Flu de domingo, o Fluminense não poderia mesmo contar com parte de sua enorme torcida, que já abandonou o time. Então, houve quase dez mil pessoas no Maracanã – boa parte delas, da torcida corinthiana. Do nosso lado, a velha equipe que não falha, sol e chuva, alegria ou luto. Horas antes, desapareceu a chance de voltarmos a ver Fred no ataque Tricolor, o que seria garantia de reação – o craque ainda sentiu a indisposição causada ainda pela terrível contusão que teve, e não conseguiu estar pronto para a peleja.

Parecia que, dessa vez, as coisas funcionariam. Mal começou o jogo e marcamos um gol, em jogada de raça e perspicácia do menino Alan, já recuperado do acidente de domingo, quando teve um violento choque de cabeça e saiu do estádio direto para exames hospitalares. Um a zero e um Fluminense inflamado foram o panorama dos primeiros vinte minutos da partida: um time solto, pressionando, com vocação para o ataque e muito, muito próximo de aumentar a vantagem no marcador, principalmente na linda cobrança de falta de Darío Conca, acertando o poste esquerdo do goleiro alvinegro Felipe.

Ledo engano.

Na primeira jogada clara de ataque do Corinthians, pela direita, Mariano e Gum praticamente bateram cabeça e o atacante Dentinho tocou de cabeça indefensavelmente para Rafael. E aconteceu o mesmo desastre de jornadas anteriores: o time do Fluminense teve um apagão que simplesmente durou até o fim da partida. Nem foi o caso de dizer que foi uma atuação péssima, nem o caso de falta de raça. O problema é se deparar com toda a situação de hoje, com a proximidade do fim, com um panorama onde nada dá certo, de modo que, se resolvesse terminar a crônica por aqui, eu pouco ou nada teria a acrescentar ao jogo, exceto pelo fim da partida, quando Roni perdeu mais um de seus gols chutando para muito acima do travessão uma boa chance de gol. Não quero aqui acusar o veterano atacante, pois não tem culpa de ter voltado a envergar nossa camisa. Trata-se de um bom sujeito, trabalhador, como outros de nossa casa. O que não podemos é nos iludir: trata-se de um jogador bastante limitado; logo, quando surge um momento crucial, não é com ele que podemos contar com absoluta certeza. E não é de hoje. Roni finaliza mal desde sua aparição, há dez anos, mas também não é o culpado exclusivo, claro. A crise do Fluminense hoje é grande demais para se limitar a uma só pessoa.

Volto ao gol de empate. Ele não teve a fúria do primeiro gol de Adriano, domingo passado, mas parecia uma punhalada do mesmo jeito. Nossa turma se deixou esmaecer pelo silêncio sepulcral, exceto os jovens das organizadas – eles não desistem nunca. E o mal-estar tomou conta do Mário Filho como há muito não se via em nossos assentos. A impressão que me dá que quando levamos um gol, o mundo explode numa hecatombe. A parte psicológica está muito afetada por conta da ultima colocação, de modo que um simples tapa se torna um nocaute. E então, mais sessenta minutos de futebol onde deixamos de ser um time aguerrido em busca do gol para, lentamente, nos apequenarmos. A lentidão e o torpor nos tomam de assalto a ponto de qualquer troca de três passes oferecer sério risco contra nós. Por outro lado, falar da péssima fase de muitos jogadores chegaria a ser redundante: alguns não acertam um passe há meses. E o resultado aí está. Os ótimos resultados contra o Avaí, na emocionante virada, mais a boa goleada sobre o peruano Alianza não foram suficientes para nos fazer deslanchar uma boa fase e, mesmo que com muita dificuldade, tentar escapar do descenso. Como explicar?

Por mais que tudo pareça perdido, não se pode desistir. Por mais que estejamos nos últimos grãos de areia da ampulheta, não se pode desistir. A nove pontos de disputar a saída da zona de rebaixamento, faltando dez jogos, em tese a salvação do Fluminense é praticamente impossível. E, se eu não conhecesse o Fluminense e sua história, não apostaria nele nem meia-pataca. Evidentemente que se tratava de outro tempo, mas recordo que, em 1991, tínhamos talvez uns três por cento de chances de chegar às semifinais do campeonato brasileiro: para a façanha, seria preciso vencer os cinco últimos jogos da competição em sua fase classificatória. E conseguimos. Não valeu de muito, pois todos se lembram da derrota para o Bragantino, nas semifinais, com o gol de Franklin, nossa cria, a minutos do fim do jogo – éramos setenta e cinco mil pessoas no Mário Filho. Mas a façanha de se classificar jamais será esquecida pelos mais atentos. E lembrar disso é uma espécie de anestésico para a situação atual.

Está praticamente perdido. É quase impossível. Mas não é totalmente. Trata-se do Fluminense e, com tudo o que aí está em cento e sete anos, o que eu diria para os mais jovens no futuro se o time vencesse oito jogos e não caísse de divisão? Simples: seria apenas mais um fato fantástico da nossa grande história, onde ninguém acreditava em nós, nem nossa outrora apaixonada massa de torcedores, mas superamos muito. Para alguns, ou muitos, logicamente é um devaneio e beira à loucura; compreendo. É quase impossível de acontecer no panorama de hoje, mas, se acontecer, eu não terei duvidado. É um momento de extrema-unção; contudo, sem saber de onde, eu ainda tenho alguma esperança e busco algum sentido.


Paulo-Roberto Andel, 08/10/2009

Tuesday, October 06, 2009

FLAMENGO 2 X 0 FLUMINENSE (04/10/2009)



À beira do fim (05/10/2009)


Quando o primeiro tempo do Fla-Flu de ontem se encerrou, o Maracanã ofereceu uma reação de absoluta surpresa. Ao contrário do que se poderia supor, tendo em vista a posição dos times na tabela, quem deu as cartas na partida foi o time do Fluminense. Mesmo limitado tecnicamente, mesmo com a última posição da tabela nas mãos, mesmo com os desfavoráveis resultados dos outros times contra quem lutamos na zona do rebaixamento, tudo era pequeno diante da atuação na primeira etapa – até mesmo a incrível ausência de nossa torcida, que comentarei mais tarde, foi reduzida pela boa atuação até ali. Nós, os poucos Tricolores presentes ao estádio, tínhamos algum alívio e certo alento: o jovem zagueiro Digão era um dos melhores em campo, anulando o ataque da Gávea; Dieguinho realizava ótima partida; Conca buscava espaços e Alan perdeu um gol incrível, dos que não costuma. Em nossa meta, Rafael muito bem. Então, o Fluminense era um time que vinha de uma grande e suada vitória sobre o bom time catarinense do Avaí, e também o time que atropelou o peruano Alianza Atlético na quinta-feira. Tudo indicava que, depois de meses de enorme sofrimento, era o momento de nossa ascensão. Ledo engano. Duas enormes desatenções com falhas individuais selaram a nossa sorte e, muito provavelmente, a nossa ausência na primeira divisão do ano que vem.

Logo que cheguei ao Maracanã, havia um enorme público, com a natural predominância da Gávea, mas os nossos pareciam estar em bom número, a julgar pelo movimento na rampa do Metrô – se preferirem, a da minha amada UERJ. Foi um engodo. Quando subi as rampas com minha amiga Marô, veio-me uma sensação de choque: o Fluminense, mesmo depois de duas vitórias com um futebol razoável, foi completamente abandonado pelo grosso de sua torcida. Mal conseguia ocupar metade dos assentos da área verde, enquanto que a amarela era um absoluto deserto. Do outro lado, os flamengos se apinhavam em cachos, lotes e dúzias como se ali fosse a maior decisão de todos os tempos. E, por mais que eles tenham merecido a vitória em campo, principalmente pelo segundo tempo, não tenho dúvidas de que o Fla-Flu se decidiu nas arquibancadas. Não que o nosso time não fosse valente; contudo, quando Adriano fez o primeiro gol, após duas falhas sucessivas de Fabinho, chutando no meio do gol de Rafael, a Gávea explodiu de tal forma que, ali, o jogo se decidiu. Ressalto que nossos presentes - com especial saudação para os rapazes das torcidas organizadas que, diferentemente de todo o caos que reina hoje nas Laranjeiras, uniram-se pela nossa verdadeira causa comum, que é o Fluminense – foram heróicos: gritaram e incentivaram o time o tempo todo. Nós, que estamos no concreto das arquibancadas, iremos até o fim. Uma pena que a grande maioria de nossa torcida não tenha entendido isso e, por conta do que aconteceu, ela acabou sendo rebaixada antes mesmo do Fluminense encerrar suas possibilidades matemáticas no atual campeonato. Melhor dizendo, se rebaixou voluntariamente. Entendo o problema dos cambistas, infelizmente alimentado pelos clubes. Entendo os tempos de hoje, com os temores da violência. Entendo a má campanha, a péssima trajetória do Fluminense no campeonato. Mas seria certo, justamente num momento crucial e num jogo contra o nosso maior rival, a nossa torcida simplesmente dar de ombros para o time que se agarra à beira do abismo com as pontas dos dedos?

Jamais um Fla-Flu será fácil. Jamais será uma canja de galinha. A Gávea sabe disso, tanto que apupou seu time na descida para o intervalo. E todos sabíamos que, se o jogo continuasse daquele jeito, o risco da vitória Tricolor seria enorme. Mas as coisas mudam num estalo dentro deste jogo mágico e secular.

Amparado por sua imensa torcida, o Flamengo voltou para o segundo tempo buscando o ataque e a vitória. De cara, Rafael fez uma defesa sensacional, mais difícil do que um pênalti, num chutaço de Adriano. Em seguida, Fabinho, jogador esforçado de muita raça, mas de horizontes técnicos quase desérticos, falhou duas vezes no mesmo lance: perdeu a bola na intermediária, em seguida, permitiu a finalização de Adriano. O gol estava marcado e a nossa derrota, assegurada. A quem me perguntar por que acho isso, me parece muito simples: não bastasse a enorme pressão psicológica que é jogar no Fluminense de hoje, imaginem o sujeito pegar a bola para dar a saída, olhar para a frente e não ver sua torcida, com exceção de bolinhos honrosos, vibrantes, mas numericamente esdrúxulos se levarmos em conta o que é o Fluminense na história do futebol brasileiro. E mundial. Ali, com todos os nossos pulmões prestes a explodir, éramos uma meia-pataca, uma meia-bomba perto da enorme massa deles, que nos sufocava como num sopro. Fôssemos mais numerosos, gritaríamos tudo e eles se lembrariam de Benedito de Assis, do gol centenário de Portaluppi, do Fla-Flu da Lagoa em 1941 e o velho trauma seria um grande bônus a nosso favor. O fato é que, do gol em diante, o Flamengo foi absolutamente superior e venceu com tranqüilidade, orquestrado por sua arquibancada. Não havia espaço para mais nada. Fizeram outro gol com enorme facilidade e só não golearam porque os deuses da justiça se lembraram do primeiro tempo estóico que cumprimos.

Um time sem torcida é um time sem alma. É um cadáver insepulto. Ontem, o Fluminense infelizmente deu um passo para trás em nossa história. Estou certo de que, após o gol de Adriano, se tivéssemos nossa verdadeira massa de torcedores, haveria chance de se reverter a história deste Fla-Flu. Jogamos um bom futebol no primeiro tempo e o barulho do nosso lado da arquibancada faria equilibrar o jogo. Nenhum time vive somente da audiência de seus aficcionados pela televisão, rádio ou computador. Um time de futebol é um reino, e precisa ter o povo ao seu lado, ainda mais nos momentos de crise e dificuldade. Quando o time vence e está em disputa de títulos, todos os sazonais comparecem em massa. Cambistas, preços, horário: nada atrapalha. O problema é só na má fase?

De forma alguma, a situação atual do Fluminense é exclusivamente por culpa de sua enorme, linda e apaixonada torcida, ainda que ausente e alheia à gravidade deste momento. O que penso é que vivemos uma situação de enfermidade absoluta, de UTI, e não se pode esperar: era a hora de apoiar e, depois, conforme necessário, fazer as mudanças devidas. Nós somos o time dos grandes títulos no último segundo, quando ninguém mais espera, exceto a nossa irmandade e, justamente agora, ela é a primeira a desistir? Ontem era a hora da união e não do descaso.

Quarta-feira, talvez seja a última cartada, contra o Corinthians, num Maracanã completamente vazio. A última jogada de dados. O último jogo na mesa.

Seja para testemunhar o óbito, seja para testemunhar uma virada quase impossível, mas que faz parte da nossa tradição histórica, eu estarei lá.

Mesmo com frio, vento e chuva, mesmo com o silêncio que lambe o chão cinza, eu estarei lá.

Está tudo quase perdido, mas ainda resta um fio de esperança – e isso remete a Telê Santana, remete a um bom sentimento.


Paulo-Roberto Andel, 05/10/2009

Friday, September 25, 2009

GRÊMIO 5 X 1 FLUMINENSE (20/09/2009)

Devastação (20/09/2009)


Por mais que nossa situação na tabela do campeonato seja a pior possível, ainda assim é difícil explicar o atropelamento que o Fluminense sofreu ontem, ao ser goleado impiedosamente pelo Grêmio pelo placar de 5x1, no Olímpico Monumental de Porto Alegre. Naturalmente, dentro de casa, o time gaúcho é dos mais difíceis de serem batidos em todo o Brasil; entretanto, a pavorosa goleada foi construída em ritmo de treino e, quando se pensava ainda que poderia haver um sopro para, ao menos, uma reação honrosa, um gol ridículo nos fez desabar de vez. E, claro, há coisas que, inevitavelmente, só acontecem com o Fluminense: em cem pênaltis cobrados no campeonato brasileiro, noventa e nove não foram repetidos por conta da defesa do goleiro. O repetido foi justamente contra nós. Mas não serve de atenuante para o massacre gremista; se muito, para diminuir o prejuízo.

De cara, perdemos um gol com Darío Conca, entrando pela direita do ataque. E, nos primeiros dez minutos, apesar da força ofensiva gremista, o gol do Fluminense não foi malversado: Rafael fez duas boas defesas. Ficamos por aqui.

A partir do gol de Souza, cobrando uma falta evitável, com a bola ainda sendo desviada por Adeílson, o jogo acabou. Parece que o fantasma da última colocação assombra o campo, junto com os recortes dos folhetins esportivos e as galhofas de todo a dita imprensa esportiva carioca. Assim, nos treze minutos seguintes, tomamos mais dois gols e o jogo foi praticamente liquidado quando mal tinha começado.

O segundo gol ocorreu num pênalti bobo cometido por Gum, que tem feito boas participações na equipe, mas foi totalmente infeliz na jogada, agarrando Herrera de forma atabalhoada. E, como cereja de um bolo vulgar, uma linda defesa de Rafael invalidada pelo juiz de linha, na cobrança do tipo penal feita por Jonas. A fase é tão complicada que até pênalti bem-defendido pelo goleiro do Fluminense precisa de repetição. Sim, Rafael se mexeu antes. Todos os goleiros o fazem, mas somente contra nós a cobrança se repete. Tcheco, em seguida, não falhou e colocou no canto esquerdo, decretando o segundo tento.

Sem tempo sequer para respirar e colocar as coisas no lugar, o Fluminense tomou o terceiro gol: veio um cruzamento de Tcheco, da direita, e Souza, jogador que poderia ter vestido nossa camisa este ano, sendo preterido por Wellington Monteiro e congêneres, deu um carrinho na bola, contra um atônito Diogo em péssima tarde. Rafael nada pôde fazer e, talvez com torcedores ainda chegando ao estádio gremista, a equipe gaúcha já vencia por três a zero, dominava o jogo amplamente e praticamente colocava nosso time na lona. Os vinte minutos restantes de partida da primeira etapa limitaram-se ao toque de bola do Grêmio, administrando o jogo e parecendo até piedoso contra nosso combalido time. Não conseguíamos roubar uma bola, acertar um passe, nada. No meio da confusão, a estréia do volante Urrutia. Caos à vista.

No segundo tempo, temendo coisa pior, Cuca optou por colocar Cássio no lugar de Paulo César, tentando proteger a zaga, e também de Marquinho, na ala esquerda, para a saída de Equi González, cansado pela falta de ritmo de competição. Curiosamente, esquecendo-se do desastre do primeiro tempo, quem voltou melhor e mais ofensivo foi o Fluminense, até porque o Grêmio havia sofrido a natural acomodação de quem tem três gols de vantagem. De toda forma, até mesmo na distribuição de jogo, nos passes e ataques, o Fluminense nos oferecia suspiros de esperança. E acabou dando certo: aos doze minutos, após Conca, sempre ele, alçar a bola no meio da área numa cobrança de falta, Kieza subiu sozinho e, desta vez, não errou: pôs a bola de cabeça no canto esquerdo do excelente goleiro Victor, diminuindo o marcador. Havia esperança? O time havia melhorado? Sim.

Mas por um minuto somente.

O Grêmio deu a saída, a bola foi alçada pela esquerda do ataque por Herrera. Rafael havia saído do gol e não conseguiria a defesa; no entanto, Cássio estava sozinho para tentar a cabeçada e, numa jogada das mais patéticas da história do clube, tocou no ângulo esquerdo da nossa meta, assinalando o quarto gol do Grêmio e destruindo qualquer possibilidade de reação. Não quero aqui estimular qualquer crucificação do jovem zagueiro vindo do Avaí, mas o erro cometido foi inadmissível para um zagueiro de futebol profissional. Além do mais, já temos erros suficientes ao marcar os adversários, de modo que fazer gols contra para eles é descabido. Digo que, neste momento, a partida acabou. Faltava ainda meia hora de jogo e ainda sobrou tempo para um lindo gol de Jonas, driblando Rafael, mas a partida de verdade já tinha acabado com o toque de ridículo do quarto gol que sofremos.

Perder do Grêmio não é vergonha. Trata-se de um dos grandes times do futebol mundial e merece todo o respeito. Contra os irmãos cariocas, fez três gols no Engenhão e triturou a Gávea também no Olímpico. O que assusta e apavora é a maneira como esta goleada foi construída; a maneira que o time se portou em campo depois de dez dias de treinos e após um razoável jogo contra o Botafogo.

Mais uma vez, os resultados da rodada não nos comprometeram. Afundamos sozinhos o nosso barco de novo. Fomos literalmente devastados. Mas não desisto: ainda estão rolando os dados. Em dez chances, temos nove de cair. Que nos agarremos a uma, somente uma, a capaz de nos salvar. Quem espera sempre alcança. E não se morre de véspera.

Paulo-Roberto Andel, 21/09/2009


BOTAFOGO 0 X 0 FLUMINENSE (13/09/2009)



O empate a zero (14/09/2009)

Meus caros amigos, o drama continua. Apesar de todos os resultados favoráveis à evolução do Fluminense dentro do campeonato brasileiro, não fizemos nossa parte. Houve mais um empate. A seqüência sem vitórias é desesperadora e, por conta do zero a zero ontem, com o Botafogo, no estádio João Havelange, permanecemos no último lugar, praticamente condenados à morte e execrados pela imprensa dita esportiva da cidade. Ainda que em situação menos desesperadora do que nós, o Botafogo também lamentou o resultado e, no fim, quem mais perde é o torcedor carioca, vendo duas de suas principais equipes em situação degradante.

Tivemos dezoito mil torcedores no estádio; dos nossos, cerca de quatro mil nossos, um número baixo e esperado por conta da trágica campanha e ainda pela não familiarização do torcedor carioca com o Engenhão – o que é uma pena e deve ser sanado prontamente, já que a tendência é a de ficarmos anos sem o Maracanã para jogos de futebol, tendo em vista as propaladas reformas para a Copa do Mundo de 2014. Se diminuta nas estatísticas, nossa torcida não se calou: gritou e muito. Somos fabulosos nas arquibancadas: não importa que sejamos mil, três mil ou trinta mil – a diferença está apenas no tamanho físico, mas não na dedicação e no amor. E gritamos logo de início, quando o experiente meia argentino Ezequiel González, o Equi, acertou o travessão do goleiro alvinegro Jefferson, que retornou do exterior. Equi jogou quase um tempo e meio, além do que poderia suportar, mas imprimiu garra e velocidade ao time do Fluminense – o problema era que ele era destoante de outros jogadores em campo, inclusive alguns dos que sempre esperamos muito, como nosso craque Conca.

A bola no travessão causou preocupação momentânea aos botafogos, e alguma promessa de esperança em nossos corações. Contudo, o fragilizado miolo de meio-campo, composto por Diogo e Diguinho, errava tudo o que tentava, de modo que os alvinegros chegavam com facilidade à frente da nossa área, felizmente sem maiores finalizações perigosas. Aos poucos, e empurrados pela torcida caseira, avançaram o time, o que nos abriu caminhos para contra-ataques. Num deles, uma excelente finalização do garoto Alan, obrigado Jefferson a espalmar a bola para escanteio num chute de virada, cruzado, pela direita do ataque – a única finalização de Alan e a única realmente perigosa de nosso time no primeiro tempo, afora o belo chute de Equi no travessão. Ainda houve um chute do também estreante Adeílson, mas sem êxito. O novo jogador mostrou velocidade e algum ímpeto ofensivo, mas nada capaz de sacudir nosso Fluminense. E, sem muita inspiração dos ataques, o primeiro tempo encerrou em zero igual no marcador. Nas arquibancadas Tricolores, um destaque à parte: tendo chegado discretamente, Patrício Urrutia assistiu o jogo feito um torcedor comum, até que foi descoberto e “denunciado”. Sei que muitos, inclusive meu querido amigo-irmão Raul Sussekind, o vêem como um símbolo de nossa derrota na Libertadores de 2008. Entendo que não: fez o que lhe cabia – honrar a camisa do time que defendia. Agora é um dos nossos e creio que possa nos ajudar ainda nesta missão que é muito difícil, que muitos consideram impossível, mas que ainda não está negativamente decidida de forma alguma: nossa queda. Voltando ao primeiro tempo, reitero: não foi um jogo emocionante, mas bem-disputado e corrido, como deve ser um Fluminense e Botafogo, mesmo com ambos em situação tão ruim.

No segundo tempo, a partida caiu muito de produção. Os times passaram a errar bem mais. O jogo não se desenvolvia. Cuca tentou mexer no andamento, trocando peças. Veio o menino Tartá, que se supunha ser uma de nossas maiores revelações de Xerém. Entrou e nada produziu. Claro que a fase é difícil, que se trata de um garoto, que a cobrança é grande; porém, o futebol não espera. E Tartá, com idas e vindas, ainda não fez uma de suas espetaculares partidas este ano. Roni entrou a minutos do fim da partida, no lugar de Paulo César, mais pelo desespero da situação, sem causar nenhum impacto na partida. Mexida crucial foi a de Alan por Kieza: o jovem atacante teve a chance de decidir o jogo a nosso favor, a minutos do fim, entrando livre e sozinho dentro da área, mas chutando fracamente em cima do goleiro Jefferson. Pode-se dizer que foi o gol mais perdido que tivemos neste semestre: os botafogos já tinham feito o suspiro tradicional de quem vai tomar um gol inevitável. Mas não aconteceu: o goleiro de General Severiano fez as honras e perdemos uma oportunidade inacreditável. Daí em diante, apenas o desespero e o abafa na área sem maiores conseqüências.

É difícil escrever estas linhas sem lamento, sem tristeza. Mas também é difícil crer que o fim já chegou. Não se morre antes do tempo. Precisávamos desesperadamente destes três pontos, que não vieram. Sem contar a verdadeira pedreira que será enfrentar o Grêmio no Olímpico, na semana que vem. Porém, não temos mais escolha: é ir para a frente de batalha. E mesmo que a derrota seja inevitável, perder de cabeça erguida. Não é o que se reza pelo nosso catecismo, mas é o que vivemos hoje.

Deixei o Engenhão ontem com tristeza. Mas o jogo, o grande jogo, ainda não acabou.


Paulo-Roberto Andel, 14/09/2009

Friday, September 18, 2009

FLUMINENSE 1 X 1 NÁUTICO (06/09/2009)

Imobilizados (06/09/2009)

Poderia ter sido uma festa, mas não foi. Poderia ser o marco da nossa ressurreição, mas não foi. O fato é que empatamos ontem com o Náutico, no Maracanã, o que aumentou a agonia na luta contra o rebaixamento do Fluminense, nas reestréias do treinador Alexi Stival, o Cuca, assim como do veterano lateral-esquerdo Paulo César, egresso do futebol francês e assumidamente Tricolor de coração. Havia uma grande expectativa na semana que passou, por conta da viagem do time, que treinou por uma semana em Itu: poderíamos melhorar técnica e fisicamente falando. O treinador ainda era Renato Portaluppi, que foi demitido no dia seguinte à derrota para o Santos, na Vila Belmiro. Mais uma vez, Renato passou por percalços em nossa casa; é fato que não estava bem na função. Mas é nosso ídolo eterno e merece todo respeito.

Ver o resultado pelo senso estrito poderia indicar apenas uma atuação catastrófica do Tricolor, em mais uma partida não vencida sob seu mando de campo. No entanto, não foi assim. Dominamos com firmeza todo o primeiro tempo e, antes do belo gol marcado por Darío Conca aos vinte e sete minutos, tivemos esparsas chances de gol – o time ainda se ressente da pressão que é jogar sem poder falhar em nada, além da própria limitação de alguns jogadores. O que nos faltou mesmo foram o penúltimo e o último toques: até a intermediária, o jogo foi do Fluminense, com o Náutico avançando raramente e até satisfeito com a derrota por placar mínimo. E Roni poderia ter feito o segundo gol se não desperdiçasse mais uma vez uma finalização. Pela primeira vez em tempos, descemos tranqüilos para o vestiário: o time jogou bem e, mantendo a performance da primeira etapa, poderia conseguir a tão importante vitória. Quero falar do gol de Conca: muito marcado, o argentino nem sempre consegue conduzir o time sozinho em campo, mas tem demonstrado raça e valentia como se tivesse três metros de altura e quatrocentos quilos. É um pequeno leão. Quando erra, disputa a bola com sede animalesca. É dos jogadores que merecem nosso absoluto apoio. Seu chute rasteiro na marcação do gol, marca de força e raça. Uma excelente finalização, que matou o canto esquerdo do goleiro Capibaribe. Outro jogador que, surpreendentemente, esteve bem no primeiro tempo foi o lateral-direito Mariano que, apesar de seu reconhecido pouco trato com a bola, fez bons cruzamentos e apoiou bastante o ataque do Fluminense. E não posso deixar de falar de Gum, o jovem zagueiro de apelido curioso, que marca bem, com objetividade, sem firulas. Dalton, outro jovem zagueiro, bem também. Se nossa posição na tabela fosse outra, receberiam muitos destaques da imprensa.

Nas arquibancadas, a força de nossa torcida mesmo num momento tão ruim. Eram vinte mil pessoas no Maracanã, e muitas tremulando as bandeirinhas que fizeram da final da Copa Libertadores de 2008 um dos momentos mais bonitos da história do estádio. Sabemos de todas as dificuldades que nos cercam, mas ainda somos capazes de mostrar algum otimismo, até mesmo quando ele não se manifesta plenamente em campo. O público presente merece todos os parabéns por este jogo. Não é hora de abandonar o Fluminense, hora de deixar o Fluminense desfalecer como se fosse um abandonado na sarjeta.

Então, meus amigos, veio a segunda etapa. Mal estávamos sentados nas cadeiras amarelas e o Fluminense tomou o gol. Houve a saída, um ataque do Náutico pela esquerda de nossa defesa, e o lateral Patrick acertou um chute forte, que teve de ser defendido com rebote por nosso goleiro Rafael. A sobra caiu nos pés de Carlinhos Bala, com o gol vazio, que igualou o marcador e tornou o Maracanã um mausoléu de guerra. Ficamos imobilizados por um minuto, e pode se dizer que isso determinou que não venceríamos mais o jogo, tamanho o mal-estar coletivo por conta do gol de empate.

Paralisados, atônitos.

Dois minutos depois, Roni perdeu mais um gol feito, numa furada inacreditável de Roni dentro da área, após o passe de Diogo. A situação ficou insustentável para o veterano atacante que, tempos depois, foi justamente sacado do time para a entrada de Alan. Conca ainda tentou o gol da vitória, com a drástica substituição de Mariano por Maicon, além de João Paulo no lugar de Marquinho, que havia levado cartão amarelo. Embora o time não estivesse jogando mal e a pressão no ataque continuasse, ela não surtia muito efeito porque estávamos muito mal tecnicamente na frente e, por outro lado, a necessidade de vitória nos obrigava a relaxar da marcação, dando espaços ao Náutico para perigosos contra-ataques, felizmente sem sucesso. O jogo seguiu sua meia-hora final exatamente como o esboço desse parágrafo: o Fluminense afoito, aflito, desesperado, tentando chegar ao gol sem saber como, contra um Náutico que, naturalmente, via um ponto fora de casa como excelente pedida.

Mais uma vez, fracassamos em casa. O exaspero de nossa torcida no final da partida reflete bem o momento em que vivemos. De toda forma, o Fluminense de Cuca já tem alguns pequenos rascunhos do trabalho do treinador, e a expectativa é que isso melhore. Precisamos muito.

Não sei dizer de onde vêm as forças para ainda acreditar em algo que sabemos ser muito difícil. Mas o campeonato ainda não acabou. De forma alguma.

Ainda rolam os dados, ainda há esperança.

Semana que vem, a nova batalha é contra o Botafogo, no Engenhão. O mais antigo clássico do futebol brasileiro sob o manto manchado da zona de rebaixamento. Um jogo que, naturalmente, já é sempre muito duro, terá ares de vida ou morte. Estamos aqui para lutar. Seguiremos em nossa jornada.


Paulo-Roberto Andel, 07/09/2009

Tuesday, September 01, 2009

SOBRE O JOGO DO PRÓXIMO DOMINGO


FLUMINENSE VERSUS NÁUTICO CAPIBARIBE

Eu estarei lá.

Eu acredito SEMPRE!

Se tivesse saído a dois ou três minutos antes do fim, não teria visto os antológicos gols de Assis e Renato. Aliás, pouca gente fala, mas já havia o prenúncio de que a Gávea seria triturada por nós desde o ano anterior, 1982: vencemos por um a zero, gol de Amauri, aos 46 do segundo tempo, em falha do gigante Andrade. Naquele jogo vazio e sem maior importância, exceto a de ser Fla-Flu, eu nem de longe imaginava quantas alegrias teríamos a seguir. Experimentei, sim, foi o saboroso gosto de vencer o adversário no apagar das luzes.

Não é hora de abandonar o barco, mesmo que a decepção seja grande. Não se torce para um time só nas vitórias e conquistas - que muitas vi. O time é uma tatuagem, está lá a impregnar a pele para sempre - e não cabe remoção a laser.

Podemos ganhar dez jogos sim.

O Avaí conseguiu, o Goiás conseguiu. Merecem todo o respeito. Mas isso aqui é FLUMINENSE. Com todo respeito aos irmãos, somos maiores do que eles. Muito maiores. E não somos piores do que Náutico, Sport, Santo André, Botafogo, Atlético-PR, Flamengo e Coritiba. Esse jogo pode ser virado sim!

Quem viu nossa história sabe que nada para nós foi fácil; tudo, sempre sofrido. Bastaria dizer que, em quarenta anos, contra os grandes cariocas, só tivemos vantagem em 3 vezes: a) Botafogo, 1975, podíamos perder por 3 x 0; perdemos de um e fomos campeões; b) Vasco, em 1984, jogando pelo empate para ganhar o título brasileiro; c) contra a mulambada, semana passada, pela classificação na Sulamericana. Em TODAS AS OUTRAS VEZES, entramos em desvantagem nos momentos decisivos. Quem se lembra da Copa do Brasil em 2007, quando tivemos que reverter quatro desvantagens seguidas para conquistar o título? Lembro que muitos deixavam o Maracanã contra o Figueirense cabisbaixos, e falei: "Agora, tenho certeza de que seremos campeões. Tomamos um golaço indefensável a oito minutos do fim, jogávamos mal e conseguimos o empate". Não deu outra!

Há quem possa me criticar porque estou falando de grandes momentos, sendo o caso agora do risco de rebaixamento. Porém, depois de termos toda a imprensa e torcidas inteiras contra nós, recheadas de hipocrisia e deboche, nos salvarmos do rebaixamento este ano é equivalente a um título. Não pelo brilho, mas pela dificuldade. Nos desprezam hoje como também nos desprezaram quando chegávamos às finais e vencíamos. Lembrem-se de que o Fluminense é chamado pejorativamente pela imprensa (leia-se FlaPress) de "timinho" desde 1951 - há quase sessenta anos, portanto.

Tudo está contra nós. Tudo!

Salvar-se nessa é muito, mas muito difícil. Não cabe ilusões. O Fluminense está na UTI.

Sei da enorme dor que esta situação tem causado a todos nós. Vejo nos meus amigos mais queridos a tristeza e, em muitos casos, a quase certeza de que não escaparemos. Momentos ruins do passado vêm à tona na atual situação, e é compreensível.

Só que, entre o muito difícil e o impossível, vai uma distância longa, longa, enormemente longa!

E, da UTI, não saem somente cadáveres, mas também gente viva. E muito viva!

Acredito na salvação. Irei até o fim, enquanto as possibilidades matemáticas nos permitirem. Falo de dezesseis jogos, não de três. Falo de uma maravilhosa ciência denominada futebol, que não é exata.


Duvido que o pior aconteça mas, se for inevitável, eu estarei lá novamente.

A única coisa que restou viva na terra de toda a minha infância é o Fluminense. Derrubaram meus colégios, perdi meus pais e meu amigo mais antigo. O Fluminense está vivo, e eu irei com ele até a morte, haja o que houver. Ele é meu amigo de sempre, e sabemos que não se trai um amigo, ainda mais num momento difícil. Os jogadores podem passar, os dirigentes também, mas nossa camisa é eterna. E, a ela, sempre serei fiel.

Espero vocês no Maracanã domingo, mesmo com tudo contra nós.

Como sempre, estarei lá.



Paulo-Roberto Andel, 01/09/2009

Monday, August 31, 2009

SANTOS 2 X 0 FLUMINENSE (30/08/2009)

O fim ainda não chegou (31/08/2009)

Para deleite de boa parte da imprensa esportiva carioca, o Fluminense perdeu ontem mais uma partida, em momento crucial para manter as chances de sobrevivência na primeira divisão do campeonato brasileiro. Hoje, não faltaram galhofas e piadinhas de péssimo gosto sobre o fim das Laranjeiras. E mais: o Brasil se tornou, em um mês, o paraíso dos especialistas em estatística no planeta Terra! Não falta um estatístico sem diploma nas esquinas para dizer: “O Fluminense está rebaixado! Não há mais chance”, como se o campeonato tivesse acabado ontem. Não custa pensar no que Nelson Rodrigues escreveria a respeito, se vivo de corpo estivesse; provavelmente, alguma provocação contra os idiotas da objetividade.

Pois bem, o Fluminense perdeu. Houve três momentos cruciais na partida, e todos passam pelo zagueiro Luiz Alberto. O primeiro, quando ele, livre, esteve à frente do gol santista logo no começo do jogo, mas errou a finalização, por não ser do ramo. No segundo, quando estava na marcação de área quando a bola foi cruzada para o gol do Santos, no último minuto da primeira etapa, numa jogada claramente irregular, tendo em vista as faltas sofridas por Ruy e o estreante Gum no mesmo lance. O jovem André, atacante que substituía Kleber Pereira, cabeceou à direita do nosso goleiro Rafael, de cima para baixo, numa bola que um ou outro consideraria defensável. Não concordo: foi um lance difícil e cabe ressaltar que o Santos conseguiu boas finalizações no primeiro tempo, todas bem defendidas por Rafael. Não tenho dúvidas: temos um goleiro em campo melhor do que o das últimas jornadas. O terceiro lance de Luiz Alberto aconteceu no segundo gol santista, em cabeçada de cocuruto do jovem Paulo Henrique, o “Ganso”, tocando a bola no canto esquerdo de Rafael já a quinze minutos do fim do jogo. Não é o caso de crucificação, longe disso, mas o fato é que há várias partidas o zagueiro não tem rendido o que se esperaria – inclusive, isso sobrecarregou o time e causou a barração de Edcarlos, que pode ter alguma razão, mas não leva em conta o que se convenciona chamar de conjunto da obra. O segundo gol matou nossas esperanças, num segundo tempo em que dominávamos amplamente a partida, mas nos faltava talento para fazer o gol. Fizemos forte pressão, ainda que inócua pela falta de finalizações, por quase meia hora, dentro da Vila Belmiro que, um dia, abrigou Pelé. Se estivéssemos no meio da tabela, talvez a manchete de nossa derrota fosse: “Flu luta muito, mas perde”.

A primeira etapa foi dos santistas. Não que tivessem jogado uma partida primorosa, mas porque estávamos excessivamente recuados e sem a menor força de ligação defesa-ataque. Para piorar, nosso craque Conca errava passes demais e, extremamente marcado, nada conseguiu fazer de relevante. Mesmo assim, o gol saiu quase por acidente e quando já não se esperava; descer para o vestiário com o empate parcial certamente seria um alívio psicológico para um time marcado pela má campanha, pelas confusões da gestão e, principalmente, pelo sensacionalismo da imprensa. Na segunda etapa, mesmo com os problemas de sempre e más substituições, dominamos o jogo; quando tomamos um segundo gol bobo como foi, o time jogou a toalha. Mas o fim ainda não chegou.

Ora, se o Vasco, o grande Vasco da Gama, ano passado caiu de divisão ainda na última rodada – e desperdiçou vários jogos que poderiam tê-lo salvo -, porque nós seremos rebaixados por decreto jornalístico com dezesseis jogos? Em anos anteriores, vários times conseguiram uma reação, como o Goiás e a Gávea. Agora mesmo, na segunda divisão, davam o Ceará como rebaixado há coisa de dois meses; hoje, estão no grupo dos quatro candidatos a subir para a série A, assim como o São Caetano, já tido na série C e agora brigando pelo topo da tabela. Na elite, o São Paulo não teria chances este ano e o Goiás seriam galinha morta. Estão entre os quatro primeiros. O Avaí foi o primeiro rebaixado da competição; onde está na tabela? Nos país dos estatísticos, prognósticos certos não têm sido o forte. Sem contar que apontam a Gávea como futura postulante ao grupo dos classificados à Libertadores, o chamado G4. Ora, a distância que eles têm daquele grupo é a mesma que temos dos times que estão fora da zona de rebaixamento do campeonato. Se acabamos de eliminá-los da Copa Sulamericana, somos tão piores do que eles assim? Creio que não.

É um momento muito difícil e a matemática não nos favorece, na verdade. Mas nada é impossível ainda, o fim ainda não chegou. Sei das limitações que temos, mas não somos piores do que times que têm nove ou dez pontos a mais do que nós, neste momento. Podemos reagir.

Nelson Rodrigues, nosso troféu maior, dizia: “Se quiseres saber o futuro do Fluminense, olhai para o seu passado”. E, mais do que nunca, me apego à tradição de nossa centenária camisa no futebol. Quando Delei cobrou a falta apressadamente na lateral direita, toda a massa flamenga comemorava a ida à final e nossa eliminação. Benedito de Assis recebeu o passe, fez o gol sagrado e escreveu a história de um grande título. Em 1991, para chegarmos às semifinais, precisávamos de cinco vitórias seguidas. Nos jornais, o Fluminense já era. Vencemos e conseguimos a classificação. Não preciso lembrar 1995: com exceção de Washington Rodrigues, nenhum dos comentaristas e cronistas cariocas ousou apontar o Fluminense como candidato ao título. Boa era a Gávea, a campeã de terra, mar e ar. A seis rodadas do fim, tinham nove pontos de vantagem contra nós. Chegaram à final com a vantagem do empate, resultado que tinham à mão até quatro minutos antes do fim do jogo, além de um jogador a mais em campo. Contra tudo e todos, vencemos um dos grandes campeonatos de nossa história.

Que não me venham à frente os lacaios do sensacionalismo, para falar de rebaixamentos no passado. Não estamos tratando de uma conta corrente que, descoberta, causa perda de crédito em outros itens financeiros. Estamos tratando de um time centenário e vencedor, dos maiores do mundo, que passa por uma péssima fase, mas ainda pode superar o grande revés. Tivemos bons momentos ontem. Teremos uma semana de treinamentos. Patrício Urrutia e Fábio Santos, além de Equi González, darão outra alma ao time em campo. O matador Fred poderá voltar. Não faltam três ou quatro partidas, mas dezesseis. Noutra situação, dezesseis jogos poderiam valer um grande título em nossa história. Dessa vez, valem nossa luta contra toda uma nação. Precisamos do grito da nossa torcida, do brilho das nossas cores, da beleza das nossas torcedoras. O lugar do torcedor do Fluminense não é entocado como um rato indefeso, mas sim com os pulmões inflados e o berro à vista no Maracanã. Podemos reverter esse quadro. Para isso, não devemos nos omitir.

Logo à frente, já no domingo, o velho Náutico, de quem todos nos recordamos naquele dia de tempestade no Maracanã há dez anos, tão bem contado pelo genial texto de Marcos Caetano. Lá, diziam por escrito que o Fluminense estava no fim, que o Fluminense deveria se fundir com o Bangu e o Botafogo para aceitar passivamente a predominância de Flamengo e Vasco. Raras vezes li algo tão estapafúrdio. Sobrevivemos. E vencemos.

Calejado por tantas façanhas do passado, enquanto a exatidão da matemática me permitir, não caio de joelhos. O dia em que eu acreditar que o Fluminense não é capaz de uma revolução em dezesseis jogos, entenderei que não se tratará apenas de não ir ao Maracanã ou de abandonar o time, mas sim de nunca mais acompanhar futebol pelo resto de minha vida. E, olhando para o passado como ensinou o Mestre Nelson, creio que este dia jamais chegará.



Paulo-Roberto Andel, 31/08/2009

Thursday, August 27, 2009

FLAMENGO 1 X 1 FLUMINENSE

Entre o sonho e a ressurreição (26/08/2009)

Meus amigos, mais uma vez a tradição quase centenária pesou. O Fluminense era o ferido de morte. O Fluminense era o time sem qualificação; portanto, longe de ser o favorito da imprensa. Não davam um níquel pelos jogadores de Laranjeiras. Escreveram que o time era galinha-morta. Mais uma vez, o erro foi oceânico e o Tricolor fez a Gávea agonizar ontem.

Para muitos, era um jogo sem importância, sem maior valor. Uma sonora mentira. Só os boçais entenderiam o Fla-Flu como um jogo carente de impacto. Mesmo que as duas equipes atravessem um momento crítico – na visão dos jornalistas, o Flamengo pode ser campeão e nós já estamos rebaixados – não se pode ofertar ao Fla-Flu um valor apenas simbólico. Só os idiotas veem no Fla-Flu um jogo comum. Pela primeira vez, os dois clubes se enfrentavam por uma competição oficial de caráter eliminatório. Tanto havia importância que, ao contrário do propagado na imprensa, os times mandados a campo foram os titulares. Adriano faltou ao Flamengo, mas isso não chega a causar estranheza. O resto era o time de sempre. Sem desculpas.

Todo jogo entre os irmãos Karamazov do futebol brasileiro deveria ser disputado com, no mínimo, cem mil torcedores. Não foi o caso de ontem. A campanha dos dois times no campeonato brasileiro, mais o péssimo horário de dez da noite imposto pela televisão, mais o frio, mais o caro ingresso, tudo fez parte de um pacote de afugentou as massas do estádio. E é justamente aí que vemos a grandeza épica do Fla-Flu: quando há uma enorme crise, o público abnegado é de dez mil pessoas. Logo se vê que não é um jogo à toa, vulgar. Foi o Fla-Flu que semeou as grandes massas de torcedores nos times de todo o Brasil.

O regulamento da competição nos favorecia em caso da marcação de um gol, dado que tínhamos empatado o primeiro jogo, na condição de mandantes; assim como na Copa Libertadores, a Sulamericana prevê que, em caso de empate, tenha vantagem o time que marcou gols fora de casa, o que parece estranho a todos nós porque o Maracanã é a nossa casa. Então, era preciso marcar gols. E nos coube a iniciativa imediata quando o jogo começou, apitado pelo árbitro chileno de uniforme berrante. Na primeira finalização, Luiz Alberto deu boa cabeçada à esquerda do goleiro Bruno, para o primeiro suspiro de aperto dos flamengos, muito mais numerosos no estádio, na proporção de cinco para um – o que é natural, dado o enorme crédito que a imprensa esportiva regularmente concede à Gávea, mesmo que dentro do campo as coisas não coadunem com o que é escrito e falado. Bruno defendeu e os flamengos talvez tivessem entendido que, contra o Fluminense, as coisas não são tão fáceis quanto se poderia supor. Não somos galinha-morta.

O jogo foi corrido em sua primeira meia-hora, apesar de não apresentar grandes perigos para os goleiros. A rigor, nossa principal ameaça foi um chute de Kieza, por cima do travessão. O Flamengo parecia ter mais velocidade nas arrancadas, mas perto da nossa área não havia maiores ameaças. Houve um chute também por cima do travessão, desferido por Denis Marques, atacante da Gávea que, de longe, lembra o nosso velho Magno Alves em mais aspectos do que os somente agradáveis. E só. Era um jogo equilibrado, onde podíamos vencer também. No final do primeiro tempo, a jogada que se tornou polêmica mas apenas para os desinformados: o pênalti sofrido por Kieza, no bico da área direita da defesa flamenga, cometido por Angelim. Fez-se uma confusão enorme por pouco: Kieza recebeu o choque final exatamente em cima da linha da área; a linha faz parte da área e, portanto, com justiça se assinalou a falta penal. Roni fez uma excelente cobrança, forte, no canto direito, mais ao alto, sem a menor possibilidade de defesa para Bruno. Era um gol salvador! Descer para o intervalo com a vantagem foi um alívio para nós. Os flamengos vociferavam em vão. Nosso time não foi brilhante, mas mostrou muita garra e disposição, daqueles que agradam a Abel Braga e a Renato Portaluppi também.

No segundo tempo, pressionado pelo resultado e pela ilusão de ter um time muito superior, o Flamengo tentou colocar velocidade no jogo, mas sem muita força. Eles perderam alguns gols, mas em jogadas que não eram tão evidentes para se marcar. A rigor, uma falta bem-cobrada pelo excelente Petkovic, com ótima defesa de Rafael no canto direito. E a nossa torcida, que parecia minúscula nas arquibancadas verde e amarela, no grito tragava a pequena massa rubro-negra.

Numa jogada em que parecia previsível o desarme, Denis Marques foi de um lado a outro na frente da área e chutou. A bola ainda bateu em dois jogadores antes de ganhar o ângulo direito de Rafael. Eles empataram e sua massa enfurecida gritava como se vomitasse os cantos de guerra; contudo, ressalte-se que o gol foi muito mais fruto de uma jogada isolada do que de uma “pressão insustentável”. Ainda faltava mais meia hora para o término do jogo, mas é possível afirmar que não sofremos mais nenhuma situação apavorante contra nosso gol. E mais: quase viramos em seguida, com a boa cabeçada de Kieza, marcando o gol que foi invalidado por suposta situação de impedimento. Uma outra excelente chance também foi desperdiçada por Luiz Alberto, em ótima cabeçada, raspando a trave – o zagueiro parecia com uma gana especial em enfrentar o ex-time. O time todo com uma postura muito diferente do melancólico empate contra o Barueri, em casa, domingo passado, afora as derrotas acachapantes para São Paulo e Coritiba.

Embora cinco vezes maior, em muitos momentos a massa flamenga foi engolida pelo nosso grito em muitos momentos, como já é de praxe. E quando Renato mexeu no time, colocando Alan e Marquinho, nossa velocidade aumentou, ainda que tivéssemos perdido a força e a categoria do argentino Conca. O fato é que o Fluminense começou a explorar contra-ataques velozes e, por conta disso, ainda houve tempo de se expulsar dois jogadores da Gávea: David e, quase no fim do jogo, Fierro. Se contarmos os quinze minutos finais, quem mereceu vencer foi o Fluminense; porém, o empate era mais do que suficiente para a classificação e foi o que aconteceu no fim da partida.

Desesperados, os torcedores da Gávea gritavam “Segunda divisão!” para nós, quase um brado humorístico; afinal, eles estão na parte baixíssima da tabela. Nós os lembrávamos da condição de eliminados. Encarar o Fluminense num jogo decisivo jamais será algo fácil. O placar nos favoreceu e eliminamos nosso adversário de sempre. Eles chegaram ao ponto de delirar com sua enorme faixa de pano, onde se lê o Flamengo como “maior do que tudo e que todos”. Só não é maior do que a camisa Tricolor; por isso, nós somos os classificados da Copa Sulamericana.

Ainda é cedo para comemorarmos, mas estamos entre o sonho e a ressurreição. Evitar a queda passou a ser algo real, e ganhamos fôlego com a atuação de ontem.

Mais do que isso, este empate com sabor de vitória será um tempero para nossa recuperação no campeonato brasileiro, é o que todos esperamos. O Tricolor não morre, nem morrerá. Estamos vivíssimos e deixamos ao largo o maior rival.

Paulo-Roberto Andel

http://cronicasdoflu.blogspot.com

Wednesday, August 26, 2009

MEMORABÍLIA DE UM FLA-FLU

Quando nasci, já era Tricolor. Não tenho lembrança de simpatizar com nenhum outro time que não fosse o Fluminense. Sempre foi o meu primeiro e eterno amor no futebol.

As imagens que tenho em vaga lembrança da mais tenra infância Tricolor remetem a meu pai me puxando pela mão num jogo de dois zeros – um empate. Gostava das cores das camisas das pessoas, todas iguais. Era o Fluminense em minha retina. Noutra partida, como já contei um dia, meu troféu era o cachorro-quente da Geneal, mas a massa enlouquecida insistia em me jogar para cima o tempo todo. Eu devia ter meus sete anos, seis, e já era testemunha de uma goleada – foi quando atropelamos o Vasco e vencemos a taça de 1975. Até então, não sabia o que era o Flamengo.

Descobri com dez anos.

Houve um Fla-Flu que não valia taça, mas era importante como sempre, pois o Fla-Flu já é por si um troféu. E tomamos uma sonora goleada, acachapante, em anoitecer de grande chuva no Maracanã. Nosso goleiro era Wendel, uma muralha digna da seleção brasileira; mesmo assim, os flamengos fizeram gol após gol e saíram com uma vitória magnânima. Sei que chorei. Lembro de meu pai não falar absolutamente nada durante a volta para Copacabana. Lembro também que ele não quis jantar. Perder o Fla-Flu pode levar um homem a quebrar as rotinas familiares, destratar a mulher amada, não atender o amigo. É um choque. E, tomado por um sentimento infantil que desapareceu por completo, com meu sanduíche de presunto na sala do pequeno apartamento, pensei em vingança. Sim, a vingança daquela derrota vil e insana. Quando seria? Quem seria meu herói? Haveria um herói? Ah, se meus botões se materializassem no gramado do Mário Filho, o time seria um verdadeiro aríete, para derrubar qualquer muralha: Robertinho, Cristóvão, Edinho, Pintinho.

Para um garoto, uma semana leva um ano. Um ano leva um século. O espinho atravessava minha garganta feito uma adaga. Nos rachas do recreio, nas peladas à tarde na vila, nos jogos da praia na Figueiredo, tudo parecia uma grande faixa a zombar do Fluminense: “O Tricolor não é de nada; é somente um humilhado, um goleado”. Passavam os dias, os meses e nada.

Então, subitamente, veio mais um domingo à tarde. Era novamente um Fla-Flu. Tínhamos o pó de arroz em festa nas arquibancadas; do outro lado, os flamengos urravam como nunca: eram os campeões; tinham a festa, a massa e a imprensa a seu lado. Uma gritaria incessante. Por alguns momentos, tive medo quando nos atacaram, e também tinha medo quando algum jogador parecia solto num dos lados de nossa defesa. Em certo momento, meu pai alertou: “Fique tranqüilo, o Rubens está na cobertura”. Era Rubens Galaxe, velho herói de grandes conquistas, que jogou em todas as posições exceto no gol. Rubens deu um chute bonito, e a bola talvez entra entrado no canto direito de Cantarele. Nós gritamos; fizemos um a zero. Os flamengos eram uma arquibancada enorme, dantesca, e fizeram o silêncio; durante muito e muitos anos, sempre percebi que, quando comemoramos um gol, eles ficam mais calados do que contra todos os outros adversários. Somos os irmãos Karamazov.

Pouco tempo depois, houve uma bola alçada da direita; Pintinho, nosso craque, subiu e tocou de cabeça, no alto à direita do goleiro. Era dois a zero. Lembro de meu pai rir. O Maracanã era um silêncio sepulcral à direita da tribuna de honra. E terminou o primeiro tempo. Era minha estréia em entender a importância do Fla-Flu. Vencíamos e bem. Faltava alguma coisa, no entanto. Não sei se a goleada, uma grande jogada ou algo que namorasse a minha memória para sempre.

Talvez o Fluminense tenha assentado o jogo no segundo tempo. O que me vem à tona é que houve um pênalti. Eles urravam novamente, como se estivessem feridos de morte e ressuscitassem. Era uma explosão. Quem pegou a bola nos braços, senhor de si, era Zico, o jogador que tinha todos os jornais a lhe saudar, conforme eu já acompanhava levemente nos cadernos esportivos. E gritavam: “Zi-co! Zi-co!”. Temi pelo pior. E o que faltava para a eternidade de minha memória finalmente nasceu. O chute foi forte, no canto esquerdo. Não tínhamos mais Wendel, nem Renato. O goleiro era o jovem Paulo Goulart, que voou e defendeu a bola, mandando para escanteio. Pela primeira vez, vi a torcida do Fluminense gritar como se fosse um gol nosso, sem ter havido gol algum. Bateram o escanteio, a defesa rechaçou e tudo estava a sorrir por conta daquela defesa. Meu coração de criança apontava que merecíamos golear, mas estava somente dois a zero.

Quando faltava pouco tempo para o fim do jogo, nossa torcida cantava que já estava na hora de ir embora. Chegou a cereja do bolo: o menino Cristóvão, não tão menino quanto eu, mas muito menino para encantar um Maracanã lotado, acertou um drible fantástico no zagueiro Manguito, que caiu estatelado, e fuzilou o gol flamengo, fazendo três a zero. Milhares e milhares de flamengos vazavam pelos então pequeninos corredores de acesso das arquibancadas do Maracanã. Foi uma grande noite. Foi a primeira noite em que, com meus dez anos, eu me considerava um grande vencedor no futebol. A partir de então, veio um jogo e mais um jogo, e mais outro jogo. Centenas de jogos. Risos, lágrimas, dor, paixão.

Para muitos, hoje é um Fla-Flu apenas esvaziado, debilitado pela má fase das duas equipes. Um Fla-Flu precário. Para mim é diferente: O meu Fla-Flu, na verdade, começou há quase trinta anos atrás. E nunca mais acabou. É o jogo que nunca termina e jamais terminará. Hoje, sim, é um capitulo: mais um de uma história condenada à eternidade.

Torço por um Paulo Goulart em campo. Um Rubens, um Pintinho. Quem sabe, um Cristóvão. Assim como sorri com Benedito de Assis e Renato Portaluppi.


Paulo-Roberto Andel, 26/08/2009

Thursday, August 20, 2009

FLUMINENSE 0 X 0 FLAMENGO

Não importa a circunstância (13/08/2009)

Depois de noventa e sete anos, o maior clássico do futebol brasileiro finalmente foi disputado numa competição internacional. Poderia ter sido assim no ano passado, se os flamengos não tivessem sucumbido diante do mexicano América. E veio o Fla-Flu, nesta vez por conta da Copa Sulamericana.

Não importa o horário tardio, o esvaziamento do jogo, os times muito desfalcados de titulares: é um Fla-Flu. Assim tem sido desde 1912, assim será até o fim dos tempos. Os irmãos Karamazov do futebol brasileiro se digladiando incessantemente. Sou capaz de lembrar do Fla-Flu em que tomamos um gol de Titã no último minuto, há trinta anos, assim como lembro do sensacional drible de Cristóvão, deixando Manguito sentado e fuzilando Cantarele, também há trinta anos. E Paulo Goulart, que viria a ser o campeão de 1980, defendendo o pênalti de ninguém menos do que Zico? E Benedito de Assis? E Renato Portaluppi? O Fla-Flu nasceu com a vocação da história rica, sempre. E ontem, mais um capítulo dessa história foi escrito. O Fla-Flu sempre foi do mundo, mas agora ele é ratificado pelo regulamento de uma competição.

O primeiro tempo da partida foi marcado por grande movimentação e o predomínio dos flamengos, com duas bolas na trave, ainda que não provenientes de jogadas muito elaboradas. E o que não foi na trave, foi bem defendido por nosso goleiro Rafael, estreando no Maracanã. Na verdade, o Flamengo tinha meio time titular em jogo; nós, somente reservas, por decisão de Portaluppi. E o meio time do Flamengo, com bastante conjunto, fez a balança pesar a seu favor, mas não o suficiente para abrir a vantagem. Por nosso lado, o equívoco de se jogar com muitos homens no meio de campo acabou fazendo com que o ataque fosse limitado a Alan; não havendo a liga, o time não produzia na frente. Então, acabou sendo um jogo de defesa contra ataque; a defesa, nem tão pressionada assim. E o empate em zero acabou sendo relativamente justo. O destaque foi nosso goleiro, bem em todos os lances. Houve também a estreia do volante Fábio Santos, marcada por enorme disposição física e lances até ríspidos, embora sem deslealdade. Importante ressaltar que, sendo a Copa Sulamericana, vale a regra do gol fora de casa contar como dobrado em caso de desempate; por sermos os mandantes, o fundamental era mesmo não tomar gol. E conseguimos atravessar a primeira etapa em branco nas redes.

No segundo tempo, houve uma queda de rendimento dos flamengos, enquanto nós não éramos dos mais inspirados para criar. O que não mudou na fase final foi a voracidade de Fábio Santos, em várias disputas polêmicas de bola com o sérvio Petkovic. Eles ainda estavam melhores no jogo, mas aos poucos começamos a timidamente chegar no ataque. Nossa fase não é boa, o time pode ser reserva, mas é um Fla-Flu, não importa a circunstância.

Petkovic, em duas excelentes finalizações, quase marcou para a Gávea, mas Rafael fez honra à camisa que, um dia, foi de Carlos Castilho e Paulo Victor. Defendeu bem e manteve o zero no marcador. Pesados os erros e acertos, o jogo acabou sendo equilibrado; se os flamengos foram melhores, não finalizaram de modo a justificar a vitória. E o resultado, para nós, foi bom: qualquer empate com gols nos classifica à próxima fase na partida de volta. Claro que todos os olhos estão voltados para a luta contra o rebaixamento, que é a prioridade máxima de atenção. Mas não custa sonhar com degraus pequenos numa competição internacional. E o primeiro passo já foi dado.

O jogo de ontem não ficará escrito por grandes jogadas, por grandes craques ou um público avassalador. O Fla-Flu já é gigante por sua própria essência. A marca a ser deixada é a descoberta da América para o clássico que é sinônimo de Brasil.


Paulo-Roberto Andel 13/08/09

FLUMINENSE 5 X 1 SPORT - 06/07/2009

Entre gols e incertezas (07/08/2009)

Meus amigos, depois de longo e tenebroso jejum, eis que o Fluminense voltou a vencer. Passamos por um momento terrível e ainda estamos na amaldiçoada zona de rebaixamento; contudo, a goleada de cinco a um imposta ontem ao Sport, no Maracanã, parece nos levar a outros rumos, muito mais dignos.

Mesmo diante do caos que nos ronda e apavora, doze mil abnegados do Fluminense estiveram no Maracanã. Não tenho dúvidas: o time mostrou até um bom futebol, facilitado pela fraqueza do time pernambucano, mas quem decidiu a partida foi a torcida. O primeiro gol teve o último toque na bola por Kieza, após uma furada inacreditável de Roni, que jogou bem boa parte da partida, mas errou muito no começo – entretanto, quem emurrou a bola para as redes foi a torcida, com seu grito sofrido e carinhoso. Todos estávamos ali com a sede da vitória e o urro da dor, por conta da má colocação. Antes do gol, tivemos chances, mas o nervosismo imperava por conta da má situação.

Com a porteira aberta, em meia hora chegamos ao segundo gol, numa bela jogada de velocidade e, agora sim, um passe preciso de Roni para mais um gol de Kieza. O atacante não finalizou com maestria, não deu um toque com força e a bola passou muito perto o goleiro Magrão, quase no meio do gol. Mas a torcida urrou de novo e empurrou a pelota com toda a fúria para as redes. E, logo a seguir, mais uma boa jogada de Roni, que foi derrubado na direita da grande área, e o pênalti foi assinalado. Muitos urros e choros nas arquibancadas do Mário Filho. A cobrança do veterano artilheiro foi perfeita, no canto direito de Magrão. Três a zero no primeiro tempo e, pela primeira vez em muitos meses, nós, os da arquibancada, tínhamos um intervalo tranqüilo, sem temores ou desesperos. O Fluminense vencia, e vencia bem. A velocidade do ataque permitiu a boa atuação da primeira etapa. Atrás, o jovem Dalton parecia muito seguro. Destoando em campo, Wellington Monteiro, que abusava de erros nos passes, afora a já costumeira limitação física.

No segundo tempo, o jogo parecia sob controle do Tricolor, que explorava os contra-ataques para tentar aumentar a vantagem. Em alguns momentos, o Sport ameaçava chegar perto do gol. E conseguiu marcar aos dezesseis minutos, numa cobrança de pênalti de Vandinho, de forma inesperada. A penalidade foi provocada de forma infantil por Wellington Monteiro, que pôs o braço na bola dentro da área ao errar uma matada de peito, após cobrança de escanteio dos pernambucanos. Um clima de apreensão tomou o Maracanã. Estaria por acontecer uma nova tragédia, num jogo que parecia tão fácil para nós? Tensão à vista. Mas por pouco tempo. Cinco minutos para ser mais preciso.

Aconteceu a segunda jogada mais bonita de toda a partida. O jovem Carlos Eduardo, que tinha entrado em campo no lugar do também jovem lateral Dieguinho, fez um lindo giro à direita da área do Sport e chutou sem deixar a bola cair, fuzilando o canto esquerdo de Marcão e fazendo um golaço. Não havia mais espaço para sermos sufocados. Quatro a um. Estava encerrada a reação do Sport. Dali em diante, o que se viu foi um Fluminense que nem parecia estar entre os últimos colocados: calmo, tranqüilo e impetuoso, procurando o melhor momento de trucidar o adversário.
A entrada dos jovens Alan e Maicon deu nova velocidade ao time, que continuou à frente. Havia espaço para mais um gol e ele veio. Não foi um gol qualquer, um gol corriqueiro; foi a complementação de uma jogada de placa, feita pelo argentino Conca: pela esquerda, ele limpou meio time do Sport e, na saída do goleiro, deu com o lado de fora do pé para Maicon, livre, tocar de calcanhar para o fundo do gol vazio.

Foi uma grande noite, menos pela excelência do futebol. Não podemos nos iludir; sabemos que o Fluminense precisa melhorar muito para escapar da degola. Todavia, foi possível ver que o Fluminense não está ferido de morte, o Fluminense não é um mero rebaixado como quer parte da imprensa esportiva. Ainda rolam os dados; o tempo não para. Podemos reverter essa péssima situação. A vitória de ontem traz algum alento, sem dúvida. E a próxima batalha será uma pedreira: encarar o Vitória da Bahia no Barradão. Mas o campeonato não permite escolher situação; só nos resta vencer. Não sabemos o que nos resta pela frente; somos cercados pelas incertezas. A hora é de reagir.


Paulo-Roberto Andel, 07/08/2009

Tuesday, August 18, 2009

SOBRE FLÁVIO PRADO


PANACAS DO FUTEBOL BRASILEIRO - PARTE XIV


Flávio Prado, eventual jornalista esportivo paulistano, há muito afastado da grande mídia televisiva, diz que não gosta do Fluminense em seu programa de rádio (que, naturalmente, não é o líder de audiência da casa). Mais: diz que o lugar do Fluminense é na segunda divisão.

A democracia aí está. Até os panacas podem tirar proveito dela. Eu, que não pertenço a este enorme grupo formado no Brasil, com vasta influência de jornalistas e parajornalistas, também a aproveitarei.

Não gosto de Flávio Prado desde a primeira vez que me deparei com sua figura cabotina e prepotente no programa “Cartão Verde”, da TV Cultura, dotado daquele ar professoral injustificável – nem tinha idade para isso, para passar por um homem sabido e maduro do futebol. Nunca gostei. Suas opiniões sempre expressaram um fascismo enorme ao se comparar o “poderio” dos times de São Paulo sobre os do Rio, quando isso NÃO acontecia, ao contrário de hoje. Outra coisa que considero abominável no jornalismo esportivo é quando um profissional que vive do futebol diz não torcer para time nenhum – e isso, o FP sempre fez, beirando ao ridículo. Tempos depois, aumentando a carga de ridículo contida em sua torcida enrustida, passou a dizer que tinha se tornado torcedor do Milan: pelo visto, ainda por cima é pé-frio, pois o rubro-negro italiano despencou das conquistas a seguir.

Até aí, a coisa ia. FP era apenas mais um desses bobocas que ganham bem para falar do que não sabem, ou que nunca cobraram direito um escanteio. Em se tratando de Fluminense, aí é que não entende nada. O Tricolor das Laranjeiras fundou o futebol brasileiro, permitindo que gerações e gerações tirassem seu sustento do esporte – e, nessa, até o “Forza Milan” saiu ganhando, pois tem uma excelente salário para ejacular tolices. Ao dizer que o Fluminense deveria estar na segunda divisão, FP exacerba e mostra toda a sua ignorância oceânica sobre o futebol carioca, brasileiro e mundial. Sim, o Fluminense foi o primeiro time brasileiro campeão mundial de clubes. Ele, FP, é que se posiciona bem como um jornalista de segunda divisão. Terceira, talvez. E não poderia ter escolhido sua opção de “torcida” de maneira mais coerente: o Milan, em mais de uma vez, foi rebaixado por conta de falcatruas que gerenciou nos campeonatos italianos, algo bem parecido com o que vimos pelo cenário brasileiro em anos como os de 1996, 1997 e 2005. Será que Flávio Prado também não gosta de Mário Celso Petraglia e Alberto Dualibi? Ou também se esqueceu?

Eu gosto de Sandro Moreyra, João Saldanha, Aquilles Chirol, Jorge Nunes, Marcos Caetano, Paulo Vinicius Coelho, Rafael Marques, Nelson Rodrigues, Luiz Mendes, Doalcei Bueno de Carvalho, Juca Kfouri. É por isso que aprendi a não gostar de Flávio Prado.

Não entendam minhas linhas como raiva. Como Tricolor, tenho o direito de me manifestar. Apenas observações. Ia me esquecendo, é preciso citar o principal motivo que me faz crer que pessoas como Flávio Prado mereçam uma passagem de ida sem volta para o Afeganistão. Certa vez, em minha árdua busca como colecionador de CDs de música, deparei-me num supermercado com um grande balcão de promoções a R$ 1,99. Entre forrós, axés, pagódis e outras bizarrices, eis o que aparece: “Hits – As melhores do Flávio Prado”.

Ser apedeuta em futebol, ainda vá. Mas querer indicar música para os outros já é demais.

Comprei um disco do Ronaldo e os Impedidos.

Flávio Prado não merecia dois reais. Nem merece.


Paulo-Roberto Andel, 18/08/2009

Thursday, August 06, 2009

ATLÉTICO-PR 1 X 0 FLUMINENSE

Debaixo da noite turva (04/08/2009)

Há uma noite que tem cercado o céu do Fluminense. É uma noite longa e turva.

Mais uma vez, fomos derrotados na rodada de domingo passado; desta vez, de forma inconteste e, sem dúvida, em nossa pior apresentação no ano – como se já não bastasse um rol de outras péssimas performances.

Desta vez, um golpe terrível. A lona. O fundo do poço. A humilhação da última colocação no campeonato. Chegamos ao limite do que há de pior. E nada pode ser salvo do jogo contra o Atlético do Paraná: foi uma partida péssima, sem caber a desculpa do também péssimo gramado e da chuva. Praticamente não chutamos a gol, e nossas maiores oportunidades aconteceram a cinco minutos do fim da partida, sob total desespero, o que resume a situação. Se ainda é possível tirar algo de bom deste jogo no Paraná, disputado no Estádio do Café por conta da perda do mando de campo pelos atleticanos, pode-se dizer da boa entrada do jovem goleiro Rafael, que se mostrou seguro nas poucas intervenções que fez em campo. Não evitou o gol, em razoável cobrança de falta executada pelo veterano Paulo Baier, porque ainda não havia entrado em jogo: o titular, impedido de movimentos capoeiristas numa bola mais ao alto, mais uma vez tomou um gol de falta em seu lado direito. Longe de culpá-lo pelo gol ou pela derrota; a culpa que lhe cabe é da situação como um todo. E de quem o escala, naturalmente. Sem contar o fato de ainda ficar quase dez minutos em campo sem condições, por sua teimosia que irrita o torcedor mais tranqüilo. Trata-se de um outro mundo, irreal; ficar em campo sem condição de estar em pé, priorizar defesas no gol com os pés. E este não é o mundo do Fluminense – ao menos, não deveria ser.

O fato é que em raras vezes eu assisti um jogo tão ruim do nosso Tricolor. Em outras épocas, nada boas, mas predecessoras de glórias, vi uma derrota para o CSA, de Alagoas, no Maracanã, com dois gols de Marciano. Outra, uma goleada de quatro a zero para o Campo Grande. Outra, a virada da Portuguesa da Ilha no Maracanã, com dois gols de Rico. O terrível primeiro tempo de 1998, contra o ABC. Desta vez, a coisa chegou ao mais extremo possível do que se pode tolerar. Não havia a menor possibilidade de se ganhar o jogo enquanto havia empate; com o gol de Baier, a virada tornou-se impossível. Um verdadeiro bando, atarantado em campo, sem as menores noções de posicionamento, deslocamento, marcação e, para piorar, com a insistência de se tocar – mal – a bola em um gramado esburacado e enlameado. E, claro, de nada adianta mandar a campo uma jovem promessa como Alan se o time está completamente desestruturado. Imagino qual deve ter sido o rol de instruções no intervalo, para que o time voltasse tão mal ou até pior do que na segunda etapa. Desnecessário dizer dos oito minutos finais, quando tínhamos mais um em campo; na atual situação, isso não diz qualquer diferença ou vantagem. Mais uma vez, fica claro que o problema não estava sendo criado por Parreira.

O que se tirar de uma derrota que nos coloca na última posição do campeonato brasileiro?

Lembrar Francisco Horta: “Vencer ou vencer”.

Não nos resta outra alternativa.
Hoje, a três rodadas do fim do primeiro turno, o Fluminense tem uma pontuação equivalente a de times que foram rebaixados, em anos anteriores, muito antes do final da competição.

É preciso colocar o coração na ponta das chuteiras. Temos dois jogos em casa ainda nessa primeira fase. E simplesmente não se pode perder pontos.

No passado, os Tricolores se sentiram tão indignados que, por conta de jornadas horrorosas, até se afastaram do Maracanã. Era compreensível, mas não é a solução. Um time sem torcida é um corpo sem coração. Não se pode deixar que o time morra à míngua, mesmo com sua fraqueza atual. E é bem difícil acreditar que, com o atual stablhishment das Laranjeiras, espetaculares mudanças trarão de volta o Fluminense vencedor de anos passados. Hoje, neste momento, o Tricolor tem um único amigo, coletivo, que lhe pode ajudar a reviver: sua enorme, apaixonada e coerente torcida.

Quantas vezes a nossa voz das arquibancadas não gritou por um gol de uma virada impossível, ou de um título quase perdido que retomamos com braço forte?

Empresários gananciosos, dirigentes ineptos e jogadores de enorme carência técnica passarão. Mas a torcida, meus amigos, ela é eterna: vai até a morte e, de acordo com meus amigos, depois dela!

Teremos na quinta-feira um jogo que pode decidir nossa vida, contra o Sport, adversário direto na luta contra o rebaixamento, no Maracanã. Todo Tricolor de bem que tenha possibilidades deve comparecer ao estádio. Quem não puder, que faça sua corrente positiva na televisão ou no rádio. Mas é preciso que toda a nossa torcida volte seu pensamento para o Maracanã. Precisamos vencer de qualquer forma. Não podemos ser derrotados pela mediocridade e pela incompetência dos que levaram o Fluminense ao caos onde se encontra.

No passado, tivemos ótimos times que a imprensa, tendenciosa, tratava por “timinhos”. Também tivemos times geniais que poucos reconheceram. Hoje, nosso time é um carro antigo, defeituoso, errático. Emperrado.

Cabe a nós empurrá-lo.

Para a frente.

Para trás, já temos milhões de agourentos a trabalhar.

Temos um time destroçado. Mas nossa torcida é genial. Ela pode ainda modificar este gravíssimo quadro.



Paulo-Roberto Andel, 04/08/2009